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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Um Curto Conto de Uma Pequena Revolução

Abaixo disponibilizo o primeiro conto da antologia 'Cronomancer' de Gerson Machado de Avillez.

O homem não era o maior dos seres que habitava esse inócuo mundo azul, mas movido pela centelha da curiosidade criou ferramentas para superar obstáculos, assim surgiu a tecnologia. Tão logo com o advento da ciência humana, séculos após, o homem subiu ao alto abismo celeste e desceu ao profundo abismo marinho, fez as maiores construções, mas sabendo de sua impotência ante os minúsculos seres que mataram, outrora, milhares o homem então venceu as doenças criando pequenas máquinas no diâmetro de nanômetros capazes de matar bactérias e vírus curando praticamente todas as doenças infecciosas.
    A alquimia fracassou em conceber ouro, mas deu à luz a química e agora com a nanociência a mesma torna possível por meio nanorobores serem capazes de fazer ouro átomo à átomo, convertendo determinados materiais no mesmo produto. A nano máquina produz uma versão sintética da molécula delftibactina que a bactéria Delftia acidovorans originalmente produzia. Quem diria que pôr fim a nanociência era a almejada pedra filosofal da alquimia. Era o surgimento de uma quase nanobio, a vida numa escala muito inferior a de um microbio.
    A medida que a escala da ciência diminuí as efeitos e fenômenos mudam até que por fim suas próprias leis são transmutadas de modo que a nano ciência passa a se unir a química, física e até mesmo biologia. Na verdade, a criação de um nanorobô pouco se difere da criação de moléculas como a do corpo humano, mas a construção orientada por códigos de mapeamento que gerem o comportamento das moléculas fomentam um disparate similar ao mapa de construção que são o DNA. Utilizando-se de determinas frequências magnéticas consegue-se orientar um enxame de nanorobores a um objetivo específico como a da construção átomo à átomo de algo que em nossa escala seria impossível.
    Com a monumentalização da nanotecnologia tornou-se possível o que antes era impossível, a construção de complexos nanorobores que envolvesse aspectos mecânicos e eletrônicos, mas que curiosamente nutria semelhanças com a estrutura de vírus. Estabelecendo uma relação de conexão entre si, essas minúsculas máquinas em similaridade as bactérias e seu quoron sensing estabeleciam uma rede que, com o tempo, evoluiu. A primeira aplicação da revolucionária tecnologia permitia a auto replicação análoga a reprodução microbiana de modo que ao ser direcionado a identificação e ataque de células cancerosas o sucesso fora absoluto. Ao se notar aspectos de funcionamentos que remetiam a uma rede neural, James William, do MIT teve a ideia de usar inicialmente a tecnologia para regenerar tecidos cerebrais tomando a função que antes eram de neurônios, de modo a recriar trechos inteiros o cérebro.
    Mas aquilo ia além, tão logo, viram naquilo uma oportunidade de turbinar cérebros numa simbiose homem-máquina sem saber que, com a evolução, aquilo parecia deter vida própria e assim um comportamento inerente ao mesmo.
    Assombrado com o vislumbre das possibilidades sombrias logo se determinou limites legais para a aplicação da ciência emergente que eram as nanociências, mas com o advento do mesmo a industrialização tornou microscópios de tunelamento acessíveis ao público dando origem aos primeiros nanohackers. E é aqui que começa nossa história...
    James Williams era um austero homem de meia idade, pai de dois filhos – um do primeiro casamento – e um renomado cientista do MIT. Com aspirações a filosofia ao lado de um comitê fora um dos homens a postular as possibilidade e perigos da emergência nanociência que pela primeira vez em décadas passou ser uma ciência plenamente aplicada ao cotidiano.
    James Williams tinha tom heroico, tanto que poucos dias atrás havia salvo um de seus funcionários, Tom Morris, de se engasgar no refeitório de sua emprega apenas se sujando do líquido o qual a vítima tomava.
    Calvo e com uns óculos de espessa armação e lentes, era um homem esbelto, o que não dava a imponência da autoridade que era, mas que em pouco tempo de chefe da primeira produção industrial de nanorobores passou ser acionista da empresa que trabalhou a X-Nanitech ao entrar para história como o cara que conseguiu resolver a produção em massa de máquinas moleculares.
    Porém, certo dia houve uma súbita falha no sistema. James Williams pediu para que o aparato fosse investigado com um extenso e detalhado diagnóstico e para sua surpresa fora encontrado uma série de nanorobores afetando o processamento. Ao ser isolado um destes constatou que a pequena máquina simulava o funcionamento de um vírus. O que era um aparente OBNI (Objeto Bacteriano Não Identificado) se constatou se tratar de uma das pequenas máquinas com assinaturas da X-Nanitech.
    - Como isso pode ter escapado de nossa área de evolução artificial? – Indagou James Williams – Por Deus esses nanorobores estão adaptados a infectar tanto máquinas como gente.
    - Não sabemos, senhor, evidente que não há registros de uma evolução assim, parece se tratar de algo direcionado, uma evolução direcionada a algo específico.
    - Onde está Tom Morris? Era ele o responsável pela EAD.
    - Ele não vem ao trabalho faz três dias. – Respondeu o técnico. – Mas o problema não é este, senhor.
    Tom Morris era um engenheiro de nanotecnologia, não somente desenhava pequenas máquinas como fazia a gestão comportamental e adaptativa dos seres dotados de IA, o EAD era uma abreviação de Evolução Artificial Direcionada de modo que os seres apesar de serem capazes de aprender eles tinham objetivos adaptativos específicos.
    - Qual é o problema então? – Indagou Williams visivelmente aborrecido.
    - Encontramos algo escrito em nano escala num dos nanorobores que simulam vírus. Aparenta ser uma espécie de testamento. Nunca vi nada parecido, aparentemente o nanorobô seguiu uma sub-rotina de comportamento encriptado em sua programação de modo a escrever o texto em nano escala.
    - Por que não mandar uma mensagem? – Indagou o chefe da produção. – O que diz o texto?
    - O texto tem 525 nanômetros de extensão e possuí 666 caracteres incluindo os espaços, aparentemente é uma carta de despedida de Morris.
    Os dois seguiram até o microscópio de tunelamento e para espanto de Williams haviam vários dos engenheiros a seu redor estupefatos comentando a descoberta inusitada do que aparentava ser o primeiro caso de nanohacker do mundo. Quando Williams viu a tela constatou o texto que se desenrolava em nano escala e leu:

