“Ter consciência da própria ignorância é o início da sabedoria”
– Marion Zimmer Bradley
O Homem natural em seu estado cru e bruto não poderia compreender a natureza que lhe cercava de modo que diante de sua grandiosidade apenas imaginavam. Sem conceber as causas via no enorme brilho solar algum ser de extrema potência a surgir todos os dias, e assim adoraram ao sol como sendo um deus e nos eclipse eles se desvaneciam de medo. Durante tempestades sem compreenderem o poder da natureza e sua grandeza, os ventos murmurantes foram cortados por um raio e assim estes acreditaram ser um deus do trovão em sua voz gutual. Ai daquele que o desafiar!
Pelo medo do desconhecido, certamente surgiram a maioria das religiões do mundo demonstrando sua potencial semelhante em diversos pontos do mundo onde em paralelo ao pouco que conheciam comparavam, e ao que não sabiam chamavam por 'deus'. Tinham medo do finito e não compreendiam o infinito, como muitos hoje. Não fora por milagres e tão pouco pelo inominável sobrenatural, mas pelo mero natural incompreendido. E assim nasceram tais religiões. Com o passar do tempo a ignorância se tornou fé que se tornou religião.
Orbitando seus atos em torno desses deuses presentes por todos elementos de suas civilizações, a ignorância tornou-se a religião onde se ofereciam sacrifícios a estes deuses como animais, comidas e mesmo gente, como eu e você. Porém, o que havia de saciar a fome do deus do vulcão ou daquele responsável pela estiagem? Cada força natural haveria de ser um deus!
A de ser quimeras os deuses naturais do paganismo que aflora o ímpeto humano a seus atos rotulados por uma fé resistente ao conhecimento e que gera passos de equivalência a cada avanço da ciência que vêem nela até mesmo pareidolia. E assim a humanidade cresceu, e encontrou seus pares de civilizações perdidas ou paralelas as ocidentais, matando milhões e milhões por qualquer tipo de fé que justificasse a carnificina. Tal homem por suas crenças se tornou intolerante e amargo.
Quem diria que em pleno século XXI do parélio à pareidolia não motivaria multidões onde veriam deuses, "jesuses" e "senhores" num biscoito a uma mancha de óleo. Do extremismo ao fanatismo a religião se tornou ferramenta de controle e até mesmo arma, apenas olhemos ao Oriente Médio.
Fora neste mundo que assim que descobriram o bóson de Higgs que teve de ser chamado por partícula de Deus enquanto as maravilhas tecnológicas se desenrolavam como um pergaminho herege aos tempos medievais. A ciência cresceu, mas sem jamais abandonar a crendice, a cada passo uma supertição. E assim no ano de 2075 um novo projeto de ciência era desenvolvido numa sociedade conflitante entre a fé e a ciência. Como o maior maquinário de acelerador de partículas do mundo fazia parecer o Cern o buraco de uma agulha. A fascinação dos cientistas pelas partículas pra compreender o universo sucedeu a um investimento sob protestos de indianos que criam que geraria o fim do mundo. E pasmem, desta vez estavam certos! Os cientistas atônitos com descobertas das singularidades não conceberam que a ciência delas apesar de magistral era perigosa a mãos tão pequenas como a dos homens. Sim, eram as forças do universo que falávamos!
Ocupando quilômetros e quilômetros aquele acelerador de partículas fora escavado por de baixo de quatro paises da Europa por um enorme túnel que fechava-se a si mesmo fazendo um círculo, e agora estavam certo os cientistas que romperiam as leis da física comum a um universo de singularidades, sem saberem que pior que apontar-lhe deuses a tudo era acreditar que poderiam ser um deus!
Convidados para aquele momento de triunfo dos homens sobre o natural estavam lideres de estado e cientistas junto a jornalistas que a tudo noticiavam enquanto num habitual movimento de inauguração o presidente da União Européia com uma tesouro cortou uma fita métrica e sob aplausos e sorrisos iniciou a inauguração do complexo de túneis donde era o centro, um lugar enorme de máquinas e engrenagens.
Dirigindo-se a um painel coberto ao lado da placa de inauguração, sob a transmissão ao vivo a descobrir, e em seguida homens de jaleco, vieram com uma pasta para que ele assinasse um frutífero acordo científico entre nações. Com sorriso ele abaixou-se ao encostar a pasta numa mesa e pegando uma caneta ele fora assinar tal documento.
