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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Capas e Trecho de 'Diários da Eternidade'

A seguir um trecho do livro 'Diários da Eternidade', antigo 'A Origem da Eternidade' que narra a odisseia de um misterioso homem que recebeu em tempos imemoráveis a dádiva da imortalidade dos sumérios e com o advento da medicina da imortalidade emergente num futuro próximo ele resolve se apresentar oficialmente ao mundo narrando sua jornada de milhares de anos pela terra a procura de um semelhante imortal.

Algum lugar do Iraque, 2028
Por muito tempo esperei por aquele momento o qual tive ciência por uma quase profecia ancestral de tempos em que a mitologia era história. O alvorecer da jornada final da humanidade havia começado florescer, o advento da medicina da imortalidade ansiado pela humanidade como um ribombar de mitos antigos estava na iminência. Todo esse tempo de espera como a testemunha definitiva da humanidade não pode ter sido em vão, havia chegado a hora de contar a humanidade uma verdade avassaladoramente revolucionária, algo que anui ver os mitos de forma visceral, algo que me faria sentir-me menos só em minha eterna jornada. Compartilhar o fardo eterno era o que aliviaria a cruz dos imortais o qual era assombrado por meu próprio passado.
    Mas primeiro precisava reencontrar aquele antigo local dentre muitos locais antigos numa antiga jornada. O lugar em seu tempo era de decadência desde quando Maomé e os seus se levantaram no mundo, aquilo cheirava ao típico império do findo humano, onde tudo morre, tudo acaba, mas curiosamente onde tudo começou.
    Haviam tiros e rumores de ataques terroristas quando saí de Bagdá com aquele jovem rumo a antigas e esquecidas ruínas sumérias, totalmente diferente do esplendor que aquele lugar fora um dia a milhares de anos atrás e hoje é uma cidade miserável perpetrada por fanáticos de Maomé.
    Nós preparávamos para sair quando ouvimos um estrondo que nos deixou surdos, pó e cinzas nos sobreveio como uma nuvem a tomar toda nossa visão. Quando a audição retornou mediante um intenso zumbido ouvimos gritos de crianças e choro, pedidos de socorro ante a mortalidade antecipada por aqueles que apenas perpetuavam isso, a morte e o medo. Sai em meio a cintilar de sirenes e correria de todos por todos lados, estava um pouco aflito a ponto de sentir perto a inócua fatalidade dos perigos humanos. Pedi para que o jovem dirigisse pois estava com o mapa para me localizar num lugar que como disse estava muito diferente do que fora outrora a ponto de achar ser outro lugar. Mas afinal em minha jornada descobri que por mais que viajasse sempre veria os mesmos lugares se transformar em outros lugares com o tempo.
    - Quanto anos você não vem aqui? - Indagou o jovem iraquiano dirigindo.
    - Não sei ao certo, mas faz muito, muito tempo.
    - Uma década? - Insistiu o jovem guia e estudante de arqueologia, mas apenas respondi com o silêncio. - Olha, lamento pelo atentado, nunca sabemos quando...
    - Apenas dirija, Yurem. - Interrompi o jovem secamente.
    - Só quero dizer que arqueólogos como o senhor são bem-vindos nisso aqui mesmo que considere perca de tempo pra onde quer ir. - Insistiu ele sem tirar os olhos do horizonte que agora era árido sob o sol escaldante. - Lá fora achado apenas o que seria os restos de um templo sumério e... - o jovem se calou ao olhar para mim pois lhe fintava penetrantemente em tom de reprovação. - Tá bem, vou ficar quieto.
    Seguimos a viagem aos rincões das cinzas de civilizações sobrepostas ante o deserto árido, mas o jovem que era movido por uma sadia curiosidade típica de estudantes e de mentes brilhantes queria compreender o porquê de estar engendrando aquela viagem a um lugar considerado infrutífero a arqueologia. O aspecto de Yurem dele era do típico jovem iraquiano, moreno tinha a barba feita e usava roupas tradicionais, longas vestes até os pés, mas temia o que a curiosidade poderia lhe guiar.
