"Por muitos anos estive perplexo procurando compreender numa só definição o que é o mau e seus derivados enlatados, das maldições, maldades e outras mazelas do lugar comum provenientes do mesmo tronco, refleti, tentei juntar convicções e conjecturas, sendo estas na verdade algumas características comuns relacionadas como fim a emoções mais antiquadas e primitivas, do sadismo, discriminação a inveja, pois uma coisa que o mau nunca será é igualitário pois a maldade comumente sofre de complexo de superioridade.
Porém, a maldade, que como uma doença não vive sem uma vítima por apenas trazer sofrimento. Em seu íntimo é confusa, não se consegui definir de modo claro, não segue uma linearidade clara de causalidade, é cheia de desculpas impraticáveis, incomprováveis e agressivas ao livre-arbítrio alheio, nuances, mentiras e sucessões inconstantes de modo que manifesta então a ausência de 'porque' e torna-se íntima da loucura ao atingir seu auge e pico de modo que como um demônio a maldade torna-se autossuficiente como se ela pensasse por si só. Ecoa no vazio do peito de seus portadores, se repete na mesma coisa e atos por anos pois é em vão, não há objetivo, pois não é objetiva, apenas vaga a envenenar vítimas e almas por seu caminho normalmente de modo fatal, é a única doença que faz mais mal a quem está próximo - de algum modo - a anulando que ao portador de tal deficiência moral que torna-os com uma incapacidade de ver suas vítimas de modo claro mas apenas de acordo com os desígnios de um coração malévolo e obscurecido. Como fulminar da amoralidade numa profusão ensandecida de acusações e perseguições baseadas na exclusiva discriminação pode se camuflar indefinidamente, mas suas mascaras sempre precisam ser trocadas periodicamente como a fralda dos nenês. Do fascismo, nazismo, apartheids, das ditaduras, a única definição possível de seus frutos é que leva sempre ao mesmo fim, o sofrimento e morte de inocentes de modo epidêmico em maior ou menor escala pois é um devorador boçal da fé e da vontade de se ater ao melhor, pois o mais poderoso filho da maldade com o vazio é o medo. E talvez a mais precisa definição de maldade seja justamente isso, uma merda, pois como toda merda precisa de uma privada, e estas são as vítimas da maldade.
Na realidade o tempo, efêmero ser mesmo de justiça lenta mas perfeita, sem acepção de nenhum tipo, carrega para longe a maldade pois a ela sempre alcança, mas dele a maldade se torna parasita ecoando junto a ele ante a face do abismo de onde veio. A verdade é que por melhor que seja o eufemismo falha pois em sua origem, o mau, é o vazio, é o nada tentando ser tudo, e nada se define apenas como nada a tentar anular o que vive ou procura apenas ter um sentido para viver, não a definhar pateticamente a agradar seus condutos mortos-vivos pois a maldade é faminta e insaciável e irreconciliável, pois não se pode ser amigo da adversidade, da própria inimizade.
Ao menos conforta o fato de que não somente é o universo que paira flutuando sobre o abismo que tanto temeu Nietzsche, pois talvez seja justamente o medo de Deus em seu isolamento perpetuo levando-o a construir esse palácio do universo como ponte a um sentido para si mesmo viver, universo este o qual o mal tenta se esconder saindo de sua casa de origem, o abismo. Como sombra nos assombra por séculos, invasores e ingratos com suas embaixadas na física astronômica pelos buracos negros da existência, em que não se a troca ou tem retorno proporcional, pois a maldade representa o acabar do sentido, da fé, o cessar a única volta que almeja, o da inexistência."
Herdeiros do Destino - Gerson Machado de Avillez
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