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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Conto 'O Parque Neural'

O conto narra uma utopia de isenção e transparência onde os CID psiquiátricos dos transtornos de personalidade antissocial, parafilias e sadismo, mitomania foram curados e a criminalidade, corrupção e impunidade praticamente foram irradicados. Os últimos pacientes acometidos disso vivem isolados num laboratório numa ilha onde seu ambiente é simulado a fim de pesquisa. Porém, ao ser aberto ao público como um parque dos que traziam os horrores mais hediondos e atrozes do passado algo dá errado nesse museu vivo. O conto é uma clara paródia a Jurassic Park. O conto faz parte da antologia 'Devorador de Memórias' de minha autoria.

Quando fora descoberta as áreas cerebrais que confluíam as maiores moléstias e transtornos antissociais da história logo uma cura fora postulada. Associada as condições ambientais adequadas cessou no fim do século XXI todos os tipos de desvios de conduta pelo avanço exponencial da ciência comportamental abrindo as portas para uma queda sem precedentes de crimes violentos e sexuais. Muros não mais se faziam necessários, a sociedade aberta e livre passou não mais necessitar de penitenciárias e prisões de alta segurança limitando a punir delitos menores com penas comunitárias e medidas adicionais ou recondicionadoras a ética aberta comum. O mundo passou a ter lugar para todos, menos para quem não respeitasse isso e os direitos alheios. As portas do sucesso e progresso livre foram abertas em definitivo numa sociedade sem pedófilos, estupradores e assassinos seriais. As parafilias e bizarrices do submundo havia sido estancadas e relegadas a estudos antropológicos e psicológicos das ciências do comportamento. Num dos últimos centros de pesquisa eram mantidos inicialmente em sigilo as últimas e mais funestas mentes malignas submetidas ao escrutínio experimental sob a mesma vigilância que esses décadas atrás faziam com suas vítimas. Aquela instituição mantida numa ilha remota no Pacífico então abriu as portas para visitas dos curiosos das novas gerações que nunca viram ou souberam de tais pessoas extremamente cruéis e pervertidas. Logo, as inscrições de turistas de todos lugares do mundo se inscreviam para visitar aquelas relíquias dos tempos em que estávamos a mercê de tais monstros travestidos de gente numa sociedade por causa disso decadente e permeada por impunidade e corrupções. O frisson da mídia tornou aquilo numa atração global, um espetáculo ao mostrar imagens daqueles degenerados monstros que a primeira vista enganava o mais incauto desprevenido. Aline Machado que havia recém se formado em psicologia do comportamento fora escolhida por sua universidade a engendrar uma viagem de primeira mão por suas notas altas. A expectação a tomava ao fitar as ruínas da última e maior penitenciária para presos de alta periculosidade do mundo. O barco desembarcou a todos que  vislumbravam imagens que remetiam os mais tenebrosos personagens cruéis da história humana, de Joseph Menguele, Hitler, Ted Bund, Charles Manson e outros. Nos áudios eram narradas as crueldades ímpares destes que destituídos de menor remorso ou afeição muitas vezes se deleitava do sofrimento de suas vítimas. Naquele momento então chegou a guia do grupo à orientá-los ao museu da ciência comportamental que contava desde sua origem no FBI do século XX até seus maiores casos e exemplos históricos anteriores.

Em bancadas e vitrines Aline poderia fitar de itens, fotos desses monstros tal como vídeos que relatavam os maiores psicopatas da história humana, de serial killers a governantes carniceiros. Tanto como os maiores expoentes da ciência comportamental que os estudavam e caçavam para deter suas atrocidades hediondas.

A guia logo começou a explicar os itens de cartas do Jack, o Estripador ao Zodíaco, assim como roupas de vítimas e outras provas do crimes como armas diversas.

—  Em Neural Park construímos nessa remota ilha do Pacífico o que inicialmente era o CPC (Centro de Pesquisas Comportamentais) no que restou da última e mais segura penitenciária do mundo, desativada há 112 anos com o fim da criminalidade grave quando encontramos a cura para as doenças comportamentais. Criado afim de compreendera natureza perversa dos mais diferentes transtornos antissociais, de parafilias sexuais extremas, sadismo, sociopatia, psicopatia analisamos o desenvolvimento degradado e doentio das mentes mais monstruosas do mundo ao envolverem fatores inatos e ambientais favoráveis a um berçário desses monstros. 

