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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O Conto "Fakebook"

O ser humano gosta de superar limites, burlar as leis físicas e alçar voos e ir cada vez mais longe, desbravando horizontes. Mas assim como o homem quebrou a barreira do som, conseguiram quebrar a força da gravidade e ir além mundo, o pseudocientista Adalberto Nogueira almejava com aquela tecnologia quebrar a barreira da verdade dos fatos, mudar o mundo conforme a vontade de seu arbitrário desejo, como se ao perverter as leis físicas provasse que plantar tomate ele colheria laranja. As pessoas o chamavam de cientista louco e apesar de sua reputação duvidosa ao estar envolvidos em práticas moral e eticamente reprováveis ele desejava com a tecnologia finalmente provar que era um grande gênio.

Adalberto Nogueira era um comerciante caucasiano que autodidata com apenas o ensino médio acreditava em ideias vexatórias como de que bastardos eram impuros amaldiçoados filhos dos demônios. Ele via ao encontrar as ideias de um autor segregado ao ser caluniado e discriminado a chance de sua vida, para se exaltar.

Nogueira reuniu um script de tudo que queria mudar na realidade dos fatos com datas e locais e chamou o livro de Fakebook.  Ao ser lido as pessoas debocharam não apenas por ser mau escrito, mas por ser a ficção mais imoralmente megalômana que eles haviam lido. Mas ainda que mediante o patético fracasso criativo e editorial daquele livro ser ele, debulhava e maquinava meios de concretiza-lo. 

– Vocês perceberão a verdade quando eu vencer! – Vociferou ele ao argumentarem os defeitos e absurdos éticos e técnicos do livro, mas ele prosseguiu na progressão de seu ódio misantrópico. – A liberdade humana espontânea é uma aberração a realidade induzida, o livre-arbítrio em seu direito ao seguir o fluxo do destino pode me condenar, quando vocês o serão por infernizarem com essa coisa de lei e justiça! Apenas pode haver uma verdade, a da vontade do dominante e será a minha! A saída só pode ser o crime, a fraude e a mentira!

Quem cobra muito acredita ter muito valor por estar achando roubar de quem tem ao cobrar. E ele tinha de colher muito do bem que não plantou, senão o oposto, pois mesmo pouco produzindo que prestasse ao plagiar de um filósofo, do qual era suspeito da morte, desejava romper o fluxo dimensional do tempo e entropia e se tornar autor do que nunca criou ou descobriu, se louvar por influências que nunca fez ao gerar um novo mundo onde os eventos e informações perderiam a causa e assim a mentira se tornasse a verdade, e a verdade mentira para que o mundo finalmente compreendesse que ele fazer o mal era o bem! Plagiar ideias alheios para ele provava ele ser o gênio e o plagiado excluído da sociedade o burro, e ele estava obcecado em provar isso. Mas subverter as leis naturais e físicas pode ter consequências trágicas que a ganância corrupta daquele homem iria conhecer ao desejar ser um novo deus ao colher tudo de bom que nunca fez ou plantou.

Adalberto Nogueira negligente a qualquer ética e lei, omisso e negacionista a todos os fatos que discordava e alheio ao fluxo do Ethos dos povos viu a chance de ouro para se exaltar como narcisista que sempre fora ao se tornar um parasita intelectual, que tóxico e negativo sonhava distópicos sadismos para castigar o que já antes eram dele vítimas. E vulnerabilizar ainda mais para potencializar sua covardia era o trampolim de sua valentia ignóbil. Como um cão danado mal conseguia conter sua ganância e ódio sobre o talento alheio do qual a única coisa que fez de errado ao nascer fora ser criativo e denunciar os crimes que sofreu. Mas se agora palestrava para um grupo de caucasianos como potenciais investidores das ideias que roubava, ao conseguir os recursos desejados para conseguir cooptar técnicos e físicos para seu intento, a construção  de um empreendimento que rompendo a causalidade das leis da combalida termodinâmica poderia finalmente refazer eventos e roubar autorias antes mesmo que seus autores as criassem e descobrissem. Apagar pessoas da história, adulterar fatos e basicamente desviar o fluxo da realidade por meio de sua ilusão a criar um mundo a sua imagem e semelhança.

