A busca por harmonizar visa suprimir os instintos de condições extremas em suas adversidades através da supressão das necessidades não apenas físicas, mas sociais e emocionais das quais o oposto (da escassez e excesso) advém os extremos que ao romperem os limites se tornam traumatizantes ou viciantes, mas ambas alienantes em sua desigualdade hostil e dicotômica do qual o contrato social inexiste senão sua ilusão muitas vezes pela má ponderação do mesmo.
Assim como a presunção de uma ciência ética acredita num naturalismo ético o qual penso assim como na universalidade dos sentimentos e emoções como sua partida o mesmo pode construir tal postulado na busca racional de modera-las afetivamente.
O serviço ético assim tem esse valor de movimento de alteridade, não apenas por si, mas também por outrem tanto como para com si mesmo. Todavia a alteridade falha em ignorar a essencialidade da reciprocidade e do mútuo apresentando uma assimetria que pode exacerbar em desigualdade ao termos apenas deveres ante quem não assume os seus próprios ante nós, tal como responsabilidade. Ao crime você deve satisfação e explicação aos homens, o seu pecado a Deus e seu direito apenas a si mesmo. Isso pois o transcender não devem anular essências, mas reafirma-las quando leva e eleva o autoconhecimento, ou seja, a coletividade feita movimento é apenas possível pela individualidade ao contrário de uma demandada bovina. A exemplo de autarquias ou o fascismo que negam o autoconhecimento alheio, estes não veem alheios como algo que não domina, mas deve ser dominado contra seu direito, de modo que o si mesmo tenta em outrem ser extensão de si, de seu poder, não transcendendo, mas apenas sendo um individuo pestilento que não é responsável nem por si mesmo em seus atos, nem por alheios. Impõe-se a alteridade em alheios para eles mesmos não tê-la.
Logo a ética serviço assim apresenta-se como o conhecimento responsavelmente racional desse fazer, da ação, servindo unicamente a definição do 'certo' e 'errado' à conduta em relação mútua, não do mero dever ou direito.
Ainda que esse deva se submeter ao conjunto do conhecimento filosófico da razão que discerne o falso de verdadeiro donde somente assim podemos julgar a veracidade do certo, logo damos vazão a dupla dimensão do termo 'razão' ao deter de um lado o certo e verdadeiro e o errado e falso, pelo mesmo motivo o qual julgamos muitas vezes a mentira algo errado. Por isso dizemos que quando alguém está certo, este tem razão, pois implica a suposta veracidade de sua conduta ante a ética comum.
Assim sobre os outras categorias éticas dizemos que:
- A ética não é utilidade, pois não é instrumento, mas função, quando instrumento se torna moralista;
- A ética não é dever em essência, mas serviço e exercício da cidadania como na lei, pois não devemos a não ser quando erramos mediante tais características no serviço com alheios, como ação relacional da ética. Caso fosse dever todos nasceriam em dívida, não direitos, pois do dever pelo dever nasce a exploração.
Ora, assim como um instrumento é uma propriedade, pode ser possuída ou detida, enquanto o serviço como ação de todos não, sendo o grande problema quando determinadas qualidades, pensamentos ou valores se tornam propriedade materializam apenas o monopólio e superioridade hipócrita que perfaz as elites do que comumente se dizem serem donas da verdade e da razão. Porém, como no serviço consiste apenas a autoria tanto como na descoberta, feitos e criação. A ética serviço assim é caridade as necessidades alheias, e intolerância a intolerância e a corrupção e impunidade. Pois assim a ética serviço busca a igualdade e harmonia, não o oposto. A melhor forma de diminuir variáveis nas consequências das ações é na contenção do caos na busca por harmonizações simétricas como razão contrária ao caos, não na desproporcionalidade, mas justa proporção.
Ora, a ética serviço ou social provocar-me o dano para usurpa-la por ser uma consequência útil ela deixa de sê-la. O contraditório sempre será oposição a mesma por isso.
Basicamente usar a ética serviço em prol da desigualdade da impunidade e injustiça (social ou jurídica) é um absurdo desfigurado em si mesmo, seria como dar uma propriedade de remédio para a doença usa-la como salvação hipócrita. Uma ética serviço como função não é útil a si mesma, nem a indivíduos ou grupos, pois ela serve não como instrumento, mas as razões relacionais. Por isso não deve, pois não possui dívida a não ser em sua falta. Você não deve fazer cometer algo errado, mas deve caso faça, pois a dívida é posterior ao direito, não anterior. O fazer do livre-arbítrio.
