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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Conto: No Tempo dos Sonhos

"O que é vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção, e o bem mais sublime é pequena, pois toda a vida é sonho, e os sonhos, sonhos são." Calderón de La Barca - A Vida é Sonho

Dia 13.529 d.H (depois do Hecatombe)
Aquele mundo era praticamente monocromático como a fé de alguns que nasceram dentro daquela caverna contemplando sombras bidimensionais restando apenas à imaginação a profundidade, profundidade o qual na verdade todos se encontravam sem se dar conta disto, a única dimensão existente naquele famigerado mundo que nasceu morto como um aborto da necessidade. A humanidade estava sepultada em vida. Naquele mundo nenhum dos Desoníricos poderiam subir, só a elite.
Aquele ano fazia cem anos desde a Grande Queda quando os resquícios da humanidade se viu forçada a entrar nos subterrâneos para sobreviver, as vísceras da Terra, mas como os mitos as histórias eram nebulosas, como sonhos mesmo datas se perdiam. Mas como sempre a humanidade se ocupava de esquecer de onde veio e o que era criando seu cotidiano atroz devorador do tempo.
É determinação do governo pós-Queda que todos não nascem humanos, para ser humano tem que pagar a taxa do governo que detém a patente do ser humano, para só então, após um adestramento educativo o indivíduo possa ter alguns direitos, que são poucos e débeis ante a massa uniforme que caminha vagando naquela realidade. Não há uma luz agradável e suave ao fim do túnel pois são tuneis sem fim, muito menos lugar ao sol.
O último ancião ainda se erguia todas manhãs - se isto seria manhã na superfície não sei, mas no subterrâneo tínhamos nosso próprio tempo a ser consumido como o oxigênio nas chamas de nossas vidas – e tratava de entoar variáveis do mesmo sermão.

- Acordar, é colorir – dizia o homem uma voz vacilante pela idade por alto-falantes espalhados por toda cidade – da infância do sono perpetuo onde o sonho é a fé dos fracos de realidade. Somente o trabalho redimirá o homem até estar pronto a emergir na terra do passado. Vi a Terra nos engolir pela necessidade de gaia em reagir. Devoramos nossos recursos e então devoramos a nós mesmos. Acordem do sono perpetuo, já estamos no solo como adubo a servir gaia no grande conserto da Terra.

Olhares apáticos e profundos contemplavam os alto-falantes naquele sermão após a meditação das duas horas o qual toda população se submetia. Parados olhando para o vazio de  suas próprias vidas num meio termo entre sono e despertar, há mais de cinquenta anos o sono era uma quimera cerrada mais fundo naquele poço, num misto de vítima condenada injustamente como, os sonhos se tornara bode expiatório do pesadelo que se instalara.
Não havia empolgação, mas apenas um louvor num só tom como se fosse um cântico fúnebre entoado por todos presentes e ritmado pela voz vacilante do ancião disciplinador que era apenas um garoto quando adentrou os subterrâneos como uma Perséfone que nunca tornou a superfície.
Todos então viravam-se para um espelho que portavam naquele ritual absurdo que se repetia todos os dias.

- Olhem para si mesmos, não percam sua alma, o trabalho está os aperfeiçoando, cavem, construam, edifiquem. – Disse o ancião de modo disciplinador.

Mas resisti em olhar-me ao espelho, colocava-o ante minha face e fechava os olhos criminosamente, era a maldita Eisoptrofobia, que me fazia olhar os espelhos e ver apenas fantasmas de nós mesmos.
Porém, uma vez concluída a tarefa me foquei na formatura tão almejada, me tornava um investigador das profundezas e zonas inabitadas, designado diretamente pelo próprio Ancião. Todos então voltaram as suas tarefas naquele infinito cotidiano onde todos seguiam mecanizados em tarefas estabelecidas como a um formigueiro onde mesmo a reprodução deveria ter permissão e como larvas eram criados separados de suas famílias até se tornarem desoníricos desprovidos de sonhos num estado dormente não por demais consciente nem por de menos adormecidos numa espécie de limbo perpetuo ante aquele gás indolor e inibidor do sono.
Não havia criatividade, pois, a cognição humana havia sido diminuída a um estado tão infecundo quanto a dos estéreis terrenos da superfície pela radiação, como o Ancião contava todas as semanas. O livre-arbítrio era pouco mais que movimentos condicionados à exaustão de modo que criminosos eram moscas brancas com um fiapo de sonho na mente. Criminosos às leis inócuas de mentes cruéis que insistentemente desejavam punir a humanidade por simplesmente existir. A sociedade então era a prisão e a condenação não sonhar. A obsessão pela coletividade abnega a criatividade, a subversão à liberdade individual pelo estimulo do seu extremo, o egoísmo.
A história humana não era mais contada a não ser seus mitos vivo pelos medos e anseios por mentes perpetuamente cansadas por nunca mais dormir e sonhar. A fé era alcançar o sono perpetuo, a morte onde finalmente poderiam descansar em paz e talvez ter identidades. Mas já não estavam mortos naquele lugar?

- Cem anos se passaram depois que a humanidade destruiu seu mundo com as armas do terror, mas ainda há os mesmos terroristas drogados e bêbados que se infiltram entre nós, querendo trazer seus sonhos que sempre levam a pesadelos. Vejam, a única realização da vida é o trabalho ou a morte. – Disse o Ancião coroando o ignóbil pela lavagem cerebral, e que pela mesma repetição não sabíamos mais qual era a verdade. – Querem atacar os Disnoníricos, acabemos com eles!

Naquele momento meu Centurião surgiu e me abordou falando.
- Franz Six, vai começar sua nova função num crime, no Setor 5, aqueles terroristas drogados atacaram novamente. – Disse aquele homem.

Os rumores sobre esses terroristas eram de homens mascarados que tornava as suas vítimas um ar diferente as fazendo dormir e, sonhar tirando a harmonia daquele lugar. Mas daquela vez o crime era outro, eles haviam cruzado supostamente a linha e matado duas pessoas no setor 5 com pistas que remetiam ao mito da Quimera da Superfície, um ser viscoso que devoravam qualquer alma que arriscasse fugir daquele lugar rumo a superfície.

- O mito então é real! – Disse eu – Os Terroristas libertaram o Devorador de Sonhos que espreita as portas da superfície tragando a qualquer um que queira fugir daqui.
- É. – Disse o Centurião com uma máscara de ar puro no rosto, pois somente a elite daquele lugar tinha o direito a dormir e sonhar. – Isso porque ainda não é o tempo de emergir.

Com a decadência do livre-arbítrio e criatividade, a população se tornou cheia de superstições, cacoetes rituais que se sucediam todos os dias a fim de que os mitos narrados pelo Ancião não se tornassem pesadelos vividos. Mas aquelas vítimas foram acusadas pelo Centurião de que eles fugiam a superstição de sempre bater as portas duas vezes antes de descer mais um nível.

- Vê isso? – Disse o Centurião – O Ancião é sábio e todos os movimentos devem ser feitos de acordo com que ele diz. Isso é o que acontece quando não segue o que diz o Ancião. Abrir portas sempre leva ao mal adentrar, agora investigue que iremos anunciar mais esse ato infeliz por causa dos terroristas. Eles têm colocado ideias estranhas na população de que sonhos são bons e que a superfície é habitável, quero que os localizem.

