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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
Conto 'Era Uma Vez Na Pós-História'
Abaixo disponibilizo o conto original da antologia 'Cronomancer' de autoria de Gerson Machado de Avillez. O conto segue o mesmo universo do conto 'Terras do Amanhecer Eterno', conto de 'Cronomicon'.
Ao fintar o horizonte a visão espúria de toda desolação se estendia até a curva do mundo num deserto de ruínas que outrora chamou-se cidades. O calor lancinante lhe vinha numa lufada de vento que o deixava consternado, talvez isso justificasse o motivo pelo qual os poucos remanescentes humanos se digladiavam mortalmente pelos últimos recursos naturais. A moral tornou-se inócua e o que sobrou da humanidade ombreava com os mais violentos animais. Porém, o ser humano sempre fora o mais fraco dos predadores de modo que com a capitulação da civilização e seus estandartes legais tudo parecia confluir a um inferno literal onde todos se saqueavam numa orgia de sangue. O que restou da civilização partiu em espaçonaves, restando a Don Roger seguir aqueles rumores que se espalhavam como um burburinho entre os subterrâneos que resistiam ao hecatombe, afinal o holoceno era um sonho passado.
Roger tentava manter fora da míngua o estado civilizado apurando cada caso que lhe via, buscava ser diligente e pacificador, mas os conluios eram comuns ao mais homogêneo grupo e aquele rumor não lhe era diferente. Dele se dizia nos limites do horizonte um ser humanoide bestializado pelo clima hostil, um ser intermitente entre os extremófilos e os primatas, mas dotado de habilidades mentais que ofuscavam a da mente humana.
Antes de Roger ser aquele homem de vestes estropiadas o qual no exterior mal podia-se ver seu rosto coberto por longas barbas, uma pele maltratada e largos óculos para proteção solar e das intensas lufadas de vento, era um homem da ciência interessado nas vantagens práticas do conhecimento científico que proporcionou em última instância uma evolução até aquele asteroide provar todo esse conhecimento ser efêmero. Mas Roger era teimoso e acreditava que sua ciência era parte do que fazia humana a humanidade e assim seguiu os rumores ante aquele séquito de acossados.
Caminhou pelas longas ruas recobertas de areia entre arranha céus arruinados, muitos dos quais caídos uns sobre os outros. Mantinha um cantil da água tão escasseada, suas provisões eram limitadas o forçando a improvisar as caças mais escassas ainda. Passou assim caminhando por longas horas até chegar ao limite do horizonte, uns montes que dividiam espaço com casas. Pensou em procurar, mas mesmo que o Sol não se punha naquele lugar, seu corpo pedia as sagradas horas de sono outrora noturnas.
Roger sonhava com gracejos de sua mulher e filha morta nos subterrâneos, era o que de mais belo que lhe restou, mas então algo ininteligível parecia penetrar seus sonhos com burburinhos onipresentes, um ser esquálido e desprovido de pelos, cabeça grande e boca pequena. Ele parecia murmurar palavras que ao contrário de seu parecer lhe traziam paz. Roger acordou de sobressalto com o irradiar do sol pela fresta da janela, ouviu ruídos intermitentes entre o que sobrara daquela casa de pé. Apinhou seu rifle e sob a mira meneou a cabeça fintando de onde havia vindo o ruído. Talvez fossem os saqueadores e estupradores que não poupavam nem homens, seres cujo o único resquício humano era a aparência.
Mas para sua surpresa ele viu uma garotinha em sua forma mais pueril, temendo ser uma cilada que a tinha como isca, Roger não hesitou e vociferou para ela:
- O que você quer?! Quem está com você?!
- Apenas tenho fome! Não me mate, por favor. Mataram meus pais, estou sozinha.
Roger temia se sensibilizar e ser fisgado por um embuste, ainda empunhando o rifle olhou para os lados, aproximou-se de costas da janela e olhou pela fresta, pareciam sós. De fato.
A menina que estava num estado execrável, largou a lata que havia se apossado da bagagem de Roger de modo comedido, recuou com os olhos brilhantes, ela lembrava sua filha morta.
- Pode ficar. - Disse Roger demonstrando ter cedido. - Qual seu nome?
