Dando seguimento a publicação gratuita de contos da antologia 'Verboversos' para este feriadão, publico o conto 'Diário Esquecido de Viny Vicius'. O conto que abarga uma antologia num universo de vampiros abarca um dos capangas de Nosferatu e seu fim digno de sua vida e obra como um matador e estuprador serial.
Ainda não sei o motivo pelo qual escrevo esse relato ao encontrar o que encontrei, mas cá estou ante o insólito bizarro. A casa estava abandonada há mais de uma década quando, nós da vizinhança, resolvemos pular o muro após deixar cair a bola lá dentro ao jogar queimado. Repleto de mato desbravei o terreno entregue a natureza. Tendo arbustos crescendo as raízes parede a dentro enquanto subiam ao telhado e outras plantas que grudadas na parede cobriam a pintura descolorida da casa após tantas décadas sob Sol e chuva sem os devidos cuidados. Na verdade, desde tenra idade ouvia rumores sobre o antigo dono do qual alguns alegavam que havia fugido por dever agiotas. Todavia, tomado pela curiosidade (ao fitar a bola no mato) notei a porta da casa com os vidros quebrados e a raiz de um arbusto a arrombando lentamente a medida com que crescia com os anos. O trinco estava rompido me levando abrir a porta arrancando as raízes de plantas e quebrando partes podres da porta de madeira. Ao fitar o interior notei muita sujeira, mas um fato peculiar, todos os móveis e eletrodomésticos estavam presentes tomados pela poeira e fezes de ratos por todos os cantos.
Havia também um cômodo cheio de vinis, mas ignorei. Adentrei outro cômodo e fitei o esqueleto de um gato morto que ao olhar mais longe vi um corpo estendido no chão do quarto. O esqueleto vestido estava de bruços fitando a cama cheia de bolores e fungos enquanto segurava um diário nas mãos apenas de ossos. Era o diário do senhor que morava lá, chamado na época de Vini Vicius por estar envolvido com agiotagem e trocas de favores sexuais com devedoras, isso até ele mesmo se tornar um devedor. Havia relatos de que ele inventava até mesmo dívidas de pessoas vulneráveis, e caso não pagasse em favores sexuais, ou bens, forçava suas vítimas até se matarem para ficar com os espólios como pagamento.
O homem não havia fugido, mas se encontrava jazido em sua casa que agora se tornara um mausoléu, uma tumba ao ignóbil tiozão. Confesso que ruborizado minha respiração acelerou com o ar pesado e pegando o diário o abri ao tirar dos ossos de sua mão, e o que li me deixou estupefato. O homem não apenas fazia serviços de agiotagem como era algum tipo de tarado onde narrava uma série de estupros em sequência, segundo ele muitas vezes seguido de morte!
O nome dele era Alberto Vinicius. O apelido dele era Vini por repetir suas bobagens e asneiras de trocadilhos sujos como vitrola enguiçada, como amante de vinil. O sujeito que trabalhava a mando de um tal Sr.Noswill tinha nas horas vagas o hobby e fetiche de ser um predador sexual. Selecionando suas vítimas que ao serem abordadas usava de um jogo de trocadilhos para definir o que aquele tiozão do inferno faria com elas. Há 15 anos ouvia os rumores de um estuprador serial. Chamado de 'o estuprador dos trocadilhos' pelas vítimas que lhe escapavam na surdina da noite por ouvir dele abordagens por piadinhas torpes e maliciosas, ainda que nunca o reconhecendo com clareza por estar sempre de boné e óculos escuros, mesmo a noite.
Virei as páginas quando notei um caso dentre vários em particular, este ao encontrar um casal jovem com seus vinte e poucos anos num ponto de ônibus.
Num lugar ermo, ao fim da tarde, ele abordou um casal enquanto aguardava a condução. Após estes o cumprimenta-lo ele irrompeu o constrangedor silêncio seguinte perguntando ao sentar-se no banco do ponto de ônibus.
– Olá, qual seu nome? – Perguntou ele a garota.
– Sou Julia, tenho 20 anos e o senhor? – Respondeu ela tentando ser educada.
– Vinte anos, como O Código Da Vinci? – Respondeu ele rindo e prosseguiu. – O nome é Julia? Posso te chamar de Jú? Você não quer ajudar-me não? Preciso de alguém pra limpar minha casa, vocês conhecem?
