A natureza da realidade é verdadeira ainda que apenas parcialmente conhecida. Todavia, a interpretação subjetiva dessa realidade pela percepção pode ser distorcida, incompleta ou enganosa de modo que a ilusão consiste nessa percepção construída artificialmente do mundo a volta, ou seja, a ilusão é a interpretação não o que é interpretado por compreender que todos pertencem a uma causalidade sendo parte inerente a própria realidade em determinado grau.
São seis tipos de enfoques e metodologias para interpretar a realidade: o mito, o senso comum, a ciência, a filosofia, a religião, a artes. Muitos deles se atribuem relações entre si, mas que o grau de sua sofisticação avançada se centra muito na ciência e na filosofia.
A medida que o conhecimento do mundo se torna mais abrangente ele eleva a consciência a compreensões desmistificadoras. Antigamente habilidades, genialidade e inteligências eram associadas a uma bênção divina ou como a loucura uma inspiração de entidades, hoje superamos essas superstições compreendendo serem inverdades, e por que não dons extra-sensoriais?
A fantasia ao modo das imaginações demonstra-se predominantemente como uma dissociação da realidade na busca da obtenção da concretização de desejos, sendo assim a exemplo da ganância, ódio, inveja se tornam lentes que distorcem a verdade da realidade em detrimento subordinado do prazer egoísta derivado de sua concretização. Assim estabelece um vínculo que ignora a verdade, a lógica e a razão de pensar como um mundo a parte da realidade, mas o qual apenas a afeta negativamente. Todos seres humanos apresentam uma parte imaginação e fantasiosa, mas que deve ser subordinado ao intelecto consciente ao contrário do visto comumente na loucura como descontrole do subconsciente em sobreposição a consciência.
Similarmente muitos dos mitos desencadeiam funções similares a da prevalência dos desejos sobre a razão, sejam estes símbolos do medo, do ódio ou da raiva funcionam como um caminho da obtenção dos desejos demonstrados por signos a vontade destes ao contrário de uma metáfora o qual faz analogia de verdades em acordo com a realidade, ainda que fora desta. Não por menos designados por Jung como arquétipos similarmente ao que acometeu o nazismo, ou podendo mesmo ser visto como a persona de demônios, espíritos imundos e divindades malignas.
Para Carl Jung apesar dos arquétipos serem sistemas dinâmicos autônomos, muitos evoluíram o bastante para serem tratados como sistemas separados da personalidade que são instintos aos impulsos fisiológicos perceptíveis vindo a se manifestar como fantasias e ser revelar como imagens simbólicas sem uma origem conhecida, sendo eles a persona, a anima (lê-se "ânima" em português do Brasil), o animus (lê-se "ânimus" em português do Brasil) e a sombra (Wikipedia).
Observamos que cultura é externa e coletiva podendo oprimir ao apresentar um input ao indivíduo, inato é interno apresentando um elemento de output ainda que mediante feedback na natureza, os arquétipos assim despontam como a mescla de ambos num certo sincronismo involuntário não tão diferente ao comportamento de manada. Em parte determinados mitos quando ministrados em doses corretas podem ser a base para uma moral universal, pois a moralidade verdadeira determina-se como uma forma de existencialismo por nortear devendo aspirar ao consenso de um bem comum. Um exemplo pode ser visto na jornada do herói que quando não deturpada ao conjecturar uma base dos mitos expressam símbolos universais inerente a valores. Porém, quando esses mitos se associam meramente nos instintos pode ser tornar perigosos e voláteis.
Quanto mais fortes são os instintos, mas vivos são os arquétipos míticos que despontam como se as ações humanas fossem predestinadas a repetir padrões passados. De Carl Jung a Joseph Campbell esses padrões são universais e vivos do indivíduo ao coletivo, do real ao fictício. Ainda que a história tenha se desvinculado dos mitos com o advento da modernidade signos e arquétipos ainda se fazem presentes de forma mais sutil e real de quando a fantasia se cruzava com a realidade. Assim como um retrocesso longínquo da história ela se torna mitos em escala civilizacional, o mesmo ocorre com o indivíduo em sua infância, quando suas memórias esparsas e fragmentadas fomentam a construção de mitos fantásticos do que vê no mundo, algo postulado anteriormente. A verdade é que na "infância da humanidade" o mesmo ocorria quando o conhecimento fragmentado era no geral obscuro, vago e ambíguo, baseado em anseios fomentados pelos instintos primários de sobrevivência assim como seus temores e medos que foram se dissipando com o surgimento da filosofia e ciência.