    Assim os minutos se passaram e os minutos se transforam em horas. Quando chegamos percebi o quão estéril aquele lugar se tornou de modo que fui tomado por uma forte sensação de nostalgia.
    Descemos do carro e após mostrar nossos passes aos militares que guardavam aquelas ruínas que emergia das vísceras da terra árida e adentramos. O jovem Yurem tirou sua lanterna e eu guardei o mapa, o jovem olhou para mim esperando o que fazer.
    Caminhamos pelo interior do lugar que era vasto, o eco de nossos passos se ouviam de modo catedrático, mas tirando isso e o som de nossa respiração aquilo era um só silêncio sepulcral.
    - Olha, espero que saiba o que está procurando. - Disse o jovem Yurem ecoando pelo corredor onde adentramos.
    Parei diante de uma parede com inscrições na língua suméria, palpei as gravações cuneiforme incrustradas silenciosamente enquanto a lanterna de Yurem cortava escuridão. Virei-me e vi que da porta no fim do corredor havia um enorme vão que descia como um poço a uns dez metros.
    - Por aqui. - Disse ao jovem Yurem. - Onde o último sol da civilização se põe.
    - Fico feliz que o senhor saiba traduzir a escrita cuneiforme dos sumérios, mas por ai não tem nada, só um enorme fosso!
    - Olha cá meu jovem, eu lhe paguei apenas pelo passe pelos militares, caso não queira acompanhar não me acompanhe. Na verdade assim prefiro. - Respondi o jovem que pernameceu irriquieto.
    Cheguei na beirada do vão e iluminei com a laterna, era aquele lugar! Coloquei a mão na parede interna do vão e palpei cegamente quando senti uma manivela. A puxei e um estrondo surdo se ouviu abrindo uma porta secreta no alto, onde o poço caia. O jovem virou-se debruçando-se com a lanterna e o que viu lhe deixou estupefato.
    - Meu deus! Como nunca achamos isso? - Se indagou ecoante de modo que suas perguntas pareciam se repetir assim como em sua cabeça pela curiosidade.
    Segurei a manivela e dei um pulo para a entrada lateral passando por cima daquele fosso, o jovem fez o mesmo atrás de mim deixando a lanterna cair no fosso e apenas se ouvindo seu espatifar em seu fundo de modo ecoante. Olhei para ele com olhar de reprovação novamente.
    Dei vários passos iluminando o lugar que era um pouco maior que um cômodo, a luz desvelou então alguns vasos de barro que imediatamente me aproximei abaixando-me para tirar o que havia em seu interior. Nisso o jovem ilumina o que parecia ser um busto humano caído ao chão desvelando da escuridão sua face ancestral.
    O jovem Yurem então cerrou a visão e iluminou demoradamente o busto abaixando-se sobre ele enquanto tirava algo do interior do vaso. Perplexo, o jovem então apontou a lanterna para mim me fazendo me virar, a face do busto era a mesma que a minha concluiu ele em comparação.
    - Meu Deus, esse busto é igual ao senhor! -  Exclamou ele exultante.
    - Cuidado Yurem para que sua curiosidade não lhe conduza a loucura. - Respondi alheio a isso.
    Tirei do interior quatro tabletes com inscrições sumérias, quatro tabuletas, o jovem Yurem ainda estava entretido com o fato do busto ser uma cópia minha, sua mente havia um burburinho de perguntas cujas respostas considerava impossível.
    Coloquei no chão e fotografei com o celular, fazia tanto tempo que não me recordava do que elas diziam. Apontei o facho da luz para outras e sorri satisfeito apesar da amargura de encontrar aquele lugar como estava. Entreguei a tabuletas na mão de Yurem e disse antes de me retirar.
    - Espero que tenha uma ótima formatura!
    Pulei o fosso para o outro lado de volta e com o tom de saudosismo caminhei pelo corredor deixando Yurem falando sozinho. Tinha tudo que precisava, as informações ancestrais daquela tabuleta agora me conduziram as ancestrais lembras de um tempo em que aquele lugar era dourado com o sol do entardecer.

***

Hoje dia do escritor publico as duas primeiras artes de capa do projeto literário de romance, Diários da Eternidade. Clique nas imagens para ampliar.



