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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Tesla, A Mente Que Previu o Futuro

Muito mais que o aparente, Nikola Tesla nos deixou um legado inexorável o qual devemos honrar pelas memórias de seu trabalho. Ainda que não tenha prevalecido seus ideias humanistas de energia livre, neste breve artigo examinaremos como ele antecipou tecnologias, inclusive, aquelas o qual alguns julgam ser especulativas, mas que evidentemente seu nome não fora honrado em seus ideias ao serem usados com fins pouco nobres.

Nikola Tesla por muitos anos esteve quase encoberto pelo malévolo ostrancismo por não seguir as regras do jogo global econômico. Mas aos poucos sendo relembrado e tendo seus feitos resgatados parecem emergir não somente uma mente singular capaz de proezas, mas uma personalidade humanitária e afeita a causa social. De modo honesto aos íntegros temos obrigação de zelar pela memória e frutos dessa mente extraordinária.

A contribuição inexorável de Nikola Tesla vai além do que realizou, mas previu acontecer através de um intelecto afiado e maior parte do tempo correto. Tornou-se perceptível a luta de alguns, por vezes referida por ele mesmo, como "forças obscuras" a impedir suas realizações inicialmente por motivos econômicos - ainda que em sua autobiografia, Tesla afirme que J.P.Morgan não lhe desejou atrapalhar - o que fica evidente tratando-se de seu desejo de tornar energia livre e sem cabos para todos, o que hoje não é uma realidade.



Rumores de que sua morte teria sido até mesmo induzida por uma trama insidiosa a fim de surrupiar suas patentes são comuns em vista que algumas tecnologias por ele ditas somente hoje surgem. A exemplo da HAARP, Tesla parecia claramente aludir a uma tecnologia climática capaz de alterar o tempo ainda que imaginada por ele com usos benévolos:

"O Sol ergue a água dos oceanos e os ventos a levam a regiões distantes, onde ela permanece num estado de equilíbrio delicadíssimo. Se pudêssemos perturbar esse equilíbrio onde e quando quiséssemos, essa poderosa corrente de vida poderia ser controlada voluntariamente. Poderíamos irrigar desertos áridos, criar lagos e rios e oferecer potência motriz em quantidades ilimitadas." Pág.76-77

Nota-se que mesmo teóricos da conspiração mencionam vivamente uma corrida que leva a um outro tipo de guerra, a climática.

"Os cientistas soviéticos... investigaram o trabalho de Tesla em busca de possíveis aplicações bélicas. Eles se aprofundaram nos mistérios do electromagnetismo, aparentemente obtendo um considerável avanço em relação aos EUA... O bombardeio da Embaixada americana em Moscou com energia de microondas foi possivelmente um desenvolvimento dessa pesquisa; o misterioso sinal de rádio 'Pica-Pau Russo' é provavelmente outro... O bicentenário da Revolução Americana foi comemorado em 4 de julho de 1976. Os soviéticos soltaram alguns de seus próprios 'fogos de artifício" iniciando uma série de transmissões de rádio que ficaram conhecidas entre os radioamadores de todo o mundo como 'Pica-pau Russo'. O sinal Pica-pau parece ter vindo de um modelo antigo de um dispositivo (onda escalar) que usava o Transmissor Ampliador de Tesla... Esses sinais eletromagnéticos estavam na faixa de 3 a 30 MHz e geralmente pulsavam em uma freqüência liga-desliga de 10 por segundos, o que dava ao sinal a característica de uma batida rítmica, o que fez com que ele fosse chamado de "Pica-Pau Russo'. Ainda não está claro para que os soviéticos estavam usando esse sistema. Embora os sinais tenham parado periodicamente, esse sistema parece estar operacional até hoje." [HAARP: The Ultimate Weapon of the Conspiracy, Jerry E. Smith, págs. 59, 66-67].

Tesla, sobretudo mencionava um 'Sistema Mundial' de transmissão de energia o qual em suas palavras "torna possível não somente a transmissão sem fio instantânea e precisa de qualquer tipo de sinal, mensagem ou caractere, para todas as partes do mundo, mas também a interconexão das estações transmissoras de telégrafo, telefone e outros sinais, sem qualquer mudança em seu equipamento atual. Com ele, por exemplo, um assinante de telefone pode ligar para qualquer outro assinante da Terra. Um receptor barato, não maior que um relógio de pulso, permitirá que se ouça em qualquer lugar, em terre ou no mar, uma conferência proferida ou uma música tocada em qualquer outro lugar, por mais distante que seja."

O trecho que remete sua autobiografia não somente é precursora da telefonia celular e das transmissões de telecomunicações, e ainda que não houvesse satélites e computadores em seu tempo, não seria preciso muito esforço para que Tesla concluísse tais como uma tendência comum. Sobretudo parece dar vitalidade a teorias que remente as linhas ley esoterizadas por ter sido praticas comuns da antiguidade, o qual se livros como 'As Digitais dos Deuses' de Graham Hancok estiver certo, talvez um tempo no passado já houvesse tal sistema muldial de energia sem fios.

“Quando [a conexão] wireless for perfeitamente aplicada, a Terra inteira será convertida em um enorme cérebro, o que na verdade é, sendo que todas as coisas são partículas de um conjunto real e rítmico. Seremos capazes de nos comunicar uns com os outros instantaneamente, independentemente da distância. Não só isso, mas por meio da televisão e da telefonia vamos ver e ouvir uns aos outros tão perfeitamente como se estivéssemos frente a frente, apesar de intervirem distâncias de milhares de milhas; e os instrumentos através dos quais seremos capazes de o fazer serão incrivelmente simples em comparação com o nosso telefone atual. Um homem será capaz de transportar um no bolso do seu colete”. Nikola Tesla

Para compreender o trabalho de Tesla que muitas vezes seguiu com máximo esforço a baixo custo de lucro, seria preciso compreender o que engloba numa visão ampla de um mundo muito melhor do que é hoje: repleto de cabos elevados que poluem a beleza e encarecem o custo a fim de sustentar mega-corporações, entre tanto mais.

Bibliografia: 
Minhas Invenções - Tesla, Nikola (2012) - Editora Unesp

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Destino é um fato científico

A ideia de uma sina, Karma ou destino são comuns a religião porém, numa abordagem filosófica são passíveis de serem comprovados até pela física. Usemos o mais simples dos exemplos, uma singularidade personificada por um buraco negro, nele observamos não somente que as leis da física clássica se comportam de modo diferente mas a própria taxa de desordenação da matéria, a entropia, se modifica radicalmente alterando o que se define por caos. Mas não somente isto, quando se está ao alcance de um buraco negro, a grosso modo, independente do que se faça você será inexoravelmente atraído a ele, ou seja, um evento comum de aproximação a um destino será irresistível, ou seja, um destino de sucessão de eventos é variavelmente traçado.

Para compreendemos melhor comparemos o destino com um rio. Quando nas águas navegáveis observamos que podemos nos dirigir a múltiplas direções, mas a medida que a correnteza se intensifica mediante uma queda como de uma catarata se torna cada vez mais difícil resistir a direção (destino) em que a correnteza corre até que em seu ponto máximo percebemos que todos esforços para impedir o evento são inúteis a menos que você tem meios de conseguir resistir ou sair do curso de destino do rio.

Na física essa causalidade é até desacerbada é chamada de seta do tempo. Mas compreendamos que esse rio tem uma linha visível de seu curso não tornando possível ver para onde vai, mas que algo puxa o fluxo das águas em direção a esse curso. Isso ocorre porque as vezes o elemento atrativo desse fluxo de destino não está visível no horizonte de realidade, quer espacial ou temporal, ai que entra a ideia da Ancora do Destino. Eventos irresistíveis e inexoráveis.

A Ancora do Destino
Toda ideia geral do destino assim toca na concepção de fluxos o qual elementos de padrões podem ser perpetuados pelo caos em ondas, a ideia de uma ondularidade a exemplificar de modo unificado o tempo e caos. Porém, assim como para uma onda acontecer um evento central precisa ocorrer desencadeando os demais, desvelar o consequente decorrer é pertinente ao caos onde o espaço não tem a mesma significância e servindo como elemento repelente de eventos, o contrário da hipótese de uma âncora do destino o qual todos eventos convergem a seu centro. Para compreendermos isso imaginemos uma âncora o qual independente das ondas ela prende determinado objeto, no caso uma embarcação, num ponto fixo e inabalável. Assim como se esticarmos uma corda fixada em dois pontos extremos ela criará variações mas seus pontos iniciais e finais estão fixos, o mesmo seria com eventos presos a uma âncora do destino que poderia estar invisível na nossa linha de horizonte temporal, algo como um buraco negro não no espaço, mas no tempo. Naturalmente que tal hipótese filosófica implicaria numa concepção científica da pré-existência do tempo ao menos em níveis multidimensionais que leva a ser apenas uma conjectura hipotética.


Sim ou não, e a ideia da sincronicidade O destino é uma força invisível atuante no caos e que determina eventos ou padrões de eventos. Na verdade a ideia central é de que o destino seja o fluxo de eventos o qual corre a causalidade podendo ser mediante a ocasião ser variável(sorte) ou não. Por exemplo temos uma antiga ideia de Carl Jung aplicada ao I Ching como uma tentativa de explica-lo. Observa-se que os próprios quesitos filosóficos desse antigo livro pode explicar que as variáveis de eventos são sempre binárias e não por menos base dos códigos binários do computador do qual a combinação de elementos fomenta a variabilidade e caos. O fato é que para Jung eventos poderiam convergir a padrões acima do aleatório e randômica algo que pode ser percebido nas diversas formações fractais, por exemplo, de modo aplicado a eventos. Para ele poderiam ocorrer eventos similares com padrões comuns mesmo que sem aparente relação. Nota-se que isso a nível quântico parece se aproximar filosoficamente de elementos como entrelaçamento quântico, algo como uma relação de comportamento sem relação direta o que aplica-se perfeitamente a ideia do efeito borboleta. Para Jung isso explicava o poder da repetição de padrões de combinações de palitos como se determinados eventos estivessem circundando algo central invisível.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Capa e Sinopse do projeto 'A Revolta de Persephone'

Abaixo a capa e sinopse do novo possível livro de Gerson Avillez, 'A Revolta da Persephone' que abordará o tema vingança:

Após seu namorado falar para largar ele por estar sendo seguido por gente má, jovem virgem que é hacker e estudante de comunicação social é sequestrada por misterioso e antigo culto pagão romano que venera a prostituição cultual. Agora ela nas labirínticas catacumbas de Paris é subjugada e violada por seus algozes que obrigam a se tornar uma prostituta cultual. Ao fugir vai parar num lixão onde é encontrada por um catador de lixo que cuida dela até arquitetar uma vingança que ultrapassará as fronteiras usando seu conhecimento Hacker e de comunicação social para colocar uns contra os outros e expô-los a mundo numa vingança cerebral.

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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sinopses de novos contos

Abaixo a sinopse de novos contos que serão feitos para o início de 2015. Podem figurar, possivelmente, a antologia 'Todas Formas de Sonhar'.

Another World 
Para se livrar do problema global do lixo uma recém descoberta de portais promete lançar aleatoriamente o lixo em outras dimensões, onde seus moradores não gostarão nenhum pouco disso.

Esfera do Enigma
Uma espécie de lua perfeitamente esférica o qual não há diferença entre o encima e embaixo, não há meio, inicio ou fim apenas uma superficie coberta por um labirinto sem fim, como sair? Somente se percebe que se deu uma volta pelas estrelas.

Onde as Borboletas dormem (atualizado)
Um ideólogo investiga o potencial de ideias e seu poder viral postulando igualmente seu poder impacto e transformação no mundo através de seu cronógrafo, investiga sobretudo traficantes de ideias, quadrilhas que ganham a vida furtando, trocando ou inserindo ideias em indivíduos estratégicos para conseguir ganhar fortunas fácil em entretenimento ou realidades. Mas quando uma ideia potencial é criada por um lendário Ideografo percebe-se que seu potencial não é somente capaz de transformar realidades e comportamentos mas abrir a possibilidade de trazer o imaginário a existência elevando esse poder a de engenharia de realidades.

