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sábado, 16 de abril de 2022

Conto "Grande Hospital dos Horrores

Neste feriadão publicarei gratuitamente contos da mais nova antologia 'Verboversos', de minha autoria.

Tinha as vezes sensações de que estava sendo observado. A princípio ignorava acreditando ser apenas um engano, todavia com o passar dos meses ocorrências incomuns aconteciam como se alguém soubesse o que fazia na minha privacidade. Com o tempo aquilo se tornou perturbador e notifiquei a detetives particulares para que investigassem vigilâncias clandestinas e escutas ilegais quando dei-me conta de que trabalhos por mim produzidos no campo da física teórica pareciam vazar. Era algum tipo de espionagem, todavia algo não meramente institucional, mas pessoal e por isso obsessivamente comedido contra mim. Sinais foram detectados por transmissões criminosas de alta tecnologia, câmeras e grampos de última geração esquadrinhavam meu particular. Apenas não sabia quem era, um executivo que morava três andares acima, no meu prédio. E o que desvelei era aterrador e doentio.

Este observava sistematicamente minha vida (e de outros) particular por anos a fio. Era apenas uma célula de vigilância criminosa da população o qual parte fora vazada por um hacker que invadiu os sistemas dele dando acesso a câmeras dos próprios moradores e outras instaladas - em casos específicos, como o meu.

Como um vigilante do mal policiava apenas a liberdade alheia, e buscava tudo do qual pudesse obter vantagem privilegiada de informação, sendo para chantagem, golpes ou fraudes. Ele tinha acesso a câmeras de todos apartamentos do edifício e me inquiriu de modo obsessivo e maníaco a cada detalhe. Analisou toda minha, da rotina, gostos, preferências, desejos, sonhos, fraquezas, habilidades. Pois me destacava dos demais ao ver em mim uma oportunidade de fazer fortuna com meus talentos e inteligência através da injustiça sádica.

Do lixo revirado a invasões as escuras, dos roubos de peças como troféus de fetiches, logo aquele cão do inferno  travestido de humano e o seu séquito de párias legais e intelectuais passou abarcar meu círculo social ao abranger seu estudo torpe e voyeur, em sua mediocridade intelectual, todos a quem me eram relacionados. Espreitavam pacientemente o momento oportuno para atacar tais como presas que estariam em seu momento mais vulnerável. A força deles apenas se perfazia sobre a fraqueza alheia e sua grandeza sobre a subjugação rebaixadora de suas presas. Valentões covardes nunca salvariam alguém de um linchamento, estupro coletivo ou tortura, pois estes estariam participando, a menos que estivessem sendo vistos. 

As vítimas que tinham crimes flagrados, ou casos de adultério, eram chantageadas, usavam das provas ilícitas sob ameaças de serem vazadas criminosamente, caso este não pagassem cotas ou fizessem favores para ampliar sua vantagem. O submundo é o pesadelo da inconsequência.

Eram sociopatas, e como os psicopatas eram predadores sociais tão implacáveis e aproveitadores oportunistas, que manipulam e se aproveitam o máximo que podem, sem menor bônus as vítimas que eram odiadas. Antes de suas carências, medos, necessidades sociais e sentimentais, as deficiências e fraquezas estes induzem por escassez, privações ou isolamento. Todas as maneiras imagináveis de abusar e explorar, drenando qualquer esperança, vitalidade ou fé ao esvaziar suas vítimas apenas ao ônus, deveres e cobranças cujo peso desigual e desumano rebaixa a qualidade a apenas sobreviver em sofrimento ou mesmo desejar a morte. A indução do problema desejado levava a falsa piedade apenas proferida a fins de consumar seus interesses, destrui-los de vez pelo que eles mesmos provocaram.

Pois, estes são a própria morte, ainda que em vida, das vítimas. Muitas vezes conhecemos mais eles pela legião de sequelados que deixam, do que por si mesmo. Me tornei um dos sequelados em pouco tempo entregue a exaustão, ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Tinha medo de defecar em minha própria casa. Isso até o dia que liguei para uma renomada jornalista que expôs escândalos investigativos internacionais, Jordane Alves. Avisei ser uma das pessoas que tiveram as câmeras de vigilância vazadas na internet com outras centenas numa notícia que fora abafada. Minha vizinha havia sido extorquida até o último centavo por um alegado vidente que "adivinhava" até a cor de suas roupas íntimas, nos dias das sessões. Ela fora tão hipnoticamente manipulada e induzida que não apenas ele contraiu o patrimônio dela (e ela as doenças dele), como a molestou várias vezes antes de ser internada por "problemas mentais crônicos" após ela fazer um escândalo no condomínio. 

O problema é que tal questão era mais grave, corporações cooperavam junto a governos em clandestinidade não apenas facilitando a invasão telefônica, mas investindo em projetos secretos de aprimoramento de espionagem. 

Porém, Jordane ao ir a empresa do executivo ela desapareceu, dando tempo apenas de avisar pelo fax que eles possuíam fichas com detalhes da maior parte da população. 

Fora quando médicos suspeitos, com olhares frios e vazios, foram a minha casa em momentos tão artificialmente comedidos como se fossem robores. Era 20 horas da noite e os três eram destituídos de pelos e frequentemente fixava a visão no meu pescoço e pulsos, por vezes lambendo os lábios.

