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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Trecho de 'O Tempo e o amor' de Gerson Avillez

Abaixo um trecho do segundo capítulo do livro 'O Tempo e o amor' de Gerson Machado de Avillez:

O crime, num inócuo mistério, havia sido por dentro como  por um vírus no organismo. Com as portas fechadas pelo interior, deixou perplexa as autoridades que sentiram-se incompetentes em resolver o crime, como era comumente irrelevante naquele mundo. Mas então resolveram chamar o mais improvável dos investigadores, Johansen Pirro Ockham, um aspie que sofria de sinestesia generalizada.
Apelidado entre os forenses como 'O estranho' o sujeito, esquisitão tinha o dom de seguir padrões de cheiros e ruídos visuais que levasse revelar componentes e provas não conhecidas na cena do crime.
O jovem Johansen Pirro sentia o cheiro de crimes e era nascido num ano bissexto. Tinha sinestesia que misturava os sentidos e que por sua condição do dia de nascimento, tinha apenas 14 anos, oficialmente.
Apesar daquilo render piadinhas óbvias e pedantes, Pirro levou a compreender a sinestesia de forma única que permitiu literalmente cegos enxergar ao induzir o sensorial plástico pela sinestesia, porém, nisso toparam com algo mais, algo extra-sensorial. Aparentemente Pirro aprimorou seus dons sinestetas e hoje era como uma aranha na teia percebendo vibrações nos fios de eventos e tempo a procura de padrões e indícios no fluxo de eventos, como se referia.
Fosse no século XIX seria uma peça de circo, pois o sujeito acumulava dotes incomuns de modo único, pois era igualmente tetracromonotia, isto é, via muito mais cores que um cérebro normal era capaz de compreender, na realidade mais que as 16 milhões de cores que um computador é capaz de identificar em seus quase infinitos tons.
Ao adentrar a cena do crime tapou o nariz ainda que não tivesse nenhum odor irritante as narinas comuns, pois o cheiro era traduzido na verdade em seu peculiar cérebro. Virou-se e contemplou o blusão que a jovem e bela assistente do delegado vestia e disse.

- Seu blusão é muito barulhento.

A jovem abriu um sorriso, achava tudo aquilo muito brilhante e original, sobretudo pelo fato de Pirro ser irritantemente honesto em tudo que investigava dentro de seu distrito policial, a ponto que colocava em risco a impunidade de alguns de seus colegas corruptos.

- Por que ele disse isso? - indagou um forense que não o conhecia.
- Ele ouve a música das cores - respondeu a jovem assistente com um sorriso atípico a situação do crime ocorrido. - É um sinesteta.
- Ahh - respondeu o homem observando ele conversar com o delegado.

O Estranho, então, sem perder tempo, observa a cena do crime silencioso, mas barulhento por dentro, que ao ouvir as cores soa uma melodia aterrorizante com seus tons que não poderiam ser ao acaso. A frequência dos crimes soavam como um fluxo de uma melodia agonizante.

- Sempre tive a sensação de que as cores do mundo real estão erradas, mesmo os números tem mais informações do que aparenta. A visão humana esconde muito mais do que revela normalmente. - disse Johansen Pirro ao ver a assistente aproximar-se dele.
- Precisamos é de provas, mas se você tem certeza absoluta de algo, está completamente errado - disse o delegado de modo sisudo.
- É para mim ter certeza absoluta de sua afirmação, ou não? - perguntou o estranho sendo irônico sem querer.

O delegado ignorou e a assistente tentou fazer piada.
- Alguns só tem certeza que não tem certeza, pois no mais creem piamente na dúvida!

O oficial da lei olhou com semblante fechado para ela e respondeu em tom de reprovação.
- A busca por respostas leva, as vezes, alguns a deliberar inventando interpretações por não se conhecer o verdadeiro significado de algo ou simplesmente o ignorando.
- Lúcido, - respondeu a assistente com notável ironia - lembro que o sobrenome de Pirro é Ockan.
- O material é o aparente, o espiritual o inerente. - disse Pirro olhando para o vazio como um cão seguindo um lastro de odores, ignorando o que ela disse. - Mesmo se tapasse os ouvidos continuaria ouvindo aquela melodia quando pega na direção certa, de onde veio. - concluiu contemplando a melodia visual que era disforme. - Na dúvida de algo, sempre siga os padrões, eles sempre indicam a verdade ainda que não revelada, quando não são assinaturas de ocorrências.
- Caos e tempo, informações e ondas, duas faces da mesma chave universal a todos segredos científicos. - disse a assistente.
- As cores têm relações com o caos e o tempo. Por isso as cores são o alfabeto do infinito. - continuou Pirro quando topou com algo.

