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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Conto Mitomania

"Pelos seus frutos os conhecereis a arvore".
Mateus 7:16

José Madson Webson teve a epifania de sua vida, como num clarão que lhe tomou de assombro numa das sessões de chá de trombeta mesclada a outras drogas Webson agora tinha certeza da missão de sua vida, impedir o apocalipse ao localizar finalmente o Anticristo. A visão era clara como nas suas fantasias em que viam demônios lhe passando instruções para seus livros ao subirem diretamente do inferno exalando o enxofre que ardia suas narinas. No entanto, para seu livro ele teria que criar um arcabouça de mentiras para conseguir destruir aquele que era todo o mal no mundo, um jovem virgem, que autista passava a maior parte do tempo discriminado e isolado.
Foram anos de abusos de drogas alucinógenas como consultas a planos dito superiores que inspirava livros com doutrinas privilegiadas ante os meros cristãos, ainda que inimigos do seu deus como alguns aludissem a isso ao rompimento da tênue linha divisora entre realidade e fantasia como anseio a atitudes doentias e funestas ele perseveravam ante seu conhecimento superior a qual mentes menores e estreitas não eram capazes de compreender em seu entendimento limitado e parco pois mal sabiam eles que a verdade era mentira e que tudo a qual julgavam certo era errado.
O sinal primeiro fora evidente ao ser aludido por seu Ifrit, uma fantasia de um livro por ele escrito o qual um homem seria um profano como cão por sua origem, ainda que pessoas tolas não fossem capazes de perceber a verdade, que eram as injustiças que ele sofria que provava que ele era a abominação que era. Ele viu essa fantasia literária transfigurar-se através da realidade transcendente com esse mal supremo que de tão cruel e hediondo não precisaria quebrar comprovadamente quaisquer leis para sê-lo em sua ousadia ardilosa.
Assim era aquele jovem autista, não existiam as menores provas de que fosse um terrível criminoso como os traficantes que ceifam vidas e tornam dependentes usuários por uma toxina extasiante como a que usava. Fazer-lhe o mal era defender o bem, cometer-lhe erros era justo coisa que cristãos não tinha conhecimento pois para ele a doutrina bíblica estava incompleta ante suas revelações ancestrais.
Mas as injustiças que sofria por defender a verdade superior a tudo conhecido eram perseguições por ser portador da luz de uma verdade que eclipsava as verdades profanas e mundanas em suas relés leis mortais de homens.
Mas seria aquele seu livro ao relatar que a justiça, lei e ética humanas traria o fim do mundo ao defender aquele demônio humano uma mera ficção se tornando realidade? Ou memórias adormecidas de algo que ele sabia mas esqueceu? O plano superior assim ascendeu em sua mente iluminada pelas proezas de um homem raro que se tornou e de valor que transcendiam aos mais valiosos gênios.
A objetividade dessa realidade lhe escapava por ater-se em realidades superiores e logo incandescia como brava seu ímpeto e intelectos superiores ante perseguições de falsos doutores que lhe tachavam em diagnósticos como mitomânico, sádico e portador de transtorno de personalidade antissocial. Mas seus fiéis adeptos não resistiam a persuasão de suas palavras que sucumbiam a resistência da mentira que eram as justiças humanas e da incompletude bíblica. A revelação que faltava na bíblia fora concedida a ele que agora era dono da verdade!
Por sorte o nome desse homem que traria o fim fora desvelado em seu livro tido como deletéria ficção aos tolos das letras que viam em seu livro como uma fantasia de qualidades e escritas inferiores pertinente a uma história absurda e pouco criativa. Mas aquilo pouco importava pois ele era portador da verdade sublime naquele livro de arcanas palavras. E tão logo viu que o personagem Anderson Castro Costa realmente existia e era virgem como deveria ser o anticristo! Webson era um perfeito adivinho e adivinhava que deveria acabar com ele! Assim ele discursou ante seu séquito que não ousava discordar das sábias palavras de seu emergente messias.
— Estamos diante da encruzilhada, salvar o mundo dessa abominação em que tolos acreditam não ter culpa apenas por não haverem provas, devemos atacar a todos os quais lhe defendem, devemos destruí-los mas para que os tolos que não são capazes de deterem nosso entendimento superior precisamos usar de mentiras para torna-las verdades!
Naquele momento uma voz se levantou dentre a pequena multidão que se formava a sua volta naquele cemitério após profanarem um túmulo afim de seus sacramentos com carnes em putrefaz estados de decomposição.
— Há mulheres loucas que gostam dele, eles são vagabundas como qualquer mulher que goste dele, não respeitemos o amor delas! As estupremos para impedir que esse mal sobrevenha ao mundo! Depois façamos o mesmo com ele e purifiquemos seu corpo impuro com a morte! Mas ocultemos isso pois os tolos profanos não são capazes de compreender a pureza e inocência de nossos atos!
Todos concordaram em uníssono e comemoraram alegremente naquela madrugada tendo apenas a tênue luz lunar como testemunha que parecia oscilar entre as doses de alucinógenos que perpetravam a convicção de suas crenças irredutíveis.
Assim fizeram aqueles homens servindo a luz como julgavam ser, açoitaram, torturaram e abusaram de todos que apoiassem o jovem Anderson por estes ser supostamente filho do diabo, sabendo eles sem remorso que estavam certos e com orgulho de estarem servindo uma causa superior.
Anderson fora então encurralado e esbofeteado e após ser insultado pelo sublime amor de suas puras doutrinas todos os males igualmente lhe sucederam custando sua vida. Agora era findo, estava feito, o mundo estava livre dos flagelos do mal que se dizia bem em sua falsa justiça!
O líder fora conclamado herói e salvador do mundo por aqueles atos de veneráveis respeito e entorpecidos em comemoração lhes sobrevieram uma visão contemplativa singular. Um ser alado subiu dentre chamas e entre gargalhadas alegrou-se com eles de seus atos quando se virou para Madson e lhes disse entre aplausos quando o silêncio sobreveio entre todos.
— Apenas o mal inventa um mal que não existe para exercer o próprio mal que é. Louvado sejas tú que agora és meu filho!
— Quem és você o hediondo ser? — Indagou Madson.
— Aquele porquanto você sempre serviu, o pai da mentira que lhe adotou por toda injustiça e mentira que ama e pratica. Assim finalmente encontro meu eleito, o verdadeiro Anticristo!
Madson acreditando estar combatendo o mal, pensou estar livrando o mundo do apocalipse para no final o demônio aparecer diante dele o agradecendo, por finalmente encaminhar o mundo a seu reino que acabará com o mundo. Madson relutou dizendo que era Deus a quem servia ao fazer tais atos, mas o próprio diabo lhes disse.
— Todo aquele que pratica a mentira e a injustiça é meu filho, está na bíblia!
Madson então viu que suas transgressões foram cobertas pelo homicídio dele, pois ao destruir o anticristo ele se tornava seu cristo pois a morte de Jesus Cristo não era bastante. Mas seriam aquelas visões sobre o que ele seria verdade ou uma mentira que o qual se tornara tão viva que mesmo ele acreditava? A mentira ganhou vida e ela se chamava Lúcifer, fosse a vinda dele no mundo realidade ou uma mera alucinação.

Conto integrante da antologia 'Além da Realidade' de William Fontana.

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