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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Da Linguagem Como Forma de Pensar

Dentre as minhas ambições intelectuais estaria a de criar uma linguagem própria afim de melhor expressar determinado universo fictício tal como Tolkien com a Terra Média o qual me inspirou. Mas por onde começar a criar uma linguagem? Uma linguagem somente é assim definida pela complexidade de combinação por meio de sinais simples apresentando estrutura própria, verbos, sintaxe tal como outros aspectos intrínsecos ao mesmo. Mas há diferenças e limitações a exemplo das linguagens de sinais as quais a exemplo da Libras, não apresenta concordância ou melhor articulação verbal que a linguagem portuguesa por exemplo. Outro aspecto pode ser demonstrado em características própria como o fato do português ter uma gama muito mais de variações de gênero especifico como 'limpo/limpa' enquanto no inglês essa diferença não existe sendo definido basicamente como 'clean'.
Sabe-se que o pensamento estruturado pela linguagem de modo a fornecer uma organização de termos que conotam ideias materiais ou abstratas, tal como relações o que em grande parte diferencia a inteligência humana a dos animais. Surdos que não receberam a libras ou alfabetização, por exemplo, não somente não conseguem se expressar como melhor ser capaz de interpretar dados e informações na ausência da capacidade de melhor definir conceitos e ideias. A linguagem assim se torna melhor a medida de precisão o qual é capaz de definir conceitos e ideias fugindo ao dúbio e vago. A medida com que a aquisição de conhecimento é adquirido por essa forma de comunicação de dados mais vasto o repertório com o qual o conhecimento trabalha favorece a inteligência e criatividade. O abstrato por exemplo não representa correspondência concreta sendo mais no campo subjetivo e assim pessoal do que de efetividade a exemplo das emoções e sentimentos.
Manipular a linguagem assim é uma forma de controlar o pensamento alheio algo que fora claramente demonstrado no livro '1984' de George Orwell ao trabalhar na novilíngua de modo a tentar alterar o significado dos termos e assim do pensamento daqueles que utilizavam a linguagem, logo seu comportamento. Certamente por este fato um conhecimento semanticamente aprofundado da linguagem não é de interesse de alguns tais como de conhecimento geral. A ignorância e a burrice favorecem o erro, basta ter conhecimentos legais, éticos e filosóficos o bastante para saber quem realmente está errado. 
A linguagem evolui à medida de associações sejam por acontecimentos ou mesmo do que inicialmente seriam gírias. Particularmente acredito que ecos de acontecimentos insidiosos são refletidos mesmo na linguagem que referencial entidades como Baco (Tabaco, bacana, bacanal), mas termos como 'salvar o próprio rabo" ou "coitado" que se deriva do termo sexual coito, ou seja, aquele que sofreu coito ou agressão sexual.
Mesmo o comportamento instintivo transmite informações pela linguagem corporal expressa pelo subconsciente e percebido de modo normalmente também inconsciente. Tal linguagem pode ser observada mesmo em animais ao postularem padrões que transmitam estado de humor, por exemplo.
Aprendi muito conhecendo a origem de muitos termos e seus significados precisamente corretos do qual me forneceu a possibilidade de postular muitos pensamentos assim como criações. Mas a medida com que retrocedemos na origem dos termos chegamos a um ponto que o termo primeiro não tem origem e assim significado concordando com Willard Van Orman Quine que a base do que proponho a semântica de minha língua.
De modo similar se aplica a criar palavras novas que exprimam novos conceitos e ideias, algo que estou acostumado. Similarmente é fato científico que pessoas bilíngues ou poliglotas melhores são capazes de ser criativas pelo simples fato que pensar numa linguagem diferente fará você ter perspectivas diferentes de uma mesma coisa, muitas vezes.
A consciência são espelhos que refletem a informação. A linguagem estrutura não somente melhor formação de conceitos e pensamentos, mas também de práticas. Um exemplo pode ser visto no conceito de criação de programas de computadores que se utilizam de uma linguagem própria capaz de criar ações ainda que no campo virtual por meio da combinação de comandos específicos gráficos, sons, ferramentas. Por esse motivo um comparativo do mundo virtual com o real parece ser uma alusão verdadeira uma vez que do DNA humano a possivelmente outros conceitos das matérias poderiam não somente gerar informação como dela ser gerada o que justifica o meu pensamento de que tudo é informação e ondas em frequências e combinações diferentes. 