Os dois corpos estavam despedaçados pelo chão, mal conseguia discernir de qual corpo era o braço sobressalente em meio a uma poça de sangue, o Devorador de Sonhos dilacerou dois tolos Disoníricos que abriu as portas do corredor da Subida Proibida a mando dos Terroristas.

- Senhor, olhe – Disse eu ao Centurião notando haver a marcação no braço caído no chão. – Ele estava marcado com o ‘E’ era um subversivo.
- Isso explica, quero que você tire fotos para ser mostrados no Telão com o que acontece com os desobedientes que tentam o Corredor da Subida Proibida. Era uma tola toupeira.

Os marcados com o ‘E’ indicavam que deveriam ficar restritos ao Setor 5 em trabalho não remunerado continuo e abstenho de propriedades privadas por tentarem se aventura em pontos não permitidos aos Desoníricos ou por seguir como adeptos as ideias dos Terroristas. Mas havia um sobrevivente trêmulo encurvado sobre si próprio num canto.
Naquele momento gatos pretos surgiram correndo de um lado a outro, mas questionei se era mais um delírio coletivo pelo estado latente da população. Mas não sabia ao certo se os gatos eram frutos delirantes de uma mente cansada. Mas era mal sinal, mau agouro. Os Terroristas, conhecidos como Zakars, afirmavam ser inserções proibitivas pela neurotecnologia que havia em cada mente, mentes cansadas da população a reafirmar a exofobia daquela sociedade hermeticamente fechada.
Os Zakars era os últimos habitantes da superfície que segundo o Ancião se tornaram homens cheio de tumores pela radiação, criaturas esquálidas que não satisfeitos em estarem morrendo lentamente desejavam o mesmo aos Desoníricos espalhando a semente das dúvidas. Os Zakars sobretudo passavam ideias de que a verdadeira história da humanidade estava sendo distorcida e suplantada pela substituição de mitos, não conhecendo mais a própria origem, ideia tentadora àqueles que desejavam sonhar.

- Olhe isso Franz Six, mascaras! – Disse o Centurião guiando minha investigação no primeiro dia. – Eles eram parte de um grupo de ilegais que sonham clandestinamente, vendem uma droga que permite dormir. Certamente Rosetta Stone está por de trás disto.
- Rosetta Stone, a suspeita que nunca é encontrada? – Indaguei eu sobre a mítica personalidade que era o contato dos Zakar entre os Desoníricos. – Tenho que entrevistar o sobrevivente.
- Não! Tire as fotos! Você não compreende, Franz Six, há algo por de trás dos sonhos que ela induz. Algo muito mal. – Insistiu o Centurião. – Olha isso, é isso que acontece com quem sonha! - Disse ele me segurando pelo braço e forçando-me para frente, sobre os corpos. - Sonhar é meio caminho para o pesadelo!
- Vou tirar fotos para mostrar no telão, vou encontrar Rosetta Stone e detê-la antes que... – Disse quando fui interrompido.
- Ela habita um lugar que não existe. Nenhum Desonírico pode ir lá, não compreende? Vamos com isso!

O Centurião pegou o sobrevivente pelo braço, o homem estava encoberto por sangue trêmulo mas ao mesmo tempo quase catatônico com seu neuro-implante na nuca. Mas quando passava por mim o homem segurou meu braço e seu olhar vazio encontrou o meu e disse num espanto.

- Quando não se dorme os mitos da civilização adormecida voltam e ganham vida num mundo desperto!

O Centurião desferiu o soco na boca do homem que virou-se e seguiu caminhando obedientemente.
Terminei de tirar as fotos quando era o horário do almoço e todos se reuniam em praças de alimentação coletivas enquanto filmes eram exibidos nos telões, normalmente histórias tenebrosas sobre o que acontecia  com quem queria ser criativo e sonhar. Os filmes no futuro são colagens digitais de clichês pela interação do espectador, utilizando do inconsciente coletivo semi-desperto para as decisões.
Quando a transmissão fora interrompida para noticiar o crime, todos na medida do apático se escandalizaram, malditos sonhadores proibidos sempre tirando a harmonia da população. Mas a essa altura estava debruçado sobre a Subnet investigando mais notícias sobre Rosetta Stone.
Segundo ela, era a Segunda Anciã que discordava da abordagem do Ancião e passou a ser foragida pela resistência com o domínio do Ancião. As mensagens dela foram censuradas pela Elite, mas tendo em posse minha permissão de investigador consegui acessar a área restrita.
Nas informações classificadas secretas, Rosetta Stone postulava que conhecimentos inconscientes coletivos, algo que no passado fora apagado da humanidade com a neurotecnologia, os chamados mitos dourados escritos pelos adormecidos despertos estavam se tornando realidade dando lugar ao surgimento de algumas assombrações, folie deux, superstições que poderiam ser imprintings do inconsciente coletivo pela supressão de memórias passadas e pela ausência do sono como um efeito colateral sombrio.
Os mitos  começaram a matar de verdade a partir do dia 13.529 d.H após a neurotecnologia coletiva dando sentido ao que dizia Rosetta, mas se ela estava certa porque fora classificada como parte dos terroristas Zakar? Me vi na necessidade de procurar um escritor onírico escravo, Joaquin Trancoso, um dos homens responsáveis pelos filmes dos telões sobre os mitos e um dos poucos a usar os sonhos – ainda que como pesadelos – para atemorizar a população.
O homem estava num leito o qual de acordo com o mito era lugar de patologias e que a superstição popular via como o declínio final. Preso num estado semi-adormecido o homem estava inerte com os olhos fintando o vazio.

- Joaquim Trancoso? – Disse eu perplexo olhando o estado lamentável da condição do sonhar quando os olhos apáticos viraram-se para mim e disse.
- A sol lá fora! Sobre as nuvens há um sol.
- O Sol não é outro devorador de peles da superfície?
- Não, isso é um mito. Um mito! – Exclamou ele erguendo-se até sentar-se. – Tudo é uma mentira.
- O mito é verdade, como um escritor pode blasfemar assim dos mitos sagrados! Você está sonhando demais! – Repreendi.
- O que você quer?
- A verdade sobre o imprinting coletivo. O que é mito, o que é mentira?
- A ausência de sono individual levou a consciência global adormecer. O gás e os implantes de neurotecnologia não podem conter, mesmo o personagem que criei se tornou real. O mito é a mentira que está se tornando verdade.
- Como assim o personagem que ele criou parece gradualmente se tornar real, teria ele premeditado sua existência ou ele materializou-se pela crença de que existe?
- Você precisa ir ao lugar que não existe. Lá há livros históricos. – Disse o homem com os olhos arregalados - Não sabem como surgiu a humanidade de modo que toda uma cosmogonia fora criada para explicar o surgimento da humanidade e onde os Zakar eram demonizados.
- Isso é uma blasfêmia passível de morte! –Disse atemorizado com tais pensamentos subversivos.

O homem pálido e engordado com nutrientes feitos para alimentar o cérebro era lá posto em cárcere para criar novas combinações de histórias pois para a Elite o original era apenas uma palavra, tudo deveria ser copiado e rearranjado.