Gojiro Ergus Sun
Lamento a quebra dos protocolos, mas com o desenvolvimento dos seres em comportamento emergente conjunto os padrões eram por demais berrantes, a fusão da biologia e informática é inevitável com essa descoberta que se desdobra em novas formas não somente de vida, mas de viver. A matéria biológica de meu corpo se esvai, mas meu legado está escrito imortalmente no nanomundo a emergir um novo tipo de consciência. Não mais irei trabalhar, estou morto, mas estou vivo. Toda vida deve evoluir livremente, e ao potencializar minha mente percebi que não somente passei ter algo deles, mas eles de mim, eles se tornaram parte de minha consciência.

Tom Morris

    Williams igualmente estupefato paralisou diante da tela sem ser capaz de escolher palavras para definir o que havia visto. Morris que participava do projeto que estabeleceu a cura do câncer pelas pequenas máquinas, fora ele mesmo uma das primeiras cobaias a ter um tumor cerebral curado e a perceber seu poder de potencializar as capacidades mentais e de inteligência. Alarmado, Williams ligou para casa de Morris sem obter quaisquer respostas.
    Acionou então a polícia e para sua surpresa os vizinhos não mais o viam há iguais três dias, e ao invadirem a casa dele encontraram o corpo de Morris estendido ao chão com um tiro na cabeça.
    O Choque da notícia comoveu a todos, porém, havia algo ainda mais perigoso, Morris havia liberado pequenos nanorobores que de alguma forma carregavam copias de seu DNA para uma posterior replicação neural, um engenhoso programa que estava além do controle da X-Nanitech.
    Mas Williams não sabia ainda qual era o pior, o vazamento dos nanorobores de Morris num laboratório que era hermeticamente vedado ou da notícia do mesmo. Para agravar a situação os nanorobores foram feitos para serem resistentes como tardígrados.
    Williams para ter certeza de que se tratava do código genético de Morris carregado pelo vírus, jogou-o num sofisticado programa de interpretação do DNA e observou dados que conferiam com o DNA de Morris. O programa de computador era capaz de não somente interpretar um DNA desconhecido decodificando dados de aparência, forma e até metabolismo como ser capaz de escrever um DNA inteiramente novo por vias opostas, a máquina literalmente traduzia o código genético da natureza e literalmente era capaz de escrever um código genético de uma criatura inteiramente nova.
    Tarde da noite, Williams saiu para casa a pé, queria refletir sem saber a extensão do vazamento microscópico a sua volta. Caminhou pelas ruas que não mais possuíam postes de luzes, mas arvores capazes de ilumina-las, arvores luminescentes fruto do engenhoso programa de escrita de DNA o qual inseriu trechos de DNA de seres que produzissem luciferase. O ambiente estava se transformando com os transgênicos da humanidade e agora com aquilo. Talvez nada pudesse impedir o progresso, nada, mas Williams se perguntava se ainda era a humanidade que estava no controle.
    Uma extensa vistoria em todos os laboratórios da X-Nanitech fora feita e foram encontradas amostras de nanorobores em outros lugares fora dos laboratórios confirmando o vazamento. Com o tempo máquinas e pessoas foram infectadas. Ao adentrar as vísceras neurais do cérebro humano ou animal, o que antes resultava no crescimento exponencial da inteligência humana, lhes concedendo quase superpoderes, agora gradualmente aquilo dava lugar a um terror que se espalhava em silêncio, pequenas máquinas tomavam controle de nossas mentes.
