A realidade nem sempre é a verdade pois há realidades culturais que se escoram em mentiras, ainda que o resultante possa ser uma verdade a respeito da realidade, mas o mesmo nem sempre pode ser dito da realidade. O exemplo mais vivo disso estão nos mitos culturais e religiosos em que derivam práticas reais do qual são provenientes, mas de raízes muitas vezes falsas. Isto acontece pois a construção da realidade parte da prática das interpretações da verdade, não da verdade em si. Ora, enquanto a verdade é objetiva a interpretação da mesma e sua percepção sempre será subjetiva. Os maias matavam aos milhares pois em sua subjetividade acreditavam que isso seria necessário para fazer o sol amanhecer, similarmente os negros eram escravizados pois eram considerados menos humanos, mas sabemos que ambos casos são mentiras o que prova que sua crença em algo não a torna verdade pois os negros nunca foram menos homens assim como o sol nasce independente do que fazemos. Isto parte de um conhecimento incompleto da verdade, não a verdade, pois seu conhecimento da verdade não é a própria verdade, assim como há diferença entre informação e conhecimento. Ou seja, é um pensamento anticientífico pensar que algo deixou de ser verdade quando na verdade a crença nele que não era verdadeira assim como não devemos moldar os fatos as teorias, mas o contrário. Se crença fosse verdade o desejo igualmente o seria, mas sentir e desejar por mais verdadeiro que seja é um processo interior ao contrário da verdade exterior a ela. Se a verdade é subjetiva logo a crença é a verdade, quando sabemos que muitas vezes não.
Um exemplo estão em árvores que caem em lugares que não vemos, crer que não caíram não mudará a verdade mas sim a realidade em que pertence. Similarmente padrões da realidade determinam posições sociais onde muitas vezes alguém sem cometer crimes é marginalizado como criminoso, seja por ser pobre ou de etnia diferença e etc, enquanto alguém de grande prestígio e posição social possa vir a ser o verdadeiro criminoso, mas apenas por não se ver seus crimes ele não é considerado de tal forma. A realidade vende ilusões a verdade não.
Assim podemos supor que há graus e tipos de verdades e não somente variáveis de subjetividades, mas verdades por convenções, por causalidade e por circunstâncias. O próprio ato de definir uma verdade é semanticamente conclusivo ainda que verdades por convenção, mas assim como algo pode ter nomes diferentes em culturas diferentes a essência disto não será diferente em ambas ao se tratar de uma verdade não meramente por convenção cultural ou religiosa, como a morte - ainda que para esta crie-se mitos metafísicos.
Assim compreendo que há verdades o qual independente de sua interpretação divergente não altera sua essência, há verdades o qual o oposto ocorre.
Trecho de 'Confissões de Uma Mente Autista' de Gerson Machado de Avillez.
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