- Não consegue perceber! Há sonhos reais e realidades que aparentam sonhos, mas quando elas se cruzam? Vá ao lugar que não existe, lá há nomes proibidos, proibidos! Maldita esofonia esfonia, esofonia.

Se aquilo fosse verdade a Elite estava ocultado algo, mas era demasiado perigoso enfrentar o Ancião que não se via há anos e sua elite inflexível e rígida. Na hora que saia Trancoso me deu em minhas mãos um pedaço de papel que escondi num bolso quando o Centurião adentrou o recinto. Com um olhar atento quase percebeu o ato em meu lento reflexo.

- O que houve? Franz, se você estiver escondendo algo de mim, vou obriga-lo a olhar-se no espelho! – Ameaçou quando então retirei-me.

Como o Centurião sabia de meu medo? Como investigador queria apenas seguir as pistas deixadas para chegar a verdade, era a trilha dos bravos o qual me relutava a seguir em minha cegueira apática.
Assim que retirei-me dali tive a nítida impressão que o Zagão seguia todos meus passos como se temesse a minha investigação. Sabia que os filmes eram invenções, mas de que os boatos criminosos implantados pelos Zakar era verdade aquilo me deixou profundamente perturbado. Mas assim que longe da visão do homem tirei o papel do bolso e o abri para perceber se tratar de um mapa.
Nesse mapa parecia descrever toda a planta da cidade dos Desoníricos em seus cinco setores, mas havia um trecho do mapa que não estava na planta original, e nesse lugar um xis marcava algo com a inscrição: “O lugar que não existe”.
Fiquei quase chocado com aquela informação, não fosse pela apatia que me tomava poderia ficar legitimamente assustado, e assim segui em direção aquele lugar que era há uns quatro quilômetros daquela cidade circular o qual as vias formavam uma espécie de pentagrama. Tudo indicava que ‘o lugar que não existe’ era mais do que uma lenda criminosa implantada pelos Zakar.
Segui por uma área vedada com a inscrição de perigo de desabamento onde a entrada de qualquer desonírico era terminantemente proibida. Mas portando minha permissão especial de investigador levantei a fita e segui rumo ao túnel encravado na rocha e abandonado em sua obra. Olhei para trás para certificar-me de que não era seguido pelo Centurião e acendi a luz de meu luminário.
Segui até o fim oficial da planta e lá havia mais uma placa anunciando ser crime seguir em frente, novamente fiquei abismado dentro dos limites da apatia pelo fato que atentei que havia uma porta escondida por de trás de escombros, porta que não existia oficialmente.
Ao abri-la lentamente vi uma inscrição vermelha rabiscada na parede que dizia a quem saia da biblioteca: “El sueno dorado de los duenos del mundo”. A luz não consegui desvelar todo ambiente que era amplo, virei o papel e constatei nomes peculiares nunca vistos e abaixo dos nomes uma inscrição.

“Guardiões:
Andreia Revas
Carlos Sognare
John Somniatis

Acreditam num espaço dentro do espaço, como um universo dentro de nosso universo, escondido entre um evento cósmico.”

Aquilo eram enigmas que minha mente perpetuamente cansada e apática não conseguia compreender, estava letárgico, embebido pela mesma sensação estranha, desde os implantes sentia-me um estranho num lugar que não existe. Mas então encontrei um interruptor e como por afortunado ao pressiona-lo liguei as luzes do lugar revelando um extenso saguão onde havia fileiras mais fileiras de estantes com montes de papéis em brochuras que chamavam de livros.
Caminhei lentamente por entre as fileiras de livros onde haviam livros de história e outros estranhos chamados romance e novelas. Perplexo peguei um dos livros onde mencionava ‘A Profecia dos Sonhos’ e curioso o abri desfolhando suas empoeiradas páginas com ilustrações. Aquela era a Última Biblioteca com livros com relatos de toda história humana, haviam livros o qual a autoria fora apagada, ladrões de ideias achavam que o original era o inócuo. Lembranças de uma Humanidade perdida. Assim dizia o livro:

“Chuang-tsé (350 a.C.) sonhou ser uma borboleta e quando acordou refletiu se a borboleta não sonhava ser homem.”.

"Os homens viviam como Deuses, sem vícios ou paixões, tormento ou trabalho árduo. Em feliz parceria com seres divinos, eles desfrutavam seus dias em tranquilidade e alegria, vivendo juntos em perfeita igualdade, unidos por mútua confiança e amor. A Terra era mais bela do que agora, e espontaneamente produzia uma abundante variedade de frutas. Os seres humanos e animais falavam a mesma língua e conversavam entre si. Os homens eram considerados meros garotos aos 100 anos de idade. Eles não tinham nenhuma das enfermidades da idade para preocuparem-se e quando eles faziam a passagem para regiões de vida mais elevadas, isto era em uma suave soneca”.
Poeta da Grécia antiga, Hesíodo, descrevendo o mundo de uma 4ª Dimensão

Coloquei o livro em seu lugar e então vislumbrei mais alguns títulos garbosos.

Finnegans Wake - James Joyce
Hypnerotomachia Poliphili (1499)
Livro de Veles

Retirei o Livro de Veles e o abri lentamente, falava de mitos eslavos, ao seguir adiante me deparei com um capítulo que falava da Lenda do Zakar. Dzakar, deus babilônico dos sonhos, sendo que os sonhos na Antiga Mesopotâmia traziam mensagens dos deuses para os homens.

“Preza assim o mito de ‘Yav’, o mundo material que irá colidir com ‘Nav’, o mundo imaterial, rompendo todo ‘Prav’, as leis que governam outros dois mundos. Somente Dzakar pode impedir, pois a emergência de um é o declínio de outro.
Disse assim Mary Lex, a primeira representante de Zakar, profetiza adormecida, aquela que é jovem, mas é anciã:

- Instintos e sentimentos alinhados com o intelecto harmoniosamente prevalecem numa sociedade altamente evoluída, caso oposto problemas sempre acontecerão. A aniquilação gradual do sono assim como dos sentimentos leva a extinção dos sonhos, uma sociedade mecanizada, onde a arbitrariedade e exceção alimentam a discriminação. O homem que não sonha deixa de ser homem, o ser que não tem consciência e sentimentos.”

Perplexo com aquele formoso texto virei a página daquele livro lentamente ainda tentando assimilar as gotas daquele estranho conhecimento. Exultante sentia algo que não me lembrava de sentir...

“Na moral ambígua tudo se perde, mas a moral com ponto fixo é norteadora. Todos os valores precisam de constantes pois no mundo a maldade é a variável.”

Ouvi então algo ao fundo irromper os grilhões do silencia ecoando por todo saguão e perpetuando um medo antes mesmo de ser pensado por minha mente cansada. Fechei o livro e escondi-me atrás de uma das estantes quando vi os passos do Centurião caminhando lentamente quando começou a assoviar até que interrompeu-se o assovio e disse.

- Sei que encontrou a biblioteca secreta, Franz Six, mas seu tempo acabou. Rosetta Stone costumava falar que o sonho é o devaneio da realidade. O que é o sonho sem a beleza? É o pesadelo da ilusão. Saia de onde está ou se arrependerá de se chamar Franz Six.