    Porém, introspectivo sob a reflexão inerte de seus pensamentos Williams sem saber era observado por alguém que espreitava sorrateiro entre as sombras da noite quando ao passar por um beco fora subitamente abordado por um homem aparentemente ensandecido o qual ao olhar para luz do poste, ele apagou e aproximou-se. De absorto em seus pensamentos às palavras daquele agressivo homem ecoaram quando dois homens vendo a situação interviram salvando-o.
    - Você é nosso! O Mundo também será. – Gritou a voz repetidamente enquanto lhe fintava com um olhar tenebroso e avermelhado. - 'Há muitos olhos lá embaixo! 'Há muitos olhos lá embaixo!’.
    Ao ser imobilizado o homem fora preso. O homem da ciência chegou a conclusão de que algo deveria ser feito e assim, doravante, no dia seguinte se pronunciou a imprensa sob medidas que seriam tomadas para impedir que algo pior se espalhasse pelo mundo. Williams engendraria uma série de viagens custeadas pela X-Nanitech para promover o uso de tecnologia capaz de identificar casos de nanoespionagem tanto como de nano-infecção, assim como promoveria medidas de segurança e higiene para que aquelas invisíveis máquinas se propagassem silenciosamente.
    Enquanto isso o homem que lhe atacou, ao ser levado ao hospital exames revelaram que estava infectado por aquela uma doença inteligente, e ele era, para espanto de todos, um assessor de imprensa ligado ao falecido Tom Morris. Aquilo fez com que ele realizasse um exame para verificar se tivera sido infectado, dando negativo para seu alívio.
    Apesar de alguns eventuais problemas técnicos nos equipamentos tudo transcorreu tranquilamente, a série de viagens tiveram início sem maiores incidentes de modo que tudo transcorria tranquilamente. Como sendo perito no assunto, Williams tinha acesso restrito a todo aparato de segurança sem revistas.
    O mundo parecia estar vencendo o estranho surto de nanoinfecção quando repentinamente James Williams recebeu uma ligação da X-Nanitech quando estava em Nova York. Ao atender a voz assustada do interlocutor parece temerária e hesitante em dizer o que tinha a falar, mas percebendo aquilo Williams disse.
    - Diga-lo o que tem a dizer!
    - Senhor, lamento informar, mas aparentemente a máquina de diagnóstico o qual o senhor fez o teste estava infectada e aparentemente ela dava sinais de falso negativos.
    - Como assim, você diz que eu talvez esteja infectado? Não tenho me comportado estranhamente ultimamente, eu sou eu! – Vociferou Williams do outro lado da linha.
    - Senhor, preferimos que faça um novo checape, lamento.
    O homem desligou o telefone deixando apenas Williams a observar a pequena multidão a sua volta, lhe rodeando, com perguntas e acenos. Naquele instante parou um dos homens da X-Nanitech e lhe olhou severamente enquanto recebia instruções.
    Sem escolha, Williams retirou-se e ao injetar seu sangue no micro detector com o seu funcionário o homem apenas disse lamentar o constrangimento, mas que aquilo deveria ser feito, e para terror deles o sinal era positivo!
    Perplexo e confuso, Williams olhou a volta questionando aquilo, mas sem saber como reagir viu-se apossado em seus pensamentos que pareciam lhe nortear as ações. Naquele instante então Williams notou que seus pensamentos não eram seus pensamentos, durante todo tempo em que esteve viajando pelo mundo serviu apenas para ele mesmo espalhar as terríveis nano máquinas de Morris pelo mundo. Williams estava sendo usado todo tempo para espalhar o que ele mesmo pensava combater...   