A caneta com inscrições em prata tinha desenhos medievais e era herança de família para aquele homem, passado de geração em geração. Assim ele a destampou e escrevendo no papel assinou quando as luzes do lugar se acenderam e um ruído começou a indicar o funcionamento do maquinário. As pessoas aplaudiram aquele homem entusiasticamente como se ele mesmo fosse um deus responsável por tudo aquilo e ele virando-se para trás para contemplar a máquina funcionando com suas engrenagens igualmente aplaudiu com a caneta nas mãos.
Rico, famoso e poderoso ele não concebera, porém que um erro faria com que a caneca escorregasse de sua mão e batendo na barra de ferro da pequena passarela onde estava sobre a máquina cairia ricocheteado até dentro das engrenagens.
Ele sorriu desconcertado com aquilo e as pessoas riram, afinal deuses também erram! Porém, o ruído aumentou e com ele estalos contínuos e pequenos estrondos quando repentinamente faíscas saíram do maquinário e assim tudo tremeu uma vez num só estrondo. Agora os aplausos tornaram-se gritos, e com as vibrações os seguranças do homem lhe pegaram e levaram para a porta de saída enquanto câmeras filmavam a tudo e naquele momento um zunido forte surgiu e num só clarão as imagens de televisores de todo mundo sumiram.
Tivemos um problema técnico! Falam os jornalistas até conceber que aquele havia iniciado uma reação em cascata derrubando transmissões e não somente matando a todos presentes no lugar, blecaute, satélites e uma fisão similar a nuclear devastou os paises onde estava aquele acelerador de partículas.
O mundo tornou-se um caos paradoxalmente apocalíptico mesmo para aqueles homens tão cheios de si! Abrindo um micro buraco negro o que constaram é que tal tomou enormes proporções criando um tipo de 'implosão nuclear' a literalmente sugar a luz, energia e tudo mais ao redor de todo um continente. O que restou fora uma cratera como o mar da serenidade no 'deus' lua. Por um capricho do destino os povos do mundo olhavam atônitos o que seguia ao quase hecatombe sem saberem que os governos do mundo ainda tinham uma carta na manga realizada em segredo por eles quando descobriram segredo do tempo. A viagem temporal.
Um comitê sem demora se formou para analisar o caso e tentar enviar um homem ao passado para deter o apocalipse iminente, e nele se via uma placa que dizia em latim: Felix qui rebus dissolvit sacramentum.
Começaram então eles discutirem e procurar sondar o passado para tentar descobrir o que poderiam impedir tal incidente.
- Somos homens lúcidos! E como tais, coerentes e de ímpeto desbravador devemos escolher matar o presidente da União Européia! - disse um homem de barba branca.
- Barbárie! Não o façamos, devemos retornar e avisar sobre o que pode acontecer!
Vendo isto, o comitê então decidiu fazer uma tentativa criando em segredo uma rede de comunicação com o presidente exclusivamente para avisa-lo sobre tal. Porém, ainda assim o incidente aconteceu quando ele fora no local assinar maiores prazos para a segurança do projeto.
- Ora, façamos então o seguinte - disse o autointitulado sábio de barba branca - mudamos o projeto para que à parte das engrenagens sejam feita em outro lugar.
E assim fizeram no passado mandando as informações de um novo desenho do projeto. Levou-se anos até que se realizasse, mas suas resultantes foram sentidos imediatamente por ondas de reflexão temporal. Mas o buraco permaneceu.
- O que aconteceu? - falou um homem
- Vejamos os documentos históricos - respondeu o homem de barba e assim fizeram.
Ao olharem notou que o presidente assinou o documento sem problema no lugar predito, longe das engrenagens, mas quando ele fez um passeio pelas instalações tropeçou num cabo e a fez cair de seu jaleco indo parar justamente nas engrenagens que estava em funcionamento.
- Então o matemos! Façamos com que tal caso seja em segredo, parecendo um atentando terrorista de um fundamentalista! - falou o homem de barba, contrariado, e assim fizeram.
Era o dia da inauguração. Todos presentes sorriam sob flashs quando um homem tenso, transpirando de nervoso tinha uma arma em punho e este vendo a oportunidade diante das câmeras correu e puxando a arma disparou sobre o presidente que caiu de joelhos e se estrebuchou no chão. Todos pularam sobre o assassino, um homem que havia tido o cérebro programado para agir e falar assim.
- Ninguém pode ativar esta máquina em nome de Jesus! - gritava ele tremendo e suando frio. - Não vão destrona-lo!
Os dias se passaram e tudo finalmente parecia bom. Notando que os problemas haviam sanado então resolveram reativar o projeto sob medidas de segurança maiores e assim seguiram.
- Conseguimos! - falou o velho de barba branca. - Mudamos o destino!
Naquele dia da nova inauguração mesmo diante da perplexidade de tal atentado o povo aguardava ansioso pelo inicio do projeto a ser inaugurado pelo então vice-presidente que se apossou no lugar do falecido.
- Agora, com o auge de nossa ciência mesmo com os danos provocados pela má fé vamos iniciar tal projeto.
O povo presente aplaudiu entusiasticamente com flashs e filmagens.
- E para honrar a memória daquele que aqui morreu, vamos usar a mesma caneta que a lhe pertencia! - falou o agora presidente, e assim o fez.
O homem assinou o papel sem incidentes mesmo que aquilo não estivesse previsto para o velho de barba branca que se acalmou após ver que tudo corria tranquilamente. E o presidente caminhou por entre as instalações quando a máquina começou a funcionar entregando a caneta para um jovem assistente. Todavia este homem o seguiu pelos corredores do túnel, quando este tropeçou num cabo e a caneta caiu de seu jaleco indo parar nas engrenagens e fazendo tudo explodir tal como antes. E o mundo mergulhou num caos apocalíptico.
- Agora sabemos o que realmente causa todo o mal, de alguma forma é essa caneta! - deduziu o homem de barba branca para o comitê presente. - Tiremos ela deste homem para que não mais provoque qualquer mal.
Assim fora designado para o caso um viajante do qual deveria retroceder ao século XX roubar a caneta do bisavô do presidente e retornar com o artefato. E assim o fez.
Viajou anos e anos ao passado aquele homem para despercebidamente caminhar em meados da década de 90 tirar a caneta do bisavô dele numa visita oficial a família real inglesa. A escondendo o homem antes de ser pego como um tipo de protesto contra documentos assinados por ele com aquela caneta, fez com que aparecesse na mídia coisas estranhas como:
"Homem misterioso rouba caneta de premier suíço" ou "em ato de protesto misterioso ativista toma caneta de premier antes que assine documento e desaparece".
Aquilo fora visto como um golpe da direita para impedir que documentos da União Européia fosse assinados não permitindo asilo político a algumas pessoas o que fora muito aclamado mesmo que a caneta valesse bastante.
De volta ao seu tempo, aquele homem se dirigiu ao comitê pessoalmente para relatar seu feito que a despeito das consequências obtivera súbito êxito!
Sem a caneta o presidente (vivo) pegou a caneta de um cientista e a assinou lhe devolvendo em seguida e assim caminhou tranquilamente por toda instalação sem se saber o que aconteceria caso tivesse assinado com sua caneta familiar.
E o mundo se maravilhou com o funcionamento do maquinário que revelou segredos e proezas das vísceras do universo, os aplausos ecoaram quase em perpetuo, quanto mais quando o segredo que faltava sobre o tempo fora confirmado por experimentos, e assim o homem de barba branca decidiu diante de seu comitê que era hora de revelar o mundo a proeza que haviam feito.
- Temos aqui em nossas mãos, algo que de acordo com nossos estudos poderia ter destruído nosso mundo conhecido. A despeito de seu tamanho demonstra que as possibilidades da teoria do caos expressas no experimento realizado podem ser afetadas profundamente como um ínfimo de tamanho perante o caos. - falou o velho sob aplausos. - Revelamos esta caneta, que tirada dos punhos dos ancestrais de seu parente há décadas atrás salvou a humanidade!
Aplausos entusiásticos a aquele homem que como um profeta revelou a encarnação de um deus em forma de caneta. E a noticia se espalhou mesmo que inicialmente alguns relatassem que era ridículo tal situação.
- Hoje fora revelado que numa primeira viagem temporal em segredo homens conseguiram mudar o destino salvando nós de um colapso provocado por uma caneta! - disse o comentarista rindo, era bisneto de David Letterman. - Quem pudera conceber, que um objeto imóvel poderia provocar tanto estrago heim?
Risos se ouviram naquele momento.
Todavia o comitê mostrou provas contundentes de que estava certo sobre aquilo onde mesmo o presidente sob flashs recebeu a caneta de volta pelas mãos do velho de barba branca.
- Durante tantas décadas pensamos se tratar de um crime sob forma de protesto, porém, finalmente compreendemos a verdade, esta caneta é perigosa! - falou o presidente da União européia rindo.