Treme em minhas bases ainda que de modo letárgico sem compreender ao certo o que era medo. Larguei o livro caindo ao chão e corri em direção a saída quando vi que o Centurião estava do outro lado do saguão. Ao ouvir meus passos exultantes o homem apenas pegou um comunicador e disse.

- Envie o alerta coletivo, ele descobriu a verdade.

Ao desligar o comunicador viu-me passar correndo pela entrada e agora igualmente correndo gritou.

- Franz Six, se você subir será comido pelo Devorador de Sonhos, o inferno se libertará!

Corri pelo túnel em obras paradas quando sai numa das ruas por onde havia adentrado, vi as pessoas caminhando lentamente como sonâmbulos sem dormir, para onde iria correr? Tentei caminhar sem transparecer o nervosismo quando senti uma picada na minha nuca pelo implante de neurotecnologia, naquele instante todos pararam de andar nas ruas e viraram-se para mim.
Temoroso com a reação imprevista deles caminhei como seu os seus olhares não fossem para mim, mas todos vieram atrás de mim como mortos vivos vagando apaticamente.
Passei pelo corredor de acesso à Subida Proibida que levava a porta por onde supostamente o Devorador de Sonhos rondava na superfície, mas sem saber para onde correr arrisquei-me e subi o extenso jogo de escadas deixando a multidão que me seguia parada a sua entrada. Eram mais de 500 degraus escuros até uma porta dourada que tinha encima a mesma inscrição da biblioteca: Findo el sueno dorado de los duenos del mundo.
Quando abri a porta lentamente uma luz amarela azulada adentrou ofuscando minha visão pelo súbito contraste das luzes acinzentadas do interior dos subterrâneos. Tonto por alguma coisa injetada pelo implante estava prestes a atravessar os limites da cidade dos Desoníricos quando coloquei meu pé direito a atravessar a porta lentamente e então um vento suave e fresco irrompeu ante o ruído de aves que nunca havia ouvido. Olhei ao redor temoroso achando que o Devorador de Sonhos, aquela criatura mostrada em filmes que comia vivo aqueles que sonhassem, surgisse a me tragar, mas nada havia.
Caminhei lentamente sem fechar a porta e a cada passo sentia o puro ar irromper meus pulmões de modo nunca antes sentido, as nuvens douradas era vistas por mim apenas nos filmes sobre o apogeu da humanidade e as aves voando era o sonho de que não podia dormir.
Surgiram então duas formas diante de mim e achando ser o Devorador de Sonhos peguei um pedaço de madeira, mas pareciam ser homens.

- Fique tranquilo, não lhe faremos mau. – Disse uma voz tranquilizante.
- Temos mais um liberto que atravessou a porta! – Gritou o outro para o que aparentava ser mais daqueles quando oscilei os passos e bambei as pernas. - Talvez você precise dormir um pouco. Apenas isso.
- O que é isso que respiro, é o ar contaminado da superfície? – Indaguei.
- Não, o nome disto é ar puro. Bons sonhos.

Cai de joelhos, minhas vistas embaçavam e ardiam quando cai de bruços e senti um estranho conforto tomar meu corpo ao repousar horizontalmente meu corpo, ouvi um riso, mas não de deboche era felicidade, tentei me esforçar para ver mas as pálpebras pesavam e então tudo se escureceu.
Não parecia ter passado muito tempo quando ouvi um som ritmado com ruídos agradáveis, havia ao fundo som de risos quando me esforcei para abrir os olhos e me vi estar num leito. Me levantei assustado e sentei-me na cama quando uma mulher veio correndo até mim.

- Acordou! Franz Six acordou!

A mulher parou diante de mim e olhou nos meus olhos deixando-me deslocado. Ela sorriu e então coloquei a mão na minha nuca quando senti que não havia mais o implante neurotecnológico, senti-me aliviado como nunca antes me senti. Minha visão se tornou mais clara, tenho reflexos e foco, como se minha consciência tivesse ganhado maior lucidez.

- Só acorda de fato quem dorme! – Disse a mulher de doce voz e cachos dourados. – Antes era apenas alguma coisa entre estar dormindo e acordado.
- Isso é o que chamam de sonho? – Indaguei perplexo não percebendo que aquela consciência era o despertar.
- Não, meu amigo, isso é viver. – Disse outro homem parando diante de mim ao lado de um garotinho, todos sem implantes. - Os implantes junto a remédios administrados constantemente controlam os surtos psicóticos provocados pela privação de sono prolongada.
- Mas isso não faz sentido, e o Devorador de Sonhos? A superfície é apenas um deserto embebido num eterno inverno nuclear!
- Não, o Grande Inverno passou há décadas. – Disse a mulher. – Infelizmente poucos restaram na superfície, apenas alguns milhares. Mas você estava se tornando outra coisa pela evolução guiada.
- Como assim?
- Infelizmente todas as cidades que restaram são subterrâneas como a sua, um projeto que na verdade buscava impedir o rumo natural que a humanidade tomava.
- Vocês são os Zakar. – Conclui tendo o aceno de positivo deles. – Vocês são terroristas drogados e bêbados.
- Na verdade vocês eram os drogados para nunca sonharem. Estamos reconstruindo o mundo, mas o mundo o qual pertencia cresce abaixo da superfície nos combatendo pois somos os remanescentes. Os que ainda sonham, os últimos livres.
- Por quanto tempo dormi? – Perguntei perplexo.
- Por 76 horas. – Disse a mulher.

Recusava-me a acreditar naquilo, tudo o qual fui educado a acreditar não era verdade, os mitos que diziam reais eram mentiras inventadas para nos vedar a verdade, quimeras criadas como forma de controle populacional.

- Aguardamos muito por esse momento, Franz Six, sabíamos que um dos Desoníricos iriam se rebelar e se libertar, Rosetta Stone estava certa. Nesse mundo temos poucos recursos, mas sonhamos acordados e dormindo, temos artes, temos poesia! – Disse a mulher sorrindo.
- Mas e o crime do submundo?

Naquele momento eles se entreolharam entre si sem dizer palavras quando o homem interrompeu o silêncio e disse.

- Temos muito a te contar, Six. Sou Carlos Sognare, a propósito, e ela é Andreia Revas.
- Infelizmente os crimes são reais, todavia tem que compreender que o verdadeiro crime cometido é acabar com os sonhos para tentar controlar os padrões por de trás do caos, esse fora o primeiro tiro, a luta pelo controle absoluto apenas levou a seu oposto pois ele não existe com equilíbrio e harmonia. – Disse Revas e seguiu. – Aquilo que você investigava era o efeito colateral da iminência de uma catástrofe global quando os mitos cruzam os limites do imaginário ao real.
- Não é desejo deles que a população se liberte e suba, pois, no submundo vivem sob o medo sendo dóceis e submissos a eles a seus desejos, desejos que gradualmente se tornam verdade. – Disse Sognare - Há várias cidades como estas, somente a sua há 300.000 habitantes que trabalham 24 horas para os dominantes com salário de miséria.
- Vamos leva-lo a Rosetta Stone, ela era um deles que se rebelou ao perceber o que criaram. Ela ficará perplexa com suas feições e te dará respostas.

