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quinta-feira, 14 de julho de 2022

Conto 'O Real da Ilusão'

Josiane Castro Costa e seu esposo estavam partindo a mais uma aventura com sua filha Jezabel e William. Curtiam o dejejum na pousada em meio ao agreste tomando o mais vendido café brasileiro, café mais vendido até que o café Pelé e Pilão, o Café Menino do Acre. A televisão ligada na rede Manchete anunciava sua programação para 2018 quando adentrou o noticiário da manhã, após o intervalo e propagandas. Assim a repórter anunciou.

–  A recém descoberta de um Galeão ligado a Cristóvão Colombo naufragado, em incomum estado de conservação, no mar de sargaços fora içado esta manhã. O que descobriram, no entanto, era ainda mais perturbador, levou a expedição encontrar um misterioso sarcófago alojado no porão e que parece ter um corpo. Ele ainda não fora aberto. Em breve mais notícias! 

A seguir vinhetas mostravam a chamada de notícias sobre a descoberta de misteriosos ooparts ao lado de fósseis de um dinossauro no Texas, a estes chamaram de Tiranossauro Tex. As peças incluíam uma espécie de pulseira metálica duma liga desconhecida, e dois parafusos. (...) a vinheta rodou e então seguiu anunciando: “Veja ainda, uma entrevista exclusiva com o ex-presidente do Brasil Enéias Carneiro e como o projeto da bomba nuclear brasileira rompeu o domínio do imperialismo autocrata norte-americano! E ainda mais! O escândalo sobre documentos vazados na polêmica visita a Casa Branca, na década de 1990, do ex-presidente da Colômbia, Pablo Escobar, o presidente Bush e a CIA sabiam do envolvimento do político com uma rede de narcotráfico e mantinha negócios para desestabilizar Cuba!

Porém, naquele momento um ruído interrompeu o casal levando-os a chamar sua filha Jezabel após o barulho de um vaso quebrando, quando ela vociferou.

–  Não sei o que é, mas é culpa do William, tudo culpa dele! 

–  Vamos Jeje, vamos fazer a trilha com o papai e para de aprontar.

A garotinha saiu correndo, e atrás veio William chorando com o dedo cortado após ela ter tacado um vaso nele.

Junto ao recepcionista e o zelador conversaram e resolvendo o problema após cuidar do então pequeno Billy. Partiram assim para a trilha em meio a caatinga. O Sol matutino ainda era fresco, porém intenso o bastante para faze-los transpirar logo pela manhã, ante a aridez do lugar. Fora assim até quando viram um ruído de motor zunindo em rápida aproximação, e baixo. Parecia ser um avião monomotor.

Eles caminharam por vários metros ao seguir o estrondo que sucedeu, porém, o que encontraram não tinha sinal de fumaça ou fogo, antes um cesna caído que aparentava estar lá há mais de uma década numa cratera aonde a vegetação estranhamente não crescia, no alto de uma colina. O casal caminhou perplexo com o achado que parecia incongruente a visão contemplada a poucos minutos, como se aquele avião houvesse lá caído naquele instante. Os mochileiros então fitaram dois corpos, dois esqueletos vestidos como mochileiros como eles, mas abraçados com uma bolsa entreaberta pelo zíper, e dela vários maços de dinheiro saindo, maços de notas de 50 reais! 

Naquele momento o casal e seus filhos (que eram de classe média) viram a chance de mudarem de vida em definitivo ao pegarem o dinheiro dos cadáveres que pareciam estarem vestido similar a eles. Primeiro Joel disse para sua esposa voltar com os filhos para pegar o carro enquanto ele tomava conta do achado, todavia, após ela concordar, uma hora transcorreu levando-a retornar da mesma maneira que voltou, de mãos dadas com os filhos. Eles haviam se perdido e não encontravam um modo de retornar.

Aquela altura o Sol estava a pino, brilhava num ímpeto escaldante, o que para a pele caucasiana de Joel o fazia ficar vermelho com um tomate transpirante. Ao ver aquilo ele tomou o último gole no cantil, e desapontado ficou enfurecido com a incompetência da esposa em se guiar por uma trilha simples.

–  Deixe-me que vou até lá com as crianças! Fique aqui com o dinheiro para que ninguém pegue, é a oportunidade de mudarmos de vida pra sempre!