A Maldição do 11
Após um momento de heroísmo único escravo passar por um tiroteio, escala um prédio e salva uma refém, ele passa se perguntar como foi capaz de fazer aquilo mas ao tentar repetir o feito cai e quebra os dentes. A procura de respostas encontra um misterioso doutor com carreira acadêmica arruinada que acredita haver uma força relacionada ao heroísmo e quem alguns chama de sorte, esse poder que láurea momentos de alguém movido por um ato de bravura passa a buscar um meio de encontrar e canalizar novamente esse poder transcendente que pertenceria apenas a momentos bíblicos e civilizações antigas como as gregas, a fonte dos poderes dos super-heróis dos míticos quadrinhos.
Um poder o qual a utilidade pode ser apenas para a bondade e relacionado a coragem altruísta com relações misteriosas ao destino. Um embate entre forças antagônicas apenas está começando.

Os Procrastinadores dos Apocalipse
Com o advento das viagens dimensionais e temporais uma maldição veio junto, a descoberta de que o apocalipse é inevitável e o mundo acabará. Resta então a um grupo não procurar impedir, mas atrasar o apocalipse enquanto tentam descobrir o que está por de trás dos eventos que levam o mundo a acabar e porque é inevitável. A tecnologia da ciência temporal e dimensional ainda engatinhando apenas para perceberem que há algum outro grupo mais sofisticado e avançado interessado no apocalipse de seu mundo levando eles apenas a impedir uma sucessão de eventos que em sua variedade sempre levarão ao invariável apocalipse.
Um comitê formado leva proposta de levar sobreviventes a habitar o passado remoto para descobrir que dão original a uma dimensão paralela onde os sofisticados surgem, e perceberem então que seu mundo é apenas um entre vários numa trama muito mais complexa do que aparenta ser. Será possível impedir o inevitável?

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Conto: No Tempo dos Sonhos

"O que é vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção, e o bem mais sublime é pequena, pois toda a vida é sonho, e os sonhos, sonhos são." Calderón de La Barca - A Vida é Sonho

Dia 13.529 d.H (depois do Hecatombe)
Aquele mundo era praticamente monocromático como a fé de alguns que nasceram dentro daquela caverna contemplando sombras bidimensionais restando apenas à imaginação a profundidade, profundidade o qual na verdade todos se encontravam sem se dar conta disto, a única dimensão existente naquele famigerado mundo que nasceu morto como um aborto da necessidade. A humanidade estava sepultada em vida. Naquele mundo nenhum dos Desoníricos poderiam subir, só a elite.
Aquele ano fazia cem anos desde a Grande Queda quando os resquícios da humanidade se viu forçada a entrar nos subterrâneos para sobreviver, as vísceras da Terra, mas como os mitos as histórias eram nebulosas, como sonhos mesmo datas se perdiam. Mas como sempre a humanidade se ocupava de esquecer de onde veio e o que era criando seu cotidiano atroz devorador do tempo.
É determinação do governo pós-Queda que todos não nascem humanos, para ser humano tem que pagar a taxa do governo que detém a patente do ser humano, para só então, após um adestramento educativo o indivíduo possa ter alguns direitos, que são poucos e débeis ante a massa uniforme que caminha vagando naquela realidade. Não há uma luz agradável e suave ao fim do túnel pois são tuneis sem fim, muito menos lugar ao sol.
O último ancião ainda se erguia todas manhãs - se isto seria manhã na superfície não sei, mas no subterrâneo tínhamos nosso próprio tempo a ser consumido como o oxigênio nas chamas de nossas vidas – e tratava de entoar variáveis do mesmo sermão.

- Acordar, é colorir – dizia o homem uma voz vacilante pela idade por alto-falantes espalhados por toda cidade – da infância do sono perpetuo onde o sonho é a fé dos fracos de realidade. Somente o trabalho redimirá o homem até estar pronto a emergir na terra do passado. Vi a Terra nos engolir pela necessidade de gaia em reagir. Devoramos nossos recursos e então devoramos a nós mesmos. Acordem do sono perpetuo, já estamos no solo como adubo a servir gaia no grande conserto da Terra.

Olhares apáticos e profundos contemplavam os alto-falantes naquele sermão após a meditação das duas horas o qual toda população se submetia. Parados olhando para o vazio de  suas próprias vidas num meio termo entre sono e despertar, há mais de cinquenta anos o sono era uma quimera cerrada mais fundo naquele poço, num misto de vítima condenada injustamente como, os sonhos se tornara bode expiatório do pesadelo que se instalara.
Não havia empolgação, mas apenas um louvor num só tom como se fosse um cântico fúnebre entoado por todos presentes e ritmado pela voz vacilante do ancião disciplinador que era apenas um garoto quando adentrou os subterrâneos como uma Perséfone que nunca tornou a superfície.
Todos então viravam-se para um espelho que portavam naquele ritual absurdo que se repetia todos os dias.

- Olhem para si mesmos, não percam sua alma, o trabalho está os aperfeiçoando, cavem, construam, edifiquem. – Disse o ancião de modo disciplinador.

Mas resisti em olhar-me ao espelho, colocava-o ante minha face e fechava os olhos criminosamente, era a maldita Eisoptrofobia, que me fazia olhar os espelhos e ver apenas fantasmas de nós mesmos.
Porém, uma vez concluída a tarefa me foquei na formatura tão almejada, me tornava um investigador das profundezas e zonas inabitadas, designado diretamente pelo próprio Ancião. Todos então voltaram as suas tarefas naquele infinito cotidiano onde todos seguiam mecanizados em tarefas estabelecidas como a um formigueiro onde mesmo a reprodução deveria ter permissão e como larvas eram criados separados de suas famílias até se tornarem desoníricos desprovidos de sonhos num estado dormente não por demais consciente nem por de menos adormecidos numa espécie de limbo perpetuo ante aquele gás indolor e inibidor do sono.
Não havia criatividade, pois, a cognição humana havia sido diminuída a um estado tão infecundo quanto a dos estéreis terrenos da superfície pela radiação, como o Ancião contava todas as semanas. O livre-arbítrio era pouco mais que movimentos condicionados à exaustão de modo que criminosos eram moscas brancas com um fiapo de sonho na mente. Criminosos às leis inócuas de mentes cruéis que insistentemente desejavam punir a humanidade por simplesmente existir. A sociedade então era a prisão e a condenação não sonhar. A obsessão pela coletividade abnega a criatividade, a subversão à liberdade individual pelo estimulo do seu extremo, o egoísmo.
A história humana não era mais contada a não ser seus mitos vivo pelos medos e anseios por mentes perpetuamente cansadas por nunca mais dormir e sonhar. A fé era alcançar o sono perpetuo, a morte onde finalmente poderiam descansar em paz e talvez ter identidades. Mas já não estavam mortos naquele lugar?

- Cem anos se passaram depois que a humanidade destruiu seu mundo com as armas do terror, mas ainda há os mesmos terroristas drogados e bêbados que se infiltram entre nós, querendo trazer seus sonhos que sempre levam a pesadelos. Vejam, a única realização da vida é o trabalho ou a morte. – Disse o Ancião coroando o ignóbil pela lavagem cerebral, e que pela mesma repetição não sabíamos mais qual era a verdade. – Querem atacar os Disnoníricos, acabemos com eles!

Naquele momento meu Centurião surgiu e me abordou falando.
- Franz Six, vai começar sua nova função num crime, no Setor 5, aqueles terroristas drogados atacaram novamente. – Disse aquele homem.

Os rumores sobre esses terroristas eram de homens mascarados que tornava as suas vítimas um ar diferente as fazendo dormir e, sonhar tirando a harmonia daquele lugar. Mas daquela vez o crime era outro, eles haviam cruzado supostamente a linha e matado duas pessoas no setor 5 com pistas que remetiam ao mito da Quimera da Superfície, um ser viscoso que devoravam qualquer alma que arriscasse fugir daquele lugar rumo a superfície.

- O mito então é real! – Disse eu – Os Terroristas libertaram o Devorador de Sonhos que espreita as portas da superfície tragando a qualquer um que queira fugir daqui.
- É. – Disse o Centurião com uma máscara de ar puro no rosto, pois somente a elite daquele lugar tinha o direito a dormir e sonhar. – Isso porque ainda não é o tempo de emergir.

Com a decadência do livre-arbítrio e criatividade, a população se tornou cheia de superstições, cacoetes rituais que se sucediam todos os dias a fim de que os mitos narrados pelo Ancião não se tornassem pesadelos vividos. Mas aquelas vítimas foram acusadas pelo Centurião de que eles fugiam a superstição de sempre bater as portas duas vezes antes de descer mais um nível.

- Vê isso? – Disse o Centurião – O Ancião é sábio e todos os movimentos devem ser feitos de acordo com que ele diz. Isso é o que acontece quando não segue o que diz o Ancião. Abrir portas sempre leva ao mal adentrar, agora investigue que iremos anunciar mais esse ato infeliz por causa dos terroristas. Eles têm colocado ideias estranhas na população de que sonhos são bons e que a superfície é habitável, quero que os localizem.

Os dois corpos estavam despedaçados pelo chão, mal conseguia discernir de qual corpo era o braço sobressalente em meio a uma poça de sangue, o Devorador de Sonhos dilacerou dois tolos Disoníricos que abriu as portas do corredor da Subida Proibida a mando dos Terroristas.

- Senhor, olhe – Disse eu ao Centurião notando haver a marcação no braço caído no chão. – Ele estava marcado com o ‘E’ era um subversivo.
- Isso explica, quero que você tire fotos para ser mostrados no Telão com o que acontece com os desobedientes que tentam o Corredor da Subida Proibida. Era uma tola toupeira.

Os marcados com o ‘E’ indicavam que deveriam ficar restritos ao Setor 5 em trabalho não remunerado continuo e abstenho de propriedades privadas por tentarem se aventura em pontos não permitidos aos Desoníricos ou por seguir como adeptos as ideias dos Terroristas. Mas havia um sobrevivente trêmulo encurvado sobre si próprio num canto.
Naquele momento gatos pretos surgiram correndo de um lado a outro, mas questionei se era mais um delírio coletivo pelo estado latente da população. Mas não sabia ao certo se os gatos eram frutos delirantes de uma mente cansada. Mas era mal sinal, mau agouro. Os Terroristas, conhecidos como Zakars, afirmavam ser inserções proibitivas pela neurotecnologia que havia em cada mente, mentes cansadas da população a reafirmar a exofobia daquela sociedade hermeticamente fechada.
Os Zakars era os últimos habitantes da superfície que segundo o Ancião se tornaram homens cheio de tumores pela radiação, criaturas esquálidas que não satisfeitos em estarem morrendo lentamente desejavam o mesmo aos Desoníricos espalhando a semente das dúvidas. Os Zakars sobretudo passavam ideias de que a verdadeira história da humanidade estava sendo distorcida e suplantada pela substituição de mitos, não conhecendo mais a própria origem, ideia tentadora àqueles que desejavam sonhar.

- Olhe isso Franz Six, mascaras! – Disse o Centurião guiando minha investigação no primeiro dia. – Eles eram parte de um grupo de ilegais que sonham clandestinamente, vendem uma droga que permite dormir. Certamente Rosetta Stone está por de trás disto.
- Rosetta Stone, a suspeita que nunca é encontrada? – Indaguei eu sobre a mítica personalidade que era o contato dos Zakar entre os Desoníricos. – Tenho que entrevistar o sobrevivente.
- Não! Tire as fotos! Você não compreende, Franz Six, há algo por de trás dos sonhos que ela induz. Algo muito mal. – Insistiu o Centurião. – Olha isso, é isso que acontece com quem sonha! - Disse ele me segurando pelo braço e forçando-me para frente, sobre os corpos. - Sonhar é meio caminho para o pesadelo!
- Vou tirar fotos para mostrar no telão, vou encontrar Rosetta Stone e detê-la antes que... – Disse quando fui interrompido.
- Ela habita um lugar que não existe. Nenhum Desonírico pode ir lá, não compreende? Vamos com isso!

O Centurião pegou o sobrevivente pelo braço, o homem estava encoberto por sangue trêmulo mas ao mesmo tempo quase catatônico com seu neuro-implante na nuca. Mas quando passava por mim o homem segurou meu braço e seu olhar vazio encontrou o meu e disse num espanto.

- Quando não se dorme os mitos da civilização adormecida voltam e ganham vida num mundo desperto!

