Páginas Sobre

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Nas Sombras da História




Mesmo que com sua experiente guarnição de pacificadores de nativos apoiados por guias das tribos pacificadas, o pessoal do renomado General Rondon concordou em parar ao sentir o frio na espinha ao entrar naquela região inexplorada. Os tupi-guarani falavam de lendas de outras tribos, como a chamada Caraybaqüera. Estes os quais atuavam apenas noite, caçavam farejando o medo e o sofrimento alheio, exalados pelo sangue das vítimas dos quais se alimentavam. 

O filho do cacique tupi pôs pé firme se recusando ir adiante onde nem mesmo o farfalhar das árvores ousavam interromper a monotonia fóbica do discurso do silêncio como severidade de censura a um mal inominável. Ainda que com o fim da tarde nem os grilos se ouviam, restando aos homens de um exausto Rondon se preparar para o pernoite.

Logo, ante a fogueira sussurros do jovem tupi ousava narrar os incriticáveis dos quais uma tribo de Apinayé teriam enfrentado os chamando de Kupen-dyêb, seres vampirescos dos quais os relatos variavam de morcegos humanos a seres bebedores do néctar da vida, sugando-os à morte e ao esquecimento. Rondon acreditava ser mais uma lenda das poucas tribos canibais que já tivera a infelicidade de tomar ciência, mas após adormecer o que descobriria ao raiar do Sol seria consternador.

Os seus subordinados haviam notado que a equipe responsável pela instalação dos postes de telégrafo deixada enquanto estes desbravavam, não haviam chego até eles. Sem ter como mandar mensagem, Rondon então me enviou como seu auxiliar que aguerrido não esperava o que encontraria ao retornar a trilha. A equipe dos intrépidos operários haviam sido mortos e dilacerados em hedionda crueldade. Com marcas de mordida nos pescoços muitos estavam se coração, e mesmo agora a equipe de desbravadores deram conta de que na surdina da noite vários de seus homens e o próprio filho do cacique sumiram. Estes vieram a serem encontrados mata a dentro jazidos também sem seus corações. Havia apenas um sobrevivente nativo que pálido parecia ter seu sangue drenado.

Apenas algo sem amor empático ou piedade humana precisaria estripar corações na ausência de um!

Assim o moribundo ao ser carregado narrou as desventuras de alguém que veio para suas terras escondidos nas caravelas do descobrimento. Algo insidioso que nas brumas do incógnito sortia seus próprios planos antagônicos aos supostos colonizadores. Algo que encontrou parentesco contraditoriamente ancestral em cavernas que conduziam as vísceras da terra.

Rondon ainda que do alto de sua experiência sentiu suas bases tremerem ante atrozes possibilidades igualmente sobrevierem sobre eles. Assim redigiu uma mensagem e ordenou que retornassem ao último ponto funcional de telégrafo para envia-la a pedido de reforços. 

Mas do silêncio ensurdecerdor repentinamente barulhos de metais e madeira se ouviram dentre as moitas que agora farfalhavam mesmo ante a ausência de vento, levando os homens dele em polvorosa. Rondon buscou manter-se firme sabendo sua posição sobre o moral de seus homens, mas sua vontade era de bater em retirada. Pediu sorrateiro com as mãos para que empunhassem suas armas quando viu um homem ser puxado pelos pés para dentro da moita.

Um dos índios pintou o rosto e pegou seu arco e flecha ao murmurar tremendo.

– Kupen-dyêb! Kupen-dyêb!

Proferiu então mais termos intraduzíveis em tupi-guarani ante Rondon até o nativo quase sem vida lhes explicou.

– Ele disse para ficar sob a luz do Sol, eles atacam apenas escondidos da luz. São como vampiros!

Ao terminar de dizer, Rondon notou serem suas derradeiras palavras do nativo em epitáfio.

O pavor os tomaram ao ouvirem então os gritos dos homens capturados interromperam o súbito silêncio ao serem ouvidos ao longe, clamavam entre a agonizante dor do socorro e clemência até que silenciavam ante barulhos de madeira e metal como se alguma obra infernal os usassem como matéria prima. 

Logo, Rondon, mesmo que com problemas de visão no início de seu glaucoma fitou que galhos espinhosos formavam túneis por toda floresta, saindo dentre moitas a trechos de floresta mais fechada. Mesmo plantas secas pareciam se tornar efêmeras derradeiras numa abiose deprimente ante a presença tenebrosa daqueles seres.

Vendo-se cercados bateram em retirada quando o falecido nativo repentinamente puxou meu pé mostrando dentes como de um lobo num olhar odioso e feroz. Rondon cravou sua espada ao peito e puxando-me levou-me junto aos demais.

Fomos, então, para a maior clareira e armados os homens trataram de tocar fogo no trecho amaldiçoado da floresta. Amaldiçoado por tais obras de profana hediondez, vindo a ouvir gritos estridentes de alguns dos seres até que o último nativo dentre nós empunhando a flecha fitou um destes saindo em chamas da moita. Com olhos negros e dentes caninos aguçados, como presas fálicas, a flecha o embalou no peito o empalando em chamas ao cair numa fresta de luz da clareira, aos incrédulos olhos mortais.

O ser mesmo ferido de morte, se remexia rosnando fúria ao quebrar a flecha e rogar maldições numa língua ainda mais tenebrosa e desconhecida ao nativo tupi guarani. De todos danos apenas a luz do Sol - ante a vista de todos - lhe queimava fazendo sua pele se desfazer em pó, como uma máscara, uma roupa humana que encobria uma vida aberrativa a natureza. Desprovido de qualquer cabelo e pêlos, a besta fitou com ódio mortal a Rondon o surpreendendo ao dizer em português.

– Caso queira ir embora daqui em nome de seu Cristo, não será para viver pra contar a história. O que pertence ao esclarecimento das sombras deve permanecer nelas! Quando a noite vier vocês estarão acabados!
– O que vocês querem? O que são? – Vociferou Rondon, mas ele respondeu.

– Saiam! Pois a noite é nosso império, e o cetro de nosso imperador é o medo e sua coroa o sofrimento e dor! Apenas as lendas ecoarão o que a história nunca contará até que pela noite eterna tudo iremos tomar! 

Naquele momentos muitos outros uivos como de lobos se ouviram, aquele havia sido enviado como apenas recado de aperitivo. O monstro iníquo cessou seus espasmos entre vida, isto é, caso pudesse assim ser chamado. Era um elo entre a terra e o inferno, os homens e os demônios.

Logo, Rondon deu-se por vencido e levantou acampamento as pressas deixando mesmo mantimentos na mudança de rota. Ouvia sussurros na mata a todo instante ameaçando-os a cada sombra, como se entre moitas nos seguissem de perto como uma alcateia após mandar seu vampiro mais fraco dar o recado. Fosse o que fossem não eram canibais, e a passos largos os homens retornaram até encontrar a equipe anterior do telégrafo morta como relatado por mim. Novamente atearam fogo a tudo, agourentos muitos homens clamavam aos Santos e a Deus, pediam pela misericórdia do livramento a medida com que o Sol se aproximava do horizonte mortal do entardecer. O nativo tupi narrava traços deles em cavernas, do qual as lendas diziam perverter mesmo as leis físicas deixando pegadas fósseis nas paredes. Era como um pesadelo aonde a sensação facilmente dita o senso de realidade, ainda que ausente de plausibilidade ou factualidade assumida aos jornais ou livros históricos.

Quando chegamos a um pequeno povoado, Rondon exausto fora inquerido sob a ausência de alguns homens. Se limitando a dizer terem sidos atacados por nativos não pacificados e outros três mortos de tifo. Uma mentira afável aos incautos corações inocentes ante inominável mal.

Certamente Rondon pensou escrever sobre isso no diário ou telegrafar, mas ao invés disto pediu-me gentilmente para narrar tais fatos como um distante conto de horror, e cá este texto finalizei. Queira acredite, ou não, melhor essa verdade ficar como ficção. Caso você me pergunte se tal causo é verdade, negarei.

Gostou? Comente, compartilhe, siga e clique nas propagandas para auxiliar o autor! Não aceitem imitações, custam caro ao trabalho do autor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário