Ainda que o fato de que em grande parte a personalidade de uma pessoa se formar mediante a construção cultural e social a qual ela está inserida fica tangível a influência genética de instintos que determinam aspectos de predisposição de características da personalidade e não apenas a doenças herdadas.
Por esse motivo não acredito integralmente em ideias como da ‘Ideologia de Gênero’. Não acredito que a construção sexual seja meramente cultural, pois o ato sexual sempre teve vínculos biológicos por razões reprodutivas. Ora, os instintos são essencialmente ligados a genética que em suma é a demonstração biológica da vida herdada. Ainda que não exista gene da homossexualidade conhecido, sua possibilidade ao remeter a ideia de herança genética seria impossível do ponto de vista biológico pelo simples fato de que a homossexualidade é incapaz de se reproduzir. Sendo dessa forma estou mais inclinado a crer que se tiver razão biológica esta seria por uma mutação aleatória explicando seu caráter anômalo na natureza ou de busca de equilíbrio , sabe-se que na natureza a raridade representada pelo incomum demonstra-se como uma exceção por mutação a qual apenas progride mediante melhor possibilidade de se reproduzir. Sobretudo isso explica o fato de que a homossexualidade poderia surgir mesmo num lar rigorosamente cristão conservador, o que a salvo influências exteriores isso implicaria ser algo de nascença. Ainda que hajam evidentemente casos de pessoas homossexuais por formação acredito que muitas delas não escolhem simplesmente suas preferências sexuais.
Houveram casos como a dos gêmeos Bruce e Brian Reimer nascidos em 22 de agosto de 1965 em Winnipeg no Canadá, em que quando um deles teve o pênis queimado ainda bebê o operaram tornando-o mulher, o fato é que mesmo sem saber que era originalmente homem ele declinou a todo comportamento masculino típico.
Tais casos remetem a um conhecimento que adormecido abaixo do limiar da consciência se manifesta de alguma forma, seja no coletivo ou indivíduo. Sendo ele exceção ou padrão, mas sempre manifesta de forma voluntária ainda que por vezes com razões intrínsecas a desejos instintivos.
O mesmo se aplica na construção da própria cultura em si manifesta como identidade de um povo. Toda criação coletiva espontânea determina a autoria de uma cultura e identidade de um povo. Uma língua tem origem na associação inicialmente sonora que transcreva as coisas do concreto ao abstrato, ganhando gradual precisão mediante a crescente complexidade por estruturação semântica que dão razão, por sua vez aos verbos, advérbios. Parece evidente que o advento da escrita é posterior cristalização desse processo em constante mutação que favorecem o entendimento que deu razão à sociedade, mostrando o motivo pelo qual até hoje o diálogo é sinônimo de acordo ao contrário do oposto, como o medo do qual discorreremos mais tarde.
Muitas vezes um saber adormecido no inconsciente manifesta-se intuitivamente pelas artes como precursores de descobertas, como modo intrínsecas ao inconsciente e compreensões que escapam a percepção objetiva e consciência. Exemplos históricos disto são demonstrados de Van Gogh em sua pintura 'noite estrelada' ao demonstrar aspectos da mecânica quântica apenas descoberta de modo tardio após sua morte.
Muitos outros padrões similares parecem demonstrar espontâneo pioneirismo inconsciente como percepções arraigadas na subjetividade do inconsciente como algo inato ou adormecido. Talvez assim poderíamos postular que em similaridade aos instintos como normas de condutas escritas abaixo do limiar consciente existiriam outras informações e conhecimentos mais complexos em tais estados? Seria deveras absurdo afirmar a existência de uma memória genética de vívidas de lembranças ainda que traços de personalidades poderiam ser transmitidos, porém, e se houvesse em remotos tempos conhecimentos amplos tão profundamente arraigados na sociedade que foram cristalizados de modo inato como o condicionamento a imprimir similares diretrizes instintivas nos genes?
As sensações por vezes parecem sempre estarem associadas a memórias talvez por um fato implícito a instintos como mais que normativos comportamentais, mas de informação ou conhecimento atingido por um inconsciente volitivo. Tal como o medo remete a possibilidade de morte como previsão de possibilidade em similaridade ao reflexo outros instintos poderiam instigar uma contemplação não de uma possibilidade futura, mas ancestral, mas arraigada a fatores intrínsecos aos genes.
Tal hipótese ainda que altamente especulativa parece demonstrar aspectos evolucionários não somente físicos, mas mentais e mesmo psicológicos até mesmo ao modo de sentir e pensar. Afinal quantos sentimentos e emoções possuímos e tal como as cores quais os limites entre um e outro? Como disposto no volume anterior poderiam haver sentimentos e sentidos perdidos entre genes incógnitos em nosso DNA .
Outro exemplo de um conhecimento adormecido que parece emergir por padrões comuns está num estudo realizado em 2019 pela Universidade de Harvard (EUA) no que parece indicar a existência de uma “gramática musical universal”. Ao se utilizarem de 5.000 cantos de 60 sociedades diferentes os pesquisadores traçaram um paralelo com quatro tipos diferentes de músicas provenientes de 30 regiões diferentes do mundo ao disporem de um algoritmo computacional. Os estilos de música que iam ao ‘de ninar, de amor, de cura e de dançar’ resultando numa série de padrões coincidentes ao demonstrarem estruturas similares. As mais predominantes eram as músicas de curar sendo mais repetitivas que as de dançar que por sua vez eram mais agitadas que a de ninar.
W. Tecumseh Fitch, da Universidade de Viena (Áustria) explicou que “da mesma forma que todas as línguas do mundo têm um conjunto de fonemas – todas as palavras do mundo são compostas de pequenos conjuntos de sons de fala – o mesmo ocorre com as melodias. Todas as melodias podem ser construídas a partir de um pequeno conjunto de notas. Isso sugere que há uma base biológica que é constante em todos os seres humanos, mas interpretada de maneira diferente em diferentes culturas humanas”.
Outro exemplo de padrões potencialmente universais na humanidade está na beleza, ainda que variável ao longo dos tempos o senso estético como filosofia compreende padrões e harmonias que remetem a simetrias ainda que associado a elementos sociais ou culturais de sua época, mas que podem ser um reflexo do mundo físico a exemplo do Pi e tantos outros elementos uma vez que o cérebro humano busca por padrões. Sendo assim parte do cérebro humano replica o universo exterior de seu interior, do indivíduo ao coletivo.
O que se conhece é a definição, pois a existência anterior a definição independe disso, nosso conhecimento limitado e parco não abrange toda extensão do desconhecido. Mas por isso devemos procurar definições mais precisas como modo de conduzir o pensamento a verdades mais relevantes assim como o passo adiante na descoberta do que antes não era conhecido.
Assim como há aspectos da história humana que permanecem desconhecidos nas brumas do incógnito há de mencionar a possibilidade de uma história morta que possa viver adormecida sob camadas genéticas como uma herança desconhecida de nossos ancestrais pois compreende que a essência do DNA é informação. Objetiva a ciência como intento de seu empreendimento (tal como historiadores) desvelar a verdade.
Assim como a verdades exteriores inatingíveis por percepções limitadas poderá haver verdades interiores ancestrais sob as brumas de instintos, intuições e do inconsciente onde mesmo arquétipos expressam parte desse conhecimento adormecidos inerente ao inconsciente coletivo, desde tempos imemoráveis eles parece demonstrar aspectos comportamentais padronizados em dado grupo ou individuo como uma espécie de programação inconsciente dos instintos.
Diversos mitos ancestrais parecem aludir a esse conhecimento essencialmente de qualidades duais o que fomenta curiosamente preceitos morais de valores naturais em sobreposição a esses maus instintos. Um exemplo pode ser visto na ideia de Ying Yang que conota ideias moral antagônicas que sob equilíbrio é dominado pelo indivíduo ao sobrepor tais instintos primordiais. Curiosamente mesmo a bíblia alude exatamente a isso com a ideia da experimentação do fruto da ciência do bem e mal que alude a emergência tanto de bons instintos quanto os maus que fora de controle levam ao pecado. Similarmente a ruptura entre os dois levam a conflitos onde ambos possam ser encarnados separadamente como arquétipos do herói e vilão que serão abordados adiante. A falta de controle sobre o mesmo como extinção do autodomínio conota não menos ao mito da caixa de pandora que espalhou os males ao mundo. O fato é que o mesmo ser humano capaz de coisas maravilhosas, de criações, descobertas a feitos também é historicamente capaz das maiores atrocidades.
Sejam mitos ancestrais ou não isso alude a um mal antigo e adormecido dentro de nós do qual sem harmonizar sob controle exacerba a liberta-lo em atitudes insociáveis, o mesmo ocorre no coletivo sob a forma de imagens primordiais de arquétipo que deformam o Ethos. Sob as camadas do aparente o ser humano guarda em si potenciais monstros que sob condições e pressões podem emergir como as figuras dos demônios que conduzem o homem através de maus instintos como ódio, inveja, ganância, luxuria a sequestros, homicídios, roubo, estupros e outros graus de crimes e crueldades. Todos os aspectos confluem a padrões universais conforme serão abordados mais adiante.
Trecho do livro 'Os Signos Universais do Ethos' de Gerson Machado de Avillez.
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