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terça-feira, 3 de maio de 2022

O Escravo, o Assalariado e o Encarceirado


"Já agonizava o século quando os latifundiários  cafezistas, convertidos na nova elite social do Brasil, apontaram os lápis e fizeram as contas: os salários de subsistência eram mais baratos do que a compra e manutenção dos escassos escravos. Aboliu-se a escravidão em 1888, e assim se inauguraram as formas combinadas de trabalho assalariado que persistem nos dias atuais."
(GALEANO, p.142, 2010)

O encarcerado custa mais aos cofres públicos ado que o assalariado ao patrão, todavia a sociedade coerciva produz mais os rejeitos para o primeiro, do que o segundo por uma razão: o escravo era mais caro ao patrão e o criminoso pobre normalmente é o que não aguentava mais ser o assalariado e injustiçado no charco ignorante de seu gueto.

O assalariado é incapaz de morar sozinho, senão no gueto. É um escravo do capitalismo, está sob a coleira do salário mínimo e o chicote das contas de fim de mês, o dinheiro limita a vida aos prazeres baratos e rasteiros. Não pode ir a shows, cinema, viagens a turismo ou ter um bom carro, a única maneira de ascensão fora dos estudos é o crime organizado.

Um presidiário custa hoje cerca de R$ 1,8 mil por mês ao Estado conforme o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) noticiado na CNN em 1 dezembro de 2021, enquanto o assalariado ganha R$ 1.212,00 em 2022.

Os trabalhadores assalariados se tornam involuntariamente uma propaganda irônica e cínica da escravidão. Um humor reacionário e distópico ao sabor do sadismo. Isso se torna explícito nos canaviais das paixões ás dores donde escravos por dívida trabalham para sempre dever... para trabalhar. Nesse faz de contas os mendigos são os marajás da preguiça, pois a esmola muitas vezes rende mais.

Disso fica clara a compreensão meritocrata dos problemas sociais ao não apenas negar condições sociais coletivas, mas negligenciar em negacionismo a história passada, como se todos malfadados fossem atribuídos única e exclusivamente aos atos de suas próprias vítimas. Apenas os maus podem culpar alheios pelos próprios atos danosos e dolosos por torpeza, ódio e excesso. Ao contrário disto a história compreende a humanidade hoje além agora, mas as razões que levaram a cultura e sociedade ser o que se tornou.

Ao invés de ganharmos melhores salários ao incentivo da honestidade tanto quanto o talento e vocação, o Estado paga mais por presos do que por trabalhadores, tudo com o dinheiro do trabalhador e contribuinte!

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