Ao terminarem aquele setor do museu a guia seguiu sorridente e segura até outro setor enquanto ia explicando.

—  O que vocês agora verão serão alas onde alguns desses déspotas vivem livremente em seus bandos em similaridade aos animais selvagens ainda que perversos como demônios. Alas separadas por moléstias indo dos sociopatas amenos que conhecemos por comportamentos antiéticos, seguido de doenças comportamentais do sexo sendo mais agressivas, de viciados em bondage, tarados estupradores e pedófilos. E no fim do corredor nosso maior tirano, um psicopata que ultrapassa a escala 24 de Hare. 

Todos pararam diante daquilo e ficavam  perplexos ao verem que eles pareciam homens normais e educados. Alguns os cumprimentando e outros mesmo dissimulando choro dizendo que estava sendo perseguido injustamente. A guia então disse.

—  Não se enganem por este. Olhem a imagem em que mostra que ele tentou estuprar e canibalizar nosso pesquisador. — Completou ela mostrando imagens em vídeo do incidente como prova.

A diante ela paralisou e engoliu a seco quando fitou aquele que era como uma quase encarnação do próprio diabo na Terra e comentou.

—  Reunindo os maiores deméritos num só pacote esse é capaz de qualquer atrocidade inimaginável, não se enganem com a falsa polidez, ele seria capaz te convencer a ser sua vítima e a se entregar a um canibalismo sexual. Nutrindo traços de hedonismo sádico, parafilias extremas, mitomania, narcisismo e psicopatia ele fora criado em laboratório reunindo todos elementos cerebrais e neurológicos que reuniam todas as piores características dos maiores monstros do século XX e XIX. Ele é capaz de ter ereções sexuais como arma e  apenas com extrema violência, de sangue a fezes e por isso a entrada nesse setor é proibida para menores de 21 anos! Naturalmente não oferecemos vítimas indefesas a eles, mas o que observarão é o encontro dele com seus rivais por motivo de poder, estupradores seriais da ala oposta. Tais eram predominantemente homens.

Logo uma comporta abriu-se mostrando um exterior de um terreno vasto como de campos de uma fazenda. Havia várias cabanas daqueles que se intitulavam de 'Gangue do Bang' que logo ao verem abrir aquilo saíram pra fora, e com paus e pedras se dirigiram até a cela do monstro.

Em sua fala dissimulada ocultavam uma falsa civilidade, mas que na persuasão era capaz mesmo de convencer que suas vítimas eram as culpadas. Utilizavam de sofismas e falácias aos mais ridículos pensamentos mágicos na tentativa de convencer enganosamente o povo de que suas injustiças e mesmo crimes eram a solução.

Em segredo o líder dos cientistas observava aquele psicopata que na realidade era parte de um experimento para criar uma arma perfeita ausente de qualquer remorso ou empatia, e caso os testes fossem aprovados iriam produzir clones para fazer um exercício.

Discretamente esse homem destrancou a porta da cela dele, que ficava escondida dentro do banheiro. Ao ver aqueles se aproximarem para estuprá-lo e matá-lo aos olhos de todos ele disfarçou e saiu fora do alcance da vitrine onde os visitantes os viam em ação.

Lá fora no corredor a guia agora estava na expectação de ver alguma atrocidade mesmo que ainda explicasse detalhes sórdidos disso.

—  Nos experimentos esses nascidos em laboratório pareciam inclinados a se unirem em grupos por laços predatórios e passaram até mesmo criar uma religião natural de seus desejos doentios onde todo mês escolhiam um deles para ser estuprado e morto em nome do deus areia do qual pregava ser capaz de vencer toda a verdade objetiva dos fatos e evidências. Como observamos não somente a mitomania como dissociações da objetividade em eufemismos criminosos emergem como um delírio auto-induzido.

—  Mas cadê o número 77? —  Indagou Aline sobre o maior dos sociopatas que havia sumido.

A guia riu amarelo de sem graça e logo olhou para as câmeras sinalizando o imprevisto.

Enquanto isso '77' havia saído e pego de imediato o faxineiro o matando de modo calculista e sem defesa. Tirou suas roupas após alisar suas nádegas em visível atração sexual necrófila e vestiu suas roupas tirando parte de seu cabelo para colocar sobre o buço como sendo um bigode. Caminhou aquele cão danado pelo corredor enquanto o grupo de visita se retirava frustrado com o encontro que não ocorreu. Nisso a amiga de Aline se separou do grupo para ir ao banheiro. Tudo correu bem quando ela de repente ouviu o grunhido de dor de alguém numa das privadas. Preocupada a jovem fora prontamente para lá fitando o homem caído com as mãos no peito. Nervosa ao sentir empatia com o estado do homem ela não percebeu se tratar de '77' que aproveitando-se que ela se abaixou disse que precisava de ajuda pois estava sofrendo um infarto. Ela pôs as mãos no peito dele aflita quando então ele a puxou pelo pescoço e a mordeu como se fosse Nosferatu. A jovem tentou gritar, mas a garganta aberta não permitia a voz sair enquanto ele lambia seu sangue e mastigava sua carne como se estivesse extasiado. Arriou as calças com ela se estrebuchando e se saciou com sua agonia enquanto o sangue o deixava ensopado.

 Aquele monstro sabia dos segredos laboratoriais lá criados como um plano secreto escuso do qual ele era protótipo. Sedento por poder e agora julgando-se ser deus por tais atrocidades respirou fundo ante o corpo sem vida e se limpou trocando de roupa novamente. Queria buscar o laboratório pois lá produziam uma toxina capaz de alterar a química cerebral e os neurônios levando ao estado de psicopatia aliado a tortura. A mesma droga usada num incidente em 2033 que levou a uma carnificina coletiva. Era chamada de 'A Droga da Maldade'.

Sorrateiro, 77, seguiu entre os meandros labirínticos de corredores conhecendo bem seu percurso num apuro de expertise. Calculista comedia todos seus movimentos com frieza robótica afim de não permitir-se que seu rosto fosse visto em reconhecimento da vigilância eletrônica e de funcionários acostumados com sua má fama truculenta. Tinha as chaves eletrônicas da entrada laboratorial, chaves pegas com o faxineiro morto. Adentrou o recinto por estranha facilidade da segurança que não esperava pela fuga daquele monstro sádico. Ao adentrar no momento da refeição viu-se a sós de modo a vedar a entrada ao mesmo recinto para que tivesse liberdade confortável a pegar todos frascos da toxina da maldade. Tendo passado um valioso tempo a espera por aquele momento após estudos minuciosos da planta do lugar tanto como do sistema de ventilação 77 sabendo que a solução da toxina era diluída em densidades gasosas assim a liberou por todo sistema de ventilação para em seguida disparar o alarme afim de bloquear todas as saídas comuns e entregarem as vítimas a serem submetidas a solução tóxica da droga da maldade.

Sentou-se então 77 numa cadeira e fitou os monitores enquanto o cintilar das sirenes de alarme piscavam oscilantes entre o soar da sirene sonora. Abriu então um sorriso sádico e aguardou pacientemente pelos resultados.

Do outro lado do CPC Aline Machado ficou perplexa com o soar dos alarmes e a primeira coisa que pensou fora na amiga que sumida há meia hora após anunciar que iria ao banheiro não retornou. A guia visivelmente nervosa seguiu o protocolo e tentando não transparecer a tensão com sorrisos forçados orientou a todos visitantes se reunirem no saguão principal ao lado dos outros grupos de visitantes. Mas ignorando os pedidos, Aline seguiu ao banheiro e o que encontrou a deixou consternada ao fitar o corpo de sua amiga estropiado em meio a uma poça de sangue com seus olhos sem vida fitando o vazio do chão. Aline segurou um grito pondo suas mãos sobre a boca num olhar arregalado e retirou-se correndo pelos corredores até que ao retornar ao saguão fitou gases saindo das tubulações de ar condicionado com todos tonteando de um lado a outro como baratas sob efeito de veneno. Ela pranteou aos gritos de que todo aquele causo fora proporcionado pela fuga de 77.