Mesmo a música apresenta padrões rítmicos o qual ainda que não transmitam necessariamente conceitos ou ideias, estes transmitem sensações e emoções. Ainda que códigos tenham diferença de uma linguagem ambos apresentam a transmissão de conceitos por meio de padrões em determinado grau de complexidade, não seria justamente esse aspecto que se busca na aparente randômica do caos, um código que denote padrões que fomentem melhor previsibilidade? Disto que parte o princípio de discussão de meu livro 'O Código do Caos' pois de certo a linguagem humana surgiu em parte da busca por padrões que organizasse não somente o pensamento, mas o mundo em que vive. Similarmente a ideia de ilusão deriva-se do controle comedido de informações sejam falsas ou verdadeiras afim de trazer uma aparência não verdadeira de uma realidade.
Sendo assim a criação de uma linguagem deve ter por começo a definição de ideias por fonemas simples até que agreguem gradualmente conceitos de complexidade. Muitas linguagens surgem de troncos linguísticos próprios demonstrando terem a origem numa linguagem anterior de onde evoluiu, assim a criação de uma linguagem inteiramente nova seria por uma sonorização específica sem aparente relação original, mas a fomentar crescentes padrões estruturados algo que nem Tolkien aparenta ter conseguido por utilizou-se de outras línguas para a base de suas linguagens.
Trata-se assim de criar uma estrutura gramatical baseada em fonemas ainda que traduzidas a escrita, mas em similaridade a oralidade indígena. A linguagem em questão apresenta relevância arraigada na filosofia de vida e crenças de determinado povo ao basear-se em mitos próprios, ou seja, assim com as histórias do autor tem haver com sua vida a linguagem desse povo fictício tem haver com seus mitos e cultura. Nessa minha linguagem em desenvolvimento busca-se padrões correlacionados a partir de princípios elementares como os a seguir: vindo de ‘cri’ (solo/chão), surge crino (planta), crinolin (flor), crinica (semente), crinicalin (carrapixo), crinolica (fruto). Similarmente Fo (ar) dando lugar a Foxa (ave) e ‘Na’ (água) dando origem Naxa (peixe, sendo um ser que vive na água) e assim por diante. Optei por esta não possuir conceito de gênero sexual, mas de passivo/ativo sexual de modo que 'Vi' (passivo) e Ai (ativo) a formar conceitos ao ser associado a palavras de seres como Foxa (ave/pássaro) como foxavi ou foxaai.
Outros termos vão se agregando em torno da linguagem a medida com que ela se desenvolve e mesmo se modifica a medida com que evoluí ao contrário de línguas mortas como latim. Um exemplo na ideia de utensílios/ferramentas/construções se chamarem de ‘sa’ de modo que se tratando de uma casa ela se chamaria por ‘sacri’ por ser uma construção no chão ou na árvore como ‘crifo’. Notadamente aqui entram os termos ao contrário se tratando de elementos não naturais, mas artificiais.
A simplicidade da linguagem em questão passa se tornar seu grande mérito ainda que possa dificultar algumas articulações mais precisas, mas numa linguagem silábica como está não há a diferença entre falar e escrever, pois sendo todos termos fonéticos indistintos ao contrário do português onde há diferenças sem necessidades como o ‘porque/porquê/por que/ por quê’.
Sobretudo demonstra-se essa simplicidade nas articulações verbais e de tempo onde as ações podem ser resumidas pela sílaba ‘ga’ como um pássaro (‘foxa’) voar seria igual a ‘foga’ ou enterrar ‘criga’ ou nadar como ‘naga’. A conjugação seria determinada por outro fonema silábico separado como ‘chi’ para o passado, ‘me’ para o presente e ‘wi’ para o futuro de modo que que uma ave voará amanhã seria traduzido como ‘foxavi foga wi’ organizado numa sentença similar a língua portuguesa.
A divisão da linguagem em fonemas substancialmente baseado em elementos naturais demonstra-se como uma fonte organizadora que simplifique a própria linguagem ao separar todas ações, seres e características em tais categorias ganhando a necessidade gradual da criação de outros termos derivados a medida que se torne necessário para melhor especificar a língua assim como a características próprias de palavras como comida (‘cob’), animal (‘sib’), arma (‘xu’), roupa (‘qo’), veículo (‘vo’) assim como para termos abstratos como sentimentos tipo amor (‘sufo’) por acreditarem que o amor é algo dos céus.
Mas outro aspecto essencial demonstra-se na colocação de plural ou singular que ao invés de ganhar algumas variações no final da palavra como no português ganha uma sílaba que lhe antecede, a ‘be’ para singular ou ‘bu’ para plural. Tais designações são importantes no contexto dessa linguagem pois como em qualquer povo minimamente evoluído há distinções entre atividades coletivas e individuais, assim como de um indivíduo em si a um povo ainda que o uso do singular não se faça necessário na designação de criaturas quando apenas uma, ao contrário do coletivo delas de modo que uma ave voar amanhã seria diferente de várias delas voarem amanhã em ‘bu foxavi foga wi’.
Tais conjugações linguísticas da língua o qual intitulamos como ‘crigali’ por ser de um povo subterrâneo não apresenta grandes variações de tempos ou de pessoas do plural e singular e por ser inicialmente oral ela é por isso fonética em essência.

Trecho do livro 'Confissões de Uma Mente Autista' de Gerson Avillez, 2019.

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