Não compreendia o que ela queria dizer, mas consegui lembrar-me de ao dormir ter tido sonhos, sonhei com uma senhora muito idosa que parecia dizer-me algo que não compreendia. Caminhei então por aquelas ruínas quando vi mais crianças surgirem a minha volta, estavam curiosas comigo, pelos rumores que me antecedia.
Porém, curioso mesmo fiquei eu ao constatar que Rosetta Stone era a anciã do sonho que tivera há poucas horas. A senhora de cabelo branco e quebrado estava enrolado e ela sentada sobre um pano em volta de várias plantas numa espécie de jardim sob uma trilha sonora instrumental relaxante. Eles tentavam recultivar plantas selecionadas numa espécie de arca.

- O que empurra os padrões no caos me trouxe e me fez ver um reflexo de um antigo. – Disse a senhora assustada ao vê-la. – Queríamos que você visse a porta, para atravessa-la como a quem atravessa os limites dos sonhos inconscientes e conscientes.
- Por que diz isso sobre reflexo? – Indaguei perplexo.
- Você tem medo de espelhos pois é a versão espelhada de outro homem que há um século lutou pelo oposto que você. Afinal o que reflete inverte. Simetricamente opostos. De tempos em tempos um messias surge e a história se repete, faz parte de uma sincronicidade caótica somente percebida pelo inconsciente.
- Como você sabe de...
- Era uma dos senhores do submundo, conhecia o perfil de todos nos mínimos detalhes, eram como cartas marcadas num jogo do caos. Sim, os mesmos que queriam emergir aquele mundo, mas não havia atmosfera para seus pesadelos – disse referindo-se aos gases que usavam naquelas masmorras. – Mas agora talvez eles consigam o que sempre desejaram, ainda que tenhamos fé que através de você...
- Do que a senhora fala? - Interrompi.
- Mais da metade da mente humana é subconsciente. Fenômenos como brainprint são demonstradamente capazes de alterar a randômica do mundo, há dentro de ti, o mesmo que lhe compeliu a ter eisoptrofobia um ser de poder intrínseco ao universo e o que o move, o caos. Ações indiretas pelo qual o ser consciente acha não ter controle.
- Instintos?
- Instintos animais tem, digo algo mais, algo que envolve os sentimentos, a empatia, o mesmo poder pelo qual torna possível alguns ver eventos futuros no caos, empatas. Algo nunca atingido plenamente pelo consciente, mas inconsciente o qual a expressão máxima, são os sonhos.
- Isso tudo então faz parte de um projeto global que estuda o caos e sua relação antropocêntrica? – Perguntei tendo um aceno positivo dela.
- Os extremos dos tempos aparentam-se para nós como sonhos, sendo até mesmo permeado por símbolos e alegorismo, no passado as mitologias com seres fantásticos, e no futuro permeia o onírico das profecias, no tempo dos sonhos. O consciente vive entre os dois extremos, no presente, mas os Zakar excedem seu eixo.
- Mas e os mitos de agora que vemos na cidade subterrânea? Os crimes míticos do Devorador de Sonhos, não era uma armação deles?
- Frames de uma dimensão paralela por sonhos. Não, apenas tentam nos culpar por isso, mas significa que a fronteira entre estes extremos está sendo rompida gradualmente alcançando o mundo cognitivo apenas pela consciência, a realidade, os padrões do caos estão sendo guiados. Os sonhos têm uma dimensão e tempos próprios que está sendo gradualmente rompido, arrombado, porque o inconsciente e consciente se embaralha gradualmente pela ausência de sonhos que seria a necessidade disto ser colocado pra fora. A espécie adormecida dentro de todos está aprisionada e a distância entre realidade e sonhos está sendo diminuída.
- Descobriram na época da Grande Queda que os sonhos provêm duma dimensão anexa a nosso universo, uns chamam de Topos Uranos outros de mundo espiritual, outros de que essa dimensão seja em si a consciência global. – Disse Revas interrompendo e me entregando um copo de refresco. - A Soma de todos os sonhos o qual declina-se ao utopismo espiritual repelindo todo sentimento vil, de ódio, inveja, ganância, luxuria...
- Os sonhos são as chaves nãos somente para o inconsciente individual, mas coletivo. Mas o empirismo não toca os sonhos.
- Rosetta Stone é a Zakar mais poderosa, ela consegue a psicosofia. O foco nos sentimentos me permite extrair informações do abstrato, quando me envolvo emocionalmente sinto-me fluir numa psicosofia. – Disse Sognare. - Há mais de dois tipos de raciocínios, o lógico-matemático, intuitivo, mas o inconsciente o mais poderosos pois é o que está por trás dos sonhos.

Aquilo fora libertador. Esclarecedor. Formidável. Há muitas formas de pensamento - por linguagem, por sons, por imagens, por sensações -, essas formas de pensar podem ser um guia a levar a ter ideias e insights e a moldar a própria inteligência em seus variados tipos. A Imaginação vem de imagem, como vem seu modo de pensar, supomos que um cego assim não pensa por imagens, mas por sons, assim como um surdo não pensa por sons, mas por imagens. Assim a compreensão de imagem de um cego a exemplo de um sonho cego, denota pelo tato ou mesmo pelas vibrações sonoras (sonar). Metáforas dos subconsciente assim, são ilustrações imaginativas que levam a compreender algo fora da própria imagem proposta e assim o pensamento de um cego ao ver a imagem. Aquelas eram definições da psicosofia de Rosetta Stone.

- O que faremos agora? – Indaguei eu sobre a situação.
- Planejaremos algo, deixe agora Rosetta Stone descansar, ela é uma anciã de dias.