- Caroline. Os subterrâneos estão impregnados de radiação, meu pai disse antes de morrer. - Respondeu ela ainda acossada.
- Não sei se as chances de sobrevivência na superfície são maiores e melhores. – Repercutiu Roger.
- O que está fazendo aqui? – Indagou a menina vendo ele abaixar o rifle.
- Talvez apenas perseguindo fantasmas.
- Parece legal, posso ir contigo?
Roger se sensibilizou sinceramente com a tocante inocência de Caroline, mas aquele mundo tragava a inocência e todo gracejo que pudesse ter em dois tempos. Na verdade, não sabia se era melhor ela ficar ou segui-lo. Não queria pensar na possibilidade de vê-la ser morta pelos saqueadores ou pelos wormstones, seres que devoravam, se possível, rochas. Roger não queria se afeiçoar, não queria criar laços para depois sofrer mais.
- Posso ser muito prestativa! – Disse Caroline ao vê-lo arrumando sua bagagem. Ela abriu a lata com uma faca e comeu seu conteúdo com as mãos. – Sei empunhar armas, meu pai me ensinou. O senhor dormir sozinho aqui não é bom, temos que revezar a vigilância.
- Sou um lobo solitário. – Repercutiu Roger sem olhar para ela.
- Você também sonha com ele não? – Indagou a menina fazendo Roger parar tudo e olhar para ela.
- Sonhar com o que? – Fez-se de desentendido.
- Com aquele deus, ele não mata com as mãos, mas com a mente. Ele entra dentro de nossas cabeças.
- O que você sabe sobre ele? – Indagou ocultando sua perplexidade.
- Não muito, mas o pessoal do meu grupo que caçava na superfície sempre dizia isso ao entrar nesse território. Onde a mente dele alcança. Posso lhe mostrar onde minha gente os viu pela última vez. – Completou ela com um sorriso amarelo. – Ele não é mau, apenas se defende.
- Se quer me acompanhar não gosto de tagarelas. – Resmungou Roger.
Caroline o seguiu pegando uma mochila velha que era quase de seu tamanho. A menina era franzina e parecia que ia cair com o peso, Roger relutante parou no meio da caminhada ao vê-la transpirar ofegante.
- Por Deus, o que você carrega aí? – Vociferou ele.
- Os livros do papai e algumas fotos. – Respondeu ela enxugando a testa. – Posso carregar.
A bondade latente dentro de Roger fez ele sentir-se incomodado com aquilo, imaginava em seu íntimo sua filha no lugar dela. Roger então parou novamente e pegou a mochila dela e colocou dentro de um carrinho.
- O senhor é inteligente. O que você era antes do apocalipse? Falavam que o mundo era maravilhoso.
- Cale a boca, já lhe disse, não gosto de tagarelas. – Respondeu de modo sucinto.
Caroline fez cara de aborrecida, mas obedeceu, sabia que sua sobrevivência dependia daquele homem desconhecido, um estranho. De algum modo ela sentiu bondade nele mesmo que em sua superfície rústica aparentasse um homem duro, taciturno. Mas ela sabia que aquele ser que procuravam desvelava o íntimo do homem, e suas intensões além palavras.
Passaram-se então duas horas pelas ruas da cidade arruinada sob o intenso sol interrupto quando viram uma coluna de fumaça enegrecida que se erguia uma quadra a frente. Roger pegou seus binóculos e pediu para que ela parasse de mover o carrinho, pois o ruído que irrompia o silêncio apenas ritmado pelo vento poderia chamar atenção. Ao longe visualizou corpos caídos e pertences espalhados. Sem querer ser displicente e novamente temendo uma cilada empunhou novamente seu rifle enquanto Caroline parecia fintar a cena de modo mesmerizada.
- Ele esteve aqui. Sinto isso. – Disse ela sem tirar seus olhos.
Roger não respondeu, fintou com acuidade o alto dos prédios a procura de atiradores quando ouviu um burburinho intermitente como se murmúrios viessem ao mesmo tempo de múltiplas direções. Exasperado, Roger, sentiu um frio na espinha mesmo que não visse uma alma viva a não ser eles. Mas a menina apenas riu e disse.
