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quarta-feira, 28 de abril de 2021

Vício & Trauma

Hoje, dia de meu aniversário disponibilizo um trecho de meu próximo livro, um ensaio sobre o viés volitivo e psicológico da opressão, "Vício & Trauma".


A coerção alimentada pela ideia de repressão  da psicanálise freudiana de modo exterior podem ter efeitos negativos. As ditas forças psíquicas designadas por Freud apenas emergiriam pelo descontrole alimentado pelo excesso do vício ou pela carência da escassez, tanto pessoas que são rebaixadas aos instintos de sobrevivência pela destruição da pirâmide de Smarllow quanto os excessos, facilidades e impunidades. Ou seja, os problemas psíquicos nascem da desarmonia da moderação entre o excesso e a carência normalmente por motores exteriores de cadeia social.

Disso a obsessão é a manifestação comum do desequilíbrio entre o trauma e vício. Ambas apresentam ciclicismo mental ante os prazeres do vício e excesso e as dores da escassez e injustiça. Assim, a vontade que pode ser formada ou deformada, a exemplo da cleptomania ou sadismo não são predominância do Id freudiano na ausência de Superego, mas efeito de vícios por condicionamentos corruptores da consciência.

Abusos Psicológicos cada vezes mais frequentes, relações tóxicas e haters virtuais demonstram os sintomas de uma antropatia coletiva a se reproduzir, provando inegavelmente que tudo que assim sendo contra a empatia, amor, respeito mútuo e que apenas desumaniza são o problema que consomem vidas por dentro a um vazio existencial cada vez maior. A dor e o sofrimento são sombras da morte, que a aflige e a promove, quem a sofre sabe a verdade dos males que são contrários a vida.

Logo, a sistematização da loucura tem sido implicitamente implementada enquanto o consensual e moderado é atacado por radicalismos, extremos e fanatismos de todos os lados em meandros pendulares que literalmente descaracterizam a humanidade no que Paulo Freire denomina como relações necrófilas. 

Na antiguidade oráculos e sacerdotes de religiões pagãs associavam a loucura com a manifestação de deuses, um estado de consciência que hoje cristãos denominam muitas vezes de possessão. Porém, da dicotomia dentre tipos de psicopatologias antagônicas um padrão notório perfaz as parafilias, sadismo, voyerismo e transtornos de personalidade antissociais como predominantes no que a cristandade denominam como pecados. 

Notamos como da inveja advém a ganância que pelo excesso desses justifica sua avareza com alheios, pois fazendo-nos ter pouco eles terão muito. Disso a vaidade ante o contrastante sobre alheios, que exacerba em ira ante a não consumação. Todos instintos vis se aglutinam ante todas as doutrinas e filosofias que as repelem. Ainda que tais como pecados não sendo crimes, muitos crimes vem disso, pois a falsa felicidade comparativa do invejoso se faz sobre a diferença rebaixante sobre alheios, convém a estes vivermos resignados, injustiçados e de direitos racionados, quando não na miséria, para que o deleite torpe e sádico desses seja pleno. Seu luxo apenas tem mais valor ante a miséria alheia, sua saúde brilha ante a doença e moléstia de terceiros. Das guerras que trazem luxo a belicistas, as doenças que enriquecem farmacêuticos, a morte do moribundo é a felicidade do coveiro e funerário. Disso o desequilíbrio volitivo dos baixos prazeres de maus instintos alimentados por sua  possibilidade de lucro injusto que sempre serão ímpia fonte de desigualdade dando razão as máximas cristãs e de Aristóteles. Apenas o amor considero um prazer superior ao intelectual, pois representa o ápice pelo qual a vida converge como devir da existência.

Tanto quanto a felicidade social e simbiótica a infelicidade nunca está só, pois ela se perfaz das relações sociais que se encontram ainda que culmine em solidão. É o vício que na destituição de virtudes extrapolam insaciáveis desejos o qual o ápice é apenas a própria gloria tendo sob  os pés as cinzas de vidas alheias. O vício é o exercício maior do capital!

Disso basicamente o trauma é emergente ante o grau de intensidade de passividade imposta sobre o indivíduo e sua liberdade enquanto o vício é seu exato oposto.

Quando a realidade e(ou) o coletivo se impõe de modo esmagador sobre a individualidade e assim seu livre-arbítrio, pois ninguém fica traumatizado sozinho pelo fato deste tanto quanto o vício nascerem das relações e tensões da realidade por meio de desequilíbrios provocados pela desigualdade de direitos. Disso em graus de intensidade diferente demonstram-se incapacitante, anulativo até o invalidar.

A angústia sartreana assim é na verdade o preâmbulo do conflito da liberdade desse indivíduo ante o impositivo da opressão exterior que mediante a intensidade pode culminar no trauma quando rompe a integridade física e psicológica do indivíduo. 

O inconsciente é suprimido ante o moderado suprimir das necessidades da pirâmide de Smarllow enquanto exacerba tanto no excesso do vício e escassez do trauma.  Isto pois todo trauma é o escasseamento da liberdade e assim a anulação de suas necessidades físicas e mentais.

O trauma tanto como a insanidade influi nos limites da liberdade pelos instintos mediante a condição de controle que este detém sobre si e a seu entorno de modo que o trauma tanto como o pesadelo nasce da ausência desse controle empoderado da relação do indivíduo e a realidade exterior e o coletivo. O trauma é exatamente o contrário do que propõe Sartre ao tirar o poder de decisão sobre a própria integridade física e mental, logo um torpenillismo. O trauma é o pesadelo desperto.

Sendo assim a opressão percentual é necrofilia social ante o minimalismo da liberdade uma vez que a morte é a máxima redução da liberdade pelo inexistir sartreano que tanto como o pesadelo, este acaba por ser um antiexistencialista, ao anular o ser que alienado passa apenas a ser definido pelo exterior na destituição da identidade individual como ser autônomo. 

A liberdade autoconsciente é uma porcelana mantida apenas pela moderação, pois sendo esses fatores alienantes tanto o trauma quanto vício podem exacerbar a insanidade moral.

Se para Aristóteles a virtude consistia na justa medida entre o excesso e a carência estes pregam a desigualdade do qual pela avareza que nos faz a carência alimenta seus excessos. Disso a virtude é substituída pelos vícios tanto como ante a relação com os traumas pela predominância dos prazeres baixos destes ao nos reduzir ao mesmo através do sobrevivencialismo, em ambos casos impedindo a maioridade intelectual de ambos pela morte moral conforme pontuado por Kant. Do elitismo que se faz por uma seleção excludente o acumulo como o vício no excesso de todos esses prazeres (não apenas do financeiro em si) tornando o fim da racionalidade iluminista ainda que sob o pretexto dela mesma.

Ainda que o assunto presente não se assente em aspectos teológicos e religiosos digno de menção que uma "sociopatização" da sociedade parece ser movida pelos extremos que exacerbam tais desejos criando uma cegueira de relações que literalmente desdenha dos direitos de suas vítimas em sua integridade física ou mental.


Trecho do ensaio "Vício & Trauma" de William Fontana.

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