Mas enquanto conversávamos a definição de aborto era o que acontecia, as atitudes de alguns que emergindo do inferno nunca nascem na história sendo apenas uma assombração traumática, uma lacuna dolorosa de amnésia histórica, assim como a cidade dos Disoníricos que não tinha dia nem noite, nem história era apenas isso, algo entre a realidade e os pesadelos de estar preso e não conseguir gritar por socorro.
Rosetta Stone era tão poderosa o qual conseguia realizar investigações nesse mundo permeado pelo inconsciente e que pelo caos conseguiu perceber que a lenda de um possível libertador era mais que um sonho. O tempo fora generoso a seu intelecto e a seus dons, o tempo não faz mal a inteligência, mas a beleza.
Grande eram as dúvidas sobre os livros que presenciei na biblioteca da elite, no mundo onde a educação era polarizada entre a educação da dominação dos opressores onde era ensinando que tudo podiam, à educação dos oprimidos que era o condicionamento a um quase sonambulismo em que nada era possível a não ser a vontade do primeiro. Só eles poderiam subir, só eles poderiam ter voz, só eles poderiam ter reconhecimento e sonhos pois as portas abriam-se apenas para eles. Aquele mundo era movido pela mesma desigualdade o qual o lucro deles era o prejuízo alheio, de uma massa compelida a não ter vontade própria.
E o livro Finnegans Wake, um antigo exemplar de séculos atrás de autoria de James Joyce expressava a máxima de um mundo de ideias acessível apenas pelo inconsciente mas que a história era registrada por meio de alegorismo. Era um sonho o qual as Sete camadas mostrava as verdades adormecidas na literatura ficcional, pois a ficção trazia verdades inefáveis. Sonhos trazem mais que memórias...
Realmente similar era o Hypnerotomachia Poliphili de 1499 o qual remetia ao Renascimento, um dos mais enigmáticos impressos e seu título sugestivo dizia do grego “A luta amorosa de Poliphilo em um sonho”, levando a crer que tais ideias transcendiam o tempo que para Rosetta Stone por ser um mundo de sonhos com tempo próprio tinha saídas para qualquer tempo mundano.
Sistematic Dreams era o nome dado por Rosetta ao que ela se referia a um sistema de sonhos intrinsicamente dependente do homem por ser alimentado e surgido desse ser que ela insistia em não chamar homo sapiens, mas homo oniric.
Os Contos Trancosos o  qual o fantástico remetia ao onírico por seus símbolos que excedem o possível real, parece ter sido os precursores comum da Grande Queda, acontecimentos que relacionados com os experimentos com uma então criança chamada Rosetta Stone.
Na verdade perguntei-me se o mundo secreto dos sonhos estava sofrendo tantas perturbações pelos pesadelos do mundo real, pois aqueles o qual o caos respeitava mais turbulência criava quando os mesmos algozes não o faziam.
Labirintos se formavam pela verdade em suas formas conscientes e inconscientes, enquanto tenebrosas charadas se formavam sobre o futuro do que iria acontecer.
Isso porque naquele instante um homem surgiu correndo informando que outro habitante daquela cidade em construção chamada Acácia fora atacado ao dormir e seus sonhos devorados.
Berros e gritos se ouviram.
Esgueirando-se marcas e pegadas funestas deixadas.
Relevo da morte estampado com a tinta vermelha do sangue numa arte que era um pesadelo.
Tudo em vão, gritou um dos sobreviventes. Tudo em vão.
E para o abismo que seremos tragados, outro gritou.
Mesmo eu não sabia o que fazer ante aquilo.
Era o mesmo medo que me consumia...

- O que aconteceu? – Indago a eles.
- Não é o primeiro mito a emergir. – Respondeu Carlos Sognare. – Fora na noite em que um experimento global de um cientista com interesses obscuros com a elite deu errado. Seu nome era Dr.Joseph Mason, e seu objetivo era basicamente relacionar padrões oníricos coletivos com a realidade por acreditar que molda-los seria capaz de alterar o humor da realidade antropológica.

Dr.Joseph Mason dizia Rosetta ser um doppler meu. Como um negativo, igual em aparência, mas com contornos nebulosamente escuros onde as trevas eram luz e as luzes trevas. Os experimentos que precederam a Grande Queda desenrolaram-se na Tóquio do século XXII quando conseguiram relacionar padrões oníricos dos que seriam chamados Zakar com a realidade, chamaram aquilo de pareamento de inconsciência. Muitos então passaram a ser perseguidos veladamente pelos homens de Manson e mesmo sua imaginação se possível monitorada, mas que por falta de prerrogativas legais nada era feito diretamente. Até que aquele fatídico 11 de maio seria marcado como a desculpa formal das autoridades de caçar e deter os Zakar onde até mesmo suas propriedades imateriais passaram ser consideradas apreendidas para julgamento.
Esse dia fora quando um grupo de Zakar foram estimulados sonhos coletivamente por um equipamento que literalmente controlava as ondas do estado alfa de sono e inseria imagens e informações durante o estado REM, mas ao ser colocado figuras do folclore japonês literalmente casos as envolvendo surgiram.
Muitas histórias do folclore japonês aconteceram, mas Dr.Mason negou que tenha sido eles a induzido, mas sim uma predisposição natural dos Zakar em tornar pesadelos reais, nunca sonhos benevolentes. O folclore japonês é normalmente era dividido em várias categorias: “mukashibanashi”, contos de antigamente; “namidabanashi”, histórias tristes; “obakebanashi”, histórias de fantasmas; “ongaeshibanashi”, histórias de retribuição da bondade;“tonchibanashi”, histórias de sabedoria; “waraibanashi”, histórias engraçadas; e “yokubaribanashi”, histórias de ganância.
As relações entre sonhos e mitos foram estabelecidas quando cinco casos de obakebanashi com mortes surgiram deixando provas até mesmo em vídeo. Manson que acreditava que a humanidade surgiu de um sonho, de um cérebro de Boltzmann, viu-se triunfante em conseguir que sua inveja acabasse com a liberdade e os direitos dos Zakar.
Isso assim cresceu como no nazismo, os Zakar passaram a ser malditos onde fossem. Proibido o casamento, ter mulheres e filhos, casa e até mesmo de permanecer em recintos comerciais se tornando propriedades do estado como se Manson e os seus tivessem a patente dos seres Zakar que assim foram rotulados como menção ao deus babilônico dos sonhos.
Sinceramente era apenas o princípio das dores como nas antigas profecias bíblicas. Casos de folclore nativos de cada pais eclodiram em todo mundo e um pesadelo gravado onde uma guerra nuclear era mostrada levou eles a julgar que os Zakar não sonhavam com o futuro, o concretizava quando um conflito armado explodiu entre a Índia e países do Oriente Médio. Era o raiar de um sol negro de medo segregador.
Perseguidos os Zakar se escondia, não poderiam mais sonhar nem dormindo nem com seus próprios planos, foram taxados como uma espécie menor, um tipo de sub-humano pelas prerrogativas de Mason. Dizia que os Zakar não devem ter direitos iguais pois pode significar o apocalipse.
E assim sucedeu aqueles dias quando um grande tormento sobreveio ao mundo e os Zakar mantidos presos embebido num líquido viscoso tinham a mente constantemente monitorada e controlada.
Realmente Descartes propõe que o pensamento é uma realidade diferente da realidade material e por sempre ser diferente nada do que nela ocorre é perfeitamente igual, do que planejamos aos sonhos que mais do que tudo eram demonstrações vivas dessa realidade inconsciente. Os padrões de símbolos freudianos e mitológicos de culturas extintas se cruzaram com a realidade pois as realidades se cruzaram. Os mitos se tornaram reais.
Sendo assim, mesmo a mitologia aborígene propõe que o mundo veio do sonho e as ideias de um cérebro de Boltzmann assombravam os remanescentes que para fugir do inverno nuclear seguiram os planos das elites que o implacável Mason servia.
E então sob as premissas de Dr.Mason criou então o mito do Devorador de Sonhos, uma criatura com chifres de bode, garras de leão e asas de grifo e de que esse ser espreitava os que dormiam, e tendo sob controle alguns Zakar tornou alguns exemplos desse mito real para que todos seguissem um plano onde a fisiologia humana se adaptasse a não dormir.
Guiados pelo medo do pesadelo, não mais sonharam, não mais dormiram. O coletivo tornou-se apático e doutrinado por uma cultura padronizada globalmente onde traços a cultura antiga é submetida e seus mitos substituídos por mitos americanos inventados.
Uma vez inspirado num experimento de sono fracassado durante a II Grande Guerra, a ausência do sono mesclada a características do gás fez com que a seta psicologia do tempo se invertesse a um estado involuído de animal, mas com ajustes posteriores foram suprimimos seus efeitos colaterais com os implantes neurotecnológicos.
Ela, Rosetta Stone era guardiã das histórias dos mitos passados e de todo conhecimento o qual era apenas acessível aos soberanos que fizeram do povo sua maior presa, isso até o dia em que ela foge.
Muitos não mais sabiam se dormiam ou estavam acordados e apenas estavam a ouvir a voz tenebrosa do homem que se tornou ancião, Joseph Mason. Mas agora tínhamos que tentar deter o que estava acontecendo mesmo na superfície os pesadelos de Mason tornando-se realidade para todos.