Mas era tarde, o monstro de dentro do laboratório se deleitava entre um gargalhar e outro ao observar as primeiras vítimas reagirem sem simetrias em ações de extrema agressividade para com os outros.

Tapando a boca para segurar a respiração Aline se abaixou e se esgueirando correu para uma área não poluída pelos gases insidiosos daquela toxina da implacável maldade. O alardear soturno dela não havia resultado em bons efeitos, mas antes os membros dos grupos logo deram início a uma série de insultos gratuitos, ameaças de morte e estupro assim como calúnias a ela. Assustada percebeu que mesmo a guia agora estava gargalhando sem controle ante as afirmações doentias dos visitantes quando logo as palavras se tornaram em ações com o ataque de dois seguranças em igual surto.

A pancadaria tomou o lugar e da pancadaria se tornou matança, logo um açougue se tornou o lugar enquanto 77 agora se deleitava sexualmente ao fitar uns despedaçando os outros, entre desmembramentos e estupros. Teve uma ereção enquanto uivava e notando o caos instaurado retirou-se do lugar até o setor de segurança enquanto os dois responsáveis pelo mesmo haviam matado-se mutuamente. 77 rindo de tudo então destravou as trancas de todas as celas liberando todos psicopatas sedentos por estupros e toda sorte e crimes. E eles se esbaldaram ao notar que as portas para que os bons fugissem foram trancadas e apenas as deles abertas.

Aline Machado pranteava entre um praguejar em português e outro ao alcançar um vão de céu aberto, e com dificuldade ainda que incólume ao veneno tóxico do comportamento subiu um jogo de canos até o terraço. Caminhou por toda construção quando então fitou de cima 77 e o chefe do laboratório conversando.

—  O trabalho aqui é de supra importância, sabendo que o momento chegou vá ao mundo e se infiltre com os seus para liberar a toxina a todos. Vamos libertar o mundo das amarras sociais da civilidade ética!

O homem tinha os olhos brilhando ao fitar aquela máquina de destruição travestida de gente, parecia nutrir um grande apreço pela capacidade atroz daquele monstro quando então o mesmo pegou uma faca e enfiou em seu pescoço num sorriso deleitoso.

O cientista então engasgou com o próprio sangue que espirrava sobre o rosto do monstro que gargalhava. Aline deu um grito sufocado pela própria mão mas o suficiente para ele vê-la. Lá fora a barca ancorada iria partir e sorrateiro o homem retirou-se ao exterior até o porto vestindo agora um terno. Com crachás de um dos seguranças o homem o apresentou aos marinheiros com um sorriso amistoso e educado os cumprimentou falando.

—  Finalmente vou pra casa após meus dias de trabalho.

—  Bom descanso para o senhor. —  Comentou o comandante e continuou. —  O senhor sabe o que aconteceu para soar o alarme lá dentro?

—  Eu não sei.

Mas naquele momento Aline veio correndo até a barca gritando nervosa entre um xingamento e outro para deter aquele homem, quando então ele virou-se e arregalando os olhos vociferou.

—  É uma das psicopatas do CPC, uma das mais perigosas, ela fugiu! Atirem! Não ouçam o que ela tem a dizer, ela pode enganá-los!

Logo os seguranças do barco vieram armados e sem pestanejar dispararam covardemente contra Aline. Negra e de cabelos cacheados caiu ao chão deixando seus óculos se partirem com a queda. De cara para o chão 77 ajeitou a gravata ao se aproximar e fitando-a ao chão falou.

—  Acabou, você é um monstro e nunca mais ira fazer mal a ninguém! Olhe para o chão como seu derradeiro fim!

Todos seguranças perplexos notaram ainda ela esboçar palavras entre seu balbuciar de epitáfio, mas era tarde demais. Aquele tirano sádico com suas palavras venenosas enganou a todos contra os fatos e conseguiu por inversão libertar-se e matar que apenas desejava impedir a tragédia que iria ocorrer a seguir.

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