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sábado, 13 de novembro de 2021

Conto "Diário de Sangue"

Imagem do filme Nosferatu,
de 1922.

Após muitos séculos de empenho e construindo um exército de sanguessugas imortais percebemos que o experimento nazista logrou êxito ainda que a despeito do aparente fracasso histórico. Aperfeiçoando drogas e experimentações por todo período sob a alcunha da SS até o bastão do despotismo ser passado ao Estados Unidos. Ainda que sob o mesmo script alguns ajustes foram feitos, mas  A Grande Oferenda do holocausto saciou os famintos de meu exército os fortalecendo por longas décadas. O sangue judeu e de negros eram os mais nutritivos a sedição malévola de nossos corpos carcomidos por pecados hediondos no profano ato contrário a toda natureza e Deus. Agora revivescidos os que não foram acolhidos por operações americanas se refugiou nos recantos mais incólumes a justiça, na América Latina. Mesmo alguns supostamente condenados no tribunal de Nuremberg foram apenas acolhidos em seus caixões a espera do néctar das veias de incautos enganados ao serem resgatados na profanação de criptas dos malditos criminosos de guerra.

Sob cada nova identidade que abarcava, uma nova vida ao ocultar a fatalidade humana de minha imortalidade demoníaca. Ainda que a discrição fosse mais requerida no solo norte-americano, eventualmente nos reuníamos a fim de nos saciar em orgias de sangue. Antes como Übermensch nazista, éramos soldados da noite - pois as batalhas noturnas apenas sob uma armadura especial que nos protegia da luz. O outrora soldado super-humano do Sol Negro era agora um general americano a utilizar minha proficiência de séculos de experiências espúrias a galgar postos junto aos meus nos altos calões americanos.

Ainda hoje me lembro melancólico dos tempos do Vietnã e eventualmente ainda me masturbava ao lembrar de vietnamitas ardendo no fogo do napalm. Fantasiava as memórias do estupro coletivo cometido por meu batalhão num vilarejo de camponesas suspeitas de apoiar os comunistas, e num quarto secreto junto apetrechos sexuais de bondage e nazistas tinha um quadro da vietnamita correndo nua queimada. Lugar onde em torturas sexuais sucedidas a preencher meu cálice com o valioso néctar vermelho de meus parceiros, estes eram atraídos sob falsas promessas não após  ejacular ao sabor de pensar nas dores deles e da garota no quadro.

Se o sangue humano é nosso alimento, o sofrimento humano é o tempero. O bistrô do refino cruel do sadismo incompreendido por mentes mortais em nossas necessidades hediondas. Graças a mim meu exército fora construído ao vender as ideias do super-homem aos nazistas, a evolução da espécie humana é o predatório vampirismo de Nosferatu que nos fez fortuna.

Porém, estou mais séculos na Terra do que posso compreender, de modo que minha noção de tempo estou a perder. A cada época em que uma identidade encarnava, buscava me adequar as políticas de seu tempo, ainda que na inquisição tentaram me matar, mesmo sob outra identidade no catolicismo me infiltrei afim de perpetrar meu ódio mesmo que disfarçando meu horror aos santos e crucifixos de Jesus. A morte é minha vida em quem ressuscita trai a morte, por isso Jesus é nosso inimigo. 

De senhor feudal, alquimista, falso inquisidor católico para me saciar, a dono de escravos num tomateiro no Brasil minhas muitas desculpas objetivava apenas atender meu insaciável apetite pelo sofrimento humano. Um fascínio eterno por cada curva anatômica afligida na mente e corpos humanos. O maior estudioso das dores humanas. O psicopata é o único doente o qual os sintomas são sentidos nas vítimas.

Se a morte é minha vida meu amor próprio é sugar sua vitalidade a meu rejuvenescer. Saber, mesmo sem me ver que a vida e juventude roubadas me renovava na imortal morte eterna. Mesmo que outrora uma aprendiz minha, a condessa Elizabeth Báthory, tivesse sido pega ao se alimentar de virgens, ou o traficante Adolfo de Jesus Constanzo, o processo fora refinado ao longo dos tempos ainda que eventualmente alguns casos eclodissem. Sobretudo me reforcei criando doutrinas e cultos secretos próprios onde era enaltecido como Deus, contra Ele. E onde poderia me sentir mais a vontade para perpetrar meu ópio do ódio insaciável contra os humanos e em prol de seu sofrimento.

Ainda na época nazista desenvolvi uma droga capaz de aumentar o efeito anticoagulante do sangue em seu estômago e a duração dos efeitos de antrofagias em minha anatomia alterada, ainda que mascarada de humana. Porém, tudo ia bem na criação de presas potenciais cultivadas sob constante medo e estresse por anos até estarem prontas para nos banquetear até saber da volta das lendas do primeiro imortal, ante meu alimento do sangue dos justos e santos. Soube disso quando descobri vários dos meus mortos deixados com uma carta de alerta da profanação de um antigo mito de ritual sumério que teria nos dado origem.

Fazia muitas décadas que um predador como eu era caçado, e senti medo pela primeira vez em séculos ao saber haver alguém que sabia métodos realmente efetivos de nos deixar permanentemente no caixão. A carta dizia:

Aos imundos que ousam profanar os mitos da árvore da vida ao usurpar dele como a morte. Digo-lhes que independente dos nomes, ficções e mitos, os que usaram fraudolentamente da imortalidade serão pegos. Acompanho rumores seus há séculos e com desprezo percebi não estar a sós na secular eternidade. Se escondam nas sombras pois a legítima vida eterna é luz.

Finalmente teria um adversário a altura, um imortal que entediado com a eternidade parecia nutrir os aspectos centrais dos relés mortais, a piedade, empatia, remorso, a compaixão. Se eu era o demônio, ele era o anjo. O mesmo que viria chumbar meu caixão. Ao fitar uma última vez o aterrador recanto do despojar os corpos dos meus vampiros, virei-me e vi ele. Solitário e soturno, comedido e com a sagacidade de centenas de vidas, a sabedoria eterna e a inteligência de conhecimentos perdidos.

– Como os demônios que da Suméria assombraram os hebreus você se louvou como deuses profanos, por séculos se alimentando da vida dos mortais. No Egito com sua esposa Sekhmet, na China perseguindo e mantando chineses como o Chiang-shi, na África sob o nome de Asanbosan. Independente do lugar, como Baital, Dearg-Due, Strigoi, Obours ou Upierczi. Como uma barata com sua estirpe se alimentou dos mortos da peste negra, maldito Ekimmu!

– Espere! O que é a bondade sem a maldade, a caridade sem a carência, santificação sacra sem a perseguição? Do porvir seremos os gafanhotos que do ferrão afligiremos a humanidade a perambular sem serem sepultados! – Comentou o enigmático imortal.

– Para a eternidade também haverá o entardecer, e este que perece nunca mais tarde existirá! Para a tarde também será tarde um dia, quando sobre toda madrugada o dia irá resplandecer eterno.

Ao ouvir aquilo o homem com um rosto perturbadoramente juvenil me atacou dando-me apenas margem da esquiva a fugir num revoar noite a dentro. Éramos a madrugada e a noite, e mesmo sob a luz do dia as trevas das sombras perpetrava a eternidade noturna de nossas almas até o desígnio final de nossos criadores.

Daquele vampirismo como resultado de uma profanação do ato ritual annunaki da imortalidade, sombras de algo que em seu mau acarretou num estado entre a vida e morte infernal, na busca pela dor e sangue de nossas vítimas. Assim prossegui esse diário de sangue até o fim dos tempos.

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