- Temos alguns infiltrados no submundo. – Disse Andreia Revas para mim. - John Somniatis, usando um pseudônimo mas a cada 72 duas horas tem que vir a superfície para não surtar.
- Terá de se retirar pois já sabem que ele é um dos infiltrados. Acho que ele já conseguiu esquemas completos das instalações, vigilância, segurança e mesmo de um túnel o qual ligam a cidade vizinha. – Completou Carlos Sognare.

Ao seguir Carlos Sognare nos levou a uma sala e mostrou esquemas completos da estrutura subterrânea que era em três níveis populares e mais dois elitistas. Suas ruas cortavam estreitas formando desenhos geométricos peculiares como um pentagrama e o andar da elite uma pirâmide.
Muitas das câmeras estavam principalmente nas entradas e saídas de todos os níveis tal como monitoramento por calor e um sistema de vibração os demais monitoramentos eram individuais como frequências cerebrais e batimentos cardíacos. O ponto mais precário dos rincões das profundezas pelo incrível que pareça era o corredor de subida que se estendiam por extenuantes escadarias às escuras num lugar entalhado na pedra, como uma mina. Mas não somente isso, mais à superfície havia um complexo de tuneis igualmente rudimentares que levavam a outras cidades tal como suas expansões em obras onde a legião de Disoníricos trabalhavam dia e noite somente parando por quatro horas diárias.
A energia, por sua vez era alimentada por um reator nuclear sepultado junto a população, pois caso de algo der errado toda toxidade radioativa ser introjetada apenas no povo enquanto as elites exasperadas fogem a tempo.
Zangões como de uma colmeia vagavam sendo constantemente monitorados pelos centuriões que trabalhavam para manutenção da ilusão instaurada oficialmente a mando do governo pós-Queda.
O oposto da recém fundada Nova Acádia sob resplendor do céu dourado do novo alvorecer da humanidade, a liberdade era reduzida ao condicionamento naquela criptocidade. Eram opostos por um abismo de terra de modo que seus prisioneiros humanos eram afastados da própria humanidade.
Não teríamos, porém muito tempo ao penetrar o solo na investida na criptocidade, utilizando-se de mapas e com contato estabelecido com John Somniatis desativaríamos o sistema de segurança tempo o bastante para invadir o centro de comando e desligar os gases e os neurotransmissores de massa.
Sem mais o que fazer seguimos rumo aos subterrâneos o único lugar que conhecia até me libertar do estado dopado entre uma das eternas doses de remédios anti-psicóticos e outros.

- Estamos adentrando o complexo de minas. – Disse Revas utilizando-se de um óculos de visão noturna – A princípio usaram tuneis de mineração e cavernas naturais para criarem a cidade, por aqui não estamos nos arriscando.
- Creio que você esteja equivocada, Revas. – Disse Carlos Sognare ao topar com um homem morto em pedaços.
- Rápido, é o centurião que me supervisionava! – Digo eu quase gritando a ecoar pelo estendo corredor de pedra.

Assim virei-me e apontei a lanterna adiante vi uma série de corpos despedaçados e empoçados no próprio sangue. Havia marcas de tiros pela parede e rostos lançados à lama comtemplando a cena do mesmo horror que viu por último, antes de jazerem no túmulo da humanidade como conhecida.
- Vamos, não temos muito tempo. Isso é mal sinal. – Disse Revas assustada empunhando agora sua arma.
- Acho que o formigueiro não vai resistir ao próprio mal que criou. – Conclamou Carlos Sognare como quem pensando alto.
- Sem dúvidas é mesmo. – Disse Revas quando então um som ecoou dentro das cavernas, um uivo tenebroso que nos fez sentirmos arrepios nos pelos do corpo.

Caminhamos lentamente quando o som se aproximou e um rugido feroz se ampliou como se sondasse nossas evoluções no lugar, então apertamos o passo quando um leve abalo surgiu e o barulho de pedras se remexendo ecoaram.
Quando nós viramos ante a escadaria notamos um enorme ser de uns quatro metros de olhos brilhantes e presas afiadas enquanto saliva escorria de sua boca. Corremos pegando a escadaria que ia a cidade das profundezas e víamos apenas o trepidar das luzes de nossas lanternas enquanto Revas desligava os óculos de visão noturna.
Numa fúria avassaladora o monstro se erguia descendo pelo corredor quando tropeçou em suas próprias patas rolando a escadaria em nossas direção. Por sorte havia uma bifurcação da escada o qual entramos a um corredor subjacente. Continuamos a correr igualmente quase caindo uns sobre os outros. A quimera da criptocidade estava ainda faminta como se o brainprinting da humanidade detida projetasse uma ilusão de seu próprio medo autoalimentado.
Ouvimos a criatura subindo do outro lado e entrando na bifurcação onde entramos, mas finalmente vimos a porta da criptocidade aproximar-se a poucos metros nos lançamos sobre ela caindo em meio a rua quase sendo pisoteados pela multidão apática que vagava na cidade sem dar-se conta do que acontecia.
Me levantei e guardei a arma quando observei as câmeras a volta, um dos homens apáticos para e nos observa como quem olha o vazio a tentar entender o abismo que cerca sua própria vida sem significado. Ajeito a calça e guardo a arma, mas uma batida forte na porta se ouve feroz, era a quimera dos disoníricos tentando arrombar a porta para adentrar. O homem se aproxima de mim e diz.

- W.C. é à esquerda.

Seguiu a diante juntando-se aos demais sem diferenças no mesmo flagelo que eram submetidos. Seguiam todos a uma única direção como se caminhassem silenciosos ao abismo sob uma trilha sonora de música clássica de Wagner.
Mas na contramão de todos surgiu um homem correndo e que nos gritou prontamente. John Somniatis, com enormes olheiras por permanecer naquele mergulho por três dias sem dormir.

- Temos pouco tempo antes que reativem as câmeras, vamos!
- Temos que segurar a porta, o monstro quer arrombar! – Gritou Revas em polvorosa.

