Não quisera compreender o quilate daquele precioso império, que era como uma joia vívida em suas entranhas, que parecia-me mais como uma miragem num deserto de abismos e injustiças como uma esperançosa ilusão de um paraíso utópico a aflorar duma perfeita e eterna primaveira. No campo flores cuja evolução única parecia ser destilada do tempo unicamente ante aquela dimensão, os prédios pareciam megalíticos de ouro transparente a cortar os céus imprimindo a tranquilidade onde nenhuma voz era esquecida, mas como imensos cristais refletiam a serenidade translúcida daquele paraíso. Os céus refletiam aquela terra, e a terra aqueles céus, não havia discriminação, mesmo das menores criaturas tinham seu lugar, seu tempo, seu mérito. Poderia ser fantasma aquele lugar caso não fosse habitado por mais que por humanos, mas seres de ímpeto e espírito puro e grato fazendo contempla-los como quase anjos. Temi então trazer comigo as sombras, sombras de dúvidas sobre a veracidade de meus sentidos como entorpecidos por alguma droga milagrosa ante minha viagem anterior pelo inferno, todavia, nem sonho, nem alucinação, pois o ar era ar, e a fé concretizada e não mais precisava sobreviver ao inferno para saber o valor do paraíso, pois era paraíso por si só como um imponente Deus, mas na realidade tributo a Ele.
Numa das paredes mostrava-se projeções daqueles cujos feitos foram marginalizados pela sociedade inferior e deliberadamente imperfeita do passado, nomes e rostos, eles sorriam agora, pois seus feitos ecoavam pelo tempo como memórias da gratidão. In Memoriam, diziam. Talvez então, concluí, tenha falecido, quando alguns dos rostos me sorriu brilhando ante ao dourado céu de perpetua formosura.
Senti-me então o mais abastado dos aventureiros de todos os tempos, do passado ao futuro, das vísceras do firmamento senti e vivi, não era um sonho enfim, pois não havia sacrifício vão e fútil, a duras penas o sacrifício era próprio, o detrimento da busca pela alma humana havia alcançado o inatingível sonho utópicos onde não mais se sabe o que era medo, injustiça, sofrimento e todas as distorções do mal. Onde estava não me importei, mas sim quando, me toquei, pois ao me ir meu consciente fora capturado pela eternidade cujo único lugar são os sentimentos que o fazem viver, pois eles tinham acesso a verve justamente dos sentimentos a trazer conscientes ao retorno no universo.
Poderia parecer etéreo tão conceito, todavia diziam que tudo o quanto viveu e tudo que se realizou permanecia gravado no tempo pelos sentimentos capturados pelo infinito.
- O espírito é essencialmente sentimentos, não paira sobre ele as gélidas memórias como a
da informática. Por isso tal comunicação representa-se sentimental. - disse o rosto amigável com um sorriso triunfante e resplandecente de tranquilidade e afeição - somente podemos resgatar do imaterium o que se imprimiu no material com sentimentos, mesmo ante os ecos da inveja, ódio e medo. No mais apenas por viagem no tempo podemos revive-lo.
Nunca pudera matar a charada de que o raciocínio mundano era material por mais afiado que fosse, mas antes falavam eles de algo mais elevado, puro, sem distorções dos males, e injustiças - inclusive emocionais - parte de um corpo do qual mesmo a afeição de animais poderia-se sentir eternizados, onde os gélidos homens sem afeição não eram lembrados. Se a dor não ficava nem nas memórias humanas, o sofrimento parecia ser repelito do universo num tipo de peneira similar de socrátes para sentimentos, todavia mesmo aqueles que se comunicavam sentimentalmente não sabia para onde iam a dor, talvez numa outra dimensão inferior similar a mesma masmorra dos tempos medievais.
Trecho de 'Sombras dos Tempos' de Gerson Avillez
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