Os sinais dos Ethos assim são expressos não somente em signos de imagens, mas comportamentais como padrões ainda que personificados por seus mitos arraigados as suas bases. Quanto maior a proximidade de uma cultura com seus mitos mais primitivo se torna seu Ethos pois todo escape a objetividade, sendo ela individual ou coletiva, torna aos instintos sendo eles de massa e do subconsciente.
Jung postulou oficialmente apenas doze arquétipos associados a indivíduos mediante padrões involuntariamente miméticos e(ou) universais: o mago, fora da lei, cara comum, prestativo, inocente, criador, bobo da corte, explorador, herói, governante, amante e sábio. Ainda que ele também tenha postulado o arquétipo de Wotan como manifestação coletiva que impulsionou o nazismo, os arquétipos do Ethos demonstram-se pelo contrário, uma projeção coletiva do Ethos sobre o indivíduo ou indivíduos não sendo sempre uma manifestação voluntária do mesmo. Um exemplo claro disso está nas projeções motivadas pelas diferentes discriminações que alternam os motivos ao longo dos tempos mas apresentam sempre os mesmos padrões. Por vezes parecem remeter a um mimetismo ainda que inconsciente e noutros momentos parecem emergir sem vínculos a precedentes. Mas sendo eles deliberados não, sempre apresentam padrões em comum entre si.
A supressão de arquétipos assim demonstra graus elevados do Ethos pela escassez de problemas sociais e culturais de determinada sociedade mediante uma evolução do mesmo. Assim postulamos o que se acredita ser alguns arquétipos comuns em todos tempos:
— Arquétipo do bode expiatório, um dos mais primitivos signos de origens tribais, sendo onipresente desde religiões pagãs onde o sacrifício visava conceder favores de deuses ou aplacar sua irá até o cristianismo expresso na figura de Jesus como único sacrifício voluntário. Sacrifício mesmo de animais sempre foram comuns remetendo a antiguidade, todavia nota-se como Deus bíblico sempre poupa o homem do sacrifício (mas não do castigo) onde mesmo Jesus figura a divindade.
— Arquétipo do salvador ou heroico é um dos mais celebrados desde os mitos gregos e romanos que emergem ante calamidades ou um oposto que figura o arquétipo de inimigo espontâneo. Há mesclas de arquétipos onde muitas vezes o arquétipo heroico pode se tornar o bode expiatório voluntário a exemplo de Sansão. Arquétipo do herói ainda que o termo herói na Grécia antiga tivesse uma conotação diferente da atual.
— Arquétipo do inimigo, esse faz parte de um conjunto arquétipo polarizado o qual normalmente este exalta o arquétipo do herói. Normalmente apresenta-se voluntariosamente independente das prerrogativas, mas se opondo ao bem-estar comum como representação de um desequilíbrio ou calamidade. Podendo ser um indivíduo ou um grupo destes a exemplo de governos distópico, dos opressores, absolutistas ou totalitários.
— O arquétipo da prostituição que se demonstra como arquétipos da devassidão obstinada que ainda não assumida emerge como cultos sexuais a deuses como Baco ou Dionísio quando o eros deixa de servir a humanidade e a humanidade serve ao Eros. Ao contrário de prazeres periódicos, mas consensuais, se levanta muitas vezes criando vítimas como muitos arquétipos negativos, sejam eles através da banalização do sexo , do estupro, popularização da prostituição ou exploração sexual.
— Arquétipo da traição pode ser visto como uma variável do arquétipo do bode expiatório normalmente associado por interesses de poder como inveja e ganância. Normalmente se consolidam sob a forma de conluios sendo artificiais e voluntários por parte de seus perpetradores ao trair aquele a qual estabelece claro poder de influência sobre um povo ou grupo, seja por poder instaurado ou por liderança espontânea. Um exemplo pode ser visto novamente em Jesus que parece encarnar mais de um desses arquétipos que inclusive serve como uma hipótese alternativa do aparente sincronismo entre casos de personalidades e mitos similares a Jesus, mas anteriores ao mesmo.
