"Pudera compreender que a solidão é inabilidade de viver consigo mesmo. A solidão é uma laceração nenhum pouco reconfortante em sua alma. E a dor apenas nos ensina a fugir dela.
Assim padeci no deserto do espaço, pois na solidão tive por companhia o abismo e o lugar não leva a lugar algum. Debrucei-me diante dele e apenas ecoou o medo ante o inexistir.
Assim vivi e sobrevivi a mim mesmo, pois somente temi o inexistir por existir ainda que por resistir! Não há diferença dum abismo ao mal, pois o maligno é um abismo amoral. Meu vilão, meu companheiro, pois anseio correr de mim mesmo.
O mal é o inexistir a tentar existir, a mentira insistente ante a bondade existente. Assim vaguei a topar com o mal que me definha, pois pelo vazio do espaço caminhei e seu caminho encontrei, e minha esperança era um lugar chamado passado.
Debrucei-me ao futuro do presente, mas nada vi, olhei ao passado e encontrei a nostalgia, pois a muito meu lar e minha terra acabara, tornei-me órfão de mim mesmo! Dialoguei com o abismo, mas ele rebateu minha voz.
Dialogo então comigo mesmo, mas apenas conheço a loucura a submergir. Fora nestes dias estranhos que algo ouvi, seria o passado a ecoar no espaço pelo tempo?
Sim, ouvir aquela voz, que presente, seu nome Ferdinando tornou-se minha fé em encontrar um semelhante pois agora sei o que sentia Deus antes de criar o homem! Não queremos mundos, queremos espelhos!
Medo, medo, mentira, mentira, onde está a diferença? O medo é o engano do abismo a existência.
Mas assim estive despido da hipocrisia dos que reverenciavam o abismo por seu vazio amoral.
Longe dos olhos a não ser do próprio abismo, e ele não parava de olhar para mim, voyeur doente e pervertido, velho rançoso a me cutucar com a bengala da loucura numa quase moléstia sexual."
Manuscritos do Tempo - Gerson Avillez
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