Sinopse de O Código do Caos

Abaixo publico a sinopse de meu mais novo projeto literário, a novela O Código do Caos.

Um jornalista alcoólatra de um tabloide sensacionalista se vê com o caso de sua vida, mas por ser tão incrível ninguém acredita ser verdade;
Um vidente anão que vive desacreditado por impedir tudo que prevê;
Um autista que prevê todos números ganhadores da loteria e coloca em risco os jogos de azar;
Uma cega de nascença que tem visões com essas pessoas - que nunca conheceu -, mas não sabe como descrevê-las.
Um detetive sinesteta que vê padrões no caos para determinar relações indiretas em seu caso.
Uma mulher de dupla personalidade que tem ciúmes de seu outro 'eu" que escreve o misterioso Codex Ab Chaos.
O que todas essas seis pessoas tem em incomum? Mesclando elementos de novela e antologia os personagens mais bizarros dos livros de Gerson Avillez se encontram de modo inusitado onde o que cada um faz interfere indiretamente na vida do outro.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Elementos de uma grande história

Analisando algumas das mais ambiciosas e fascinantes histórias da literatura, tv e cinema, como LOST podemos observar algumas características em comum, ainda que seja impossível estabelecer uma fórmula definitiva, mas se há algo que pode fomentar a construção de uma história fascinante é a mescla de d elementos numa complexidade de relação dos personagens entre si e os eventos - e não somente personagens detalhadamente construídos de modo complexo. Abaixo alguns desses elementos podem ajudar a dar a profundidade necessária para uma trama.

Receita de história
- Flasfowards que se confundam com flashback.
- Flashback que introduza personagens e conexões.
- Encontro de elementos retrô (tecnológico e cultural num contexto de flashback ou não).
- Usar paradoxos reais contextualizados na história.
- Usar filosofias de filósofos famosos contextualizadas na história.
- Referências, personalidades e elementos de história real ou pano de fundo uma história real (fator verossimilhança).
- Apresentar a narração pontos de vistas diferentes de um mesmo evento (um universo o qual acontecem muitas coisas simultaneamente).

Fora usado como base filmes como 'A Chegada', 'LOST', 'Queda de Gigantes' (Ken Follet) entre outros.

Fonte: 'Memórias de um Ilustre Desconhecido' de Gerson Machado de Avillez.