O Centurião desferiu o soco na boca do homem que virou-se e seguiu caminhando obedientemente.
Terminei de tirar as fotos quando era o horário do almoço e todos se reuniam em praças de alimentação coletivas enquanto filmes eram exibidos nos telões, normalmente histórias tenebrosas sobre o que acontecia  com quem queria ser criativo e sonhar. Os filmes no futuro são colagens digitais de clichês pela interação do espectador, utilizando do inconsciente coletivo semi-desperto para as decisões.
Quando a transmissão fora interrompida para noticiar o crime, todos na medida do apático se escandalizaram, malditos sonhadores proibidos sempre tirando a harmonia da população. Mas a essa altura estava debruçado sobre a Subnet investigando mais notícias sobre Rosetta Stone.
Segundo ela, era a Segunda Anciã que discordava da abordagem do Ancião e passou a ser foragida pela resistência com o domínio do Ancião. As mensagens dela foram censuradas pela Elite, mas tendo em posse minha permissão de investigador consegui acessar a área restrita.
Nas informações classificadas secretas, Rosetta Stone postulava que conhecimentos inconscientes coletivos, algo que no passado fora apagado da humanidade com a neurotecnologia, os chamados mitos dourados escritos pelos adormecidos despertos estavam se tornando realidade dando lugar ao surgimento de algumas assombrações, folie deux, superstições que poderiam ser imprintings do inconsciente coletivo pela supressão de memórias passadas e pela ausência do sono como um efeito colateral sombrio.
Os mitos  começaram a matar de verdade a partir do dia 13.529 d.H após a neurotecnologia coletiva dando sentido ao que dizia Rosetta, mas se ela estava certa porque fora classificada como parte dos terroristas Zakar? Me vi na necessidade de procurar um escritor onírico escravo, Joaquin Trancoso, um dos homens responsáveis pelos filmes dos telões sobre os mitos e um dos poucos a usar os sonhos – ainda que como pesadelos – para atemorizar a população.
O homem estava num leito o qual de acordo com o mito era lugar de patologias e que a superstição popular via como o declínio final. Preso num estado semi-adormecido o homem estava inerte com os olhos fintando o vazio.

- Joaquim Trancoso? – Disse eu perplexo olhando o estado lamentável da condição do sonhar quando os olhos apáticos viraram-se para mim e disse.
- A sol lá fora! Sobre as nuvens há um sol.
- O Sol não é outro devorador de peles da superfície?
- Não, isso é um mito. Um mito! – Exclamou ele erguendo-se até sentar-se. – Tudo é uma mentira.
- O mito é verdade, como um escritor pode blasfemar assim dos mitos sagrados! Você está sonhando demais! – Repreendi.
- O que você quer?
- A verdade sobre o imprinting coletivo. O que é mito, o que é mentira?
- A ausência de sono individual levou a consciência global adormecer. O gás e os implantes de neurotecnologia não podem conter, mesmo o personagem que criei se tornou real. O mito é a mentira que está se tornando verdade.
- Como assim o personagem que ele criou parece gradualmente se tornar real, teria ele premeditado sua existência ou ele materializou-se pela crença de que existe?
- Você precisa ir ao lugar que não existe. Lá há livros históricos. – Disse o homem com os olhos arregalados - Não sabem como surgiu a humanidade de modo que toda uma cosmogonia fora criada para explicar o surgimento da humanidade e onde os Zakar eram demonizados.
- Isso é uma blasfêmia passível de morte! –Disse atemorizado com tais pensamentos subversivos.

O homem pálido e engordado com nutrientes feitos para alimentar o cérebro era lá posto em cárcere para criar novas combinações de histórias pois para a Elite o original era apenas uma palavra, tudo deveria ser copiado e rearranjado.

- Não consegue perceber! Há sonhos reais e realidades que aparentam sonhos, mas quando elas se cruzam? Vá ao lugar que não existe, lá há nomes proibidos, proibidos! Maldita esofonia esfonia, esofonia.

Se aquilo fosse verdade a Elite estava ocultado algo, mas era demasiado perigoso enfrentar o Ancião que não se via há anos e sua elite inflexível e rígida. Na hora que saia Trancoso me deu em minhas mãos um pedaço de papel que escondi num bolso quando o Centurião adentrou o recinto. Com um olhar atento quase percebeu o ato em meu lento reflexo.

- O que houve? Franz, se você estiver escondendo algo de mim, vou obriga-lo a olhar-se no espelho! – Ameaçou quando então retirei-me.

Como o Centurião sabia de meu medo? Como investigador queria apenas seguir as pistas deixadas para chegar a verdade, era a trilha dos bravos o qual me relutava a seguir em minha cegueira apática.
Assim que retirei-me dali tive a nítida impressão que o Zagão seguia todos meus passos como se temesse a minha investigação. Sabia que os filmes eram invenções, mas de que os boatos criminosos implantados pelos Zakar era verdade aquilo me deixou profundamente perturbado. Mas assim que longe da visão do homem tirei o papel do bolso e o abri para perceber se tratar de um mapa.
Nesse mapa parecia descrever toda a planta da cidade dos Desoníricos em seus cinco setores, mas havia um trecho do mapa que não estava na planta original, e nesse lugar um xis marcava algo com a inscrição: “O lugar que não existe”.
Fiquei quase chocado com aquela informação, não fosse pela apatia que me tomava poderia ficar legitimamente assustado, e assim segui em direção aquele lugar que era há uns quatro quilômetros daquela cidade circular o qual as vias formavam uma espécie de pentagrama. Tudo indicava que ‘o lugar que não existe’ era mais do que uma lenda criminosa implantada pelos Zakar.
Segui por uma área vedada com a inscrição de perigo de desabamento onde a entrada de qualquer desonírico era terminantemente proibida. Mas portando minha permissão especial de investigador levantei a fita e segui rumo ao túnel encravado na rocha e abandonado em sua obra. Olhei para trás para certificar-me de que não era seguido pelo Centurião e acendi a luz de meu luminário.
Segui até o fim oficial da planta e lá havia mais uma placa anunciando ser crime seguir em frente, novamente fiquei abismado dentro dos limites da apatia pelo fato que atentei que havia uma porta escondida por de trás de escombros, porta que não existia oficialmente.
Ao abri-la lentamente vi uma inscrição vermelha rabiscada na parede que dizia a quem saia da biblioteca: “El sueno dorado de los duenos del mundo”. A luz não consegui desvelar todo ambiente que era amplo, virei o papel e constatei nomes peculiares nunca vistos e abaixo dos nomes uma inscrição.

“Guardiões:
Andreia Revas
Carlos Sognare
John Somniatis

Acreditam num espaço dentro do espaço, como um universo dentro de nosso universo, escondido entre um evento cósmico.”

Aquilo eram enigmas que minha mente perpetuamente cansada e apática não conseguia compreender, estava letárgico, embebido pela mesma sensação estranha, desde os implantes sentia-me um estranho num lugar que não existe. Mas então encontrei um interruptor e como por afortunado ao pressiona-lo liguei as luzes do lugar revelando um extenso saguão onde havia fileiras mais fileiras de estantes com montes de papéis em brochuras que chamavam de livros.
Caminhei lentamente por entre as fileiras de livros onde haviam livros de história e outros estranhos chamados romance e novelas. Perplexo peguei um dos livros onde mencionava ‘A Profecia dos Sonhos’ e curioso o abri desfolhando suas empoeiradas páginas com ilustrações. Aquela era a Última Biblioteca com livros com relatos de toda história humana, haviam livros o qual a autoria fora apagada, ladrões de ideias achavam que o original era o inócuo. Lembranças de uma Humanidade perdida. Assim dizia o livro:

“Chuang-tsé (350 a.C.) sonhou ser uma borboleta e quando acordou refletiu se a borboleta não sonhava ser homem.”.

"Os homens viviam como Deuses, sem vícios ou paixões, tormento ou trabalho árduo. Em feliz parceria com seres divinos, eles desfrutavam seus dias em tranquilidade e alegria, vivendo juntos em perfeita igualdade, unidos por mútua confiança e amor. A Terra era mais bela do que agora, e espontaneamente produzia uma abundante variedade de frutas. Os seres humanos e animais falavam a mesma língua e conversavam entre si. Os homens eram considerados meros garotos aos 100 anos de idade. Eles não tinham nenhuma das enfermidades da idade para preocuparem-se e quando eles faziam a passagem para regiões de vida mais elevadas, isto era em uma suave soneca”.
Poeta da Grécia antiga, Hesíodo, descrevendo o mundo de uma 4ª Dimensão

Coloquei o livro em seu lugar e então vislumbrei mais alguns títulos garbosos.

Finnegans Wake - James Joyce
Hypnerotomachia Poliphili (1499)
Livro de Veles

Retirei o Livro de Veles e o abri lentamente, falava de mitos eslavos, ao seguir adiante me deparei com um capítulo que falava da Lenda do Zakar. Dzakar, deus babilônico dos sonhos, sendo que os sonhos na Antiga Mesopotâmia traziam mensagens dos deuses para os homens.

“Preza assim o mito de ‘Yav’, o mundo material que irá colidir com ‘Nav’, o mundo imaterial, rompendo todo ‘Prav’, as leis que governam outros dois mundos. Somente Dzakar pode impedir, pois a emergência de um é o declínio de outro.
Disse assim Mary Lex, a primeira representante de Zakar, profetiza adormecida, aquela que é jovem, mas é anciã:

- Instintos e sentimentos alinhados com o intelecto harmoniosamente prevalecem numa sociedade altamente evoluída, caso oposto problemas sempre acontecerão. A aniquilação gradual do sono assim como dos sentimentos leva a extinção dos sonhos, uma sociedade mecanizada, onde a arbitrariedade e exceção alimentam a discriminação. O homem que não sonha deixa de ser homem, o ser que não tem consciência e sentimentos.”

Perplexo com aquele formoso texto virei a página daquele livro lentamente ainda tentando assimilar as gotas daquele estranho conhecimento. Exultante sentia algo que não me lembrava de sentir...

“Na moral ambígua tudo se perde, mas a moral com ponto fixo é norteadora. Todos os valores precisam de constantes pois no mundo a maldade é a variável.”

Ouvi então algo ao fundo irromper os grilhões do silencia ecoando por todo saguão e perpetuando um medo antes mesmo de ser pensado por minha mente cansada. Fechei o livro e escondi-me atrás de uma das estantes quando vi os passos do Centurião caminhando lentamente quando começou a assoviar até que interrompeu-se o assovio e disse.

- Sei que encontrou a biblioteca secreta, Franz Six, mas seu tempo acabou. Rosetta Stone costumava falar que o sonho é o devaneio da realidade. O que é o sonho sem a beleza? É o pesadelo da ilusão. Saia de onde está ou se arrependerá de se chamar Franz Six.

Treme em minhas bases ainda que de modo letárgico sem compreender ao certo o que era medo. Larguei o livro caindo ao chão e corri em direção a saída quando vi que o Centurião estava do outro lado do saguão. Ao ouvir meus passos exultantes o homem apenas pegou um comunicador e disse.

- Envie o alerta coletivo, ele descobriu a verdade.

Ao desligar o comunicador viu-me passar correndo pela entrada e agora igualmente correndo gritou.

- Franz Six, se você subir será comido pelo Devorador de Sonhos, o inferno se libertará!

Corri pelo túnel em obras paradas quando sai numa das ruas por onde havia adentrado, vi as pessoas caminhando lentamente como sonâmbulos sem dormir, para onde iria correr? Tentei caminhar sem transparecer o nervosismo quando senti uma picada na minha nuca pelo implante de neurotecnologia, naquele instante todos pararam de andar nas ruas e viraram-se para mim.
Temoroso com a reação imprevista deles caminhei como seu os seus olhares não fossem para mim, mas todos vieram atrás de mim como mortos vivos vagando apaticamente.
Passei pelo corredor de acesso à Subida Proibida que levava a porta por onde supostamente o Devorador de Sonhos rondava na superfície, mas sem saber para onde correr arrisquei-me e subi o extenso jogo de escadas deixando a multidão que me seguia parada a sua entrada. Eram mais de 500 degraus escuros até uma porta dourada que tinha encima a mesma inscrição da biblioteca: Findo el sueno dorado de los duenos del mundo.
Quando abri a porta lentamente uma luz amarela azulada adentrou ofuscando minha visão pelo súbito contraste das luzes acinzentadas do interior dos subterrâneos. Tonto por alguma coisa injetada pelo implante estava prestes a atravessar os limites da cidade dos Desoníricos quando coloquei meu pé direito a atravessar a porta lentamente e então um vento suave e fresco irrompeu ante o ruído de aves que nunca havia ouvido. Olhei ao redor temoroso achando que o Devorador de Sonhos, aquela criatura mostrada em filmes que comia vivo aqueles que sonhassem, surgisse a me tragar, mas nada havia.
Caminhei lentamente sem fechar a porta e a cada passo sentia o puro ar irromper meus pulmões de modo nunca antes sentido, as nuvens douradas era vistas por mim apenas nos filmes sobre o apogeu da humanidade e as aves voando era o sonho de que não podia dormir.
Surgiram então duas formas diante de mim e achando ser o Devorador de Sonhos peguei um pedaço de madeira, mas pareciam ser homens.

