O gênero terror na literatura muito provavelmente tem
origens dantescas por aludir visíveis influências da obra de Dante Alighieri
(1265-1321), digo a 'Divina Comédia' que inclui Inferno. As figuras do mal
nelas representadas são deletérias ao execrável que aludem uma crítica ao
mesmo. Essa influência da literatura cristã assim se tornaram presentes em
'Drácula' de Bram Stoker e tantas outras obras como crítica aos resultados de
profanas obras que remetiam a um mal visceral. Somente com o surgimento de
pensamento mais racionais oriundos de movimentos filosóficos esse gênero buscou
associar-se a elementos científicos ou pseudocientíficos como 'Frankestein' de
Mary Shelley que logo se tornou precursor do gênero ficção científica. Porém,
apenas com o resultado desse pensamento racional histórias de terror passaram a
ganhar contornos estéticos do ateísmo indo as concepções que muitas vezes
transpassam a crítica ao mal a se tornar uma quase glorificação do mesmo pela
banalização niilista de sua injustiça, iniquidade e ódio que perfigura uma
espécie de antideus ainda que colocado como oposto. Porém, o cerne de exposição
do mesmo quando mantido depõe contra si mesmo a mentes lúcidas e coerentes,
objetivo meu na minha literatura. Desde Dante temos a figuração antagônica das
figuras do Inferno e Paraíso, a primeira em correspondência a todo sofrimento,
medo e dor enquanto o segundo demonstra-se pela ausência do mesmo. Esse
dualismo explicita uma natureza inerente ao que expressa exatamente seus
expoentes pelas figuras de Deus e o diabo e do qual de seu cruzamento está o
mundo como campo de batalha para ambos. Sendo assim tal gênero em sua origem
expressa uma teogonia. Logo não busco desfigurar a verdadeira natureza do papel
do gênero como responsável crítica cristã aos zelos da moralidade e valores
correspondentes.
Tais histórias originais estão carregadas de significados que
visam criticar a niilidade imoral do mal sem banalizar a maldade. A ideia dos
vampiros, por exemplo, remete a ideia de algo sem consciência, irrefletida
sobre as próprias maldades e que por isso não são capazes de se enxergar no
espelho, sobretudo por serem o oposto da luz, afinal as trevas não refletem.
Similarmente sua imortalidade parece remeter a busca alquímica pela fonte de
juventude que por isso torna necessário o derramamento de sangue pelos vampiros
para mantê-la numa associação da niilidade da maldade com o que é jovial pois o
sangue representa a vida desde os tempos de Jesus. Tal ser não suporta a cruz que alude ao cristianismo que antagoniza e muito menos ser exposto a luz como significado do obscuro e doentio que se revelado se dissipa, pois pertence a escuros segredos que a noite encobre.
Trecho do Prefácio da antologia 'Além da Realidade'.
Nenhum comentário:
Postar um comentário