Muitos associam o termo ficção com mentira. Semanticamente o ato de mentir tem relação com o mesmo radical de 'mente' enquanto ficção deriva-se do latim fictio,onis que significa 'criação'. Ainda que em remotos tempos a história não se discernisse de mitos, o ato de contar histórias foi em tempos passados a maneira de passar ensinamentos. Dos mitos de Áquiles, Narciso e Hércules as parábolas de Jesus Cristo a ficção originalmente em todas suas ramificações e tipos a ficção tem a intensão de não somente contar histórias - ou como descrito antes da reforma ortográfica 'estorias' -, mas transmitir ideias, ensinamentos e morais. Sendo assim a ficção está na filosofia para silogismo que a mentira para falácia ou sofisma, pois a mentira objetiva exclusivamente ocultar ou enganar como dar justificativas para algo errado. Ao exemplo de um bandido em que este busca culpabilizar a vítima ao atribuir "consequências" caso faça algo, a verdadeira ficção visa esclarecer, reflexionar, criticar. Ainda que o fenômeno da ficção espetáculo como show seja recente ao se tornar sinônimo de distração e diversão isso mais se inclina a crítica distópica de Aldous Huxley ('Admirável Mundo Novo') do uso da ficção como ilusão e alienação do que o primeiro aspecto, como uma "ditadura da diversão" que ilude e manipula os cidadãos pelos prazeres.
Ainda que o entretenimento esteja presente desde tempos remotos no ato de contar histórias com o surgimento da linguagem o aspecto 'idiotizador' parece mais ser impulsionado como fuga dos problemas sociais do que aprendizado ou reflexão crítica a realidade o qual se insere. Nesse sentido o entretenimento ou prazeres alienadores não se diferenciam das drogas o qual torna este dependente dos prazeres e deleites se aproximando esta sim mais do termo mentira do que ficção.
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