Trecho de 'Fantasmas do Futuro'

Segue um trecho do livro 'Fantasmas do Futuro' que narra um acidente provocado por uma sabotagem no evento inaugural das viagens temporais com repercussões além da compreensão.

Sítio X
Allan era experiente arqueólogo. Acostumado a longas viagens chamava atenção de muitos povos nativos pelo mundo por sua altura. Branco e de profundos olhos azuis era um homem sério ainda que descontraído e a vontade com o que fazia, decifrar mistérios arqueológicos. Mas ao sobrevoar os mares do litoral japonês se perguntava que raios de sítio arqueológico fora achado por seu amigo James, uma vez que por toda costa do litoral japonês não mais havia mistérios como a dos sambaquis da costa brasileira. O voo já durava meia hora e somente tinha por horizonte o azul infindo do oceano quando visualizou um navio levando ele a interromper o silêncio ao pegar o mapa e notar estar sobre as coordenadas dadas por seu amigo também arqueólogo.
    - As Coordenadas estão no mar, isso está certo?
    - Positivo. - Respondeu o piloto com um sorriso. - O Sítio X está submerso há alguns metros abaixo do mar.
    Allan Gomes pensou se tratar de Yonaguni, um sítio submerso na costa do Japão que alguns até mesmo especulava ser a Atlântida, mas aquilo se quer poderia fazer parte do mesmo sítio pois estava há uma centena de quilômetros de Yonaguni. Allan não tinha experiência em mergulhos de modo que se perguntou o que raios estava fazendo lá uma vez que era chamado por James apenas em casos que ele não tinha resposta.
    Allan Gomes fora tutor da tese de doutorado de James, a quem considerava um aluno acima da média e que tão logo se tornou amigo por nutrir ideias revolucionárias sobre os Ooparts, achados que não se enquadravam na arqueologia.
    O helicóptero se direcionou a pousar sobre o heliporto do navio e tão logo ainda em voo Allan viu James saindo de dentro da cabine do navio e acenando para o helicóptero com um sorriso estampado no rosto. Mas Allan só tinha uma pergunta em mente, o que era o Sítio X?
    Ao pousar James cumprimentou calorosamente Allan e caminharam para dentro do navio. Assim que se ajeitou com sua bagagem, Allan fora chamado a sala de Brienfing onde ao lado de outros dois experimentes mergulhadores passaram a limpo como seria o mergulho daquela tarde.
    - James, espero que tenha um bom motivo para me fazer mergulhar nessas águas. - Disse Allan Gomes a ele.
    - Prometo que não se arrependerá. - Respondeu James entusiasmado. - Bom, o motivo de estar aqui é que nesse lugar há uma quantidade que nunca vi de ooparts como isto.
    James pegou o que parecia ser uma placa metálica totalmente incrustrada de corais que cresceram durante séculos naquele lugar e prosseguiu.
    - Estimo que esse sítio esteja aqui há mais de dois mil anos, ainda que tenha submergido apenas há alguns séculos em algum terremoto ocorrido no Japão.
    - Isso parece ser talvez parte de um maquinário similar a Máquina de Anticítera. - Retrucou Allan - Um achado notável mas nada que justifique...
    - Olhe mais de perto nessa parte que tiramos da placa de metal, Allan. - Disse James apontando uma ponteira laser para uma grande tela projetada.
    - Parece um... chip! - Completou observando ser um pequeno retângulo com várias perninhas.
    - Sim, inclusive com o interior feito de ouro, carbono e cobre, os mesmos componentes de um chip moderno. Então, quer mergulhar?
    Meia hora depois, Allan estava sob o mar do litoral japonês se aproximando do que parecia ser uma ruína de metal, James levava Allan ao ponto onde achou a placa.
    Allan Gomes vira a formação peculiar que lembrava a porta de uma escotilha que estava caída em meio a corais que a absorviam mesclando o habitante natural com aquele artificial. Ambos entraram após o experiente mergulhador. A visibilidade estava ótima pois aquelas águas eram cristalinas e o sol na superfície ainda os iluminava.
    Eles estavam a 40 metros de profundida em meio a cações e outros peixes há cerca de dez quilômetros do litoral japonês. Allan viu o que parecia ser uma mesa dominada pelos corais e tendo agora como habitantes inúmeros peixes como moreias e outros mais. James então lhe apontou onde achou a placa, ao lado daquela mesa. Allan exultante se aproximou a nado, havia esquecido seu medo de mergulhos dada a empolgação com o achado. Enquanto observava ao chão, James pegou um pequeno martelo e quebrou o coral na dianteira da mesa levantando poeira na água. Ele mexeu as mãos para afastar a poeira quando viu o que parecia ser uma alça na parte frontal daquela espécie de escrivaninha. Allan olhou quando ele segurou a alça e a puxou abrindo uma gaveta!
    Fosse o que fosse aparentava em muito com um móvel moderno, e para o espanto de todos James ao investigar seu interior encontrou uma caneta de metal e o que parecia ser um... clipe!
    Allan virou-se para James e com seu traje que permitia falar debaixo d’água perguntou a James.
    - Quem mais sabe desse sítio?
    - Por enquanto somente nós.

sábado, 16 de julho de 2016

Trecho do conto 'A Soma de todos os sonhos'

Abaixo publico um trecho do conto, A Soma de todos os Sonhos do livro 'Todas Formas de Sonhar' de Gerson Avillez.

Mais um sonho. Toda noite a mesma coisa, me parece que me sobrevem um turbilhão de sonhos como um brain storm do inconsciente a me inspirar a escrever contos de realismo fantástico. A primeira vez que isso me ocorreu fiquei fascinada, exultante, mas agora me parece haver padrões no aleatório, há uma causa por de trás disto. Tem que haver. Apelei a Freud, mas mesmo ele não explicou, deveria estar se contorcendo no túmulo como se diz o senso comum àqueles que tem sua filosofia contrariada após sua morte.
Comecei a registrar esses sonhos cerca de seis meses atrás e depois disto não param mais. É enlouquecedor, exacerbado. Fiquei inicialmente empolgada com as possibilidades de um potencial em mim letargicamente adormecido, pesquisei por experiências que tive no passado que pudesse me inspirar esses insights, mas simplesmente meus últimos dez anos não sou capaz de recordar por algum capricho igualmente misterioso de meu cérebro e não havia me dado conta disto.
O que me ocorreu nos últimos dez anos? O que significa esses sonhos?
Recordo-me de minha formação no doutorado, após isso só breu, um blackout cerebral no âmago de minha memória. Apelei a minha autobiografia publicada há poucos meses, mas nela os mesmos dez anos aparecem nulos como se eu não tivesse vivido nada nesses dez anos, como se nada tivesse ocorrido nos horizontes mensuráveis de minha vida, um buraco na cronologia de minha vida. O que fiz? O que aconteceu? Vou consultar meus conhecidos. Fui até a casa de meu amigo de doutorado e ele apareceu na porta surpreso.
- Roberta, quanto tempo! - Disse ele perplexo ao me ver. Seu nome era Adailton Bom fim.
- Quanto tempo precisamente? - Indaguei eu com certa objetividade.
- Uns dez anos! - Exclamou ele com não menos desorientação que a minha. - Você viajou para participar de um projeto científico e simplesmente sumiu vindo aparecer apenas há poucos meses. Entramos em contato com o centro acadêmico (a universidade de Oxford) que supostamente lhe financiava e nada, era como se o projeto nunca tivesse existido.
- Não entrei em contato nesse período? - Indaguei novamente.
- Não, quem te contratou você dizia ser um senhor, o Doutor Albert Stoneset, mas na universidade em que ele lecionaria não existe esse nome. Pesquisamos na internet, e nada. Então lhe pergunto, onde você este? - Perguntou coçando a cabeça. - Você abandonou o Departamento de Filosofia para esse projeto. Sentimos saudades de sua Filosofia etílica. - Completou com um sorriso.
- Você pode achar estranho Adailton, mas não sei. Por isso lhe pergunto tudo parece muito nebuloso nos últimos dez anos, só tenho tido estranhos sonhos sem explicação. Sonhos fantásticos. Escrevi maior parte deles, acho que ouvi esse nome nos sonhos.
Parei por um instante e peguei nos cadernos o que havia escrito, olhei minunciosamente e vi o nome de Albert Stoneset não em um dos sonhos, mas em vários. Procurei então puxar pela memória qualquer viagem para o exterior ou relação com a universidade de Oxford e simplesmente não me lembrava de nada, só névoa.
- Por favor entre, Roberta, tome um café. - Disse Adailton me vendo confusa na porta de sua casa.
 O homem meneou a cabeça vendo-me fazer aquilo, estava de roupão, havia acordado a pouco tempo. Era um homem calvo, esbelto e de bigode com uns óculos de armação grossa. Era muito cortês e amigo nos tempos que era doutorando. Ajeitei meu cabelo e adentrei o recinto perfilando sua casa onde morava sozinho, segundo ele havia se separado de sua mulher há uns dez meses.
- Após dois anos sem contato contigo, nós não lhe demos por desaparecida, mas morta. Mas aí há dois anos apareceu um editor dizendo que ia publicar um livro seu de contornos autobiográficos para então simplesmente aparecer morto há sete meses, talvez deve ser ler esse livro. - Disse Adailton servindo-lhe café a mesa.
- Não me recordo disto, Adailton. De ter escrito um livro autobiográfico. Qual o nome do livro?
- A Filosofia Etílica do Departamento de Filosofia. Mas ao lermos o livro não havia nada sobre os dez anos. O editor disse que retirou alguns trechos por pressão, mas não quis nos fornecer. - Respondeu ele pegando agora uma dose de café para si.
- Ele fora censurado? Por quem?

Continua...

Mensurar o infinito é prever o caos


As duas coisas que mais me fascinam em física são seus limites de compreensão no tempo, o infinito e o caos. Mas como se medir o infinito? Eles tem relação entre si de modo que compreender o caos fomenta compreender não somente sistemas complexos como composições infinitas.
 
Particularmente postulo que para se mensurar o infinito teria de se achar um modo de se identificar padrões no mesmo e isso se daria pelo estudo dos números primos ainda que não haja consenso ainda hoje se eles seguem uma progressão infinita ou finita - particularmente creio ser infinito. Isso tem implicações com o caos pois o caos é desordenação em graus de infinito de modo que mensurar ou prever o infinito subsequentemente determina igualmente previsões parciais do caos.
 
A Espiral de Ulam fomenta padrões de números primos ao infinito que indicam propriedades incomuns numa espiral que assim como o caos em composição é infinito, ou seja, a espiral de Ulam particularmente acredito poder elucidar algumas previsões caóticas ao emergir padrões no mesmo. Talvez isso possa ter alguma relação com fractais, sugiro.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Conto: Além do Horizonte

Abaixo publico o conto 'Além do Horizonte' do Livro 'Todas as Formas de Sonhar' de Gerson Avillez.

Albert Stoneset era um homem de meia ideia austero, alto e de cabelos grisalhos que parecia introspectivo quando recebeu um estranho bilhete em que dizia de modo sucinto: "pare o que está fazendo". Logo abaixo no lugar do que parecia ser assinatura havia uma inscrição em latim que dizia Nec Plus Ultra que significava ‘Além do horizonte’.
    Logo após o misterioso bilhete ele conseguiu o impossível, penetrou o âmago da ciência do desconhecido desdobrando as vísceras do universo ao limiar de outras dimensões, criou a tecnologia capaz de romper a tênue película da entropia e das leis de Newton que separa universos, porém, a medida que se descortinou novos universos aquilo se demonstrou frustrante ao se perceber que nenhum deles havia quaisquer sinais de vida como conhecida. "O multiverso é perpetrado apenas com universos de parva existência e ausentes de vida, universos com variações de leis físicas que aparentemente impossibilitava a existência de vida complexa e inteligente", disse ele certa vez num anúncio ante uma coletiva de impressa.
    "Como essa tecnologia então será útil então para a humanidade?", indagou um jornalista e deixando Stoneset sem respostas.
    Em segredo a humanidade sonhava poder conhecer outra dimensão o qual pudesse se transferir, pois a Terra estava superlotada do lixo industrial que perpetrava cada lar de um planeta superpopuloso e que por falta de espaço para as demais atividades seus recursos naturais se esgotavam, levando Stoneset a uma crise pessoal mediante esse projeto.
    O tempo passou e tão logo a humanidade viu naquilo um desperdício de milhões de dólares numa busca a lugar algo afinal não tinham descoberto se quer vida inteligente em seu universo, muito menos noutros mundos além universo. Tentou-se mudar a posição dos vórtices levando a outros universos mais, porém, sem resultado satisfatório.
    O primeiro universo possuía a velocidade da luz diferente. Ao invés dos habituais 299.792.458 m/s tinha 300.246.207 m/s criando condições onde a luz era proibitiva a quaisquer formas de vida conhecidas por quebrar a linearidade temporal daquele universo. Stoneset e sua equipe de cientistas conjecturaram viajar no tempo pegando atalhos nesse universo, porém, a massa proibitivamente grande ainda não permitia isso. Não bastando ter saídas para outros universos inefáveis quele universo era o mais antigo supostamente conhecido por Stoneset, e por isso justificou-se ser chamado de universo primeiro.
    No segundo universo visitado possuía estrelas aberrantes pois a constante de planck era levemente diferente fomentando resultados imprevistos a nível macro, para a física clássica.
    O terceiro universo possuía uma peculiar variação na Constante de Boltzmann que tornava todo universo previsível no caos, aquilo atiçou os ânimos da comunidade científica pois nesse universo era possível se prever o futuro, literalmente, porém, não permitia o surgimento de vida complexa e inteligente, segundo Stoneset por uma questão filosófica do livre-arbítrio.
    O quarto universo possuía cinco dimensões espaciais, segundo Stoneset por ter surgido da colisão de dois universos onde a massa era infinita mas suportada finitamente nessas cinco dimensões tornando possível, de algum modo, a viagem temporal. Lugares onde as leis físicas de nosso universo não se aplicam.
    Assim foram passando os universos até que no décimo universo os recursos de exploração se esgotavam, pois, cada alinhamento diferente do vórtice a outro universo tinha alto custo técnico e consequentemente financeiro.
    Assim uma discussão popular sobre a utilidade daquilo e do dinheiro público das nações levou a formação de um comitê que discutiria o emprego do dinheiro público em projetos de aquisição científica como aquele pois a urgência global no momento era a resolução do problema do lixo que ocupava os recursos da maior parte das nações. A sugestão partiu do próprio Stoneset para a solução do problema.
    Assim, para se livrar do problema global do lixo a recém descoberta de portais prometeu lançar aleatoriamente o lixo em outras dimensões, dando lugar ao Projeto Doroty.
    Naquele tempo haviam grandes desertos o qual em sua quase abiose letárgica era repleto de quilômetros de lixo e habitado apenas por seres acossados e de grande ojeriza. Fora justamente lá onde fora montado o primeiro portal transdimensional. Todo lixo passou a ser organizado de modo a facilitar o desemboco na boca do vórtice lançando o lixo sobre o primeiro ponto noutra dimensão que assim abrisse no primeiro universo descoberto por Albert Stoneset. Assim seguiu-se então a contagem regressiva para o lançamento coordenado de lixo pelo buraco dimensional sob os aplausos dos espectadores, lideres de todos governos e nações.
    - Hoje estamos dando um passo importante para descartar nossos resíduos onde a poluição é irrelevante. Hoje será o dia em que começaremos a limpar nosso planeta de décadas de sujeira e poluição. – Declarou Stoneset de modo altivo no início do Projeto.
    O processo seguiu padronizado por longos dias, de modo que tão logo aquelas viagens dimensionais com intuito de vigilância sanitária tornaram-se rotineiros, mas que no âmago daquelas dimensões provocava convulsões por suas condições físicas diferenciadas ao do universo antropocêntrico num tipo de choque de leis divergentes.
    Quando os dias tornaram-se meses a operação havia esvaziado quilômetros de deserto de modo que mais dois vórtices foram abertos na mesma dimensão rendendo um investimento de sustentabilidade por estas partes do mundo, os maiores lixões do mundo. A operação era um sucesso retumbante, o Projeto Doroty era o mais exitoso experimento científico. Stoneset fora aclamado.
    Stoneset passou a ser conhecido como um cientista politicamente correto, ecológico, ainda que involuntariamente. Para ele, a sugestão para o uso da tecnologia que perfez era tão ecológica quanto a conotação da Epopeia de Gilgamesh fez como advertência aos devastadores de florestas da idade do bronze, milhares de anos antes da ecologia surgir num tempo em que as maiores devastações tornaram a paisagem da Europa, Asia e África um vazio como hoje conhecido.