- Fique tranquilo, não lhe faremos mau. – Disse uma voz tranquilizante.
- Temos mais um liberto que atravessou a porta! – Gritou o outro para o que aparentava ser mais daqueles quando oscilei os passos e bambei as pernas. - Talvez você precise dormir um pouco. Apenas isso.
- O que é isso que respiro, é o ar contaminado da superfície? – Indaguei.
- Não, o nome disto é ar puro. Bons sonhos.

Cai de joelhos, minhas vistas embaçavam e ardiam quando cai de bruços e senti um estranho conforto tomar meu corpo ao repousar horizontalmente meu corpo, ouvi um riso, mas não de deboche era felicidade, tentei me esforçar para ver mas as pálpebras pesavam e então tudo se escureceu.
Não parecia ter passado muito tempo quando ouvi um som ritmado com ruídos agradáveis, havia ao fundo som de risos quando me esforcei para abrir os olhos e me vi estar num leito. Me levantei assustado e sentei-me na cama quando uma mulher veio correndo até mim.

- Acordou! Franz Six acordou!

A mulher parou diante de mim e olhou nos meus olhos deixando-me deslocado. Ela sorriu e então coloquei a mão na minha nuca quando senti que não havia mais o implante neurotecnológico, senti-me aliviado como nunca antes me senti. Minha visão se tornou mais clara, tenho reflexos e foco, como se minha consciência tivesse ganhado maior lucidez.

- Só acorda de fato quem dorme! – Disse a mulher de doce voz e cachos dourados. – Antes era apenas alguma coisa entre estar dormindo e acordado.
- Isso é o que chamam de sonho? – Indaguei perplexo não percebendo que aquela consciência era o despertar.
- Não, meu amigo, isso é viver. – Disse outro homem parando diante de mim ao lado de um garotinho, todos sem implantes. - Os implantes junto a remédios administrados constantemente controlam os surtos psicóticos provocados pela privação de sono prolongada.
- Mas isso não faz sentido, e o Devorador de Sonhos? A superfície é apenas um deserto embebido num eterno inverno nuclear!
- Não, o Grande Inverno passou há décadas. – Disse a mulher. – Infelizmente poucos restaram na superfície, apenas alguns milhares. Mas você estava se tornando outra coisa pela evolução guiada.
- Como assim?
- Infelizmente todas as cidades que restaram são subterrâneas como a sua, um projeto que na verdade buscava impedir o rumo natural que a humanidade tomava.
- Vocês são os Zakar. – Conclui tendo o aceno de positivo deles. – Vocês são terroristas drogados e bêbados.
- Na verdade vocês eram os drogados para nunca sonharem. Estamos reconstruindo o mundo, mas o mundo o qual pertencia cresce abaixo da superfície nos combatendo pois somos os remanescentes. Os que ainda sonham, os últimos livres.
- Por quanto tempo dormi? – Perguntei perplexo.
- Por 76 horas. – Disse a mulher.

Recusava-me a acreditar naquilo, tudo o qual fui educado a acreditar não era verdade, os mitos que diziam reais eram mentiras inventadas para nos vedar a verdade, quimeras criadas como forma de controle populacional.

- Aguardamos muito por esse momento, Franz Six, sabíamos que um dos Desoníricos iriam se rebelar e se libertar, Rosetta Stone estava certa. Nesse mundo temos poucos recursos, mas sonhamos acordados e dormindo, temos artes, temos poesia! – Disse a mulher sorrindo.
- Mas e o crime do submundo?

Naquele momento eles se entreolharam entre si sem dizer palavras quando o homem interrompeu o silêncio e disse.

- Temos muito a te contar, Six. Sou Carlos Sognare, a propósito, e ela é Andreia Revas.
- Infelizmente os crimes são reais, todavia tem que compreender que o verdadeiro crime cometido é acabar com os sonhos para tentar controlar os padrões por de trás do caos, esse fora o primeiro tiro, a luta pelo controle absoluto apenas levou a seu oposto pois ele não existe com equilíbrio e harmonia. – Disse Revas e seguiu. – Aquilo que você investigava era o efeito colateral da iminência de uma catástrofe global quando os mitos cruzam os limites do imaginário ao real.
- Não é desejo deles que a população se liberte e suba, pois, no submundo vivem sob o medo sendo dóceis e submissos a eles a seus desejos, desejos que gradualmente se tornam verdade. – Disse Sognare - Há várias cidades como estas, somente a sua há 300.000 habitantes que trabalham 24 horas para os dominantes com salário de miséria.
- Vamos leva-lo a Rosetta Stone, ela era um deles que se rebelou ao perceber o que criaram. Ela ficará perplexa com suas feições e te dará respostas.

Não compreendia o que ela queria dizer, mas consegui lembrar-me de ao dormir ter tido sonhos, sonhei com uma senhora muito idosa que parecia dizer-me algo que não compreendia. Caminhei então por aquelas ruínas quando vi mais crianças surgirem a minha volta, estavam curiosas comigo, pelos rumores que me antecedia.
Porém, curioso mesmo fiquei eu ao constatar que Rosetta Stone era a anciã do sonho que tivera há poucas horas. A senhora de cabelo branco e quebrado estava enrolado e ela sentada sobre um pano em volta de várias plantas numa espécie de jardim sob uma trilha sonora instrumental relaxante. Eles tentavam recultivar plantas selecionadas numa espécie de arca.

- O que empurra os padrões no caos me trouxe e me fez ver um reflexo de um antigo. – Disse a senhora assustada ao vê-la. – Queríamos que você visse a porta, para atravessa-la como a quem atravessa os limites dos sonhos inconscientes e conscientes.
- Por que diz isso sobre reflexo? – Indaguei perplexo.
- Você tem medo de espelhos pois é a versão espelhada de outro homem que há um século lutou pelo oposto que você. Afinal o que reflete inverte. Simetricamente opostos. De tempos em tempos um messias surge e a história se repete, faz parte de uma sincronicidade caótica somente percebida pelo inconsciente.
- Como você sabe de...
- Era uma dos senhores do submundo, conhecia o perfil de todos nos mínimos detalhes, eram como cartas marcadas num jogo do caos. Sim, os mesmos que queriam emergir aquele mundo, mas não havia atmosfera para seus pesadelos – disse referindo-se aos gases que usavam naquelas masmorras. – Mas agora talvez eles consigam o que sempre desejaram, ainda que tenhamos fé que através de você...
- Do que a senhora fala? - Interrompi.
- Mais da metade da mente humana é subconsciente. Fenômenos como brainprint são demonstradamente capazes de alterar a randômica do mundo, há dentro de ti, o mesmo que lhe compeliu a ter eisoptrofobia um ser de poder intrínseco ao universo e o que o move, o caos. Ações indiretas pelo qual o ser consciente acha não ter controle.
- Instintos?
- Instintos animais tem, digo algo mais, algo que envolve os sentimentos, a empatia, o mesmo poder pelo qual torna possível alguns ver eventos futuros no caos, empatas. Algo nunca atingido plenamente pelo consciente, mas inconsciente o qual a expressão máxima, são os sonhos.
- Isso tudo então faz parte de um projeto global que estuda o caos e sua relação antropocêntrica? – Perguntei tendo um aceno positivo dela.
- Os extremos dos tempos aparentam-se para nós como sonhos, sendo até mesmo permeado por símbolos e alegorismo, no passado as mitologias com seres fantásticos, e no futuro permeia o onírico das profecias, no tempo dos sonhos. O consciente vive entre os dois extremos, no presente, mas os Zakar excedem seu eixo.
- Mas e os mitos de agora que vemos na cidade subterrânea? Os crimes míticos do Devorador de Sonhos, não era uma armação deles?
- Frames de uma dimensão paralela por sonhos. Não, apenas tentam nos culpar por isso, mas significa que a fronteira entre estes extremos está sendo rompida gradualmente alcançando o mundo cognitivo apenas pela consciência, a realidade, os padrões do caos estão sendo guiados. Os sonhos têm uma dimensão e tempos próprios que está sendo gradualmente rompido, arrombado, porque o inconsciente e consciente se embaralha gradualmente pela ausência de sonhos que seria a necessidade disto ser colocado pra fora. A espécie adormecida dentro de todos está aprisionada e a distância entre realidade e sonhos está sendo diminuída.
- Descobriram na época da Grande Queda que os sonhos provêm duma dimensão anexa a nosso universo, uns chamam de Topos Uranos outros de mundo espiritual, outros de que essa dimensão seja em si a consciência global. – Disse Revas interrompendo e me entregando um copo de refresco. - A Soma de todos os sonhos o qual declina-se ao utopismo espiritual repelindo todo sentimento vil, de ódio, inveja, ganância, luxuria...
- Os sonhos são as chaves nãos somente para o inconsciente individual, mas coletivo. Mas o empirismo não toca os sonhos.
- Rosetta Stone é a Zakar mais poderosa, ela consegue a psicosofia. O foco nos sentimentos me permite extrair informações do abstrato, quando me envolvo emocionalmente sinto-me fluir numa psicosofia. – Disse Sognare. - Há mais de dois tipos de raciocínios, o lógico-matemático, intuitivo, mas o inconsciente o mais poderosos pois é o que está por trás dos sonhos.

Aquilo fora libertador. Esclarecedor. Formidável. Há muitas formas de pensamento - por linguagem, por sons, por imagens, por sensações -, essas formas de pensar podem ser um guia a levar a ter ideias e insights e a moldar a própria inteligência em seus variados tipos. A Imaginação vem de imagem, como vem seu modo de pensar, supomos que um cego assim não pensa por imagens, mas por sons, assim como um surdo não pensa por sons, mas por imagens. Assim a compreensão de imagem de um cego a exemplo de um sonho cego, denota pelo tato ou mesmo pelas vibrações sonoras (sonar). Metáforas dos subconsciente assim, são ilustrações imaginativas que levam a compreender algo fora da própria imagem proposta e assim o pensamento de um cego ao ver a imagem. Aquelas eram definições da psicosofia de Rosetta Stone.

- O que faremos agora? – Indaguei eu sobre a situação.
- Planejaremos algo, deixe agora Rosetta Stone descansar, ela é uma anciã de dias.