Com uma pasta de documentos de credibilidade suspeita, eles diziam que havia um agente contagioso na água do prédio tornando os moradores a terem surtos psicóticos e outros problemas mentais. E eu era um dos denunciados ao terem sido supostamente  alertados de uma conduta errática e potencialmente perigosa, ainda que nunca tenha destruído ou feito mal a ninguém sem menor motivo. Um policial, também sem pelos pelo corpo, surgiu pedindo para segui-lo até a ambulância que me aguardava no térreo, após alegar alucinações de "crimes que não existiam", ainda que tivesse fartura de provas do qual ao sumirem estes diziam ser parte do “quadro psiquiátrico’.

Do dia pra noite passei a ser imputado por doenças mentais, para ser levado a força ao único hospital do mundo que criava literalmente seus doentes, induzindo seus pacientes a loucura absoluta para serem desacreditados e descartados.

O hospital se chamava Instituto Psiquiátrico São Jacob Frank. Lá criaram métodos para gerar doenças psicológicas, mentais e neurológicas especificas, e sob encomenda, afim de atender a demanda de uma elite nazista de vampiros do qual todos opositores que descobrem a verdade podem ter apenas quatro destinos: morrer, se tornar bandido, sumir ou se tornar louco. Os procedimentos secretamente evasivos envolviam todo tipo de brutalidade técnica de tortura e uso de drogas afim de gerar as alterações neurológicas e psiquiátricas desejadas combinadas. Era o único hospital que literalmente promovia a doença até que a indução o problema desejado levava a falsa piedade apenas proferida com fins de consumar seus interesses, nos destruirmos de vez pelo que eles mesmos provocaram.

Foram longos meses lutando contra aqueles vampiros, até que os medicamentos fizeram efeito e comecei a me sentir melhor. Assim o diretor, um psiquiatra que eu jurava ter visto praticar canibalismo veio pessoalmente até mim, para me entrevistar.

– Como você está, Wellignton Vieira? Ainda tendo alucinações com vampiros sanguessugas e canibais? Sabe que tudo isso é ficção? Você andou lendo e vendo ficções de terror demais.

Ao ouvir aquilo, minha mente pela primeira vez fez acreditar nas palavras dele.

– O senhor não canibalizou nenhum paciente? E Jordane Alves, as câmeras?

– Respostas da degeneração neurológica provocada por componentes químicos vazados na água da região. Jordane Alves na verdade teve um surto de identidade, uma idosa que se achava ser jornalista. Ela fora presa tentando invadir a empresa de um grande executivo e filantropo que investe em pesquisas científicas sérias como física teórica, e dentre outras coisas, a psoríase provocada por questões ambientais de poluição, como a que sofremos. A idosa estava surtando, coitada... coitada. E invadiu áreas do prédio se passando por jornalista ao alegar que todos os calvos sem pêlos, como eu, somos vampiros.

Naquele momento ele assentiu a um enfermeiro de quase dois metros para abrir a porta trazendo uma idosa que parece aturdida, babando.

– Tudo bem, com a senhora? Como estamos hoje?

– Não.. não sou Jordane Alves.

– Não, a senhora não é. Sinto muito, a senhora era faxineira e agrediu sua patroa por motivo torpe antes de invadir a empresa. E ainda nos chama de psicopatas por tratar da senhora? Somos a maior empresa psiquiátrica privada do mundo a trabalhar em parceria terceirizada com governos de vários países. A senhora era ninfomaníaca e adorava fazer sexo com qualquer um na rua! Houve um caso de surto psicótico coletivo altamente contagioso similar uma vez, donde uma pobre diabo chamada Tatiana denunciou com outras mulheres que sofriam abusos sexuais de um grande líder espiritual. Agora pensa no transtorno e injustiça que ele sofreu ante tamanha injustiça? Foi como Jesus, um homem tão puro, sublime e santo!

Fiquei consternado e desiludido ao fitar aquela senhora muito distante da realidade.

– Agora, vê Wellignton? Graças a nós livramos vocês e outros de tenebrosos processos legais onerosos! Foi pra ela quem você ligou afirmando estar sendo plagiado. Você nem tem graduação e nunca produziu nada! E agora pelo risco que oferece a sociedade temos a curatela de vocês e seus bens! Tudo para poder pagar os custos dos sofisticados tratamentos inovadores de nosso hospital do qual você achava ser apenas uma fachada para a masmorra do oposto! Mas te perdoamos, pois sabemos da doença! Sabemos fazer parte da loucura falar coisas sem menor cabimento. Havia até um paciente que acreditava ter consciências de outras realidades numa neuropatologia inédita chamada múltipla  percepcionalidade. Pobres pessoas como vocês alternam fantasia e ficção, enquanto lutamos por um mundo melhor ante essa pandemia inexplicável de loucura! Absurdo sermos psicopatas sanguessugas que espionam todo mundo! Agora conseguem entender a realidade, tem noção?

Ao terminar aquelas palavras fomos levados de cadeiras de rodas em nossas camisas de força por um longo e frio corredor aonde o silêncio era intercalado por gemidos e choros. Finalmente acreditava que era um caso de manicômio judicial ao acreditar naquilo, um inimputável que por ser incapaz de viver em sociedade colocava em risco a vida de pessoas próximas. 

Chorei amargamente após notar que toda semana um paciente sumia carregado numa maca, o que aconteceu com a idosa após receber uma visita.

Pranteei por descobrir que era tão monstruoso e cruel, sem saber ao atacar pessoas acima de qualquer suspeita, quando uma coceira me tomou no pescoço. Persistente fui até um espelho sob as grades e notei dois furos de presas, teriam sido injeções do tratamento, ou mais uma alucinação?


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