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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O Tecnicismo reducionista como reafirmação de classes

"Os pensamentos humanistas têm um verdadeiro horror ao vício da departamentalização dos saberes e a uma certa cultura analítica que compreende a totalidade a partir da justaposição funcional dos conhecimentos especializados sobre as diferentes esferas da vida social. Nas tradições da filosofia política clássica, renascentista e moderna, o princípio da totalidade elabora as relações de mútua compenetração com as particularidades, o singular e o universal."

Ouro Preto, Inverno de 2021. Juarez Guimarães é Professor de Ciência Política e coordenador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros, Cerbras, UFMG


A desigualdade é uma quimera inventada pelo abismo que separa a diferença em opostos. A diversidade não é adversidade quando não a tornam em desigualdade. Porém, a direita normalmente tem uma interpretação negacionista e monocromática da realidade, pois a hegemonia não enxerga outra realidade senão a de si próprio, e acha que todo mais é o fracasso de si mesmo. Curiosamente isso acrescido a meritocracia gera uma dicotomia desigual.

Disso a única diversidade que o preconceito conhece é a da coletânea de discriminações: xenofobia, por origem, raça, cor, gênero, orientação sexual, gordofobia, de idade, etnia e tanto mais. Quem não julga apenas atitudes a atitude é condenável como discriminação.

Deste modo a essa ideologia socialmente demagógica, que necessita produzir o fracasso da ideologia antagônica, prova apenas o fracasso que é como reafirmação de classe ao necessitar da ruína alheia como base para o próprio castelo. Ainda que aprendamos com os erros alheios a deliberação projetada destes expressam apenas um espelhamento do fracasso moral e ético que é. Tanto como toda diferença ressaltada como dicotomia discriminatória é o modus operandi de uma manimania como modo de poder moralista. Este se reafirma como identidade, não como julgamento dos atos próprios ou alheios e por isso preconceituoso, pois no senso de identidade está o indivíduo celular a sociedade, que ao dissociar de seus atos expressa apenas um artificial teatro social de classes.

De maneira similar os recortes reducionistas dos saberes tecnicistas por serem delimitadores se tornam debilitantes formadores de classes ao formarem consciências e mentes especializadas. Ao contrário das junções de incongruências contraditórias de recortes reducionistas das ciências, a totalidade de saberes aspirantes ao holístico visam o harmônico enclavinhar.

Ainda que saberes renascentistas e enciclopédicos sejam inviáveis hoje os tecnicistas possuem menores recortes científicos, pois o pensamento de classe deve ser nanitizado numa delimitação de realidade (profissional e social) especifica, normalmente a manutenção enquanto a alta ciência mais abrangente é a que cria, a exemplo dos engenheiros. Isso gera um sistema de dependência a proporção da obsolência tecnológica do qual uma ruptura do grau de apuro industrial e de engenharia a tecnologia morreria em décadas apenas nas mãos de tecnicistas que pela sucessão tecnológica indefinida precisa sempre se atualizar. Saberes mais abrangentes e críticos tanto como de pesquisas se tornam mais reservados e estritos a classe dominante como reafirmação de si mesma através do conhecimento. Os que ousam quebrar essas barreiras são perseguidos e duramente penalizados ao por em risco a hegemonia dessa engenharia social.

Um "favelado" o é por ter a mente de quem vive na favela, porquanto a etiqueta provém apenas as pessoas refinadas. Tais reafirmações taxativas e de rótulos como diferenças servem funções classicistas não apenas no sentido de utilidade e função ante a posição das elites, mas da comparação como senso de identidade. Pelo mesmo motivo que um policial se reafirma como autoridade ante o crime, o 'bandido' passa ser um papel social desejável tanto como o pobre, velho, ignorante, feio, louco, negro aos que lhe são opostos. As mesmas afirmações ofensivas visam essa reafirmação de identidade contrastante ao ressaltar as diferenças como desigualdade. Na indústria social e cultural os rótulos devem vir antes da essência, como marca a produção do produto objetificado socialmente, tanto como um escravo e explorado deve ter a mente que assim se comporte de modo subserviente a exploração.

De modo similar entre a educação sendo ela formal ou informal tenha a prevalência da realidade mais intensa do pobre a fomentar a imposição mais forte da educação informal na sua vida. Por isso há uma ideia do qual 'doutos' no stricto sensus sendo pessoas mais cultas fazem parte da elite que pensa ante as classes inferiores programadas pela realidade para odiar o pensamento crítico e científico. O conhecimento e educação é o grande formador da consciência de classe que reproduz em si mesma o que é.

Por esse motivo a criação e descoberta deve ser benefício exclusivo para os elitistas ao advogarem para si não apenas toda legitimidade como o poder que em si pode moldar e modular consciências as opções almejadas, o que explica o ódio das elites ante a liberdade de informação tanto quando de produtores de conteúdo independentes e na internet, pois apenas os dominantes podem ter isso como profissão, o resto é 'vagabundo' por desagradar o monopólio como fonte de passividade consumista de meros trabalhadores. Desse modo os trabalhadores devem transcender a condição de operário em sua mentalidade afim de romper as fronteiras de classes.

Ante o mundo seríamos apenas uma colônia originalmente exploratória que o Brasil ao representar em sua criação o que deveria ser majoritariamente um povo emburrecido e ignorante a fomentar mera mão de obra barata a consumir os produtos culturais dos poucos que não o seriam enquanto fornecemos matéria-prima igualmente barata. Tais produtos culturais devem reforçar a cultura niilista do torpe e fútil ao discutir trivialidades cotidianas tanto como banalizar o sexo e a criminalidade ao invés de artes que as usem como crítica a si mesma. Disso nas novelas ao funk que pretende não apenas espelhar a cultura, mas a reforça-la reproduzindo tais como moda.

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