A assistente virou-se para o delegado e disse-lhe impressionada.
- Temos que admitir, ele é autentico.
- Ser autêntico é ser o melhor imitador de si próprio. - arriscou responder o delegado constrangido, tentando cobrir aquela situação com sua eloquência acadêmica na pratica forense. A pontada de inveja era evidente.
- E uma cópia só pode ser medida em termos do original. - repercutiu Pirro vendo uma relação concreta com o dito, nunca fora dado a subjetivdades e analogias parabólicas.
- O que encontrou? - perguntou a assistente notando ele se abaixar diante de algo.
- A verdade. - respondeu Pirro tapando as narinas. - Em terra de mentira, a verdade mata porque é marginal.
- Crime é o perfume do cruel - disse a assistente rindo quando ele pegou um anel sujo de sangue no chão.

Naquele momento o delegado passou a ter certeza no misterioso dom de Pirro onde os sentidos eram embaralhados como cartas num jogo de buraco o elevando quase ao status mediúnico até então proibitivo ao meio acadêmico.
Mas a felicidade está na dúvida ou na certeza? Quantas dúvidas se podem carregar?
Alguém diz que quem tem certeza está completamente errado, então temos que duvidar da afirmação dele ou ter certeza? O absurdo da afirmação é etimológico, a certeza vem de certo, logo a dúvida está errada.
A dúvida é uma incoerência da lógica inerentemente ao homem, um vago que não serve nem para estacionar. A ambiguidade é uma via que não se sabe onde chegar a não ser no inconcluso. Não posso ter certeza na dúvida, se contradiz. Havendo dúvida, duvido até da incerteza, mas da certeza estou certo.
As dúvidas são caminhos mais curtos para a insegurança e medo, na contramão da fé. Depressão é duvidar, felicidade é certeza. A depressão pergunta-se por que viver, a felicidade tem certeza. Mesmo a infelicidade há alguma certeza, mas a depressão é a dúvida como atuação. Pois em terra de incertezas habita do achismo.
Índios fazem a dança da chuva, mas alguns dança em volta da verdade para nunca toca-la, porque, o indefinível não é nada e pode ser interpretado como tudo. Porque tudo tem porque, mesmo ante o por que.
Maldito aquele que não busca respostas, mas incertezas. Sua vida é vã. Os que matam por dúvidas a condenação é certeza. Não é possível ter razão com certeza se há dúvida da razão.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Os sentimentos e o tempo

Crimes violentos afetam mais do que tudo o plano temporal porque as energias negativas de sentimentos maus de um lado e da angústia, medo, aflição de outro ecoam a influenciar padrões caóticos tanto a frente do tempo através de ecos de morte, por exemplo, quanto atrás no tempo por precursores da vítima, do criminoso ou de terceiros com sensibilidade aguçada, sensitivos. Todo crime violento tem precursores emocionais e estes afetam mais do que o ato em si porque é justamente a emoção que leva ao crime, cria como uma onda que se alastra pelo tempo, em múltiplas direções, e mesmo que não consumado ele acontece numa variável em algum grau e intensidade.

As vezes ecos de mundos paralelos podem ser sentidos e o próprio medo da possibilidade de ocorrer é um desses ecos. O medo não é apenas uma resposta emocional ante o risco, perigo ou dúvida, mas um eco de variáveis futuro do que ocorrerá ante uma atitude não tomada, isso soa como parcela sensorial na humanidade.

A violência marca profundamente pela emoção que cria, tanto ou mais que o amor pois pode ser mais intensa e por isso chamada de paixão. Crimes movido pelo desejo ou passionalidade são exemplos comuns e mesmo a um cético é possível sentir o clima pesado das relações de tais crimes que empreguiçam um local ou mesmo individuo.

Porém, o amor é diferente, tem um envolvimento de reciprocidade quando retribuído que atribuí-se não variáveis, mas destino, algo puro quando equilibrado e que favorece igual sensibilidade sensitiva e é justamente pela empatia do amor que um sensitivo percebe tais energias.

Por isso procuro fugir de ambientes e pessoas impregnadas de ódio, discriminação, ganância, raiva e hipocrisia pois isso está relacionado diretamente com energias negativas desse plano o qual sempre orbitam crimes violentos ou movidos por estes desejos.

