Caso não possa ter a pureza consagrada do sobrenatural, prefiro ter a espontaneidade e ingenuidade do natural, pois mais fácil o contato com Deus na natureza que nas cidades coalhadas de corrupção moral. Concordo nesse sentido com o filósofo Jean-Jacques Roussea numa busca ao retorno a natureza ante a civilização segundo uma ordem antissocial de exploração do homem pelo homem como não sendo homem, mas objeto muitas vezes de função unilateral, na prática de sociedade de alguns. A sociedade está contaminada por cobranças, de taxas a impostos, e infectada pela ganância e ódio na busca insaciável pelo poder, o egoísmo e o individualismo predomina levando a uma situação letárgica de apatia. Não há qualidade de vida, mas apenas vitrines, aparências e fachadas, tudo está a venda, tudo consome e é consumido, mesmo a tecnologia não nos dá conforto e segurança, mas provoca dependência.
Na natureza paira apenas necessidade, sem grandes perseguições, traições, ou desejos desacerbados, a maldade é inerente ao homem enquanto com conhecimento na natureza se torna possível viver com melhor segurança. Na natureza uma simples doença física pode matar, mas não há doença espiritual e moral como na sociedade, em tudo permeia a relevância, não a insignificância de vontades unilaterais predominantes, mas a básica relação de troca que a sociedade humana se privou com o passar do tempo, dos pássaros que ao comerem frutos semeiam a floresta, aos insetos que espalham o polém das flores, a simbiose é um fato natural, não humano.
O inferno é humano, não natural, a natureza é o meio termo entre o paraíso e o inferno. Mesmo a violência na natureza não se trata por uma questão de prazer ou imposição, mas sobrevivência, pois na razão paira a necessidade, não na maldade. Sobretudo a natureza não mente, as palavras não são vitais, mais sim as atitudes.
Trecho do livro 'Memórias de uma ilustre desconhecido'.
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