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segunda-feira, 27 de março de 2017

Conto: 'Duas Cidades e Um Fim'

Abaixo publico na integra o conto da antologia 'Cronomancer', 'Duas Cidades e Um Fim:

"Conhecer o passado é importante para traçar o futuro." Umberto Eco

    Aqueles homens eram a vanguarda das fronteiras de uma nova ciência o qual o limiar emergia em descobertas sem precedentes. Na tela o monitoramente em tempo real de uma sonda era efetuado marcando o tempo de 42:37 ainda que parecesse para os presentes um tempo disforme ao comum graças a relatividade. Aquela empresa que era da iniciativa privada viu suas ações e ativos ascenderem rapidamente no mercado financeiro com a publicação da descoberta de como criar fendas temporais a tempos diferentes ainda que não soubessem como direcionar essas fendas a um tempo específico. Para todos efeitos estavam em seu apogeu de uma provável era dourada de uma ciência temporal - e possivelmente dimensional - que tornava possível até mesmo viagens aos confins do universo e além.
    A ruptura do continuo espaço-tempo era realizado pela emissão de frequências opostas a do tempo oriundo numa intensidade diamentral a frequência presente numa forma de anular o fluxo de tempo direcionado e assim não romper a seta do tempo mas como um surfista atravessar uma 'onda temporal' antes que ela quebrasse. Tratava-se de ir no sentido oposto da direção do tempo e assim contra seu fluxo de modo a engendrar uma quebra dimensional sem voltar no tempo, mas corta-lo. Aquilo partia de teorias postuladas por um brasileiro que a apesar de não ser oriundo e formando no ramo que aprazia as hipóteses seu pensamento filosófico fora base para o mesmo.
    Naturalmente que havia eventuais boçais que por sua ética de acostamento - para não se dizer marginal - buscava sabotar os experimentos por uma espionagem industrial para empresas sem mesmo brilho ético e isenção para com as fontes e resultados catalogados das pesquisas. Porém, mal sabiam os cientistas daquele grupo científico que eles teriam de enfrentar o pior tipo de sabotadores, uma seita que fazia trabalhos de espionagem para o imperialismo norte-americano que não estava nada satisfeito de um pais considerado de 'terceiro mundo' tomasse a dianteira de um conhecimento que facilmente poderia coloca-lo no topo das economias.
    John Tyson que era o líder do grupo de cientistas temia pela segurança dos seus, porém, o prédio onde os experimentos eram realizados era conhecido por um rigoroso sistema de segurança que rivalizava com a própria NSA o qual eram frequentes vítimas de tentativas de invasões e monitoramentos virtuais ante a cobiça imoral e insaciável do Tio Sam. Mas aquele dia, 29 de março ficaria conhecido como uma infame invasão da escória mais funesta que existia, logo quando o experimento completava seu centésimo dia.
    A invasão fora precedida por uma infiltração silenciosa meses antes. Apesar de obviamente não haver licenciosidade em suas atitudes quem não puderam comprar colocaram seguranças infiltrados de um grupo ocultista de neosodomitas, homens que veneravam e cultuavam o ato do coito. Aqueles por meses usaram da coação para corromper suas vítimas, usando de seus segredos sob ameaças de expô-los e até mesmo atitudes de violência para impelir elas a obedecerem. Quando chegou aquele dia, justamente quando era realizado os precursores do envio de uma pessoa os seguranças infiltrados, contratados especialmente para aquele ato vil, renderam os que não eram vendidos e na surdina da madrugada adentraram as portas dos fundos. Quando surgiram diante do saguão onde estavam os cientistas plantonistas a surpresa fora geral. Os homens fortemente armados renderam a todos e uma vez não sendo visto revelaram-se despindo-se de toda máscara de suposta educação como hipócritas que eram. O primeiro a ser pego fora Tyson que puxado pelos cabelos fora forçado a dobrar os joelhos ante eles.
    - O que querem conosco? - Indagou Tyson suplicante ao homem de olhar frio e impassível. Por qual motivo invadiram? Iriamos publicar os resultados!
    - Muitas perguntas! Odiamos questionamentos! Quero que copiem todos os dados capitalizados, esquemas das máquinas e números.
    - Que tipo de gente são vocês? - Indagou uma mulher tendo como resposta ser agarrada igualmente pelos cabelos e arrastada até ao banheiro os gritos.
    - Caso não obedeçam faremos vocês também de bonecas! Sabemos o que tem sido realizado aqui, o experimento provocou ondas gravitacionais sensíveis nos Estados Unidos. Vocês quebraram o fluxo temporal e queremos saber como, pois somente é aceitável que nós sejamos os pioneiros, nós! Vocês irão provocar o fim do mundo seus loucos!