Os sentidos emocionais tem relação com a direcionalidade do tempo, seu próprio sentido. Ainda que tal prerrogativa seja puramente especulativa e espiritualista isso explica inúmeros eventos paranormais e que as leituras de supostos videntes, quando certas, são leituras emocionais, empáticas, por um conhecimento adquirido não sensorialmente, mas emocionalmente, conhecimento sentimental que é por si só inteiramente especulativo, quer seja confirmado ou não.

São tais sentimentos com sua influência que formam o ethos coletivo de determinada população em sua moralidade comum, pois a moralidade em sua relação de imparcialidade ainda que aparentemente racional está relacionada diretamente com sentimentos de empatia.

Os sentimentos por ser imateriais são temporais e por isso nutrem relação com o caos mas de modo não linear, mas de sincronicidade conforme Jung suponha numa relação não aparente similarmente ao entrelaçamento quântico. O dia em que conseguir ter a relação entre tais eventos síncronos haverá a resposta para fenômenos paranormais, pois a resposta para todos eles estão no tempo e caos.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Trecho de 'Cidadão Anarquista'

O ensaio originalmente chamado de 'Sistemas Anarquícos' a medida que se desenvolve teve seu nome alterado para 'Cidadão Anarquista' e poderá se tornar um livro de autoria de Gerson Machado de Avillez como uma crítica ao poder e hierarquia que sempre levam a imoralidade e anti-ética. O Trecho a seguir é do segundo tópico seguindo a crítica de como o poder centrado numa figura ou grupo será incapaz de harmonizar todo sistema o estabilizando por longo periodo.


O Acumulo de poder é a maior meta-tragédia da humanidade, tanto que apenas boçais são os que mais acumulam poder ordenadamente apenas a própria vontade arbitrária. Os que mais tem poder são os que menos são aptos a ele, não se conhece na história nenhum tirano bondoso ou imparcial, pois autocratas tem por lei a própria vontade, mas a lei da verdadeira anarquia é o bom senso solidário. Mas a proposta de 'Ars Ad Speculum' é contrária a da lei da atração, diz que quem deseja muito nunca sai como quer. Pois o pensamento nunca é igual a realidade, pois ele postula uma realidade própria.
O fascismo, autoritarismo, totalitarismo assim não nivelam, "harmonizam" pela força, por baixo. Harmonia no sentido nato da palavra é equilíbrio livre e espontâneo. Assim, independe de tão sofisticado seja o regime ou ideologia, pois não produzindo frutos melhores do que se crítica é inútil. Tais coisas contraditoriamente sempre levam a casos de anarquia espontânea e negativa por isso, por causa dos heróis de causa própria, idiotas dominantes. Ordem através do medo é tão volátil, vil e perigoso quanto anarquia através do medo.
O Poder centrado numa só figura ou grupo sempre estará fadado a incapacidade de harmonizar e estabilizar o sistema e o todo por longo período pois nunca será uniforme na dispersão de seu poder, seria emblematicamente impossível a nível quântico, é a balança em desequilíbrio. Porque esse poder em desequilíbrio sempre será corrupto.
O herói dos abastados é o abismo, o defensor do inócuo queima mendigos de um lado e enriquece ricos doutro, forte apenas sobre o fraco, grande apenas ante o pequeno. Se a autoridade não resolve o crime, impunidade, injustiça e corrupção não só é incompetente como irrelevante, para os que defendem tal autoridade a vida é pergunta e a morte resposta. Ora, autoridade que favorece discriminação alimenta não só abismos, mas crimes. Uma doença não pode ser a cura, como se observa. A anarcoguerrilha somente é conveniente nestes casos, pois passando disso é anarcoviolência.
O domínio da batalha simbólica confunde-se com a ideológica pois ela tenta, por meio de precedentes criar marcos a um novo tipo de comportamento ou ideias neles inseridas, podendo assim ser comum como meio a guerra ideológica, mas normalmente tal prática é subversiva, mas seria um modelo de harmonização ou de metas, fomentando alterações no ethos coletivo. Preza a lenda que Stalin seria hábil na guerrilha simbólica.
Um exemplo que ocorreu com o autor que serve para ilustrar isso, fora o roubo de brindes que haviam sido encomendados pelos correios. O objeto em questão tem valor mínimo, mas o crime era federal. Ou seja, se o crime é repudiado pelo valor das mercadorias abre-se um precedente a crimes federais e talvez posteriormente correspondências de maior valor possam ser roubadas.
Ao traduzir a ideia de que fora um roubo 'insignificante' discute-se em seguida num quase overton ou etapas da mudança de comportamento que seria aceitável tal delito ainda que com restrições aos roubos mais severos, e por conseguinte a oposição gradualmente cede quando o ato gradualmente se torna 'normal' ou 'natural'. A guerra simbólica assim atua lado a lado com o overton onde as ideias que ganha espaço são inseridas homeopaticamente como cozinhar uma rã gradualmente em banho Maria. A diferença do começo ao resultado final é alarmantemente mais grave e assustadora, onde por fim o absurdo poderia ser colocado como: 'não há mal em torturar e matar o autor para roubar-lhe seus livros, pois justifica-se como um bem comum ao grupo'.
Os precursores são perigosos, quando surgem e a medida que se tornam cotidianos, a abordagem, por mais invasivo e agressivo que seja tende a ser uma aceitação por sobrevivência, afinal todos os judeus não concordavam em viver num campo de concentração nazistas, mas eles passaram por procedimento similar e gradual que os levaram aquilo até ao holocausto, a dita solução final pois eles se tornaram um 'peso indesejável'.
Naturalmente, como se observa, isso pode levar a uma inversão completa dos valores e morais, porém, podem haver aplicações igualmente inversas da guerra simbólica ao simplesmente a expô-la podendo anular seus resultados. Afinal a briga não é por brindes, mas por abrir precedentes a crimes mais graves, afinal para que estes simplesmente se interessariam roubar meramente brindes? Isso provaria, porém, que a guerra simbólica é uma faca de dois gumes ao hábil especulador.
Por isso a fim de harmonizar um sistema de modo a atingir o equilíbrio é desejável, pois uma sociedade sem conflitos não há vencedores, nem perdedores. Porque onde há vencedores, há perdedores havendo assim desigualdade. Para isso o fator educacional deve ser uniforme e medidas disciplinares e educativas devem ser tomadas como penalizantes, os educadores são os mestres da orientação e conduta, o mais perto de uma autoridade que há nesse sistema anárquico. Inconstâncias são repelidas pois é própria de sistemas instáveis. Os inconstantes não gostam de definições para se contradizerem a todo instante, sendo assim impossível de se atingir um grau de pureza desejável. Puro é o que não apresenta distorções ou adulteração, é definível, assim a ideologia de distorções e adulteração não somente é indefinível como a própria impureza.
Assim um estado anárquico de sistema caótico seria formado não somente por educadores e mestres, mas sugestionadores e especuladores. O Caminho do especulador é enxergar o fluxo do futuro, se tornar visionário a conceber onde darão as estradas e tendências, deduzir a conclusão, intuir o melhor caminho a ser tomado no fluxo de tempo, um oraculo da sina do caos e do tempo. Enquanto o educador analisa os fluxos do passado, o especular é um sábio das coisas que ainda não aconteceram, um profeta de mundos paralelos.
Sugestionadores podem ser tanto educadores quanto especuladores, mas também adeptos da ideologia vigente, preza-se o pedir, não o mandar, em alguns casos a liderança, não a chefia. O Sugestionador é um avatar do bom senso.
Por fim encontramos o copiador. O copiador é intelectualmente passivo, só reproduz como receptor, normalmente acrítico, do que se propõe, não sendo criativo perpetua as ideias devendo ser conveniente a humildade, pois o acrítico não é permissivo a retórica moral. Mas estes pode se tornar algo mais quanto críticos, sugestionadores e os melhores adeptos podendo gradualmente integrar o próprio corpo de formadores de opinião precisos numa anarquia coerente e praticável.


Cidadão Anarquista - Políticas e Filosofia do Anarquismo de Gravata de Gerson Machado de Avillez para ver a versão atualizada do original inacabado clique aqui.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Certeza na dúvida ou dúvida na certeza?

A felicidade está na dúvida ou na certeza? Quantas dúvidas se podem carregar?
Alguém diz que quem tem certeza está completamente errado, então temos que duvidar da afirmação dele ou ter certeza? O absurdo da afirmação é etimológico, a certeza vem de certo, logo a dúvida está errada.
A dúvida é uma incoerência da lógica inerentemente ao homem, um vago que não serve nem para estacionar. A ambiguidade é uma via que não se sabe onde chegar a não ser no inconcluso. Não posso ter certeza na dúvida, se contradiz. Havendo dúvida, duvido até da incerteza, mas da certeza estou certo.
As dúvidas são caminhos mais curtos para a insegurança e medo, na contramão da fé. Depressão é duvidar, felicidade é certeza. A depressão pergunta-se por que viver, a felicidade tem certeza. Mesmo a infelicidade há alguma certeza, mas a depressão é a dúvida como atuação. Pois em terra de incertezas habita do achismo.
Índios fazem a dança da chuva, mas alguns dança em volta da verdade para nunca toca-la, porque, o indefinível não é nada e pode ser interpretado como tudo. Porque tudo tem porque, mesmo ante o por que.
Maldito aquele que não busca respostas, mas incertezas. Sua vida é vã. Os que matam por dúvidas a condenação é certeza.

Gerson Machado de Avillez

sábado, 8 de novembro de 2014

Guerra Simbólica

O domínio da batalha simbólica confunde-se com a ideológica pois ela tenta, por meio de precedentes, criar marcos a um novo tipo de comportamento ou ideias neles inseridas, podendo assim ser comum como meio a guerra ideológica, mas normalmente tal prática é subversiva. Preza a lenda que Stalin seria hábil na guerrilha simbólica.
Um exemplo que ocorreu com o autor que serve para ilustrar isso, fora o roubo de brindes que haviam sido encomendados pelo correios. O objeto em questão tem valor mínimo, mas o crime era federal. Ou seja, se o crime é repudiado pelo valor das mercadorias abre-se um precedente a crimes federais e talvez posteriormente correspondências de maior valor possam ser roubadas.

Mas porque discutir por brindes, algo tão banal?
Ao traduzir a ideia de que fora um roubo 'insignificante' discute-se em seguida num quase overton ou etapas da mudança de comportamento que seria aceitável tal delito ainda que com restrições aos roubos mais severos, e por conseguinte a oposição gradualmente cede quando o ato gradualmente se torna 'normal' ou 'natural'. A guerra simbólica assim atua lado a lado com o overton onde as ideias que ganham espaço são inseridas homeopaticamente como cozinhar uma rã gradualmente em banho maria. A diferença do começo ao resultado final são alarmantemente mais graves e assustadoras, onde por fim o absurdo poderia ser colocado como: 'não há mal em torturar e matar o autor para roubar-lhe seus livros que recebe via correio, pois justifica-se como um bem comum ao grupo'.
Os precursores são perigoso, quando surgem e a medida que se tornam cotidianos, a abordagem, por mais invasivo e agressivo que seja tende a ser uma aceitação por sobrevivência, afinal todos os judeus não concordavam em viver num campo de concentração nazistas, mas eles passaram por procedimento similar e gradual que os levaram aquilo até ao holocausto, a dita solução final, porque eles se tornaram um 'peso indesejável'.
Naturalmente, como se observa, isso pode levar a uma inversão completa dos valores e morais, porém, podem haver aplicações igualmente inversas da guerra simbólica ao simplesmente a expor-la, podendo anular seus resultados e efeitos. Afinal a briga não é por brindes, mas por abrir precedentes a crimes mais graves, afinal para que estes simplesmente se interessariam roubar meramente brindes? Isso provaria, porém, que a guerra simbólica é uma faca de dois gumes ao hábil especulador.

Extraído de 'Sistemas Anarquistas' de Gerson Machado de Avillez

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Anarquia: O Problema crítico do poder e suas classificações

A centralidade do poder num grupo ou indivíduo favorece a não aplicação imparcial das leis onde os poderosos privilegiam-se da impunidade, algo que é comprovado hoje em dia praticamente sem exceções, pois o poder, tem se provado, ter a capacidade inigualável de corromper numa quase autocracia. A corrupção considera-se outro problema central nas esferas de poder mais precisamente, problema que nunca fora completamente resolvido ao longo do curso da história humana.
Mais pensadores antigos nutrem ideias semelhantes relegando a ideia de que não existem governantes incorruptíveis mas que são corruptos a medida do poder que detém a exemplo de Diógenes de Sínope, os cínicos e Zenão de Cítio, o fundador do estoicismo.
A conceptualização moderna teria tido seus preceitos formulados por Jean-Jacques Rousseau ainda aproximado de ideias iluministas mas somente levando a auto-intitulação pelo filósofo e político francês Pierre-Joseph Proudhon a quem coube o título de fundador do anarquismo moderno.
Assim em tempos modernos tentou-se aplicar o anarquismo em vários momentos históricos levando-os a papéis importantes em conflitos, normalmente através da revolução. Ainda que nunca tenha conseguido êxito ele emergiu na revolução ucraniana, espanhola e russa o qual Nestor Makhno tentou implanta-lo.
Não sendo qualquer forma de religião ou doutrina o anarquismo respeita seus mestres sem reverencia-los de modo que ignora qualquer tipo de guru do movimento e apesar de alguns terem vínculos com o marxismo preza por um socialismo libertário, não autoritário como vem sendo praticado no mundo.
Não podemos falar de anarquia sem mencionar e discutir o poder, ponto crítico da humanidade e a raiz de todos problemas assim como sua possível resolução, o poder de forma centrada num grupo ou indivíduo sempre leva a hierarquia que o anarquismo combate. O poder humano divide-se em quatro tipos: o político, o de força, o capital e o de conhecimento. A interação entre eles numa sociedade é comum de modo que um poder de força sem política ou conhecimento é ignorante e bruto (comum a de ditaduras, por exemplo) de modo que possam se completar. Mesmo a religião demonstra-se como um tipo de poder político, pois ensina normas de conduta e comportamento em sociedade mas que centrado em hierarquias podem levar a elementos fanáticos. Assim a anarquia não seria ausência de poder, mas sua diluição homogênea em liberdades de modo que mesmo o poder do conhecimento - assim como supôs o manifesto hacker - está presente, mas não pela imposição como o poder da força, mas pela influência, pois fluí como numa onda caótica.

Poder Político: Pode ser descrito como poder social-coletivo e estabelecem normas de convívio podendo assim também ser descrito na religião, regime governamental e etc. Por isso eles frequentemente flertam e se influem mutuamente.

Poder de força: O poder de força isolado é violência, imposto, todavia a exemplo de uma democracia deve ser subordinado a um poder político como de repreensão a crimes e a violência, por exemplo. Porém, quanto menos político mais sem proporção apresenta-se a exemplo das ditaduras onde determinadas coisas são impostas sob coação de força. O poder mais hierárquico assim como primitivo.

Poder de conhecimento: O poder mais presente e onipresente, ele normalmente não é imposto, mas influenciatório, pode apresentar-se numa hierarquia mas sendo dialógico. Um dos poderes mais importantes pois altera a percepção, compreensão e consequente comportamento.

Poder capital: O poder financeiro que ao lado do político pode ter maior capacidade de abismos. Ainda que seja normalmente por influência ele demonstra-se como facilmente corruptor.

Para lerem o ensaio de Gerson Machado de Avillez completo clique aqui.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A Origem da Eternidade (projeto de 2015/2016)

Abaixo a sinopse e alguns detalhes da trama do livro 'A Origem da Eternidade' que prova de que minhas ideias não são para alguns por realmente resolver problemas - ao menos se propor a tentar -, como a dos 10 pontos da Origem da Eternidade. Lembrando que trata-se de uma obra especulativa de ficção científica a postular o que alguns de fato podem procurar.

A história da humanidade narrada de um futuro longínquo por um ser humanoide assexuado semelhante a um deus, onde o ser humano em suas historias de guerras, injustiça, doenças, misérias e violência é questionada em sua existência na Terra. Épico intemporal nos moldes de 'Sombra nos tempos' onde várias histórias ao longo dos tempos e de diversas civilizações são narradas e questionadas por este ser aparentemente sumério.
O contato com esse ser de evolução limite mostra ao grupo de exploradores que tudo que alguns acreditavam em seu domínio terrestre não estava certo, e com uma revelação surpreendente entenderão porque a humanidade ainda vive numa mera pré-história do multiverso extraterrestre e que ainda tem muito o que evoluir principalmente moralmente para abandonar sua adolescência. O dialogo segue com os humanos onde o extraterreno (ou ultraterreno) mostra um extenso relatório sobre a precariedade da espécie humana e sua frágil sociedade e civilização de modo que passa por inúmeras histórias ao longo de sua existência, da Suméria ao futuro o qual pertencem.
Um grupo assexual que crê na evolução não sexuada do ser humano e que realiza pesquisas no campo da imortalidade, cria os pontos da chamada 'Origem da eternidade'. O grupo na realidade tornou-se a própria variações das mais improváveis, algo que aspirava a tornar homens em anjos.

Pontos da Origem da Eternidade:
1 - Atingir não apenas a singularidade tecnológica e da informática, astronômica e intelectual. Explorar novos níveis de consciência e estados mentais humanos, ampliar a capacidade intelectual em detrimento ao físico. O infinito será o último passo de compreensão humana.

2 - A morte é a maior das doenças do qual o objetivo de curar moléstias é impedir a morte. Sua erradicação conduzirá a evolução final do homem a um ser celestial pela vida eterna. Mas o preço da imortalidade será o fim da reprodução, pois um povo que não morre não necessita se perpetuar em seus genes a herdeiros. Uma população estável e imortal é a que não há nem mortes ou nascimentos.

3 - A erradicação do sentimento do ódio, inveja, e ganância será a motriz para uma população altamente evoluída ao contrário da imaturidade imoral que leva as maiores aberrações e injustiças de um expurgo dominante pelos abismos assim como dos crimes de ódio e discriminação.