- Não se preocupa tio, está dentro de nossa cabeça os sons, ele sabe que não somos maus.
- Como você pode saber de algo que não conhece?
- Ele não precisa conversar pra nós conhecer, ele vê nossos sentimentos e memórias. Ele me conta histórias do futuro e do paralelo todos os dias depois que subi.
- Me explique então aqueles mortos a frente. – Disse ele com o rifle em mãos aproximando-se dos corpos.
Havia um grupo de cinco saqueadores todos dispostos ao chão, mortos. Seus olhos esbugalhados estavam vermelhos, sangue havia saído abundantes de suas narinas e boca. Havia moscas os rondando e a cabeça de um deles estava estourada. Roger examinou lentamente aquilo e percebeu não ter sido nenhum tiro ou ataque físico. Olhou ao redor e percebendo não ter risco colocou seu rifle nas costas e pegou as armas e mantimentos deles.
- Eram homens maus, comem gente, estupram e saqueiam. – Disse ela. – Dois dias atrás um destes tentou me matar, mas ele me impediu matando a mente dele. Por que eles fazem tanta maldade?
- Quando se é permeado pelas ambiguidades e ausência de delimitações e limites não se discerne nada com nada, tudo se confunde. Era pessoas confusas tentando sobreviver do modo como sabiam, como cães danados. Vamos embora desse lugar, podem haver mais por perto. – Disse ele enfaticamente e continuou. - Me diga qual o nome desse ser? Ele fez isso?
- Sim. Para se defender, estão querendo mata-lo por ser diferente. – Respondeu ela voltando para o carrinho. – Chamam ele de homo omnis. Por qual motivo o senhor quer matar ele? Ele não é mau.
- As pessoas temem o que seja diferente. – Respondeu ele guardando o rifle. – Na verdade temem ser superadas por algo que lhe possa ser melhor.
Talvez aquele fosse o caso, talvez a espécie humana estivesse se extinguindo dando lugar a uma nova espécie, assim como há milhares de anos os homo sapiens tomaram o lugar dos neandertais. Mas Roger em seu âmago perguntava-se se aquilo teria sido a engenharia genética que a criou? Talvez nos resquícios da ciência humana naquele mundo alguém houvesse de criar um ser aprimorado capaz de sobreviver as novas condições hostis do habitat. Afinal como pode ter evoluído tão rápido? Fosse o que fosse, Roger estava ante o primeiro de uma possível nova espécie o qual as capacidades mentais ultrapassavam tudo imaginado. Mas uns dizem ser algo mais antigo que teria vindo a superfície quando o mundo fora abalado em seus alicerces. Resignado a aceitar ele mesmo por estar permeado pelo medo questionava-se e não queria aceitar que houve algo melhor preparado naquele mundo do que ele.
Roger para a caminhada repentinamente para beber água quando de seu nariz saí sangue. Retesou então seu nariz o limpando, tirou sua mochila e rifle das costas e de dentro da bagagem tirou um leitor médico, algo similar a um palm top o qual a tela mostrava leituras sanguíneas, de pressão e batimentos. Roger monitorou a si mesmo, e para sua tristeza constatou que as leituras de contaminação por radiação eram altas, teria ele poucos dias de vida. Ao mudar a tela entrou uma imagem de sua mulher e filha mortas, ele fintou a imagem inebriado de tristeza.
- O que houve? – Indagou Caroline.
- Nada, pode ter sido o calor. – Resmungou ele omitindo a verdade.
Naquele momento, Roger ouviu um ruído por de trás dele. Tornando-se para trás ele perfilou a sua volta e sem ver o que acontecia ouviu uma voz.
- Coloque seu rifle no chão! – Vociferou aquilo ecoando pelo lugar deserto.
Hesitante, Roger relutou em faze-lo temendo ser parte do grupo de saqueadores, mas ele tirou o rifle das costas e lentamente ia colocando no chão quando disse.
- Não fomos nós quem matamos os homens quilômetros atrás. – Disse Roger de modo sucinto. – Na verdade eu procuro quem o fez.
- Não estava com eles, mas procuro o mesmo o qual é ecoado pelos mitos que lhe precede. Apenas senti o alarido dele em minha mente.
Um homem apareceu por de trás de um carro virado abaixando a arma. Tinha o físico esquálido e vestes estropiadas, com o rosto sujo provocava ojeriza em qualquer humano civilizado, quanto mais ao sorrir para eles desvelando seus dentes podres na boca. Um sorriso insidioso como a dos estupradores.
- Ele matou meu irmão, mas não sem antes faze-lo enlouquecer. – Disse o homem aproximando-se deles. – Percebo que temos um caminho em comum.
Caroline ao perceber aquilo imaginou que seu irmão no mínimo não deveria ser alguém bom, pois aquele ser ao entrar nas mentes costumava provocar nelas o que eles mesmos provocaram em suas vítimas, compartilhando o sofrimento, aflição e medo delas diretamente em suas mentes, nas mentes dos perpetradores da aflição.
- Não tanto quanto aparenta. – Respondeu Roger sendo pouco simpático. – Por mim basta não atrapalharmos um ao outro.
- Meu nome é James Mota. Você achou alguma pista?
- Seja o que for essa coisa não deixa rastros ou pistas em seus mortos. Aparentemente não usa qualquer arma para se defender.
- A arma dele é a mente. Seus olhos faiscantes brilham no escuro e penetra a mente mais reservada, e então passa a conhecer seus medos mais íntimos e usa-los contra você. É um demônio e devemos manda-lo de volta ao inferno.
- Ele não é mal! – Disse Caroline. – Na verdade apenas conhece que apesar da humanidade ter algo bom é capaz das maiores atrocidades. - Ele sente as dores que você já sentiu, ele contempla esse mundo de sofrimento e aflições e não aguenta mais ver tanta dor.
Caroline estava certa, a mente o qual compelia os mais belos sonhos era a mesma que perpetrava os mais funestos pesadelos. A mente humana capaz de engenhos e da criatividade era a mesma que elaborava a perseguição, destruição e morte de semelhantes por meras diferenças, ou por simples cobiça, inveja e ódio.
Ao voltarem a caminhar o homem mesmo lhe sendo negado estar junto os seguia há alguns metros a distância empunhando uma Ak-47 e um turbante de trapos. Sua barba cheia de falhas contrastava coma delicadeza de Caroline que mesmo a despeito de estar suja, seus cachos castanhos claro destoavam do ambiente hostil a sua volta, afinal ela tinha apenas 10 anos.
Eram 19:46, mas o sol eternamente intenso não oferecia trégua mesmo eles ainda estando numa zona de crepúsculo, onde o sol com o estancar da rotação terrestre fintava as cidades entremeado de um por de sol perpetuo. Mas seus corpos pediam descanso. A exaustão intensa parecia remeter a uma pressão atmosférica incomum e uma confluência de fatores climáticos extenuantes ao mais hábil atleta.
Caroline sentou-se e abriu mais uma lata, esta de feijões, comeu vorazmente faminta enquanto Roger observava o horizonte fazendo leituras com o que restara de tecnologia humana. Se aquilo fosse verdade, aquele ser mesmo destituído de tecnologia era capaz de feitos notáveis ultrapassando o que então era seu conhecimento científico.
Mota parou ao longe, mas fintava incessantemente Caroline enquanto dava seu sorriso podre. Roger percebeu, mas resolveu ignorar, na verdade por seu ímpeto de buscar fugir de conflitos sem necessidade. Assim ao se recostar sobre sua própria mochila adormeceu após beber água e comer um de seus enlatados.
Tão logo ele sonhou e contemplou o mesmo lugar que estava no perpetuo amanhecer, mas ao virar-se para trás viu Mota aproximando-se de Caroline e dando-lhe uma boneca velha. Quando Caroline aceita ele abre aquele mesmo sorriso insidioso e coloca o dedo na boca pedindo para ela calar-se. Pega ela pelo braço e sentindo que ele queria algo mais, Caroline olha para Roger absorto num sonho que deixava seus sentidos letárgicos. Mas de sobressalto ouve um alarido e ao virar-se vê o rosto do homo omnis que vocifera a ele: acorde!