Mas enquanto conversávamos a definição de aborto era o que acontecia, as atitudes de alguns que emergindo do inferno nunca nascem na história sendo apenas uma assombração traumática, uma lacuna dolorosa de amnésia histórica, assim como a cidade dos Disoníricos que não tinha dia nem noite, nem história era apenas isso, algo entre a realidade e os pesadelos de estar preso e não conseguir gritar por socorro.
Rosetta Stone era tão poderosa o qual conseguia realizar investigações nesse mundo permeado pelo inconsciente e que pelo caos conseguiu perceber que a lenda de um possível libertador era mais que um sonho. O tempo fora generoso a seu intelecto e a seus dons, o tempo não faz mal a inteligência, mas a beleza.
Grande eram as dúvidas sobre os livros que presenciei na biblioteca da elite, no mundo onde a educação era polarizada entre a educação da dominação dos opressores onde era ensinando que tudo podiam, à educação dos oprimidos que era o condicionamento a um quase sonambulismo em que nada era possível a não ser a vontade do primeiro. Só eles poderiam subir, só eles poderiam ter voz, só eles poderiam ter reconhecimento e sonhos pois as portas abriam-se apenas para eles. Aquele mundo era movido pela mesma desigualdade o qual o lucro deles era o prejuízo alheio, de uma massa compelida a não ter vontade própria.
E o livro Finnegans Wake, um antigo exemplar de séculos atrás de autoria de James Joyce expressava a máxima de um mundo de ideias acessível apenas pelo inconsciente mas que a história era registrada por meio de alegorismo. Era um sonho o qual as Sete camadas mostrava as verdades adormecidas na literatura ficcional, pois a ficção trazia verdades inefáveis. Sonhos trazem mais que memórias...
Realmente similar era o Hypnerotomachia Poliphili de 1499 o qual remetia ao Renascimento, um dos mais enigmáticos impressos e seu título sugestivo dizia do grego “A luta amorosa de Poliphilo em um sonho”, levando a crer que tais ideias transcendiam o tempo que para Rosetta Stone por ser um mundo de sonhos com tempo próprio tinha saídas para qualquer tempo mundano.
Sistematic Dreams era o nome dado por Rosetta ao que ela se referia a um sistema de sonhos intrinsicamente dependente do homem por ser alimentado e surgido desse ser que ela insistia em não chamar homo sapiens, mas homo oniric.
Os Contos Trancosos o  qual o fantástico remetia ao onírico por seus símbolos que excedem o possível real, parece ter sido os precursores comum da Grande Queda, acontecimentos que relacionados com os experimentos com uma então criança chamada Rosetta Stone.
Na verdade perguntei-me se o mundo secreto dos sonhos estava sofrendo tantas perturbações pelos pesadelos do mundo real, pois aqueles o qual o caos respeitava mais turbulência criava quando os mesmos algozes não o faziam.
Labirintos se formavam pela verdade em suas formas conscientes e inconscientes, enquanto tenebrosas charadas se formavam sobre o futuro do que iria acontecer.
Isso porque naquele instante um homem surgiu correndo informando que outro habitante daquela cidade em construção chamada Acácia fora atacado ao dormir e seus sonhos devorados.
Berros e gritos se ouviram.
Esgueirando-se marcas e pegadas funestas deixadas.
Relevo da morte estampado com a tinta vermelha do sangue numa arte que era um pesadelo.
Tudo em vão, gritou um dos sobreviventes. Tudo em vão.
E para o abismo que seremos tragados, outro gritou.
Mesmo eu não sabia o que fazer ante aquilo.
Era o mesmo medo que me consumia...

- O que aconteceu? – Indago a eles.
- Não é o primeiro mito a emergir. – Respondeu Carlos Sognare. – Fora na noite em que um experimento global de um cientista com interesses obscuros com a elite deu errado. Seu nome era Dr.Joseph Mason, e seu objetivo era basicamente relacionar padrões oníricos coletivos com a realidade por acreditar que molda-los seria capaz de alterar o humor da realidade antropológica.

Dr.Joseph Mason dizia Rosetta ser um doppler meu. Como um negativo, igual em aparência, mas com contornos nebulosamente escuros onde as trevas eram luz e as luzes trevas. Os experimentos que precederam a Grande Queda desenrolaram-se na Tóquio do século XXII quando conseguiram relacionar padrões oníricos dos que seriam chamados Zakar com a realidade, chamaram aquilo de pareamento de inconsciência. Muitos então passaram a ser perseguidos veladamente pelos homens de Manson e mesmo sua imaginação se possível monitorada, mas que por falta de prerrogativas legais nada era feito diretamente. Até que aquele fatídico 11 de maio seria marcado como a desculpa formal das autoridades de caçar e deter os Zakar onde até mesmo suas propriedades imateriais passaram ser consideradas apreendidas para julgamento.
Esse dia fora quando um grupo de Zakar foram estimulados sonhos coletivamente por um equipamento que literalmente controlava as ondas do estado alfa de sono e inseria imagens e informações durante o estado REM, mas ao ser colocado figuras do folclore japonês literalmente casos as envolvendo surgiram.
Muitas histórias do folclore japonês aconteceram, mas Dr.Mason negou que tenha sido eles a induzido, mas sim uma predisposição natural dos Zakar em tornar pesadelos reais, nunca sonhos benevolentes. O folclore japonês é normalmente era dividido em várias categorias: “mukashibanashi”, contos de antigamente; “namidabanashi”, histórias tristes; “obakebanashi”, histórias de fantasmas; “ongaeshibanashi”, histórias de retribuição da bondade;“tonchibanashi”, histórias de sabedoria; “waraibanashi”, histórias engraçadas; e “yokubaribanashi”, histórias de ganância.
As relações entre sonhos e mitos foram estabelecidas quando cinco casos de obakebanashi com mortes surgiram deixando provas até mesmo em vídeo. Manson que acreditava que a humanidade surgiu de um sonho, de um cérebro de Boltzmann, viu-se triunfante em conseguir que sua inveja acabasse com a liberdade e os direitos dos Zakar.
Isso assim cresceu como no nazismo, os Zakar passaram a ser malditos onde fossem. Proibido o casamento, ter mulheres e filhos, casa e até mesmo de permanecer em recintos comerciais se tornando propriedades do estado como se Manson e os seus tivessem a patente dos seres Zakar que assim foram rotulados como menção ao deus babilônico dos sonhos.
Sinceramente era apenas o princípio das dores como nas antigas profecias bíblicas. Casos de folclore nativos de cada pais eclodiram em todo mundo e um pesadelo gravado onde uma guerra nuclear era mostrada levou eles a julgar que os Zakar não sonhavam com o futuro, o concretizava quando um conflito armado explodiu entre a Índia e países do Oriente Médio. Era o raiar de um sol negro de medo segregador.
Perseguidos os Zakar se escondia, não poderiam mais sonhar nem dormindo nem com seus próprios planos, foram taxados como uma espécie menor, um tipo de sub-humano pelas prerrogativas de Mason. Dizia que os Zakar não devem ter direitos iguais pois pode significar o apocalipse.
E assim sucedeu aqueles dias quando um grande tormento sobreveio ao mundo e os Zakar mantidos presos embebido num líquido viscoso tinham a mente constantemente monitorada e controlada.
Realmente Descartes propõe que o pensamento é uma realidade diferente da realidade material e por sempre ser diferente nada do que nela ocorre é perfeitamente igual, do que planejamos aos sonhos que mais do que tudo eram demonstrações vivas dessa realidade inconsciente. Os padrões de símbolos freudianos e mitológicos de culturas extintas se cruzaram com a realidade pois as realidades se cruzaram. Os mitos se tornaram reais.
Sendo assim, mesmo a mitologia aborígene propõe que o mundo veio do sonho e as ideias de um cérebro de Boltzmann assombravam os remanescentes que para fugir do inverno nuclear seguiram os planos das elites que o implacável Mason servia.
E então sob as premissas de Dr.Mason criou então o mito do Devorador de Sonhos, uma criatura com chifres de bode, garras de leão e asas de grifo e de que esse ser espreitava os que dormiam, e tendo sob controle alguns Zakar tornou alguns exemplos desse mito real para que todos seguissem um plano onde a fisiologia humana se adaptasse a não dormir.
Guiados pelo medo do pesadelo, não mais sonharam, não mais dormiram. O coletivo tornou-se apático e doutrinado por uma cultura padronizada globalmente onde traços a cultura antiga é submetida e seus mitos substituídos por mitos americanos inventados.
Uma vez inspirado num experimento de sono fracassado durante a II Grande Guerra, a ausência do sono mesclada a características do gás fez com que a seta psicologia do tempo se invertesse a um estado involuído de animal, mas com ajustes posteriores foram suprimimos seus efeitos colaterais com os implantes neurotecnológicos.
Ela, Rosetta Stone era guardiã das histórias dos mitos passados e de todo conhecimento o qual era apenas acessível aos soberanos que fizeram do povo sua maior presa, isso até o dia em que ela foge.
Muitos não mais sabiam se dormiam ou estavam acordados e apenas estavam a ouvir a voz tenebrosa do homem que se tornou ancião, Joseph Mason. Mas agora tínhamos que tentar deter o que estava acontecendo mesmo na superfície os pesadelos de Mason tornando-se realidade para todos.

- Temos alguns infiltrados no submundo. – Disse Andreia Revas para mim. - John Somniatis, usando um pseudônimo mas a cada 72 duas horas tem que vir a superfície para não surtar.
- Terá de se retirar pois já sabem que ele é um dos infiltrados. Acho que ele já conseguiu esquemas completos das instalações, vigilância, segurança e mesmo de um túnel o qual ligam a cidade vizinha. – Completou Carlos Sognare.

Ao seguir Carlos Sognare nos levou a uma sala e mostrou esquemas completos da estrutura subterrânea que era em três níveis populares e mais dois elitistas. Suas ruas cortavam estreitas formando desenhos geométricos peculiares como um pentagrama e o andar da elite uma pirâmide.
Muitas das câmeras estavam principalmente nas entradas e saídas de todos os níveis tal como monitoramento por calor e um sistema de vibração os demais monitoramentos eram individuais como frequências cerebrais e batimentos cardíacos. O ponto mais precário dos rincões das profundezas pelo incrível que pareça era o corredor de subida que se estendiam por extenuantes escadarias às escuras num lugar entalhado na pedra, como uma mina. Mas não somente isso, mais à superfície havia um complexo de tuneis igualmente rudimentares que levavam a outras cidades tal como suas expansões em obras onde a legião de Disoníricos trabalhavam dia e noite somente parando por quatro horas diárias.
A energia, por sua vez era alimentada por um reator nuclear sepultado junto a população, pois caso de algo der errado toda toxidade radioativa ser introjetada apenas no povo enquanto as elites exasperadas fogem a tempo.
Zangões como de uma colmeia vagavam sendo constantemente monitorados pelos centuriões que trabalhavam para manutenção da ilusão instaurada oficialmente a mando do governo pós-Queda.
O oposto da recém fundada Nova Acádia sob resplendor do céu dourado do novo alvorecer da humanidade, a liberdade era reduzida ao condicionamento naquela criptocidade. Eram opostos por um abismo de terra de modo que seus prisioneiros humanos eram afastados da própria humanidade.
Não teríamos, porém muito tempo ao penetrar o solo na investida na criptocidade, utilizando-se de mapas e com contato estabelecido com John Somniatis desativaríamos o sistema de segurança tempo o bastante para invadir o centro de comando e desligar os gases e os neurotransmissores de massa.
Sem mais o que fazer seguimos rumo aos subterrâneos o único lugar que conhecia até me libertar do estado dopado entre uma das eternas doses de remédios anti-psicóticos e outros.

- Estamos adentrando o complexo de minas. – Disse Revas utilizando-se de um óculos de visão noturna – A princípio usaram tuneis de mineração e cavernas naturais para criarem a cidade, por aqui não estamos nos arriscando.
- Creio que você esteja equivocada, Revas. – Disse Carlos Sognare ao topar com um homem morto em pedaços.
- Rápido, é o centurião que me supervisionava! – Digo eu quase gritando a ecoar pelo estendo corredor de pedra.

Assim virei-me e apontei a lanterna adiante vi uma série de corpos despedaçados e empoçados no próprio sangue. Havia marcas de tiros pela parede e rostos lançados à lama comtemplando a cena do mesmo horror que viu por último, antes de jazerem no túmulo da humanidade como conhecida.
- Vamos, não temos muito tempo. Isso é mal sinal. – Disse Revas assustada empunhando agora sua arma.
- Acho que o formigueiro não vai resistir ao próprio mal que criou. – Conclamou Carlos Sognare como quem pensando alto.
- Sem dúvidas é mesmo. – Disse Revas quando então um som ecoou dentro das cavernas, um uivo tenebroso que nos fez sentirmos arrepios nos pelos do corpo.

Caminhamos lentamente quando o som se aproximou e um rugido feroz se ampliou como se sondasse nossas evoluções no lugar, então apertamos o passo quando um leve abalo surgiu e o barulho de pedras se remexendo ecoaram.
Quando nós viramos ante a escadaria notamos um enorme ser de uns quatro metros de olhos brilhantes e presas afiadas enquanto saliva escorria de sua boca. Corremos pegando a escadaria que ia a cidade das profundezas e víamos apenas o trepidar das luzes de nossas lanternas enquanto Revas desligava os óculos de visão noturna.
Numa fúria avassaladora o monstro se erguia descendo pelo corredor quando tropeçou em suas próprias patas rolando a escadaria em nossas direção. Por sorte havia uma bifurcação da escada o qual entramos a um corredor subjacente. Continuamos a correr igualmente quase caindo uns sobre os outros. A quimera da criptocidade estava ainda faminta como se o brainprinting da humanidade detida projetasse uma ilusão de seu próprio medo autoalimentado.
Ouvimos a criatura subindo do outro lado e entrando na bifurcação onde entramos, mas finalmente vimos a porta da criptocidade aproximar-se a poucos metros nos lançamos sobre ela caindo em meio a rua quase sendo pisoteados pela multidão apática que vagava na cidade sem dar-se conta do que acontecia.
Me levantei e guardei a arma quando observei as câmeras a volta, um dos homens apáticos para e nos observa como quem olha o vazio a tentar entender o abismo que cerca sua própria vida sem significado. Ajeito a calça e guardo a arma, mas uma batida forte na porta se ouve feroz, era a quimera dos disoníricos tentando arrombar a porta para adentrar. O homem se aproxima de mim e diz.

