Virgílio Fontana era o cientista que criou o I-logic, um detector quântico de discrepâncias na causalidade e caos. Capaz de identificar pontos de ruptura da causalidade reativa ou casuísticas desproporcionais na randômica. Seu laboratório passou usar tal tecnologia para identificar potenciais pontos de desvios dimensionais ou mesmo possíveis pontos de ruptura do contínuo espaço-tempo. Disso ele deduzia que mesmo a injustiça e crueldade eram elementos comuns ao justamente identificar tais aberrações caóticas aonde hediondos e tais agravos ocorriam, até que este por fim descobriu uma zona aberrativa onde ele acreditava que uma falha abriria um espaço entre dimensões.
Ao identificar uma região do espaço-tempo aonde o caos crepitava tais aberrações randômicas, sua teoria fora finalmente posta em prática ao decretar aquela zona de exclusão, um ponto de fissura dimensional a algo que parecia emergir do inferno contra as leis físicas. Um buraco donde mesmo as pessoas que tinham contato tinha sua natureza alterada. Dentre envios de sondas e análise instrumental pelo I-logic Virgílio fora para seus aposentos descansar, onde como hobby estudava palavras incomuns (e lia nisso um livro) quando fora abordado por sua promissora assistente que adentrou seus aposentos ao pedir licença e lhe perguntou.
– Qual livro você está lendo?
– Titina Humana.
– Gostou? Tem muitos capítulos?
– Não, apenas uma palavra.
Virgílio fechou o livreto do qual discorria basicamente sobre uma só palavra, a maior palavra escrita, a que especificava o elemento do DNA no título.
O homem se levantou e ajeitou seu jaleco quando a jovem mulher interrompeu e disse.
– Tivemos uma sensação de jamais vu. Creio ser associado aos efeitos da zona de exclusão. A anomalia cinzenta no espaço-tempo avança sobre a região desolada transformando tudo numa versão cruel de uma dimensão espelho, do inferno. Antes o avanço estava a 1 metro 35 centímetros por hora e agora aumentou para 1,47.
– Essa dimensão está emergindo na nossa sobrepujando o mundo. Temos que conseguir selar a fissura antes que ela venha a reverter totalmente a causalidade.
Virgílio sabia o que dizia, os efeitos da zona de exclusão eram um equivalente a fazer um ato de bondade e caridade e em troca lhe sobreviver castigos. Mesmo ondulações nas águas criavam distorções aberrativas com fundo na mecânica quântica, aumentando a preocupação dele e dos demais cientistas.
– Tenho que ir ao banheiro, Adalberto ainda não saiu de lá faz uma hora, tem certeza que a aberração não avançou para dentro do perímetro de nosso laboratório de campanha?
Naquele momento, Lorena sorriu dizendo.
– Ela avança de modo assimétrico, porém, nos últimos minutos não. Soubemos de relatos de uma anomalia física décadas atrás. Era muito similar, mas num banheiro de hotel abandonado, mas duvido que esta tenha vindo até ao nosso banheiro.
Por via das dúvidas, Virgílio pegou seu leitor I-logic e o ligou ao abrir a porta do banheiro o adentrando ao deixa-la esperando do lado de fora.
Haviam relatos de que dessa dimensão infernal mesmo símiles sombrios fugiam substituindo suas outras versões ao chama-los para participar de seu grupo. Um destes que veio desse mundo relatou que estes parecem com os originais, mas são uma cópia doentia, corrompidas por um sistema governamental parasítico e opressor.
Todavia, Virgílio mal sabia que estava a embarcar numa expedição ao entrar o próprio banheiro atrás de seu amigo, sem saber que lá a aberração avançou.
Ao abrir a porta do espaçoso banheiro chamou por Adalberto em vão. O cientista que era um homem honesto e sincero parecia simplesmente ter desaparecido. Logo, Virgílio urinou enquanto ao fitar a si mesmo no espelho notou algo incomum em seu reflexo. Uma vez que os efeitos de fundo quântico criavam aberrações, mesmo a função de onda ele sabia que a luz (que era ondas e partículas) era afetada e por isso criava em tudo tonalidades cinzas.
Porém, Virgílio pensou ser coisa da cabeça ainda que ao terminar de lavar as mãos pegou seu I-logic a constatar o inegável, a anomalia física lá se manifestava inexorável ao transpor as fronteiras de seu mundo.
Virgílio tremeu como se estivesse atravessado as portas do inferno. Seguiu a porta do banheiro a abrindo para constatar que todo seu laboratório estava em ruínas. Abandonado como há muito tempo. Ao seguir ele viu um bilhete novo sobre a escrivaninha, era de seu amigo Adalberto onde ao abrir dizia.
– Adentrei a boca do inferno, um buraco para cruz gerada pelo triunfo da iniquidade e abominação, um hediondo lugar onde Jesus não ressuscitou das injustiças. Não me procure, minha versão aqui é funesta, um psicopata cruel de um regime pancrático que usou de você para tentar passar para esse mundo. Eu não sou mais eu, mas uma versão funesta de mim mesmo ao reverberar em mil possibilidades de aflições que ecoam nesse vazio.
