Disponibilizo o conto de ficção científica de minha autoria,'Lockdawn'. Pertencente a antologia 'Devorador de Memórias', o conto narra uma distopia o qual após um enorme objeta cobrir o Sol por longos meses leva a Terra a um perpétuo inverno de noite eterna até cessar a vida. Todavia o que sugeria ser algo extraterrestre poderia ser apenas um plano cruel das elites para se livrar da humanidade. Tapar o Sol da verdade apenas levará o mundo ao fim, todavia o que lhe sobrepõe ainda que sua sombra pareça grande ele não é nem uma fração do Sol que oculta.
O Sol protagonizava um belo dia de céu azul e visibilidade aos limites do horizonte sem sabermos que aquele seria o derradeiro dia do qual a luz do Sol se despediria de nossas vidas. Por volta das 5 horas da tarde alguns cidadãos fitavam os céus ante um objeto que parecia se desvelar como uma grande mancha negra crescente sobre o Sol a eclipsa-lo no que seria a mais longa das noites da humanidade. O entardecer forçoso se precipitou numa escuridão da sombra do objeto que encobriu o Sol, o ocultando, levando todos a irem as ruas a observar o fenómeno incomum. Todos canais noticiavam o objeto e rumores de alienígenas elevavam ao frenesi e pânico a população. O dia cessou e nunca mais voltou. As seis da manhã as trevas ainda encobriam o Sol restando apenas resquícios de sua luz refletida na Lua.
A Terra parou e todos foram arrebanhados pelo medo e arrebatados pela expectação dos anseios, enquanto mesmo agências de astronomia agora em polvorosa adaptavam em caráter de urgência uma sonda para lá ser enviada. Um lugar logo depois da orbita lunar donde todos telescópios do mundo apontavam a constatar se tratar de uma perversa engenharia artificial de uma maligna inteligência o qual o ardil nos jogou as sombras e penumbras eternas.
O lançamento fora feito, mas fracassou com os ventos roubados pelas trevas que tornavam severo o clima, e assim se passaram os dias como uma só noite infinita. Mais uma manhã indistinta da noite na ausência da estrela regente que é o Sol sucedia um após outro.
As trevas iniciais pareciam uma noite prolongada aos pássaros diurnos do qual após um dia inteiro de noite passaram a agir de modo estranho, como perdidos naquela noite sem fim. Uns voavam a caça de alimentos, mas sem serem aptos a vida noturna visivelmente pareciam falhar de modo gradualmente miserável. Em questão de uma semana vários começaram aparecer mortos a medida com que as plantas murchavam na ausência da luz solar pela fotossíntese. Disso poderíamos perceber o que sucederia com o ruir da cadeia alimentar até o fim gradual de todo ecossistema e assim a vida. Os animais noturnos e carnívoros com o passar das semanas foram os que mais duraram e por fim os marítimos até que com a ausência de luz em questão de uma semana lugares tropicais como Rio de Janeiro começassem a nevar.
A queda das temperaturas eram vertiginosas e acelerou exponencialmente a deterioração de todo clima e natureza terrestre levando em questão de três semanas os mares começarem a congelar. Logo a queda de energia era praticamente global e sucedia a escassez de alimentos orgânicos com a morte de toda vegetação da agricultura e os demais animais da pecuária definhavam a míngua em currais pelo mundo. Sabíamos que dentre todos seres o ser humano em sua engenhosidade seria a última espécie a sucumbir ao hecatombe custoso ainda que dando sinais de uma mortandade genocida e caos generalizado nas cidades. Os sobreviventes ou eram de cidades de usinas termonucleares ou de pequenas comunidades e grupos que viviam de geradores datados pela crescente escassez de combustíveis. Os pobres morriam as centenas de milhares e os mais ricos gastaram logo todos recursos comprando mantimentos duráveis em abrigos com autonomia duradoura. Em questão de meses a Terra era uma bola gélida de abiose onde em regiões tectônicas pequenos extremófilos ainda ousavam sobreviver. Poucos ousavam caminhar na superfície terrestre tomada por uma perpétua nevasca de gélido frio da escuridão, eu dentre eles a caça dos poucos recursos que restavam.
Muitos não resistiam a severidade do frio necessitando trajes o qual a precariedade pouco resistia as temperaturas de 50 graus negativos. Não mais havia esperança senão numa morte serena ao lado de meu amor nos subterrâneos, ao lado dos últimos ratos. Eventualmente algum desesperado faminto surtava, e uns matavam os outros em busca de mantimentos finais até culminar em canibalismo. Fora num desses dias que nosso abrigo fora invadido por um grupo famélico de desesperados nos forçando a fugir.
Roubamos os dois últimos trajes, e eu com minha amada fomos a superfície sem mais esperança. Pelas horas era 10:25 da manhã, mas parecia a hora mais escura de toda humanidade onde apenas o vento temível anunciava a derradeira notícia da morte sobre nós.
— Dizem que esses malditos alienígenas anseiam nos destruir assim para tomar nosso planeta! — Praguejou ela em meio ao vento.
Minha amada Jessica caiu ao chão ante o frio e a abracei me abaixando e comentei com ela a abraçando.
— Não temas ao frio pois temos o calor de nossos corações!
— Nada mais nós resta meu amor, a não ser se abraçar.
Fechamos os olhos naquele momento e mesmo temendo minhas lágrimas congelar quando pelas frestas dos olhos fitei uma luz amarela emergir dos céus.
Estupefato fitamos os céus notando o azul a ele retornar com o retroceder da mancha negra a nos trazer um novo raiar. O vento ainda forte cessava lentamente quando então entre carros vimos um grupo de homens nos levando a se esconder. Pelas brechas de lojas destruídas fitamos conversas daqueles abastados homens detentores de todos recursos de sobrevivência.
— Esse reset sim deu certo! O investimento de milhões no Projeto Lockdawn valeram, limpamos o mundo da superpopulação rápido e fácil sem destruir toda infra estrutura. Vamos dar início ao projeto New Dawn, o então mundo finalmente será apenas nosso. Façamos assim o mundo a nossa imagem e semelhança sem a praga das populações que infestavam.
— Sim, aqueles pobres inúteis foram os primeiros a morrer, serviam apenas para isso, serem humilhados e destruídos. Por isso exterminem os últimos sobreviventes que não tem permissão de viver, somos os novos donos do mundo e para viver nesse mundo terão de ter permissão. Vamos reescrever toda a história apagando que odiamos e tomando seus grandes feitos como os nossos. A verdade será finalmente nossa vontade!
— Vocês acreditam que a recuperação da biosfera e natureza será conforme o previsto? — Perguntou um dos homens rindo.
— Todas sementes e amostragens de espécies estão prontas para repovoar o mundo apenas para ser nosso safari, como alguns que assim devem nascer.
Ao terminar aquelas palavras todos riram enquanto fitavam corpos congelados nas ruas, bilhões haviam morrido em questão de meses.
Ao ouvirmos aquilo percebemos a verdade avassaladora, uma elite bilionária e cruel investiu em todo um projetos espacial apenas para matar a todos nós e tomar tudo que era nosso.
Porém, não enquanto vivermos. Vendo isto peguei duas granadas e tirando os pinos lancei sobre aqueles quatro homens. Quando fitaram os objetos lançados era tardio e eles explodiram em pedaços ao lados dos corpos congelados. Fomos avisar a todos sobreviventes pois a luta pela nova Terra apenas iria começar.
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