    Fora então num dia como outro qualquer que Stoneset ao acordar deu-se por convencido não estar no leito o qual havia se deitado ao adormecer. O homem levantou-se da cama consternado, temendo ter sido raptado ou algo acintosamente similar para constatar estar num lugar aparentemente abandonado.
    - Tem alguém ai? – Gritou Stoneset indagativamente tendo apenas o eco de sua própria voz como resposta.
    O homem caminhou para constatar ser um lugar deserto, uma construção sem aparente portas que levassem a saída, até que se aproximou de uma janela e numa lufada de vento viu um horizonte devastado onde a própria cidade, fosse qual fosse, parecia um grande lixão arrastado por algum cataclismo.
    Assim ele percebeu estar no alto de um grande prédio e sendo ele parco correu buscando novamente por uma saída, mas era inútil. Então gritou novamente tendo a mesma resposta de sua própria voz quando ouviu um estalido e virou-se e com que deparou-se ficou ainda mais perplexo. Um ser humanoide translúcido como as águas-vivas e que parecia feito de luz em suas veias lhe fintou com olhos luminosos e semblante ininteligível deixando Stoenset mesmerizado com tal criatura.
    - Ser primevo sou, o fundador de seu mundo. – Disse o ser.
    - Que lugar e este, o que está acontecendo?!
    - Ser esse mundo de seu passado, seu passado é seu futuro. – Respondeu a criatura cintilante a ofuscar lhe a visão.
    - Você é algum tipo de Deus?
    - Um nome ser este. Doravante, tú estais aqui por atacar meu mundo.
    - Atacar? – Indagou Stoneset sem compreender. – Sou pacifista.
    - Nos atacar com resíduos de seu mundo. Avisado foi, castigado será.
    Agora Stoneset compreendeu, o ser primevo era da dimensão primeira que estava recebendo todo lixo da Terra de seu universo. Pudera Stoneset outrora compreender que todo aquele lixo provocaria transtorno numa realidade que acreditava ser ele deserta e abiótica. Mas aquele ser era de uma dimensão que para nós é a dimensão dos deuses, uma dimensão o qual seres pulsantes de luz eram capazes de viajar a qualquer tempo de outras dimensões.
    Compreendeu ele assim, que por ser impossível voltar a seta do tempo em seu universo viajar a seu passado somente implicaria se pegar atalhos além universo, além horizonte, por meios de buracos de minhocas ou por aquele universo primevo onde a linearidade temporal se rompia por uma variação da velocidade da luz. Mas Stoneset ficou perplexo pois não compreendia como eles fariam para lidar com massas infinitas nestas viagens, porém, antes mesmo que compreende-se em sua introspeção fora interrompido em seus pensamentos.
    - Lhe atacaremos com onda gigante em 2004.
    - Mas a tsunami do Oceano Indico já aconteceu!
    - Acontecerá no passado. – Respondeu o ser numa aparente aberração de conjugação verbal. – De nosso zoológico ser vocês criaturas desiquilíbrio dentre todas espécies de seu mundo.
    Aquilo deixou Stoneset perplexo, a Terra é um zoológico dos seres primevos da dimensão primeira, bem que alguns cientistas teorizaram corretamente, pensou ele.
    - Pararemos de lançar lixo em sua dimensão. – Respondeu Stoneset convenientemente. – Não sabíamos haver vida nessa dimensão! Tú és uma forma de vida diferente de tudo que conhecemos.
    - Está feito. – Disse o ser.
    - Mas isso para nós já aconteceu! Por que não se revela ao nosso mundo?
    - Nossos postos de observação e estudos tiveram de ser movido várias vezes por intromissão dos seus mortais.
    - Onde? Quando?
    - Ilhas que somem, ilhas que surgem.
    Aquilo só poderia se referir as lendas de ilhas perdidas, civilizações antigas que eram apenas mito. Atlântida saltou para outra dimensão ao invés de ser destruída, apareceu periodicamente, numa época ficou conhecida como Hi Brazil, noutro tempo como Um? Se perguntou Stoneset.