Virgílio ficou perplexo, como se através do espelho cópias degradadas deles surgissem nesse mundo inferior dominado pela crueldade. Porém, seguiu para fora contemplando uma enorme megalópole cinzenta e poluída. Era o mais senil dos sistemas governamentais do mundo. Aquele era maior experimento hiper capitalista global, o regime político mais cruel e fechado do mundo. O Estado Pancrático de dever, ou como era conhecido pelos poucos Estados democráticos livres das sociedades abertas que ainda sobreviviam as permanentes guerras, era o "Estado 171".
Os donos daquele mundo privado impunham taxas para tudo, mesmo que estes apenas lucrando, ganhando, recebendo nunca pagassem, respondessem ou fossem punidos podendo pegar o que quisesse e fazer qualquer coisa contra o direito a alheio. O corpo dos cidadãos privados eram monitorados e mesmo nas atividades físicas que eram taxadas. O sexo era a atividade mais cara e mesmo coleiras pneumétricas mediam a quantidade de ar, água e comida ingeridas mensalmente para serem cobrados. No final mesmo com seus salários sempre deviam, de modo que caso não conseguissem pagar o básico para respiração e alimentação tinham apenas duas opções, ser morto ou passar ser uma propriedade do governo privado o qual todos cidadãos eram serviçais.
Todos tinham que trabalhar feito condenados, pois todos os meses mortes brutais eram realizadas como simbólico aviso a quem não pagasse. Desse modo ninguém era feliz, tudo tinha que ser comedido de modo racionado e calculado. Mesmo um sorriso por taxas de mora sobre os bons sentimentos eram cobrados!
Os talentos e vocações eram pagos de acordo com a qualidade, e mesmo medidores neurais impunham limites para o pensamento e raciocínio do qual questionamentos e reflexões muito críticas e originais eram multadas. Sobretudo, o regime pancrático era o mais corrupto de todo mundo e qualquer pessoa que expusesse seus crimes eram banidos ou simplesmente sumiam.
Os documentos onde todos créditos e dívidas destes eram colocadas num QR code feito numa tatuagem invisível na testa. Todo sistema de crédito era indissociável a identidade de modo que desde o nascimento o indivíduo nascia sob um empréstimo que deveria ser pago assim que tivesse idade para trabalhar. Os que tentavam fugir do sistema por deverem eram tratados como leprosos até serem mortos ou serem forçados ao suicídio. Vender órgãos era um modo de desconto, mas caso a dívida fosse na família o suicídio muitas vezes era o pagamento.
Obviamente que uns deviam mais do que outros, mas não apenas por gastos, senão associações meramente discriminatórias como de cor, origem, etnia dos quais tinha taxas específicas tanto quanto os caucasianos bem nascidos tinha promoções e descontos especiais.
Ao fitar aquilo, Virgílio chorou após o embargo na voz ao fitar seu próprio corpo morto no chão. Um esqueleto dentro de um macacão donde era reconhecido apenas pelo crachá. Tinha um tiro na testa, provavelmente a queima-roupa, e o gravador narrava tudo aquilo quando este descobriu que para aquela versão de Virgílio aquilo era apenas uma probabilidade infernal. Ao pegar as credenciais ele seguiu um rastro de movimentos discrepantes de seu amigo, Adalberto. Sabia que qualquer ato legítimo e espontâneo de altruísmo, mesmo a menor criatura, teria consequências funestas, principalmente caso detivesse algum dos asseclas daquele regime pancrático que regulava num feroz totalitarismo todos os aspectos da vida de seus cidadãos como reféns permanentes do medo. Por aquela tecnologia de Virgílio que os "agentes laranjas", como ele chamava, que tentavam transpassar ao mundo ordinário.
Não tinha a quem denunciar os crimes daquele mundo e caso reagisse os efeitos negativos eram em cascata. Assim ele pegou a coleira de sua versão morta e logo notou computar mesmo seu respirar ofegante afim de acrescer na sua conta. Virgílio não havia morrido oficialmente, de modo que nada daquela versão fora finalizado, eles eram a conta o qual apenas com a morte deles eram fechadas.
– Dr.Virgílio, favor de não respirar muito pois sua conta está em dívida o bastante pelas próximas duas reencarnações. – Soou a voz vindo da coleira que lia e mente dele.
Sim, a religião pancrática era de reencarnações (ainda que fingisse o oposto) do qual por acreditar que Jesus não ressuscitou ele sempre tinha que voltar pra morrer milhares de vezes novamente e todos eram obrigados a aceitar, ainda que sem provas de sua veracidade.
Assim, ele tentou esvaziar o pensamento afim de não computar críticas e raciocínios onerosos pra ele no sistema pancrático. Porém, nem todo treinamento bastava ao que estava por vir. Ele seria caçado e teria que sofrer muito antes de darem cabo de sua vida como desconto para a próxima.
Por sua sorte ele soube da sucursal que expedia membros privilegiados daquele mundo, contemplados por missões de excursão ao mundo deles se passando por suas versões. Todavia ele era tal versão restando a este tentar burlar o sistema de segurança para atravessar, o que não conseguiu ao se identificado como devedor e morto.
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