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sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A Busca Ousada da Originalidade em Tempos de Colagem


'Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros já foram.'
Alexander Graham Bell

A indústria é a produção em escala reprodutiva na busca pelo quantitativo em demanda ao sucesso qualitativo anterior, a repetição mercantilizada de cópias padronizadas. O mesmo sucede a sociedade, onde da repetição apenas rende o recorde, mas apenas o pioneiro e desbravador o novo. Do paralelo com o passado surge a repetição, do paralelo com indivíduos a discriminação, apenas da singularidade conhece o autêntico e novo. Na causalidade que combina o prévio não significa a repetição da ação quando não exime a progressão do infinito.

Dizemos o mesmo sobre o território da mente, a filosofia e arte dos que não aceitam a destituição da autonomia e individualidade através do controle de sua própria vida e suas obras, ainda que ante adversidade e circunstancias externas debilitantes. Quebrar os grilhões dos estereótipos  não significa das leis ou da verdade, mas reconhecer que mesmo dentro das regras de quase infinitas combinações do xadrez a vitória e genialidade pode advir, bastando ousar movimentos novos.

Por esse motivo curiosamente a leitura dos clássicos literários do século XIX e XX eclipsa os atuais livros predominantemente pouco inventivos e originais, da narrativa a escrita. O medo advém de testar novas fórmulas estruturais e narrativas tanto como conceituais. Num mercado editorial viciado no prévio que minimize riscos de vendas verdadeiros talentos muitas vezes são negligenciados, por esse motivo. Se outrora livros como 'A Ilha do Tesouro', 'Dracula', e mesmo 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' a '1984' de George Orwell traziam narrativas originais ao mudarem de perspectiva ou estrutura como ser narrado por uma pessoa e após outra (A Ilha do Tesouro), ter um livro dentro do livro (1984) poderia até ater-se a narrativas de mortos a exemplo de Machado de Assis ou em epístolas como 'Drácula' de Bram Stocker. Porém, os que mais se atém a regras de ortografia e gramáticas num pedantismo gramatical, ainda que sendo os menos afeitos a ética comum a suas autorias, sempre veem com desdém e espanto os que subvertem regras literárias e de gênero, em contraditório ou próprio tradicionalismo literário. Sendo progressistas do erro ético se tornam reacionários das fórmulas dos quais mesmo gênios dos clássicos de séculos anteriores subverteram. Por isso não poupo o ato de ser o contrário destes, ao mesclar não apenas gêneros como subverter narrativas, fazendo antologias romances  fragmentados de multiversos metafóricos enquanto conservo apenas o pilar epistemológico da ética. Os que menos inovam tais fórmulas curiosamente acabam por ser os que mais subvertem a ética e valores que realmente importam ao serem universais. Os reacionários criativos são os progressistas dos erros e crimes, de letras ou não.

A qualidade medida na originalidade assim atesta o valor, não o tamanho e a quantidade, assim como os quilates de um diamante determinam seu grau de pureza, uma gema menor, porém mais pura pode valer muito mais que uma maior repleta de impurezas. Tal como no excesso a qualidade pode diluir em quantidade e tirar o valor do que é considerado raro. A transmissão da informação analógica ante o grau de interferência ou, um produto adulterado, a exemplo de produtos que não passam de colagens de variáveis.

Trecho do prefácio  da antologia 'Verboversos'.

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