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sábado, 22 de janeiro de 2022

A Ciência da Dúvida

Kiska, a baleia mais solitária do mundo,
em exposição num tanque há dez anos.


Kiska é uma baleia orca que está presa desde 1979 num tanque de um parque aquático no Canadá. O ser que abortou vários filhotes, tem entre os sintomas de prolongada privação bater contra as paredes de concreto, ficar rodando em círculos ou as vezes boiar paralisada como se estivesse morta. O show bizarro se tornou notícia no mundo chamando a atenção a crueldade que não se limita necessariamente a tortura física, mas privações psicológicas e sociais. Do outro lado do mundo Julian Assange após anos de isolamento numa prisão de segurança máxima por expor crimes contra a humanidade pelo governo americano, se tornou exemplo do que combatia ao ser apresentado ao tribunal que aprovou sua extradição aos EUA dentro de uma cela de vidro, sendo obrigado a se abaixar para tentar se comunicar com o exterior. Segundo alegações o declínio psicológico e emocional dele era observado desde o asilo político na embaixada do Equador, ficando cada vez mais com olhares vazios além de registros de ligações frequentes para serviços de prevenção ao suicídio.

Há casos históricos e científicos que permanecem numa área cinzenta do inconclusivo, na carência de fatos a favor ou contra. Lógico que levantam suspeitas justificadas, mas não devemos louvar o mistério em si, pois como a dúvida não é um fim, mas um começo a busca pela verdade. Porém, a ruptura da informação e sociabilidade (sendo por sua parcialidade, insinuação ou ausência absoluta) gera um vácuo de dúvidas criando medos permissivos ao inverossímil e volições reprodutivas do ódio. Assim como cientificamente o silêncio absoluto pode gerar alucinações a mais sã das mentes, informações fragmentárias ou seletivas levam a desvios de pensamento por dúvidas e medos. O cérebro trabalha de modo permanente com a organização de dados por padrões mínimos de coesão racional, o qual a ausência de referenciais e valores sociais e civilizatórios fixos geram flutuações que propagam a busca por sentidos que atendam apenas a própria vontade. Mesmos sombras são abraçadas como tábua de salvação ante o menor tremular de luz. De modo que similarmente no escuro a visão pode interpretar na mente coisas inexistentes, a visão periférica é preenchida por imagens vagas pelo cérebro, a privação (ou excesso) de dados podem gerar efeitos desorientadores. O conhecimento sensorial se torna um ardil a loucura acrescida pela privação de relações sociais. Exemplos são históricos como de presos políticos incomunicáveis em solitárias são levados gradualmente a loucura. De Guantánamo onde presos são monitorados 24 horas por dia para não se matarem são fatos inegáveis dessa prática, como modo de destruição da psiquê dos que isolados de diálogo socialmente objetivo e sincero gradualmente apresentam declínio emocional e psicológico.

A prevalência da obscuridade ante a ausência de diálogo visa promover apenas dúvidas e anseios para instabilidade social e mental. O mesmo se aplica aos efeitos similares no coletivo sob a quarentena e o aumento das polarizações sociais e políticas que acrescida a crise de credibilidade e valores podem ter efeitos catalizadores trágicos.

Manter alguém num estado permanente de incerteza, anseios e dúvidas senão o constante medo tem efeitos venenosos e tóxicos a saúde mental comprovadamente, o isolamento é tão saudável quanto fumar frequentemente. O problema é que o tabaco é tão economicamente rentável quanto a promoção desses males aos dominantes.

Mas se nos extremos habitam o vício e trauma, sendo o excesso ou privação, e o limbo da desigualdade que é o abismo entre o paraíso e o inferno pode levar apenas o indivíduo a loucura de seu próprio inferno interior. Como vendar uma pessoa e rodá-la obrigando acetar o rabo da figura de um bicho, assim privações de informações sociais ocorrem para induzir ao erro para acusa-lo. O seres sociais não existem para viverem isolados como ilhas, pois sua essência é construída exatamente pelas relações exteriores com semelhantes, outros seres e os ambientes. E tanto relações doentias quanto a ausência de qualquer relação pode gerar apenas doenças alienantes que possam evoluir a loucura como o total desalinhamento das informações interiores e exteriores, abstratas e objetivas, sociais e antissociais. Somos cobaias assim de um perverso e antiético experimento de engenharia social que visa condicionar vícios e doenças como modo de programação capaz de alterar o fluxo de realidade? A dúvida presente na própria questão parece remeter em si a uma ciência que escusa usa do mistério e incomprovado como uma ciência da dúvida que objetivando apenas esses efeitos ao contrário do viés objetivo da verdadeira ciência: a conscientização, esclarecimento e resolução de problemas que isso mesmo provoca. A dúvida é a revelação do medo interior e ulterior como da loucura como antítese não apenas a ciência, como a história e mesmo a fé e esperança. Havendo tal engenharia deliberada a ideia alude a anticiência e anti-história em todos seus aspectos, biológicos, psicológicos, jurídicos e sociais. A omissão e relativismo é o caminho do negacionismo e ilusão. Por isso precisamos sempre buscar fontes dos quais os fatos são expostos e apurados com isenção ante o silenciamento e censura.


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