- W.C. é à esquerda.

Seguiu a diante juntando-se aos demais sem diferenças no mesmo flagelo que eram submetidos. Seguiam todos a uma única direção como se caminhassem silenciosos ao abismo sob uma trilha sonora de música clássica de Wagner.
Mas na contramão de todos surgiu um homem correndo e que nos gritou prontamente. John Somniatis, com enormes olheiras por permanecer naquele mergulho por três dias sem dormir.

- Temos pouco tempo antes que reativem as câmeras, vamos!
- Temos que segurar a porta, o monstro quer arrombar! – Gritou Revas em polvorosa.

Sons tenebrosos se ouviam pelo recinto gradualmente chamando atenção dos disoníricos, mas John Somniatis apenas colocou umas toras de obras para que a porta não fosse arrombada, mas seria a mesma porta que usaríamos para ter que sair. Aquilo o seguraria por algum tempo.
Olhamos para o alto onde era o centro de monitoramento quando um dos centuriões já estavam percebendo o que se sucedia.
Uns disoníricos então mudaram o rumo uniforme do sentido em que iam, voltando enquanto olhávamos o mapa e achamos o controle do gases e dos neurotransmissores. Corremos quando do outro lado um grupo de centuriões surgiram apontando e gritando palavras como “Terroristas alcoolizados! ”.
Seguindo em frente vimos a porta o qual somente a elite adentrava e a contragosto deles a abri lentamente subindo um lance de escadas, eram trinta e três degraus. Fosse o que fosse as elites odiavam portas e amavam pedágios.
Entrei no primeiro corredor a frente quando me deparei com um centurião bocejando de sono, com os pés sobre um painel de controle. Revas lançou-se sobre ele o agarrando pelo pescoço quando John Somniatis lhe desferiu um golpe na cabeça o fazendo dormir.
Gritei pelo mapa do controle para saber qual botão desligo, mas Revas eficientemente o localizou e apertou soando um alarme quando as câmeras de monitoramento tornavam ao ponto.
Rispidamente surgiu outro homem com uma caneca de chá nas mãos e ao reconhecer a deixou cair gritando por socorro. Um outro alarme soou em todo recinto.
Estava Revas apertando outros botões quando afirmou ter conseguido desligar os neurotransmissores e Sognare a puxou dizendo que não havia mais tempo.

- Guardamos o que era preciso, desativamos tudo, vamos! – Insistiu Sognare.
- Acho que não vamos conseguir. – Disse Somniatis quando ouvi lá embaixo o som da porta sendo arrombada!

Dois Disoníricos que sentiram o ar da liberdade, ainda atônitos olhava para os lados quando a quimera se projetou sobre eles os devorando em pedaços.
Os Centuriões vinham armados atirando enquanto a multidão agora livre corria ao ver a situação calamitosa se levantar na região.
Fomos pelos corredores quando ao passar por uma porta aberta vi um quadro com fotos de um homem igual a mim, era Dr.Mason. Parei enquanto os demais corriam quando Revas ao ver gritou por mim. Mas relutante apenas segui porta a dentro.

O lugar era disforme de todo restante. Cheio de prêmios, fotografias de Dr.Mason aquilo mais parecia um altar quando vi uma menina carregando uma xícara de chá nas mãos a deixando também cair ao me ver. Lentamente virou-se um ancião muito velho e me olhou nos olhos cerrando a visão.

- Franz Six. – Disse o homem – Bem-vindo de volta. Você é minha metade por mais irônico que soe. Deveria ter dado atenção a Rosetta Stone quando sonhou com seu nascimento.

Permaneci calado, mas me aproximei lentamente mais por curiosidade do que por medo.

- Stone sempre nos trouxe problemas, mas por muitos anos tivemos um dos mais poderosos Zakar de perto nos acompanhando, camuflado. Onde havia a ordem que buscávamos para a humanidade, ela era o caos. – Disse o homem quando tomou um gole de seu chá e sorriu para mim desdenhosamente e prosseguiu. -  A jovem prodígio parecia nos apoiar em tudo, camuflou os sinais de leituras de sua mente inserindo um código oculto no programa que ela mesma criou para isso. Mas você não é igual, podemos moldar a realidade da maneira que quisermos juntos, Franz!

Naquele momento adentrou Revas com Carlos Sognare armados sob o som atenuado do alarme, mas o homem seguiu os ignorando e olhando para mim.

- Entenda, o único modo de deter a quimera e embebendo a população de volta a seu estado anterior, as pessoas que a quimera não matar o surto psicótico as atacará por estarem apenas a vida toda sem dormir. Ela não deve ter mencionado a doença panonírica como um surto leva a 'loucura dos sonhos' onde num hospício os que são tratados como loucos ficam e onde começam os sonhos projetados.
- Não contou, mas presumo que nada justifique isso. – Disse eu olhando-o seriamente.

Virei-me a seu painel onde havia o microfone o qual falava a todos, todos os dias em seus discursos monótonos e tão moralistas. O ancião virou-se para o painel e notou que havia observado a tela onde era acionada a mensagem.

- Pra que ser reconhecido, Franz Six, não faça isso, seja como eles nem felizes, nem infelizes, nem vivos nem mortos, apenas existem a servir uma causa maior do que eles, a humanidade!

Pego o microfone ao seu lado e então o ancião segura meu puxo e se reluta enquanto a quimera lá embaixo é atacada e ataca os centuriões. Mas ainda assim pego o com o velho puxando e repuxando. Ele se levanta e tenta me bater quando caí ao chão.

- Acabou! Vocês com seus patéticos sonhos de direitos e liberdades individuais! Você não tem o direito de sonhar, isso é uma alucinação! – Gritou o velho ao chão se remexendo quando notamos que enfartava sufocando sobre si próprio.

Comecei então a falar ao povo ignorando o homem que segurava meu tornozelo ao jazer.

- "Todos os Vigilantes tremerão e serão castigados em lugares secretos em todas as extremidades da terra  " *.  Mas habitantes da Criptocidade, a partir de hoje não será mais dito em seus implantes neurotecnológicos o que deve ser feito, o mundo não acabou, há vida na superfície e ar puro que respirei com meus próprios pulmões. Não direi nada a não ser onde fica a porta para a saída, a porta que se abre para a liberdade, não posso leva-los apenas orienta-los, pois a porta somente vocês devem atravessar. Não tenham medo, pois não é o fim, mas apenas o começo, durmam e sonhem!

Ao ser apontando a porta que havia sido arrombada pela quimera ao chão, todos seguiram em meio a um burburinho de dúvidas e anseios mas todos seguiram atropelando os centuriões o qual agora não resistiram. Tão logo uma multidão transbordava a estreita saída para os corredores das minas de modo a culminar em dezenas de centenas surgindo na superfície extasiados com o ar puro da liberdade ao abrirem eles mesmos as portas como se estivessem sonhando com o paraíso. As crianças corriam pela grama que nunca viram enquanto os adultos conversavam perplexos e deitavam-se na grama até adormecerem. Não era o fim de uma vida, mas o começo da liberdade e de uma nova história para a humanidade.
Aquilo se repetiu nas cidades vizinhas por bastiões de novos adeptos de Rosetta Stone enquanto controlavam os sonhos livres e assim com seu poder diluído pelos Zakar entre eles agora igualmente livres e com vidas plenas. Casaram-se, tiveram filhos, reaprenderam o que era humanidade. Quando Revas os ensinou que os que amam dão boa noite para passar a noite ao seu lado apenas para amanhecer e lhe dizer bom dia.
Fora assim num dia como aqueles que Rosetta Stone soube o que aconteceu com seu amigo Dr.Mason e então ela adormeceu nesse dia feliz pela justiça feita, mas encontrou-se perpetuamente nos braços de Morpheus. A discutir sobre a morte da anciã, Revas numa noite apenas me disse.

- Creio que há uma outra realidade superior e mais real a essa o qual para nós são assombro e somente por avatares podem vir, para tal realidade nós somos apenas um sonho.

"Não é verdade que as pessoas param de buscar seus sonhos porque envelhecem. Elas envelhecem porque param de buscar seus sonhos"
– Gabriel García Márques

Conto da antologia 'Todas as formas de Sonhar' de Gerson Machado de Avillez.

sábado, 24 de outubro de 2015

Capa de 'Todas As Formas de Sonhar'.

Capa da antologia 'Todas as Formas de Sonhar' de Gerson Machado de Avillez. O livro agora reúne em forma de contos os livros 'Underidion', 'Além do Universo' (renomeado para 'O Livro de Zakar'), 'No Tempo dos Sonhos' e 'Onde as Borboletas Dormem'. A Antologia que tece uma relação entre todos seus contos ao final trata de um mistério onde algo incomum há neles, o livro ainda inclui os contos 'A Volta do Ponteiro' e 'A Caverna das Memórias Póstumas', o livro, no entanto, não tem relação direta com a série 'Adormecidos'. Olhem a capa abaixo, clique para ampliar.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Paradoxos da vidência

Compreendemos haver vários tipos de viagem no tempo, inclusive viagens mentais, de consciência, onde o qual informações precisas vem ao conhecimento do viajante que é conhecido, nestes casos como vidência ou precognição.
Sendo assim um vidente prevê o que evita ou induz o que vai acontecer?
Dois videntes com iguais poderes se encontram e cada um prevê o que o outro vai falar, o que eles falam?
Dois videntes com iguais poderes jogam xadrez um com outro, qual ganha?
As proposições ainda que sejam inválidas pela ciência convencional a exemplo princípio de auto-consistência de Novikov servem para "provar" filosoficamente que a viagem temporal é intrinsecamente uma viagem transdimensional, ou seja, para mundos paralelos a partir do conceito de variáveis de paradoxos que são curtos na lógica envolvendo seres oniscientes em similaridade com o demônio de laplace. O "curto" lógico acontece pois os "precognitores" ao se encontrarem são como espelhos um diante do outro a dar um eco infinito de previsões variáveis por refletirem-se mutuamente ao infinito. Assim se cada um preferir falar o que o outro prevê, iriam ficar calados. Similarmente ao jogo de xadrez onde ambos literalmente poderiam sofrer de narcose temporal ao ter precognições. Mas a evidência, que será nestes casos sempre subjetiva dependendo da percepção individual deles um verdadeiro vidente assim pode prever normalmente o que somente irá acontecer em dimensões paralelas uma vez que impedir a concretização de suas previsões implicará em ser taxado de que seus poderes não existem assim como seu oposto ao induzir os acontecimentos da evidência o levará a ter um poder inútil. Qual se prefere?

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Conto: A Volta do Ponteiro

O conto 'A Volta do Ponteiro' presente na antologia 'Todas as Formas de Sonhar' é satírico em sua critica a filmes sobre loops temporais ainda que utilize-se das mesmas regras postuladas nos livros do autor sobre viagens no tempo. Abaixo disponibilizo o conto completo:

A terra precisa de 365 dias para realizar um completo movimento de translação, de modo que cada dia representado como o movimento de rotação demora cerca de 24 horas, as horas que num relógio analógico é divido em PM e AM, a cada 12 horas repetindo-se. O mesmo segue para as épocas do ano, do solstício ao equinócio calendários que marcam ciclos num universo cíclico para pessoas cíclicas formando um círculo sem fim.
          Assim que o habitual relógio analógico de estimação daquele imenso laboratório ultramoderno marcou 6:37 adentrou pelas portas um jovem num jaleco que aparentava desajeitado. Segurando uma bolinha nas mãos com seu cabelo desgrenhado parecia um estranho em trajes estranhos. Fora quando encontrou outros homens em jalecos brancos quase perdendo-se entre eles, quando um dos quais se destacou num sobretudo e óculos escuros ainda mais estranhos.
 