Quando o invento do inapto psicopata despótico ficou pronto viu sua chance de romper os grilhões do destino e perverter as leis físicas e naturais não bastando seu desdém absoluto das leis humanas do qual se julgava superior. Um buraco no espaço se abriu ante os olhos dos cientista que vendo estabilizado aquilo apenas aludia a primeira ruptura dimensional no elo que eclodiria na miséria geral.

– Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos. – Louvou ele com olhos fixos e brilhantes. – Terei o poder de Deus, e moldarei eu mesmo a realidade!

Os cientistas ao ouvirem aquilo ficaram preocupados, mas antes mesmo que fizessem algo contra aquela egomania herética e doentia capangas deles invadiram dotados de fuzis e executaram os homens friamente.

Ao ver aquilo ele se regozijou, sorriu e quase teve uma ereção. Ele adentrou a fissura e condenou suas vítimas pelos crimes que sofreram, adulterou e plantou provas, mudou autorias, vendeu suas mulheres em sorteios e  se tornou o gênio das ideias alheias ao sabor de seus desejos desordenados, dos desmandos a preços distorcidos e parciais pouco a pouco gerou um perfeito despotismo onde ele era um deus da morte, condenando e destruindo a mero gosto ou discordância. Ao contrário dos bons que serviam integralmente a verdade e a lei ele achava que a lei e a verdade servia a ele, curvando-se a seu louvor.

Sabotou sistematicamente todos meandros da realidade em seu clamor. Todos agora se sentiam presos num tenebroso filme de uma quinta qualquer com valores obtusos onde seus roteiros esdrúxulos do Fakebook se tornariam reais. Uma ditadura despótica de ilusões que matam.

Todos que discordavam ou o criticavam sumiam e quando apareciam depois de dias eles se contradiziam em todas alegações, mas antes tecendo elogios entre coisas sem significado algum.

Com o passar do tempo o despotismo evoluiu a uma sociedade predatória onde mulheres e até crianças eram sodomitizadas. Isso até o dia em que Adalberto soube da notícia de algo incomum por um dos seus.

Temos notícias de que nasceu um homem contra todas as probabilidades, mas tendo as mesmas assinaturas no caos da vítima que você matou para roubar as ideias. Uns dizem estes serem uma espécie de constante sobre todas as variáveis na equação do caos. E tem influenciado de sobremaneira esse mundo num mainstream desconhecido.

– Estupre e mate esse maldito em desgraça também! – Vociferou Adalberto.

 Pegamos ele, mas acreditamos que a estrutura desse mundo está colapsando sistematicamente a proporção com que agimos contra ele.

– Superstição como o falso deus dos cristãos! Mate-o! – Vociferou mais uma vez ao lado de três mulheres nuas que o afanavam tendo se tornado obeso. – Mas faça ele sofrer muito antes!

Todavia ao seguirem em frente os céus se escureceram durante o dia e parecia consumir toda vida como se a falsa realidade artificial estivesse sendo destituída de sua condição real a uma ilusão a colapsar. A sede odiosa e cobiçosa em injustiça daquele monstro levou a ruína a própria realidade paralela que criou levando-o a fugir para seu arcabouço. Desesperado retornou a realidade percebendo ser o momento em que partiu, mas ao pisar no laboratório viu toda a policia ao lado dos cadáveres que deixou. Desesperado ante o inequívoco homicídio múltiplo ele tentou fugir lançando calúnias de responsabilidade sobre suas vítimas. Capturaram ele que aos prantos gritava ser um deus que criou um mundo a partir daquele livro, mas ao pegarem aquele livro chulo e destituído de nenhuma verdade, de qualidade inferior e nada original riram dele o classificando como um louco a ser enjaulado num manicômio judicial.

Na sua jaula como insano charlatão de alta periculosidade ele tinha visões onde uma outra versão dele orquestrava criar outros mundos mais, além daquele. Mundos os quais criados pelo tráfico de informação o burguês caucasiano se esbaldava apenas dos bônus. E ele agora ria espumando a boca e agonizando sozinho em sua jaula.

Conto da antologia "Verboversos".


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