    - Pare agora ou cancelaremos o zoológico. – Prosseguiu o ser.
    - Sim, tem a minha palavra, quando voltar contarei tudo aos meus e pararemos imediatamente de lançar lixo em seu universo, apenas me leve de volta.
    - Considere feito. – Completou o ser afastando-se e simplesmente desaparecendo.
    Stoneset adormeceu e ao acordar viu-se em seu leito, em seu lar. Levantou-se perplexo temendo que aquilo fosse um sonho, mas pela profundidade e originalidade do mesmo questionou que não o fosse.
    Seguiu então para o laboratório onde contou tudo para os seus. Consternado ele aludiu que precisava parar imediatamente de lançar o lixo deles para outra dimensão.
    - Veja bem, Stoneset. – Disse um dos cientistas. – Se eles lhe perfilaram e lhes falaram para parar com isso, por qual motivo não atacaram ainda?
    - Já disse, atacaram no passado, a tsunami do oceano Índico em 2004. – Respondeu ele com veemência.
    - Mas isso aconteceu muito antes disto! – Disse o cientista insistentemente.
    - Não, aquilo fora uma tragédia natural provocada pelo movimento submarino das placas tectônicas, Stoneset. – Respondeu o outro cientista que com ele estava junto.
    - Já lhe expliquei que aquele universo não é temporalmente linear de modo que podem vir ao nosso passado através dele.
    - Isso tudo é muito surreal, Stoneset. Não destrua sua carreira com essas bobagens, certamente fora apenas isso, um sonho surreal.
    - Não, façamos o seguinte. – Respondeu o outro cientista coçando a cabeça. – Vamos alterar o fluxo do vórtice para outra dimensão, assim não teremos mais problemas com esses seres. Não contamos nada para ninguém e assim resolvemos seu problema.
    Stoneset se deu por satisfeito. Tão logo assim o fluxo transdimensional fora interrompido para se alterar a direção dimensional do vórtice atual alegando-se ao público, pela mídia, de que aquilo se tratava de apenas uma conveniência técnica de economia de energia ainda que tivesse provocado algum custo ao consórcio internacional daquela tecnologia, mas com a intenção de proteger a carreira ilustre de Stoneset assim o fizeram temendo que o pobre homem renomado cometesse suicídio acadêmico.
    Assim se passaram os meses após ser selecionado aleatoriamente o que eles acreditavam ser um daqueles universos abióticos por serem fisicamente proibitivos a biologia conhecida. Era o quarto universo quando então ao ir dormir mais uma noite o sono dos justos, Stoneset recostou-se no travesseiro vindo tão logo a adormecer. Mas assim que lhe sobreveio os devaneios oníricos Stoneset sentiu-se na presença de algum ser e despertou em seu opulento quarto notando a presença de alguém.
    Ao abrir os olhos ficou tonto e confuso por sua visão embaralhar-se com a imagem que fintou. Embebido ainda no sono sentou-se em seu leito quando percebeu que o ser humanoide que surgiu em sua frente parecia ter mais que altura, largura e profundidade, mas mais duas profundidades num só corpo.
    Stoneset então coçou os olhos temendo ter sido um delírio, mas o ser que agora também lhe fintava interrompeu o silêncio e lhes disse.
    - Por atacaste nossa dimensão, verás que seu poder é inútil ante o nosso.
    - Quem é você? – Indagou Stoneset sentindo que ser esforços para se defender era inútil.
    - Somos o povo da dimensão que atacas, agora terás o nosso furor em guerra.
    - Não, não os ataca! Apenas jogávamos nosso lixo numa dimensão que acreditávamos ser abiótica.
    Tudo que Stoneset fez para tentar impedir um conflito transdimensional parecia inútil...

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Gifs dos livros

Abaixo seleciono alguns dos melhores livros cujas capas estampa essa gif.


 E mais alguns outros projetos...


E para finalizar mais algumas capas feitas pelo autor para seus projetos literários: