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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Evolução e Formação do Ethos pela Educação e suas deficiências no Brasil

"Não há nada permanente, exceto a mudança."
Heráclito, fragmento (século VI a.C.)

O Mito da Caverna escrito por Platão serviu para demonstrar não somente um protesto sobre a morte de seu mentor Sócrates, mas uma crítica a ignorância dos que isso fizeram. Os paralelos tornaram-se amplos e inúmeros especificamente sobre a realidade, afinal a ilusão tem-se como uma forma de ignorância.
A educação tem um papel de supra importância nisso pois compõe, desde sua etimologia, a orientação para que este vá pra fora da caverna onde suas interpretações são baseadas apenas em sombras. Educere, significa literalmente, conduzir pra fora.
Assim como o empirismo e ignorância atem-se como sombras de uma verdade nessa caverna, enquanto o julgamento superficial não atém-se seus valores intrínseco como composto numa metafísica. O saber é parcial, nunca é atingido o saber reto.
A caverna enclausura, detém o desenvolvimento, a exemplo de peixes criados em espaços curtos não crescem, o mesmo se aplica a ignorância ao não permitir desenvolver a consciência e a compreensão. Tais aspectos levam a um retrocesso sendo reprodutores da ignorância e sensos comuns – tal como consequentes preconceitos -, assim como os que tiram motivações a exemplo de condições insalubres, bulling, injustiças e discriminação a menos que se utilize a revolta disso como motivação.
Tais são características que denotam que determinadas realidades são a própria caverna. Isso cria elementos desajustados, estes assim viram discrepantes das massas podendo se tornar molas propulsoras ou desalinhando seu comportamento ao crime ainda que não por prazer, mas revolta mau canalizada. Assim mesmo estes aprendem algo, um aprendizado necessário para sobreviver nesta realidade hostil e de abiose social.
A sobrevivência, e não vivência, pode igualmente ensinar, mas em termos de instintos pois o instinto relaciona-se diretamente a sobrevivência. Aflora-se o inato que leva a um aprendizado involuntário, de hábitos e de comportamentos instintivos, podendo criar indivíduos igualmente hostis, agressivos e violentos que perpetuem essa realidade de abiose social. Para Vygotsky desenvolvimento e aprendizado são sócios inseparáveis quando imerso no contexto cultura.
Só muda quem aprende, mesmo a evolução é um aprendizado a nível biológico onde a mudança procura melhoramentos ao habitat pela aptidão. O aprendizado assim é inerente a absorção de informação e desenvolvimento de habilidades e na humanidade está presente de diversas formas e em vários setores, nos filmes, na propaganda e a cultura em geral. Aprender, na verdade é evoluir a uma consciência mais ampla de habilidades e compreensão enquanto a ignorância é involuir. A ignorância também pode ser ensinada e aprendida assim como a violência e maus costumes. E ela, nessa realidade não ensina a não ser pelo trauma.
Assim percebemos que não é o ambiente que influí no individuo, mas a realidade. Enquanto o termo político traz a conotação de subjetivo zelo por uma realidade (polikós) e má realidade surge pela alienação na ignorância, idiotes, de onde vem o termo idiota. O lema da alienação é: Melhor que enganar é fazer com que se enganem e o senso comum cristalizado pela que cultura alimenta isso.
Só se aprende para a algo levar, algo melhor. A aprendizagem do indivíduo precede o detalhe, a do coletivo a realidade complexa e este por veículos próprios, de comunicação. Ou seja, o ato de educar, ensinar, pode ser literalmente transformador ao transcender a realidade comum a compondo.
Mas para se compreender o desenvolvimento humano é preciso compreender o que é ser humano. Assim como o ser humano é essencialmente um ser de morais, de certo o ser humano se diferencia dos demais animais por sua capacidade de aprender mais e consequentemente ter melhor desenvolvimento a ponto de estabelecer uma sociedade onde a troca é a lei, simbiose. Para isso ser sociável é essencial.
Assim não considero humano pleno o que não possuí consciência, isto é, habilidades afetivas e empáticas mínimas, pois o ser humano é o único ser capaz de estabelecer relacionamentos acima do instintivo (vide, selvagem) inerente aos animais. Os hábitos sociais assim se estabelecem como vinculo comportamental inerente a humanidade que a exemplo dos psicopatas não emergem ou apenas se simulam.
Só o instinto é inato, enquanto ser sociável requer articulações e certo esforço psicológico, o instinto é físico pois relaciona-se mais ao corpo do que com a própria mente ainda que seja guiado por combustores mentais inconscientes de perpetuação e autoproteção. Estudos, por exemplo, revelaram que a crença em Deus é inata, isso creio ocorrer por ser uma resposta instintiva aos medos primordiais ante a busca de ater-se a algo que acalente os anseios. Esse é um elo do inato ou instintivo a consciência do qual desenvolve-se os aprendizados subsequentes de modo moral pelas relações dos demais seres afetivamente, de modo empático. Elemento que torna possível a sociedade.
A moralidade igualmente é educação, um exemplo é a gratidão a quem produz algo bom, uma educação moral de modo que o termo mal educado exprime a ideia de um mau comportamento e costumes não aprendidos.
Nesse estágio, creio, a crença em Deus torna-se importante ao desenvolvimento de valores morais que dão consistência a humanidade como todo, enquanto na caverna segue caminho oposto, a uma ‘antisociedade’. Mesmo eu sou vítima desse tipo de aberração.
Ainda que haja equivalentes de aprendizado a certo desenvolvimento, que acompanha as diversas idades do crescimento, para compreender melhor como ambos caminham juntos é preciso separar o desenvolvimento biológico/neural do mental. Creio que o desenvolvimento cerebral precede o mental pela maturação ao lado do inato dando partida ao desenvolvimento subsequente, o mental pelo aprendizado. Creio que o aprendizado é um tipo de desenvolvimento pois quando associado a emoções (vide, motivação) desenvolve a consciência.
A etapa da primeira infância é uma constante absorção de informação do mundo a fora por vias sensoriais e emocionais.
Assim vem a imitação que é assimilação, o lado mais primitivo do aprendizado e por isso mais presente na infância e exemplificado pelo exercício. Isso porque a criação vem do conhecimento prévio e anterior – pontos de ancoragem - pois transforma o conhecimento adquirido em ferramentas de criação não sendo posteriormente mero "dono" colecionador de conhecimentos, mas autor do próprio conhecimento adaptado de conhecimentos anteriores transformados. Isso justifica ditados como: 'quem cola não saí da escola'.
O estágio infantil é mimético, que vem do grego mimesis, e defendido por Aristóteles como preciso para se completar o mundo físico das pessoas o que cede posteriormente a criação complexa ao reunir talento e imaginação, o supra sumo das artes. Ao ver de Platão a arte era apenas como imitador do mundo físico enquanto Aristóteles afirmava ser assim uma adaptação. Para Horácio e Longino a mimética era mais importante do que ser original ao copiar as pessoas alheias, não o mundo físico, com o fim de agradar e entreter. Apesar de propor-se que a vida imita a arte, para Plotino era o contrário tal como com Platão como forma de procurar o caminho de volta a sua origem natural.
Talvez na bíblia isso seja discordado, uma vez que Jesus diz para ser seus imitadores com a intensão de tornar não a origem natural, mas divina, da criação. Sendo como for as facetas da imitação tem o claro sinal de aprendizado uma vez compreendendo que mesmo o entretenimento transmite ideias que ensinam.

Trecho do TCC de Pedagogia de Gerson Machado de Avillez

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