— Arquétipo como 'imagens primordiais' do medo não menos pode se manifestar associados a outros arquétipos por motivos variados normalmente a pretextos de dominação desigual. A violência, agressões e submissão impostas são meios comuns do exercício desse arquétipo.
Muitas entidades, demônios e deuses parecem personificar com precisão arquétipos pois eles muitas vezes simbolizam tais características com semelhança instintiva ainda que motivada intencionalmente, um exemplo está no aspecto de arquidemônios associados a determinados pecados como inveja, ganância e afins. Os arquétipos assim parecem remeter a semelhança de possessões o qual não por menos mesmo estados de inspiração, genialidade e loucura eram atribuídos a entidades. Ainda que hoje por uma ciência mais clara melhor de delineia metodicamente as diferenças que incorporem uma legítima doença ou dom e talento do pressuposto alheio.
Uma fonte comum do surgimento de novos arquétipos se demonstra pela predominância de um poder vigente em seu tempo. Roma em seu tempo fora a sociedade predominante e por isso escreveu a história e perpetuou seu legado em geral negativo, dando lugar ao arquétipo de fasces que derivaram o fascismo e mesmo o feudalismo que emergiu com seu declínio. Outro fato presente do etnocentrismo expressa a frequente demonização e marginalização de rivais, estrangeiros e contrários onde os camponeses que não era submetidos aos senhores feudais se chamavam vilões por serem aldeões de vilas logo associados negativamente a pretexto de serem grosseiros e rudes, similarmente a ideia de barbaridade e vandalismo que surgiram das tribos germânicas barbaras e de vândalos. Ainda que a crueldade fosse predominante em tempos primitivos a reputação era determinada pelo predominante como ainda hoje muitas vezes acontece através das elites que escrevem a história através do controle midiático parcial ou indireto. Mas dessa demonização surgiram arquétipos projetados dos adversários predominantes sobre os vencidos dos quais os termos tornaram-se signos de arquétipos negativos, de modo similar que divindades subjugadas pelos semitas se tornaram posteriormente demônios. Curioso notar similarmente os conceitos de santos ou mesmo de orixás que remetem a pessoas reais que ganharam determinado status post-mortem de personalidades do inconsciente ao expressar desejos, vontades.
Porém, ainda assim seria possível se identificar traços que delineiem verdadeiros arquétipos negativos de positivos por aspectos onipresentes que aspirem e universalidade tal como o arquétipo de anjo presente em muitas culturas.
Assim uma fonte muito comum para arquétipos demonstra-se nas diferentes formas de discriminação por divergências e diferenças entre indivíduos e grupos que geram vis polaridades conflitantes onde pela desigualdade um acaba por ser sobreposto e assim projetando arquétipos de marginalidade, páreas ou "perdedores" a esses indesejados ante a predominância de uma maioria. Ao longo dos tempos esses arquétipos sempre possuem padrões comuns ainda que com alegados "motivos" variáveis, sejam eles negros, judeus, mulheres, gays, deficientes com mecanismos que aspirar a universalidade. Disso podem emergir outros arquétipos negativos voluntários ou não de inimigos a justificar mais polarizações.
Como se nota a maioria esmagadora dos arquétipos surgem de uma relação de conflitos e problemas sociais e culturais como emergência do inconsciente coletivo muitas vezes expressos através de crises ainda que cristalizadas como hábitos ou tradições arraigadas no primitivo. Um exemplo pode ser visto no arquétipo do salvador que surge apenas mediante uma clara crise ou cataclismo que em sua ausência não se faria necessário. Assim a busca por tais mitos de arquétipos caracterizados pode ser resultado de problemas ou mesmo provoca-los num retrocesso ao viés primitivo.
Por vezes alguns arquétipos podem também surgir mediante tradições e manifestações culturais a exemplo do carnaval onde literalmente as fantasias pode expressar várias faces do inconsciente coletivo e individual ao mesclar vários tipos de arquétipos. Sendo assim o uso de máscaras e fantasias não ocultam necessariamente a personalidade, mas pode revelar sua verdadeira vontade ainda que a nível subconsciente.
Trecho do livro 'Signo Universais do Ethos' de Gerson Avillez.
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