No mês seguinte a caneta estava na capa da revista TIME e outras publicações similares com o título "Caneta do Apocalipse". E assim o presidente passou a usar apenas para assinar documentos onde dariam salvo conduto a perseguidos por políticas de outros paises e tanto o mais, de modo que a visão negativa daquele caneta passou a se inverter.
- Essa caneta salvou minha vida! - exclamou uma árabe salva de ser morta a pedradas por ter se casado com um homem que a família dela não queria que se casasse.
- Acho que, sobretudo se tal documento não tivesse sido assinando com tal caneta estaria hoje morto. - falou outro homem que fora perseguido por ter escrito um livro sobre os árabes que não gostaram.
Nos jornais era discutido como tal caneta se tornara um trunfo nas mãos do presidente enquanto alguns religiosos passaram a discutir seu suposto poder sobrenatural.
- Acredito que ela (a caneta) seja um conduto a poderes sobrenaturais para que deste modo nossas ações sejam refletidas sobre nós mesmos. Serve assim para punir a humanidade assim como nos abençoar. Ela deve ser preservada, é um avatar metálico para Deus! - disse um judeu durante um encontro do comitê.
Assim o presidente revolveu mesmo antes de suas visitas oficiais mandar primeiro a caneta dele como quem manda uma tocha olímpica antes das Olimpíadas, e passando por multidões uma mulher que estava doente a tocou e fora curada de um câncer.
- É um milagre, essa caneta me curou! Estava sob tratamento e agora não tenho mais nada! - disse ela aos telejornais.
Assim os mulçumanos passaram a ver em tal caneta como um enviado metálico de Alá para orientar homens sobre a terra e numa visita ao Oriente Médio um atentando aconteceu, matando 37 pessoas entre elas brasileiros, judeus e suíços.
- Essa é a caneta com que Alá escreve a história! - gritou o homem antes de explodir os judeus presentes.
Aquilo gerou uma ação de consequência fazendo com que ataques fossem efetuados a faixa de gaza matando vários árabes, inclusive crianças e mulheres. Naquele momento, o Presidente assinou um documento, com a caneca sagrada impedindo árabes de participar de um evento onde ela estaria. A resposta fora imediata, um tiro lhe atingiu o matando, era outro árabe que protestava, a caneta não deve ser usada para assinar contra Alá.
Num caos, forças internacionais invadiram a palestina matando árabes aos milhares nos meses seguintes sem saberem que em segredo alguns terrositas tinham uma arma nuclear que fora explodida em Londres.
Diante daquilo, os Estados Unidos atacou a palestina riscando-a do mapa, sofrendo represarias de todos paises árabes que atacaram Israel e generalizando num guerra global.
A caneta fora roubada na confusão. Mas reapareceu diante dos olhos do mundo numa passeada diante das cinzas revelando que um homem havia escrito um livro com ela, o Livro do Destino. Tal livro fora escrito nas cavernas do mar morto e dizia-se que a caneta lhe inspirou. Nela diziam que árabes e judeus deveriam se aniquilados assim como russos que passaram lhe apoiar, e num desespero assim o fizeram, não sem notar que uma hecatombe lhes sucedia por várias fissões nucleares em torno do planeta.
Nada restou do mundo tal como com o incidente do acelerador de partículas.
- O que fizemos de errado - disse o velho de barba Branca escondido num abrigo subterrâneo.
- Talvez devemos voltar no passado e impedir que a caneta seja revelada ao público. - falou um dos homens - Ela deve ser adorada em segredo.
Porém, aquilo ao ser sondado pelas viagens temporais de nada adiantaria. Com o passar dos anos uma disputa secreta ocorreria pela caneta levando igualmente ao fim quando um homem assinasse a proibição dos judeus participarem de reuniões em Jerusalém.
- Tantas descobertas prodigiosas, e feitos extraordinários, fomos como deuses, no que erramos? - disse o homem já cansado pela idade, em seu leito de morte como últimas palavras.
A ignorância humana sempre tem um equivalente a determinado conhecimento assim como a ciência tem uma pseudociência, e ela, a caneta, como metálico de placebo se tornou seu símbolo maior mesmo que tão pequena, a canalização para a estupidez humana, como quase bode expiatório da mesma. Enquanto a humanidade não vencer a si mesma sem um guia moral e de bom senso, estará destinada a se autodestruir sozinha. Diz o clichê, se embriagueis com mais do mesmo, um vinho para o novo, pois ao tentarem mudar o passado apenas selaram o próprio destino.
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