Sempre soube que era filho adotivo ainda que acolhido sob um amor genuinamente maternal. Tive sorte em estar num bom lar estruturado como daquela viúva do qual por sua herança tive bons estudos, recursos e pude desenvolver meu potencial. Porém, nunca consegui descobri que eram meus pais, a não ser que fui batizado pela minha mãe biológica com o nome de Joel. Porem, meu desconhecimento duraria até o dia em que sofri um acidente de carro ao capotar com o carro de minha mãe adotiva ao desviar de um cervo, tarde da noite.
Fiquei uma semana em coma, e confesso que apesar dos médicos e entes queridos afirmarem eu responder aos estímulos de nada me recordei do período. Todavia, me recordei de coisas que não haviam quaisquer sinais de serem da minha vida levando alguns dizerem se tratar de reencarnação. Todavia, sendo mestrado era um pesquisador nato, e por isso cético, me levando a buscar paralelos com os sonhos e visões com a realidade, o que me levou a descobrir que alguns dos lugares outrora existiram, de fato. Nas memórias era contemplado com as lembranças e sensações de uma cientista que buscou recursos privados de financiamento, sem saber que o suposto filantropo a quem recorreu era uma espécie de gângster extraviado do próprio judaísmo, como italiano. O astucioso sujeito muito bem apresentado aparentava uma polidez na superfície destoante ao âmago.
Não sabia o nome da mulher senão uma pesquisa sobre genética realizada no que aparentava ser a década de 1960. Ela acreditava na possibilidade capaz de editar gametas de espermatozoides e óvulos, afim de gerar filhos isentos de doenças hereditárias ou genéticas. Todavia, seu estudo demorou a lograr êxito e por não dar retorno exponencial ao sujeito e atender seus interesses pessoais, este começou a persegui-la cobrando se possível o rim. Aquele homem era um tenebroso psicopata que sendo incapaz de ser fértil trabalhava em experimentos afim de gerar filhos. Todos nascidos como aberrações físicas ou nascituros, eram mantidos em celas como animais nos porões de seu laboratório, não passando por fim de experiências genéticas e eugenias funestas. Alguns destes, que eram tomados duma sedenta busca por carne e sangue humanos, pareciam possuir uma consciência que fisiologicamente dependia do sofrimento e injustiça alheia para ter satisfação. Mal sabia ela quem era aquele monstro, quando tive numa noite um vislumbre do que ela leu sobre este, num lugar que hoje está em cinzas.
Era uma vez um mercenário que parecia ter vivido sob muitas identidades em várias culturas, que passou a fazer fortuna com extorsão e agiotagem, e se passou por judeu mesmo que sendo posteriormente expulso do judaísmo. Logo, edificou seu império sobre um esquema de pirâmide do qual exaltava suas facilidades e privilégios através da usura e usurpar de alheios, pelo engano, dano e dolo em seu templo de Mamon que de tão comercial e interesseiro fazia lá seus negócios em várias bancadas, levando seus clientes chamarem de loja. As promoções que esmagavam concorrentes eram graças a um ardiloso cartel de favorecimentos e monopólios dos fornecedores e indústrias, minguando à falência pequenos comerciantes e empresários, quando não eram diretamente sabotados. Tal mausoléu da fortuna também se ergueu sobre as ruínas de clientes arruinados, hora sob falsas promessas, noutro sob coações que os silenciassem e levassem o triplo do que pegaram, e mesmo a serem explorados sexualmente. A obsessão disso era tão grande que sabendo ser destituído de qualquer razão perante a lei e fatos atuava na surdina das sombras e para ter garantida a guarnição da impunidade se respaldava apenas em sua rede de associados da corrupção, de sicários, torturadores a cobradores.
Oferecia favores filantrópicos apenas a instituições e repartições públicas chaves a fim de ter os políticos e autoridades no bolso de modo a obedece-los. Quando não, sob chantagens de expor seus delitos. Ela descobriu ele ser tão cruel que planejava fundar um museu dedicado aos métodos de tortura e morte e de todos seus regimes políticos ao longo dos tempos. Para ele a hipocrisia e a tortura eram uma arte mantida as rédeas curtas.