          - Sim, são 6:37, hora estimada do começo do experimento 6.20 espiral. – Disse um dos homens de jaleco que continuou. – Que se abra o portal. Quero cada fluxo de dados e movimento realizado registrado no banco de dados, nem uma mosca deve escapar de ser mencionada. Lembre-se no caos mesmo uma molécula faz diferença.

          Uma coluna de luz emerge de um espaço vazio entre os homens de jaleco, numa profusão toda imagem que passa por ela parece estilhaçada como num espalho quebrado, distorcido dentro de águas. Fascinado o estranho de jaleco deixa uma pequena bolinha cair ao chão e rola por entre os pés dos demais homens de jaleco branco até parar no homem de sobretudo que se abaixa e pega a pequena esfera na mão e sorri.
          A forma primária mais essencial do universo é a esfera, rompendo a inércia surge do giro, assim como há a rotação de um planeta redondo e azul nomeado Terra, Terra que é achatada nos polos. Assim como a transladação, pois redondos nos giros, e giros dentro dos giros. A forma natural, pois, mesmo as ondas tendem aos formatos circulares ante um universo onde tudo são ondas e informações, o círculo, o giro e a esfera são louvores diferentes da mesma onda em interação que é o universo. O universo onde giro, círculo e redondo são lei, e a inércia, assim, não pode ser tão inércia, há a aberração, onde mesmo a reta se curva num universo que apesar de plano se expande redondamente como uma onda num multiverso cruzado.
          Mesmo a reflexão é o ondular, a volta de um ressoar pois tudo que há de voltar é redondo. Do colher o que plantar e de todo retornar, são as únicas leis no universo. Uma vez dito isso o homem sorrindo pelo imprevisto a guarda num bolso e segui em direção a coluna de luz agora em espiral como em ciclos que se engolem e a adentra. O nome dele era Jordan Kimberley, mas na missão era apenas conhecido pelo codename “Zack”.
          O homem rompeu as vísceras do tempo cortando os grilhões que seguravam a linearidade temporal em sua intrínseca relação com o espaço, fracionou o tempo em cacos caóticos a ser observados linearmente por sua base, aquele laboratório embranquecido e arejado. O experimento? Uma situação criada a fim de extrapolar um paradoxo temporal cíclico como meio de observar os desdobramentos de eventos assim como entropia no caos como modo de estipular quais são os eventos síncronos ao fluxo do paradoxo e como eles se espalham aleatoriamente no caos.
          Quais eventos são fixos ou flutuantes e aleatórios a cada repetição do ciclo paradoxal? A que direção ruma os eventos apresentados dentro do fluxo do paradoxo central que move a repetição de tempo não perceptivo a testemunhas inerente ao ambiente caótico? O caos tem uma relação intima com o tempo, e Zack era a cobaia a fim de testa-lo no ciclo vinte do paradoxo cíclico seis.
          O lugar era uma cidadela aconchegante sem grandes problemas sociais, mas que por um achado ligava os eventos vindouros ao passado e os eventos passados ao vindouro. Zack tratou então de procurar o cidadão que teria encontrado o relógio que soterrado pela singularidade que curvou o espaço tempo teria supostamente sua consciência desperta para a realidade de repetições cíclicas. O primeiro ciclo a sensação comum de estranheza seria equivalente a um de javu como se fosse uma noite mal dormida, mas gradualmente se acentuando como se fossem ecos de si mesmas antes de repetirem-se até que no ciclo vinte, aquele o qual se encontrava, a repetição de eventos tornava o oriundo desperto numa espécie de profeta do destino conhecendo gradualmente as nuances e acontecimentos subsequentes a cada interação na tentativa de alterar o curso de eventos antecipados por ele.
          Zack adentra um restaurante e avista o dito homem chamado Orson Calbot, este imediatamente olha para Zack vendo-o como uma peça sobressalente naquele ambiente plenamente previsível a sua consciência desperta, como se fosse um fator surpresa inesperado.
          Compreendendo que a ciência temporal era física com sangue de filosofia, Zack imaginou que Orson estava pensando sobre qual evento de modificação temporal fez com que Zack surgisse em seu ‘mapa profético’ como fator inesperado. Investiga todas as variáveis e atitudes possíveis no restaurante mas Zack tendo apenas aquela pulseira discreta como um rolex observa que desdobramentos sua presença inesperada tem no ambiente mediante o sistema complexo da teia de eventos do caos.
          Imediatamente Zack percebe quais eventos flutuam com sua presença e quais permanecem fixos após sua interação local. Um casal passa por ele e senta-se atrás da mesa de Calbot pega o cardápio com a mulher e Calbot mexe os lábios no ritmo e entonações das palavras do homem que diz.

          - Hoje vou pedir algo diferente, vou pedir arroz a lá grega.

          Um acerto. Calbot observou que o casal era evento fixo mediante as modificações de interação indireta, isso significava que a menos que houvesse uma interação direta sobre o casal o comportamento deles seria o mesmo dos ciclos anteriores. Mas Calbot não tira os olhos do homem que senta-se ao seu lado, Zack e para seu nervosismo Calbot não fazia a menor ideia do que esperar dele.
          A teoria era complexa em informação mas completamente simples em composição, os ciclos se desdobravam por uma lateralidade dimensional ou seja, a cada repetição os eventos se sucediam em dimensões paralelas muito similares de modo cumulativo e indefinidamente. Isso porque os eventos de uma linha temporal nunca poderiam ser alterados, poderia-se apenas alternar a linha de eventos ligeiramente modificados a cada escolha sucedendo paralelamente outras dimensões similares por combinações variavelmente diferentes de eventos sem que a percepção se desse conta. A sensação de repetição é apenas pertinente ao viajante, oriundos nunca despertam, mas não Orson Calbot. Zack estava lá para dentre outras coisas isso responder, porque.

          - Bom dia. – disse Orson arriscando alguma interação como se cada palavra saída de seus lábios pudessem ter desdobramentos imprevisíveis pelo simples verbo.
          - Bom dia, observo que você vem sempre aqui. – Disse Zack arriscando-se.
          - Apenas hoje. E hoje parece um dia sem fim. – Resmungou Calbot. – Mas de repente você me parece um fator surpresa.
          - As segundas-feiras sempre são mais longas. – Sugeriu Zack – Graças a percepção humana mediante a perspectiva de uma longa e chata semana pela frente.
          - Quem é você? – Não resistiu Orson Calbot – Como sabe de que...
          - Toda a segunda-feira você senta aqui? Ou melhor toda essa única segunda-feira?

          Num misto de alivio por perceber-se que não é o único a sentir-se um louco Calbot virou-se para Zack e perguntou que ele era, apresentou-se e Zack a ele com seu codinome.

          - Acho que passamos do ponto de falar de profecias e adivinhações. – Disse Orson Calbot para Zack quando a garçonete tropeça e deixa cair no chão um copo de suco de laranja que se esparram pelo chão e cacos. – Você não era para estar aqui, o que você quer?

          Ante a sequência de eventos Calbot revira os olhos ao notar que um homem passa a mão no traseiro da garçonete ao abaixar-se para pegar os cacos, mas um evento fixo no fluxo cíclico.

          - Do que trata-se tudo isso? Algum tipo de jogo? Alguma simulação ou teste? – Indaga Calbot. – Vinte vezes vi esses eventos variavelmente e somente agora você surge como fator surpresa.
          - Mais ou menos um teste.
          - Quando perguntei quem era você, não perguntava seu nome.
          - Sou de uma agência intemporal e dimensional que investiga fenômenos únicos na linearidade temporal. Somos a Tempus.
          - Onde toda vez no final do dia eu morro para voltar ao começo do dia e passar por tudo de novo? É algum tipo sofisticado de tortura ou um eco da morte?
          - Queremos compreender porque alguns eventos são fixos e outros não assim como porque sua consciência despertou a realidade cíclica dos eventos e não os outros. – Respondeu Zack. – Viemos aqui para ajudar-lhe.
          - Acho bom, pois estou cansado de morrer. Isso é traumático cara, tem ideia? Isso tudo é uma insanidade sem fim.
          - Cada evento fixo modificado diretamente altera o rumo do fluxo da espiral de eventos mas não sua convergência final que culmina em sua morte.
          - Nem assim diz algo que não saiba. Já fui profeta, já fui vidente, já fiz de tudo nesse lugar maldito e previsível! – Terminou Calbot gritando dentro do restaurante e então ele abaixou-se ao se ver observado e diz num burburinho – Pronto agora o caminhoneiro virá até aqui e me mandará calar a boca.

          O caminhoneiro levanta-se com um boné azul e um colete amarelo coça a barba e segue até a mesa deles e fala.

          - Cala boca idiota.

          O homem retira-se e Calbot resmunga algo sobre o que aconteceria caso ele revidasse as palavras do caminhoneiro, tomaria um soco e um moleque gordinho do outro lado do restaurante iria gargalhar da chacota de Calbot. Mas quando nada é feito o gordinho se engasga e assim acontece. Zack consulta sua pulseira de medições de quanticometria e respira fundo quando então Calbot vira-se para ele e diz.

          - O mais incrível é que tudo converge com minha morte, tem algum modo de livrar-me disso?
          - Esse o fluxo de destino da espiral, chamamos de fluxo fixo de eventos negativos. Tem que compreender que se sair contigo daqui a gora...
          - Um carro perde o controle e me atropela me esmagando num poste. – Concluiu Calbot tendo um aceno de concordância de Zack.
          - Você está como uma mosca numa teia de aranha, só que teia de eventos, cada movimento seu nessa teia caótica atrairá a aranha do destino para você. Quanto mais se mexer nessa teia mais estará nela enroscado.
          - Que bela analogia. Isso redefine todo sentido da vida. – Respondeu sarcasticamente.
          - Você tem a consciência desperta pois de algum modo quando os eventos convergem em sua morte memórias de sua consciência varam o continuo espaço-tempo voltando ao ponto de início, as 6:37 da manhã. Um paradoxo, normalmente, somente é percebido por quem está de fora do paradoxo. – Disse Zack ao finalmente receber informações de seu leitor no pulso identificando parte do problema. – Há eventos fixos no fluxo de destino com graus de intensidade, sua morte é o evento mais fixo de todos, ou seja, a base desse paradoxo. Um armadilha temporal.
          - Sabe, acreditava que toda essa coisa de clichês recontados indefinidamente no cinema e em séries era mentira, do filme ‘Feitiço do tempo’ a ‘Meia-noite e um’ ao ‘No Limite do Amanhã’ perdi a conta de episódios de séries como até Arquivo X narra isso, um clichê relatando clichês.
          - Ciclos dentro de ciclos. A cada volta do ponteiro...
          - Também não quero terminar o dia louco... e morto! Até enfartar enfartei. – Cortou Calbot o que dizia Zack.
          - Fique tranquilo estamos aqui para ajuda-lo. Compreendemos sua frustração infelizmente você é um efeito colateral.

          Calbot não sabia como agir, já havia morrido assaltado, atropelado, infartado, numa briga com o caminhoneiro de boné azul, se matando, sendo morto pelo marido do casal ao lado deles, sentia-se como se estivesse caminhando equilibrando dois quilos de nitroglicerina onde o menor movimento implicaria na sua morte, era um refém do tempo e do destino. Eram voltas em loop, tantos loops que suas memórias iam se somando em sua mente de modo a criar uma gradual sobrecarga em seu córtex que para Zack era uma versão atenuada de narcose temporal.

          - Vou ficar aqui o resto do dia parado – Disse Calbot.
          - Não, sente o cheiro de gás? Se você ficar isso vai explodir pois o caminhoneiro vai resolver acender seu tabaco.
          - Dane-se tudo isso! – Gritou Calbot levantando-se e virando a mesa. - Quero ver o que vai me matar dessa vez!

          Todos olharam a sua volta nervosos e ficando em silêncio ante o surto de Calbot, mas quando ele saia do lugar uma batata frita que estava na sua mesa e caiu no chão o fez tropeçar e cair de cara na faca que caiu da mesa. Simplesmente fora fulminante.