Sons tenebrosos se ouviam pelo recinto gradualmente chamando atenção dos disoníricos, mas John Somniatis apenas colocou umas toras de obras para que a porta não fosse arrombada, mas seria a mesma porta que usaríamos para ter que sair. Aquilo o seguraria por algum tempo.
Olhamos para o alto onde era o centro de monitoramento quando um dos centuriões já estavam percebendo o que se sucedia.
Uns disoníricos então mudaram o rumo uniforme do sentido em que iam, voltando enquanto olhávamos o mapa e achamos o controle do gases e dos neurotransmissores. Corremos quando do outro lado um grupo de centuriões surgiram apontando e gritando palavras como “Terroristas alcoolizados! ”.
Seguindo em frente vimos a porta o qual somente a elite adentrava e a contragosto deles a abri lentamente subindo um lance de escadas, eram trinta e três degraus. Fosse o que fosse as elites odiavam portas e amavam pedágios.
Entrei no primeiro corredor a frente quando me deparei com um centurião bocejando de sono, com os pés sobre um painel de controle. Revas lançou-se sobre ele o agarrando pelo pescoço quando John Somniatis lhe desferiu um golpe na cabeça o fazendo dormir.
Gritei pelo mapa do controle para saber qual botão desligo, mas Revas eficientemente o localizou e apertou soando um alarme quando as câmeras de monitoramento tornavam ao ponto.
Rispidamente surgiu outro homem com uma caneca de chá nas mãos e ao reconhecer a deixou cair gritando por socorro. Um outro alarme soou em todo recinto.
Estava Revas apertando outros botões quando afirmou ter conseguido desligar os neurotransmissores e Sognare a puxou dizendo que não havia mais tempo.

- Guardamos o que era preciso, desativamos tudo, vamos! – Insistiu Sognare.
- Acho que não vamos conseguir. – Disse Somniatis quando ouvi lá embaixo o som da porta sendo arrombada!

Dois Disoníricos que sentiram o ar da liberdade, ainda atônitos olhava para os lados quando a quimera se projetou sobre eles os devorando em pedaços.
Os Centuriões vinham armados atirando enquanto a multidão agora livre corria ao ver a situação calamitosa se levantar na região.
Fomos pelos corredores quando ao passar por uma porta aberta vi um quadro com fotos de um homem igual a mim, era Dr.Mason. Parei enquanto os demais corriam quando Revas ao ver gritou por mim. Mas relutante apenas segui porta a dentro.

O lugar era disforme de todo restante. Cheio de prêmios, fotografias de Dr.Mason aquilo mais parecia um altar quando vi uma menina carregando uma xícara de chá nas mãos a deixando também cair ao me ver. Lentamente virou-se um ancião muito velho e me olhou nos olhos cerrando a visão.

- Franz Six. – Disse o homem – Bem-vindo de volta. Você é minha metade por mais irônico que soe. Deveria ter dado atenção a Rosetta Stone quando sonhou com seu nascimento.

Permaneci calado, mas me aproximei lentamente mais por curiosidade do que por medo.

- Stone sempre nos trouxe problemas, mas por muitos anos tivemos um dos mais poderosos Zakar de perto nos acompanhando, camuflado. Onde havia a ordem que buscávamos para a humanidade, ela era o caos. – Disse o homem quando tomou um gole de seu chá e sorriu para mim desdenhosamente e prosseguiu. -  A jovem prodígio parecia nos apoiar em tudo, camuflou os sinais de leituras de sua mente inserindo um código oculto no programa que ela mesma criou para isso. Mas você não é igual, podemos moldar a realidade da maneira que quisermos juntos, Franz!

Naquele momento adentrou Revas com Carlos Sognare armados sob o som atenuado do alarme, mas o homem seguiu os ignorando e olhando para mim.

- Entenda, o único modo de deter a quimera e embebendo a população de volta a seu estado anterior, as pessoas que a quimera não matar o surto psicótico as atacará por estarem apenas a vida toda sem dormir. Ela não deve ter mencionado a doença panonírica como um surto leva a 'loucura dos sonhos' onde num hospício os que são tratados como loucos ficam e onde começam os sonhos projetados.
- Não contou, mas presumo que nada justifique isso. – Disse eu olhando-o seriamente.

Virei-me a seu painel onde havia o microfone o qual falava a todos, todos os dias em seus discursos monótonos e tão moralistas. O ancião virou-se para o painel e notou que havia observado a tela onde era acionada a mensagem.

- Pra que ser reconhecido, Franz Six, não faça isso, seja como eles nem felizes, nem infelizes, nem vivos nem mortos, apenas existem a servir uma causa maior do que eles, a humanidade!

Pego o microfone ao seu lado e então o ancião segura meu puxo e se reluta enquanto a quimera lá embaixo é atacada e ataca os centuriões. Mas ainda assim pego o com o velho puxando e repuxando. Ele se levanta e tenta me bater quando caí ao chão.

- Acabou! Vocês com seus patéticos sonhos de direitos e liberdades individuais! Você não tem o direito de sonhar, isso é uma alucinação! – Gritou o velho ao chão se remexendo quando notamos que enfartava sufocando sobre si próprio.

Comecei então a falar ao povo ignorando o homem que segurava meu tornozelo ao jazer.

- "Todos os Vigilantes tremerão e serão castigados em lugares secretos em todas as extremidades da terra  " *.  Mas habitantes da Criptocidade, a partir de hoje não será mais dito em seus implantes neurotecnológicos o que deve ser feito, o mundo não acabou, há vida na superfície e ar puro que respirei com meus próprios pulmões. Não direi nada a não ser onde fica a porta para a saída, a porta que se abre para a liberdade, não posso leva-los apenas orienta-los, pois a porta somente vocês devem atravessar. Não tenham medo, pois não é o fim, mas apenas o começo, durmam e sonhem!

Ao ser apontando a porta que havia sido arrombada pela quimera ao chão, todos seguiram em meio a um burburinho de dúvidas e anseios mas todos seguiram atropelando os centuriões o qual agora não resistiram. Tão logo uma multidão transbordava a estreita saída para os corredores das minas de modo a culminar em dezenas de centenas surgindo na superfície extasiados com o ar puro da liberdade ao abrirem eles mesmos as portas como se estivessem sonhando com o paraíso. As crianças corriam pela grama que nunca viram enquanto os adultos conversavam perplexos e deitavam-se na grama até adormecerem. Não era o fim de uma vida, mas o começo da liberdade e de uma nova história para a humanidade.
Aquilo se repetiu nas cidades vizinhas por bastiões de novos adeptos de Rosetta Stone enquanto controlavam os sonhos livres e assim com seu poder diluído pelos Zakar entre eles agora igualmente livres e com vidas plenas. Casaram-se, tiveram filhos, reaprenderam o que era humanidade. Quando Revas os ensinou que os que amam dão boa noite para passar a noite ao seu lado apenas para amanhecer e lhe dizer bom dia.
Fora assim num dia como aqueles que Rosetta Stone soube o que aconteceu com seu amigo Dr.Mason e então ela adormeceu nesse dia feliz pela justiça feita, mas encontrou-se perpetuamente nos braços de Morpheus. A discutir sobre a morte da anciã, Revas numa noite apenas me disse.

- Creio que há uma outra realidade superior e mais real a essa o qual para nós são assombro e somente por avatares podem vir, para tal realidade nós somos apenas um sonho.

"Não é verdade que as pessoas param de buscar seus sonhos porque envelhecem. Elas envelhecem porque param de buscar seus sonhos"
– Gabriel García Márques

Conto da antologia 'Todas as formas de Sonhar' de Gerson Machado de Avillez.