Fora quando descobri que o próprio vendo beleza nela a molestou tornando-a cobaia de seu próprio projeto. O ato do coito dele eram rituais tenebrosos de tortura para que fosse capaz de ter ereções, esfacelando gradualmente a mente dela por aquele crápula em atos indescritíveis que me faziam despertar aos vômitos da cama. Somente então percebi que chegou a ter inseminação artificial duas vezes sem sucesso, e na terceira gerando um bebê grotesco de um só olho como um ciclope. Com esforço ela reuniu forças para escapar, mas vendo que a paternidade daquele monstro não geraria nada capaz de andar sob a luz do dia (no convívio em sociedade) ele a entregou na mão de um de seus cobradores, um jovem ex-militar chamado Vini Vicius que a molestou para mata-la, sendo salva pelo gongo quando dois policiais ouviram seu pedido de socorro. Apesar do homem ter escapado, ela ficou grávida e na rua da amargura caminhou comendo o pão que o diabo amassou. Apenas quando antes de pariu eu descobri quem era pelo nome que o batizara, Joel Grayson.
Fiquei estarrecido! E logo ao descobrir o nome dela pesquisei a perceber que havia sido internada após ter enlouquecido pelas torturas que sofreu, vindo a óbito 20 anos depois ao simplesmente desfalecer em amargura. Fui até o asilo após 18 anos de sua morte onde tive pistas do laboratório e soube que todas informações de meu inconsciente eram reais.
Seus experimentos com seus próprios óvulos despertou o que chamava de memória genética tornando tanto eu quanto ela capazes de lembrar parcialmente da vida de nossos ancestrais. Finalmente agora seguia os passos de minha verdadeira mãe até adentrar as ruínas de onde era o bunker secreto. Tomado por infiltrações e goteiras, a ferrugem tomou vergalhões expostos e as espessas portas de ferro. Equipamentos velhos, caídos no chão e geladeiras, ainda tinham tubos de ensaio. O lugar tinha um cheiro acre e era assustadoramente escuro, porém, do breu entrecortado pelo facho da lanterna um vulto se contorceu esgueirando num salto para trás de um armário. Ao apontar a lanterna vi uma criatura sem pelos, ao lado de esqueletos deformados. Albino ao se virar de soslaio fitei sua fronte com um só olho. Era meu meio irmão que grunhia entre o balbuciar de palavras profanas.
– Sangue? Sofrimento? Faminto estou, mas nunca me sacio! Preciso apenas de um estupro antes de me alimentar!
– Está tudo bem, sou seu irmão. Vou te salvar! - Comentei tentando estender a mão quando ele abriu a boca mostrando presas afiadas como de um cão. Num rosnado saltou pra trás pondo as mãos cobrindo o rosto ante a luz, quando ele falou.
– Como as experiências que lembro dos ancestrais judeus no nazismo. Sim, sim, monstros imortais alguns viraram! Somos a contravenção a natureza que irá dominar o futuro, a aberração que irá destronar toda ciência verdadeira e Deus!
Ao completar aquilo, ele saltou sobre mim vindo para meu pescoço buscando morde-lo para beber meu sangue. Ele era enorme, tinha uns dois metros e as duras penas consegui me desvincular o atingindo com um extintor de incêndio na cabeça. Por décadas aquela criatura tenebrosa se alimentou de seus próprios irmãos, e o ato de tão repulsivo me consternou levando-me a insistir nos golpes do extintor, até que desacordado sua cabeça se abriu fazendo os braços dele tremularem num último estrebuchar. Não poderia acreditar que algo assim pudesse ter parentesco comigo, ainda que meu pai desaparecido fosse tão tenebroso em atitudes quanto aquela coisa que encarnava todas maldições aberrativas sobre minha vida. Sacrificado fora como algo fisiologicamente ímpio demais para vagar livremente sem atingir a sanidade e integridade física dos cidadãos.
Sabia que minha origem não me definia, mas meus atos ainda que de atos grosseiros gerados as atitudes daquele “pai" não era genes ou herança como aquele ser do qual a fisiologia desafiava a biologia e Deus.
Naquele mesmo dia relatei tudo as autoridades, mas ao chegarem ao local ele parecia ter sido deliberadamente limpo afim de dissociar o nome de seu antigo proprietário, para não ser maculada sua fachada. Fui desacreditado por isso, e assim na semana seguinte fui até o cemitério após encontrar onde minha mãe havia sido sepultada. Depositei flores quando fiquei tonto e repentinamente memórias dela me sobrevieram, mas dela mesma recordando a memória de seus ancestrais. Uma grávida que escrava havia fugido de uma fazenda de tomate entregando seu filho, nosso ancestral, a uma roda de expostos onde enjeitados eram abandonados. Filha de um estupro de seu senhor de engenho, ele era um ‘Banzo'.
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