Sentindo uma lufada de vento quente em seu rosto, Roger desperta alarmado olhando a volta percebendo que o homo omnis não estava lá, mas ao virar-se percebe Mota aproximando-se de Caroline lhe oferecendo exatamente a mesma boneca velha do sonho.
O homem a perfilava com seu sorriso de moral inócua revelando suas nódoas dentárias quando a pegou pelo braço tirando com a outra mão um punhal quando se virou e viu que Roger o fintava.
Roger levantou-se pegando seu rifle e vento que seria morto pegou a menina pela garganta e colocou seu punhal ameaçando corta-la.
- Vamos lá, todos sabemos que a raça humana está fadada a desaparecer, gradualmente tem restado apenas os mais jovens pois a expectativa de vida caiu. Só quero me divertir um pouco!
- Solte ela, ela está comigo. – Disse ele num só arquejo.
- Ela não é sua filha! Um pai não andaria com sua filha por estes territórios!
- Não interessa. – Vociferou Roger quando uma sucessão de alaridos e murmúrios se ouviam em suas mentes.
Roger olhou para os lados, mas não viu nada, mas quando tornou a fintar Mota e Caroline viu que o homem havia soltado a menina e colocado as mãos na cabeça. O homem fez uma careta que se contorcia enquanto gemia. E sangue saiu de seus ouvidos e olhos.
- O demônio está na minha cabeça! – Gritou o cara dando para trás cambaleante quando Roger lhe desferiu um tiro que esfacelou sua cabeça.
- Não está mais. – Murmurou Roger enquanto a menina agora chorava copiosamente.
A menina correu para ele o abraçando. Por um instante a imagem de sua tenra filha em memórias pareciam se mesclar com a da jovem Caroline. Roger tentou resistir duro e insensível, mas por dentro desabava. Abaixou a arma quando a menina lhe soltou fintando sentido oposto ao dele.
Roger ao virar-se duvidou do que seus olhos viam, se eram projeções enganosas de uma miragem mental ou algo falseável. O homo Omnis estava diante dele parado, os perfilando fixa e silenciosamente.
Roger sentiu medo por estar vulnerável ante um poder intangível o qual era sentia-se exposto em seus pensamentos. Apinhou o rifle o virando em sua direção, mas Caroline com sua mão olhou para Roger e abaixou o cano da arma lentamente. O ser por algum motivo não atormentou sua mente, antes ao adentra-la sentiu seu medo, sua solidão, suas dores. De modo exímio sentiu o que ele sentiu e sabia que poucos dias de vida teria.
Roger então ouviu em sua mente que aquele ser cuja comunicação transcendia as palavras e línguas sentia pena da espécie humana assim como dele. O semblante do ser que irradiava tranquilidade lhe transmitiu conforto e então ele ergueu sua mão como num cumprimento e naquele momento, Roger percebeu que o ser sentia muito por ele ter perdido sua família assim como perderia sua vida em poucos dias.
O ser então deu-lhe as costas e lentamente caminhou para dentro das ruínas até desaparecer, desolado com o encontro onde ele de algum modo passou a conhecer-se melhor do que conhecia, caiu de joelhos chorando copiosamente quando a menina lhe abraçou.
- O que você vai dizer para sua gente? – Indagou Caroline.
- Que não o encontrei. Que apenas é um mito criado por nós mesmos. Uma projeção de nosso medo de um futuro sombrio.
Roger levantou-se e colocou seu rifle de volta nas costas, fintou o horizonte de onde veio ante o sol escaldante e segurou a mão da menina para caminhar de volta, ele a deixaria ser criada pelos poucos que restavam em seu grupo numa caverna criada pelas rochas dilaceradas pelos wormsotnes. Aquele não era mais o lugar dele, mas de algo melhor, algo que era o futuro.
Roger caminhou deserto adentro contemplando sua própria sombra estendida sobre a areia. Viu Caroline empurrar o carrinho numa tentativa de preservar as memórias de seus pais. Mas naquele ser já havia contido todos sentimentos humanos ao serem visitados no lugar mais íntimo possível, as nossas mentes.
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