Ciclo 21 do paradoxo 6
Zack adentra novamente o restaurante e Calbot avista Zack e remexe os olhos o reconhecendo. Zack tenta esboçar um sorriso para ele como se fossem velhos amigos. Zack era o negociador com o destino para libertar o refém do tempo que era Orson Calbot, mas ele parecia pouco se importar ou estar feliz por aquilo. Tudo era cansativamente surreal.
          O casal adentrou o restaurante e então o homem sentou-se atrás deles e disse.

          - Hoje vou pedir algo diferente, vou pedir arroz a lá grega.
          - Isso é ridículo. – Resmungou Calbot com Zack que sentou-se. – A faca no meu olho doeu cara, não faz ideia. – Mas o mais ridículo é ver esse cara todo dia pedir a mesma coisa como se fosse algo diferente do todo mais.
          - Isso segue à risca a teoria da perspectiva. Para você os eventos são cíclicos, mas para ele a linearidade segue como um dia qualquer em sucessão aos demais. Para ele houve um ontem, para você seu ontem é hoje.

          A cada volta do ponteiro no relógio a situação parecia mais surreal.
          A garçonete veio e deixou cair o copo de suco de laranja no chão, ela se abaixa para pegar os cacos e um cara passa a mão no traseiro dela. A mulher esboça um sorriso sem graça e com raiva levanta o dedo da obscenidade quando o patrão olha, e então muda de atitude disfarçando.

          - Sou um segregado do tempo. – Resmungou Calbot – Se morrer dessa vez certifique-se de que morri de vez.
          - Tenho novidades. Conseguimos alterar o fluxo do evento central. Sua morte. Aparentemente a cada ciclo os eventos se intensificam por estar em voltas mais acentuadas nessa espiral, a convergência em si é o próprio fenômeno de singularidade que leva a sua simultânea criação. É como um engasgo no tempo.
          - Vamos ao que interessa, vou viver?
          - Acho que temos uma brecha, quebrando o evento central de sua morte quebramos o vórtice e consequentemente os ciclos do paradoxo se dissolvem restando apenas em sua mente como uma memória, como um sonho muito estranho. Mas mudar o rumo dos fluxos já considero ótimo sinal.
          - Mas qual a causa? Minha morte é simultaneamente o efeito e causa?

          Zack balançou sua cabeça concordando. De algum modo a morte de Orson Calbot era uma anomalia de modo a convergir nela mesma numa falha temporal, culminando num destino negativo, o científico eco da morte. Mas tinha um pivô.

          - Cada morte sua, na verdade sua consciência salta a uma dimensão paralela numa variável de narcose temporal a condicionar os acontecimentos, ou seja, sua mente tem uma relação com os eventos pressentidos. Mas as variáveis na realidade são iniciadas por uma fração de defasagem num relógio, o relógio desse restaurante.
          - Como assim? O relógio estava com defeito?
          - Na verdade detectamos que o fluxo de eventos de efeitos são causados por um parafuso solto dentro do relógio. De modo que se ajustarmos ele não dará lugar a variáveis dimensionais ou seja, tornando essa dimensão a fixa. Naturalmente que tenho acionado um fixador dimensional por ancora do destino ao meu sistema com a base da Tempus.
          - Não me importa o que você está dizendo, quero que isso acabe de ficar acabando. – Murmurou Calbot quase esboçando um sorriso. – Quero o fim dessa piada cósmica com minha vida e morte. Chronos deve ser muito ocioso.

          Zack levanta-se e vai em direção do relógio na frente de todos, estica o braço após observar sua pulseira e pega o relógio até ele. Sorri quando então o patrão da garçonete surge lhe apontando uma arma para Zack.

          - Largue isso. Estamos cansados de arruaceiros. – Disse o homem obstinado e decidido.

          Orson Calbot levanta-se e chega por de trás do homem que se assusta e ao virar para ele sem querer dispara a arma sobre Calbot bem no meio de seu peito. Calbot cai no chão duro, morto. Consertar o relógio não vai ser uma tarefa tão fácil assim.

Ciclo 22, paradoxo seis
Calbot está com cara de poucos amigos sentado numa mesa quando adentra o casal e logo após Zack que lhe sorri acenando com a mão, Calbot era oficialmente o homem mais experimente e morrer do mundo, conhecia todos os sabores das mais variadas mortes. Com olheiras Zack o viu e sentou-se ao seu lado sem esboçar qualquer emoção quando por dentro estava em ebulição.

          - Sabe já não sei mais discernir o que é sonho e realidade. – Murmurou Calbot.
          - Vamos, você não morreu tão mal da última vez. O tiro chegou a ser digno. – Tentou arriscar Zack com algum humor mas um silêncio sepulcral veio de Calbot como resposta. Talvez ele estivesse morto desde a primeira vez. – Como você está?
          - Morto? – Respondeu Calbot novamente, mas não se dando por contente seguiu - Sentindo-se como uma boneca de porcelana. Penso em colocar uma placa de frágil.

          Por um instante Orson Calbot deu-se conta que ele fez mais uma vez humor sarcástico com si próprio, afinal toda situação parecia um bordão de uma sitcom norte-americana, mas escrita por Douglas Adams.
          O fato é que testes e analises foram feitas de todas as variáveis caóticas num mesmo tempo paralelo para determinar por meio de diversos tipos de monitoramento e determinou que exatamente as 11:29 da manhã de acordo com o dito cujo relógio a falha acontecia saltando variáveis de acordo com a menor variação de posição do parafuso solto do relógio. Era 11:20 e se Zack conseguisse corrigir aquilo, colocando o parafuso em seu devido lugar as variações dos ciclos espirais diminuiriam sua intensidade, justamente a brecha almejada por Zack. Assim o agente temporal sorriu para o gerente do restaurante o chamando.

          - Os senhores já foram atendidos? – Perguntou o gerente como se nada tivesse feito anteriormente, no ciclo passado.
          - Na verdade o que quero não está no cardápio. – Disse Zack sugestivamente – Sou um colecionador de antiguidades e notei que o senhor tem aqui um belo e raro exemplar de relógio. – Arriscou. – Quanto o senhor daria naquele relógio? – Completou com um doce sorriso sua pergunta ao apontar para o relógio.
          - Não está a venda senhor, ele está na família a três gerações. – Respondeu o gerente tentando esboçar um sorriso.
          - O senhor se incomodaria e poder vê-lo? – Insistiu Zack quando então...

          - Na verdade sim.

          Calbot engoliu seco, viu novamente as altas probabilidades dele morrer subirem altamente quando então a garçonete passou por eles e deixou o copo de suco de laranja cair no chão se espatifando.
       
          - Preste mais atenção. – Disse o patrão ao lado deles.

          Naquele momento o homem passou a mão no traseiro da jovem quando ela ia abaixando-se para pegar os cacos. Mas a mulher dessa vez virou-se e deu um tapa na cara do homem que levantou-se furioso para socar a cara da jovem garçonete. Uma variação nos eventos do fluxo de acontecimentos, pensou Zack e Calbot.
          Zack levantou-se e antes que o homem socasse a cara da jovem segurou-lhe a mão deixando o homem transtornando com seu machismo prestes a explodir.

          - O senhor deveria melhor dar condições as suas funcionárias. – Arriscou Calbot olhando para os lados com medo de um tiro, um carro subindo a calçada.
          - Não precisa. – Disse a jovem. – Eu me demito, e vou denunciar o assédio moral e sexual que você me deu. – Completou ela virando-se para o patrão. – Não sou um objeto.

          O homem olhou sem jeito para os lados tendo todos os clientes observando e então resolveu dizer algo para que ela se calasse, eram 11:25 da manhã.

          - Ora, que exagero, o que você quer que possa suprir suas necessidades?
          - Aquele relógio pois vi vocês falando que vale muito. – Disse ela apontando para o relógio enquanto ajeitava um cacho de cabelo dourado que caia diante de seu rosto.
          - Mas... – Tentou retrucar o patrão em vão.
          - Ou vou ter cada um de meus direitos trabalhistas e um belo processo nessa espelunca.

          Calbot e Zack viram naquilo a oportunidade de ouro faltando apenas poucos minutos, enquanto o patrão ia até o relógio e o pegava para ela. A jovem o pegou e então abriu-se um sorriso iluminado no rosto de Zack que lhe arriscou.

          - Posso abri-lo para verificar se é original, todas as peças são verdadeiras. Sou relojoeiro. – Disse o homem quando então a jovem lhe sorriu a assentiu.

          Calbot olhou para as horas, eram 11:28, aquilo parecia uma bomba, ops, relógio. Zack tirou os parafusos laterais sob os olhares deles e então mediu algo com a pulseira e identificou o parafuso que movia-se lentamente com o mover dos ponteiros. Faltava poucos segundos quando ele o apertou para o alivio de Calbot que olhou para os lados e sentiu-se ainda vivo.

          - Tudo original, só apertei esse parafuso porque ele estava meio solto.
          - Obrigado senhor...
          - Zack. – Completou ele com um sorriso no rosto enquanto o patrão observava tudo sem um esboço de felicidade.

          Eles saíram de perto e então Calbot levantou-se ansioso e olhando para Zack. Olhou para os lados o casal comia seu arroz a lá grega enquanto o caminhoneiro voltava suas atenções ao hambúrguer e retirou-se do estabelecimento. Precisava arrisca pra ver se ainda era um imã para acidentes numa convergência da lei de Murphy.
          Zack colocou a mão em seu ombro. Orson Calbot vira-se para ele e então lhe pergunta.

          - O que diz suas traquinaras?
          - Conseguimos, mas por via das dúvidas não faça nada arriscado até o fim do dia. As flutuações diminuíram e fixamos a ancora do destino...
          - Sem seus termos de outro mundo, só quero ir pra casa e ver o outro dia amanhecer. Bom fora um prazer inusitado conhecer-lhe.
          - A reciproca é verdadeira. – Concordou Zack.
          - Caso tudo de certo creio que nunca mais nos veremos, certo?

          Zack assentiu com o rosto e então lhe estendeu a mão a apertando.

          - Que tipo de gente é vocês?
          - O tipo que só se vê quando as coisas dão errado. – Respondeu dando-lhe uns tapinhas nas costas e retirando-se.

          Jordan Kimberley olhou o monitoramento e observou que apesar do vazamento de informação aquela dimensão divergente, curvada deliberadamente após aquele acidente seguiram sem maiores transtornos confirmando que nos dias seguintes os relatos de Orson Calbot seriam publicados num tabloide e amplamente tratados como absurdo o caso do ‘Alienígena do Tempo’ como ficou conhecido aquele homem por seu amigo taxado de instável psicologicamente.
          Assim Jordan chegou de volta a base após romper o vórtice artificial sob fortes aplausos mediante seu improviso e recebendo uma indicação a condecoração e uma promoção pois era um agente temporal recém formado. Após sorrisos e tapinhas nas costas o homem fora dormir sob a promessa de que embarcaria e mais uma missão similar no dia seguinte. Exultante com seu desempenho os testes laboratoriais foram realizados e verificou-se que não havia nenhum problema de saúde, e assim Jordan fora dormir.
          Ao acordar a sensação comum ao cruzar linhas temporais divergentes era de um embaralho de memórias comuns onde mesmo se confundia com sonhos. Jordan, confuso perguntou-se sobre o caso anterior se era um sonho quando adentrou no setor de embarque quando viu aqueles homens de jaleco. Um deles se aproximou com uma bolinha nas mãos a deixando cair e rolando uma involuntária sensação de De javu lhe sobreveio o deixando confuso. Jordan a parou com a mão como se previsse aquilo e a colocou no bolso. Olhou para a pulseira e verificou que o fluxo de dados era normal. Pensou em dizer algo quando fora interrompido.

          - Sim, são 6:37, hora estimada do começo do experimento 6.20 espiral. – Disse um dos homens de jaleco observando o antigo relógio analógico que lá havia e assim continuou. – Que se abra o portal. Quero cada fluxo de dados e movimento realizado registrado no banco de dados, nem uma mosca deve escapar de ser mencionada. Lembre-se no caos mesmo uma molécula faz diferença.

          Teria sido aquilo um eco temporal ou era um ciclo dentro de outro ciclo maior? Fosse o que fosse somente em ocasiões especiais alguém de dentro do ciclo poderia despertar a consciência para perceber se tratar de um paradoxo temporal cíclico, aquele homem era Jordan Kimberley. Mais uma volta do ponteiro, pensou Jordan.