A responsabilidade vem da obrigação ou da liberdade? Um ser livre não é obrigado a não atacar e matar alguém sem motivo a não ser legítima defesa, mas por ser livre ele pode fazê-lo, todavia terá de ser responsável por esse ato ante os fatos. Sendo a assim a palavra correta não detém a obrigação em respeito a livre-arbítrio humano, mas o fato da qualidade humana de optar pelo certo ou errado lhe obriga apenas a responsabilidade sobre sua escolha. A ausência de responsabilidade assumida como se atribuí aos inimputáveis de manicômios judiciais ou regimes totalitários e autoritários se propõe a desigualdade de poder na parcial ou total transferência e delegação de obrigações e responsabilidades sobre o oprimido categorizando majoritariamente o maior privilégio possível destes, a impunidade pertinente a absoluta ausência de responsabilidade por seus próprios atos.
Todavia a moral e o dogma assim sendo instrumentalizados se tornam fonte de cruel e radical etnocentrismo exacerbando mesmo contra a lei, ética e outras morais ao se impor a força contra o direito alheio. A instrumentação de qualquer ética leva a sua degradação descaracterizando-a em si mesma, como a ética serviço tornando a serviçais e servidão. Epicuro fracassa nisso quando sua instrumentação hedonista tem efeitos tão maléficos quanto na utilitarista ou dever, a exemplo do sadismo. A quebra da reciprocidade pela instrumentação é a falha comum a todas as éticas como causa da desigualdade que é a assimetria de relações pois como ante a transcendência beuvoiriana predominante apenas é possível pela imanência de suas vítimas. A dominação da elite parasítica é essencialmente anulativa e deformante.
As maiores atrocidades foram cometidas a pretexto de ser preciso, necessário, merecia ou simplesmente por poderem contra a lei e direito alheios não sendo estes ante tal critério de lógica ética ou legal. Grandes erros e crimes acabam por serem promovidos a pretextos desse alegado merecimento, esforço, necessidade, preciso, dificuldade e por meramente 'poder' como se fosse possível uma ética antiética que promove o problema a pretexto de combatê-lo.
Quando dizemos que cada um apenas ‘deveria’ se meter na vida alheia apenas caso fosse para colaborar, isso não implica o fato de colaborar no ato de alguém se meter na vida alheia para o oposto. Tal como um penalizador vive o que prega, mas não sofre o que impõe caso ele não deixe de viver conforme as regras que prega e o erro como sua ausência. A isenção da razão nunca sofre a si mesma sendo o contrário ao moralismo que faz sofrer alheios o que ela mesma deveria sofrer mediante o que prega, tal como a falha utilitária ou como na lei do crime, os que erram e sofrem, pagam, estes ao fazerem sofrem e errar apenas justificaram o que sofreram.
A instrumentação ética que a degrada a um moralismo tem efeito similar ao dogmatismo ao pensamento, de modo similar leva a falha ao utilitarismo no fato de quem promove o próprio bem-estar oposto ao bem-estar alheio (vide o hedonismo sádico) a mesma ética não deveria ser aplicada a ele, pois uma ética justa não é bom para quem faz o mal, mas sim para quem é bom, de modo ser impossível proporcionar o bem-estar a todos envolvidos mediante o erro. Como poderíamos aplicar o bem-estar a um estuprador por esse ato sendo a pena em sim para esse crime seu contrário? Nisso a ética serviço busca o justo como razão de ser, não o mero bem-estar. Isso pois o justo, nesse caso, estará sempre no bem-estar público ante tal ato que provoca inquietação e descontento como a corrupção. O utilitarismo destes cria para si apenas o que chamam de idiotas úteis.
A ética predominante no capitalismo é utilitarismo pelo qual o cálculo predominante alimenta a objetivação alienadora dos envolvidos como meros denominadores que apenas potencializem o maior lucro, benefício e bem-estar possível. Disso a instrumentação é inegável ao negar valores humanos equacionados como exatas onde tudo há um preço e ser quantificado. A destituição empática, a exemplo do mercado negreiro nos séculos XIX, são exemplos disso ao reduzir estes como meras mercadorias, produtos até se tornarem meio de produção.
Um exemplo histórico desse cálculo utilitário pode ser visto no caso do Massacre de Zong em 1781 onde 132 escravos levados para a colônia britânica na Jamaica foram lançados acorrentados ao mar por uma questão de minimizar custos e gastos com aqueles considerados doentes e moribundos .
Ainda que a exemplo do utilitarismo a ponderação dos meios e fins, prós e contras mediante seus resultados e bem público deveria razoar isto caso isenta em si mesma. Todavia o problema é que a razão na busca do prazer em si é contraditório em termos, a razão isenta a si mesma das volições, ela tem que ser centrada na verdade e no justo, o que acaba falhando quando o prazer sendo objetivo tende se tornar vício como exercício excessivo de poder, e a razão viciada é apenas senso comum.
Trechi do livro 'Vício & Trauma'
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