4 - O fim das classes sociais pois todo trabalho braçal passará a ser robotizado por seres auto-replicantes e aparentemente conscientes. Seres capazes de igualmente evoluir e realizar upgrades em si próprios.

5 - Extinção de toda e qualquer moeda de troca e valorização do conhecimento e informação como única riqueza e patrimônio humano cumulativo.

6 - As variáveis disto serão analisadas pelo cripto.oraculo que pesquisará nas linhas do multiverso as 'variáveis de falha'. O Cripto.oraculo será o maior engenho computacional do mundo e utilizará a linha de computação quântica de simulações, variáveis de dinâmica de ondas e pesquisas fluídicas do tempo. O programa será capaz de prever o comportamento humano e as variáveis do livre-arbítrio a fomentar melhores planos de controle populacional.

7 - Variáveis de erros será a liderança do cripto.oraculo em prol das eminentes inteligências artificiais em operação no mundo.

8 - As únicas fronteiras deverão ser o tempo e os limites entre individualidade e coletivo.

9 - A extinção completa e total de todo centro de poder desordenado sobre liberdades individuais, não haverá representação ou lideranças eleitas, o poder deverá ser diluído. Todo tipo de acumulo, tirando o intelectual deverá ser abolido, principalmente os relacionados ao poder. A última fase será a extinção dos governos e toda autoridade onde apenas o cripto.oraculo deverá ser o guia senciente e previsor da humanidade.

10 - Será estabelecido o culto epistêmico a memória de todos os tempos e culturas com objetivo de responder todas as perguntas jamais respondidas da humanidade.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Evolução e Formação do Ethos pela Educação e suas deficiências no Brasil

"Não há nada permanente, exceto a mudança."
Heráclito, fragmento (século VI a.C.)

O Mito da Caverna escrito por Platão serviu para demonstrar não somente um protesto sobre a morte de seu mentor Sócrates, mas uma crítica a ignorância dos que isso fizeram. Os paralelos tornaram-se amplos e inúmeros especificamente sobre a realidade, afinal a ilusão tem-se como uma forma de ignorância.
A educação tem um papel de supra importância nisso pois compõe, desde sua etimologia, a orientação para que este vá pra fora da caverna onde suas interpretações são baseadas apenas em sombras. Educere, significa literalmente, conduzir pra fora.
Assim como o empirismo e ignorância atem-se como sombras de uma verdade nessa caverna, enquanto o julgamento superficial não atém-se seus valores intrínseco como composto numa metafísica. O saber é parcial, nunca é atingido o saber reto.
A caverna enclausura, detém o desenvolvimento, a exemplo de peixes criados em espaços curtos não crescem, o mesmo se aplica a ignorância ao não permitir desenvolver a consciência e a compreensão. Tais aspectos levam a um retrocesso sendo reprodutores da ignorância e sensos comuns – tal como consequentes preconceitos -, assim como os que tiram motivações a exemplo de condições insalubres, bulling, injustiças e discriminação a menos que se utilize a revolta disso como motivação.
Tais são características que denotam que determinadas realidades são a própria caverna. Isso cria elementos desajustados, estes assim viram discrepantes das massas podendo se tornar molas propulsoras ou desalinhando seu comportamento ao crime ainda que não por prazer, mas revolta mau canalizada. Assim mesmo estes aprendem algo, um aprendizado necessário para sobreviver nesta realidade hostil e de abiose social.
A sobrevivência, e não vivência, pode igualmente ensinar, mas em termos de instintos pois o instinto relaciona-se diretamente a sobrevivência. Aflora-se o inato que leva a um aprendizado involuntário, de hábitos e de comportamentos instintivos, podendo criar indivíduos igualmente hostis, agressivos e violentos que perpetuem essa realidade de abiose social. Para Vygotsky desenvolvimento e aprendizado são sócios inseparáveis quando imerso no contexto cultura.
Só muda quem aprende, mesmo a evolução é um aprendizado a nível biológico onde a mudança procura melhoramentos ao habitat pela aptidão. O aprendizado assim é inerente a absorção de informação e desenvolvimento de habilidades e na humanidade está presente de diversas formas e em vários setores, nos filmes, na propaganda e a cultura em geral. Aprender, na verdade é evoluir a uma consciência mais ampla de habilidades e compreensão enquanto a ignorância é involuir. A ignorância também pode ser ensinada e aprendida assim como a violência e maus costumes. E ela, nessa realidade não ensina a não ser pelo trauma.
Assim percebemos que não é o ambiente que influí no individuo, mas a realidade. Enquanto o termo político traz a conotação de subjetivo zelo por uma realidade (polikós) e má realidade surge pela alienação na ignorância, idiotes, de onde vem o termo idiota. O lema da alienação é: Melhor que enganar é fazer com que se enganem e o senso comum cristalizado pela que cultura alimenta isso.
Só se aprende para a algo levar, algo melhor. A aprendizagem do indivíduo precede o detalhe, a do coletivo a realidade complexa e este por veículos próprios, de comunicação. Ou seja, o ato de educar, ensinar, pode ser literalmente transformador ao transcender a realidade comum a compondo.
Mas para se compreender o desenvolvimento humano é preciso compreender o que é ser humano. Assim como o ser humano é essencialmente um ser de morais, de certo o ser humano se diferencia dos demais animais por sua capacidade de aprender mais e consequentemente ter melhor desenvolvimento a ponto de estabelecer uma sociedade onde a troca é a lei, simbiose. Para isso ser sociável é essencial.
Assim não considero humano pleno o que não possuí consciência, isto é, habilidades afetivas e empáticas mínimas, pois o ser humano é o único ser capaz de estabelecer relacionamentos acima do instintivo (vide, selvagem) inerente aos animais. Os hábitos sociais assim se estabelecem como vinculo comportamental inerente a humanidade que a exemplo dos psicopatas não emergem ou apenas se simulam.
Só o instinto é inato, enquanto ser sociável requer articulações e certo esforço psicológico, o instinto é físico pois relaciona-se mais ao corpo do que com a própria mente ainda que seja guiado por combustores mentais inconscientes de perpetuação e autoproteção. Estudos, por exemplo, revelaram que a crença em Deus é inata, isso creio ocorrer por ser uma resposta instintiva aos medos primordiais ante a busca de ater-se a algo que acalente os anseios. Esse é um elo do inato ou instintivo a consciência do qual desenvolve-se os aprendizados subsequentes de modo moral pelas relações dos demais seres afetivamente, de modo empático. Elemento que torna possível a sociedade.
A moralidade igualmente é educação, um exemplo é a gratidão a quem produz algo bom, uma educação moral de modo que o termo mal educado exprime a ideia de um mau comportamento e costumes não aprendidos.
Nesse estágio, creio, a crença em Deus torna-se importante ao desenvolvimento de valores morais que dão consistência a humanidade como todo, enquanto na caverna segue caminho oposto, a uma ‘antisociedade’. Mesmo eu sou vítima desse tipo de aberração.
Ainda que haja equivalentes de aprendizado a certo desenvolvimento, que acompanha as diversas idades do crescimento, para compreender melhor como ambos caminham juntos é preciso separar o desenvolvimento biológico/neural do mental. Creio que o desenvolvimento cerebral precede o mental pela maturação ao lado do inato dando partida ao desenvolvimento subsequente, o mental pelo aprendizado. Creio que o aprendizado é um tipo de desenvolvimento pois quando associado a emoções (vide, motivação) desenvolve a consciência.
A etapa da primeira infância é uma constante absorção de informação do mundo a fora por vias sensoriais e emocionais.
Assim vem a imitação que é assimilação, o lado mais primitivo do aprendizado e por isso mais presente na infância e exemplificado pelo exercício. Isso porque a criação vem do conhecimento prévio e anterior – pontos de ancoragem - pois transforma o conhecimento adquirido em ferramentas de criação não sendo posteriormente mero "dono" colecionador de conhecimentos, mas autor do próprio conhecimento adaptado de conhecimentos anteriores transformados. Isso justifica ditados como: 'quem cola não saí da escola'.
O estágio infantil é mimético, que vem do grego mimesis, e defendido por Aristóteles como preciso para se completar o mundo físico das pessoas o que cede posteriormente a criação complexa ao reunir talento e imaginação, o supra sumo das artes. Ao ver de Platão a arte era apenas como imitador do mundo físico enquanto Aristóteles afirmava ser assim uma adaptação. Para Horácio e Longino a mimética era mais importante do que ser original ao copiar as pessoas alheias, não o mundo físico, com o fim de agradar e entreter. Apesar de propor-se que a vida imita a arte, para Plotino era o contrário tal como com Platão como forma de procurar o caminho de volta a sua origem natural.
Talvez na bíblia isso seja discordado, uma vez que Jesus diz para ser seus imitadores com a intensão de tornar não a origem natural, mas divina, da criação. Sendo como for as facetas da imitação tem o claro sinal de aprendizado uma vez compreendendo que mesmo o entretenimento transmite ideias que ensinam.

Trecho do TCC de Pedagogia de Gerson Machado de Avillez