– Não. – respondeu a mocinha com um sorriso amistoso. – Moramos numa quitinete noutra cidade. Não somos bons nem pra limpara própria casa.
– Fico feliz que vocês não devem! – Falou o tiozão em deboche sem ter o retorno em risos da piada em fazer trocadilho de quitinete com quitar dívidas. Mas ele fora além. – Você não tem cozinha? Não sabe limpar?
O namorado notou certa maldade na conotação anal da pergunta sem menor intimidade, mas ante a dúvida resolveu se calar. Mas o inoportuno senhor prosseguiu.
– Olha, pago bem. Caso limpem minha casa prometo depositar todo mês na poupança dela.
Naquele momento o jovem namorado ruborizou e quase enfurecido lhe respondeu.
– Olha aqui tio, não te conhecemos e não fazemos serviço de faxina alguma, tá okay?
O senhor ajeitou o boné e então sorriu com seu bigode platinado e fez o sinal de "okay" com a mão num deboche, aludindo ao ânus. A menina visivelmente constrangida olhou para o relógio.
– Quer saber que horas são? Tem uma igreja aqui perto. Digo isso pois pelo pingente no pescoço noto que vocês são cristãos. – Ele soltou vários pigarros nervosamente e seguiu. – Vou contar uma história, sabe por qual motivo Hitler odiava os hebreus? Pois a babá dele era judia, judia dele!
O garoto então bufou irritado e levantou-se pegando nas mãos dela a puxando para sair dali. Mas o velho não se dando por satisfeito falou mais uma vez.
– O que eu fiz? Tem culpa eu?
Os dois ignoraram e continuaram caminhando ao entrar numa rua erma de terra e cascalho, cercada de ambos lados por florestas de uma fazenda. Subiram a rua quando ao olhar pra traz viu o velho vindo a seguir-lhes.
Eles apertaram o passo ficando agora visivelmente nervosos a notar um volume na lateral de sua calça. Lugar que ele ajeitava o tempo todo como se fosse uma arma. De longe então ele irrompeu ao silêncio e falou alto.
– Acho que vocês estão ficando doidos, precisam de um ré-médio. Voltem aqui pra gente conversar.
Obviamente que eles não recuaram ante aquele velho doido. Porém, o tiozão do inferno no diário dele narrava aqueles fatos como se fosse um incompreendido por falta de inteligência deles. Todavia, eles visivelmente não conheciam o lugar e estavam num beco sem saída, de frente pra portaria de uma fazenda. O velho subia lá debaixo enquanto a noite caia com o escuro tomando toda parte, mas o único poste próximo estava na via de onde saíra. No entanto, esdrúxulo e medonho no assédio eles ouviram ele assoviar até vê-los e o velho disse.
– O que vou fazer na fazenda? Vou com ela fazenda! – Completou ele soltando uma gargalhada quando tirou do bolso uma arma calibre 22.
O jovem ficou em desespero e se colocou ainda assim na frente da namorada. Pálido de medo a escondia por de trás dele quando apontando a arma pra eles disse.
– Agora quero limpar a cozinha dela pra mostrar como se faz. E se tentar me cobrar como uma cobra te indenizo depositando também na sua poupança, rapazinho! Ganhar de indenização um milhão na sua poupança. Portanto fiquem caladinhos ou vão pro saco!
O que aquele velho nojento narrou no diário a seguir não ouso traduzir, as náuseas me tomaram a vomitar sobre o esqueleto daquela besta. Virei a página e depois a seguinte, e vários relatos de estupros se sucediam, uns seguidos de morte e outros contando com o silenciamento da vítima que as vezes era obrigada até selecionar outras vítimas ou culpar alheios pelo crime que sofreram. Todavia, na última página com uma escrita que parecia inacabada, ele escrevia que estava apaixonado quando veio a óbito, como num trocadilho que como castigo ele viveu e morreu escrevendo agora seu epitáfio.
– É pai-chão, meu coração por aquela menina, Júlia, me comoveu ao saber que era a filha de uma outra vítima que há vinte anos estuprei. Meu coração dói, e a paixão me corrói como até o chão...
Ao terminar aquilo, adentrando a mente daquele maníaco depravado, percebi que seu trocadilho de paixão com pai-chão coincidentemente no rubor de um infarto o fez cair morto no chão e lá esquecido aquele porco tarado apodreceu com seu diário. Uma besta patética num fim patético que lhe apraz.
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