Cobiçosos ante a fortuna fácil mal sabiam estes do ardil na aridez que lhe cercava, e Joel caminhando por longos minutos trilha a dentro pensava estar voltando pelo mesmo caminho que veio com os filhos. Mas se viu do ponto de partida após encontrar apenas uma clareira aonde deveria estar a pousada. Ele sentiu uma pontada de desespero, todavia manteve a compostura ante os filhos que agora estavam sedentos, como ele ante o Sol que não dava trégua. Tirou a mochila e pegou a bússola para constatar que ela parecia estar biruta, talvez quebrada, pensou ele, pois girava sem parar.

Naquele momento ele tremeu ao perceber que nem a topografia vista no mapa fazia sentido com a localização deles, fora então quando ele ouviu um grito do meio da caatinga. Era sua esposa Josiane.

Ele soltou as mãos das crianças falando para lá permanecerem, e correu por meio aos galhos secos dos arbustos. Tais galhos pareciam uniformes em aparência ao desvelar apenas um labiríntico campo de aridez, o qual o caminho serpenteava a perdição. Fora então que encontrou sua mulher morta com um ferimento de perfuração. O homem caiu de joelhos levantando o pó do chão seco, e a abraçou como os dois cadáveres ao lado. Pranteou após tentar verificar os sinais vitais que inexistia, tentou fazer massagem cardíaca e respiração boca-a-boca. Era inútil, aquele ardil estava esfacelando sua família. Ele então deitou-se ao lado do corpo de sua esposa e se aninhou em conchinha quando uma tonteira fez sua vista escurecer ante o calor e ele apagou.

Quando acordou a noite caía levando ele a observar a grande cavidade onde acharam a bolsa da fortuna ao ter ao redor pedras luminosas em tons esverdeados. Elas aumentavam seu brilho a medida do cair da noite, e tonto ele sentiu delas emanar ecos que lhe dava vislumbres duma mansão onde havia uma biblioteca. Ele sentou-se para observar que os corpos que antes lá estavam pareciam estar na mesma posição que ele ficou com a esposa morta. 

Assim ele se levantou tonto ante os padrões aberrantes e chamou pelos seus filhos Billy e Jezabel, no entanto, sedento e exausto parecia estar sofrendo insolação e sentou-se sem forças levando-o apenas a tirar uma lanterna a desvelar vultos entre os arbustos. Gritou pensando serem os filhos, todavia, teve a impressão de ter vistos negros armados com armas rudimentares em casas de barro. Estava ficando senil e delirante, abriu assim a bolsa de dinheiro ante ecos de vozes na sua cabeça e viu um diário escrito aparentemente pelo casal lá morto. Ao abrir notou escrito o mesmo dilema deles ao encontrar o dinheiro maldito.

Haviam se perdido e sem saber achar a saída com o dinheiro sucumbiram famintos e sedentos. Discutiram e então a mulher perfurou o próprio corpo com uma faca que lá estava, e para sua surpresa tinha sangue fresco. Sangue de sua esposa.

Ele entrou em desespero, ainda que o casal de nome distinto eles relataram ter igualmente encontrado um casal morto abraçado ao lado do dinheiro, levaram ele e o enterraram numa cova rasa, do outro lado do avião, sob os olhares do piloto sem vida.

Joel então levantou-se e escavou o local com uma pequena pá que tinha na mochila, e encontrou os corpos com a mesma roupa deles. Puxou os esqueletos e ao tirar os documentos ficou consternado, eram eles mesmos. Chorando ainda que ante a escassez de líquidos em suas lágrimas escassas engatinhou soluçando até a esposa morta. Abraçou-a e em seguida olhou para o outro casal naquele lugar maldito. Ainda que exausto o enterrou perto da outra cova e sentou-se para escrever igualmente o relatado. Estava desfalecendo e pálido. Febril não sabia se tudo não passava  mais de uma alucinação. Deitou-se ao lado da esposa e em conchinha se aninhou abrindo o diário do casal que lá estava morto e em seus derradeiros momentos de lucidez desfolhou lendo o que restava, e ficou perplexo com o que viu.

"O casal que encontramos morto aqui deixou anotações e após perdemos as esperanças de sobreviver a este ardil, descobrimos que havia outros corpos além do piloto. Um casal que encontrara a fortuna antes de nós, e ao ir desenterrar estranhamente notei serem cadáveres aparentemente de nós mesmos!

Ao ler aquilo sua mente girou ante sussurros como dos mortos e sem saber se aquilo era real ou ilusão desfalecia abraçado a esposa ao lado da bolsa da fortuna de reais... da ilusão.

Conto da antologia 'Verboversos' de William Fontana (Gerson Avillez).

Quando em sua última visão fitou uma raposa de dois rabos se aproximar dele lentamente a cheira-lo. Ela chorou abandando o rabo o lambendo em seu derradeiro respirar.

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