    - Impossível o que é ético provocar um apocalipse, apenas se vocês isso provocarem caso sejamos assim honestos.- Resistiu Tyson resignado ao contemplar o namorado da jovem cientista chorar copiosamente enquanto ouvia os gritos dela sendo estuprada no banheiro.
    - Vamos estuprar sua família, e qualquer mulher que goste ou goste de você serão nossas putinhas, você não vai salvar seu rabo, Tyson, estamos na sua cola! Agora é tarde. Viemos cobrar o que é nosso, pelo deus que servimos! A ética será o fim do mundo!
    Fosse qual fosse o deus que ele se referia por ser tão grotesco e cruel não poderia ser o Cristo bíblico, aqueles homens o qual o único segredo era a corrupção usavam de todos meios imorais e antiéticos para se impor. Mas naquele momento o namorado da jovem saltou a ficar de pé agarrando a AK-47 que um dos fanáticos sodomitas utilizavam, arma de uso exclusivo das forças armadas. O homem lutou corpo a corpo tirando a atenção do grupo invasor que lhes desferiu tiro matando tanto o sodomita quando o jovem aterrorizado. Porém, aproveitando aquele momento os cientístas reagiram, uns correndo e outros lutando com os invasores.
    Tyson correu com o grupo que tentava fugir parando justamente no setor onde o vórtice do fluxo temporal rompido abria. Sem muito fôlego pois era um homem de meia idade e fora de forma, Tyson pensou na única maneira possível de fugir de lá, abrir um vórtice aleatório interrompendo a missão da sonda, ideia esta recebida sem resistência ante o desespero daqueles homens da ciência.
    Trancaram a porta para que os outros, aqueles invasores e seu clube da injustiça e crueldade, invadissem e acionaram ao acaso o procedimento de abertura dimensional. Utilizando-se de um giroscópio espelhado e emissão de um feixe de laser aquilo curvava sensivelmente o espaço-tempo até que o feixe conseguia ferir a malha temporal no sentido contrário a seta do tempo, ou seja, ao passado. O procedimento transcorria numa contagem enquanto os homens daquele sádico sodomita esmurravam a porta tendo um refém seguro pelo pescoço. O líder do grupo gritava palavras de ameaça com violência sufocadas pela vedação do recinto, mas de nada adiantou, o vórtice abriu lançando uma luminosidade difusa em meio a um turbilhão de cores o qual as leituras varavam o comum a uma singularidade onde nem o tempo e a gravidade eram comuns. Sem pestanejar os homens adentraram sendo tragados por aquilo como se fosse uma boca famélica aberta e então o vórtice desabou sobre si mesmo.
    A sensação de enjoo era intensão, na verdade aquela profusão de convergência física provocava uma sobrecarga sensorial onde tinham a impressão de terem visões disformes de variáveis da situação o qual se encontravam. Caíram de joelho num solo desconhecido e sentiram alívio ao perceberem se tratar de algo sólido e fixo.
    Tyson vomitou assim como a jovem cientista que estava com ele, Lorraine, que ficou pálida com tudo aquilo. Mas a despeito de temerem os resultados sobre um organismo vivo como eles, o procedimento obteve regular êxito de modo que mesmo o desespero lhes serviu como experimentação científica.
    Quando se recobraram observaram estar num deserto, lugar que se estendia por uma vastidão desconhecida do espaço e tempo terrestre. Sem quaisquer mantimentos e água caminharam e logo a exaustão lhes sobreveio com o denso calor, mas não sem antes observarem o que parecia ser uma extensão de cidades que seguiam por um vale até perder-se no horizonte. Os homens da ciência caminharam até se depararem com uma cena ultrajante, uma bela jovem era agarrada a força e arrastada por três homens que a despiram e começaram a fazerem um ato sexual a força com ela ali, a céu aberto. Chocados pela cena doentia logo Lorraine ouviu o dialeto daqueles homens que parecia com o hebraico o qual ela tinha noções por ter como parte de sua formação ter sido linguista.
    - Meu Deus, acho que estamos em Sodoma e Gomorra! - Exclamou ela relutante a comprovar que eles haviam fugido da panela de pressão para a frigideira.
    A lendária cidade conhecida pela depravação hostil e agressiva parecia mais remeter a uma versão humana de bonobos dada a obsessão ao coito que possuíam. Ao adentrarem perfilavam vielas onde homens e mulheres eram vendidos não apenas como escravos mas escravos sexuais a cultos de deuses pagãos que se quer conheciam. Nesse mundo moralmente senil a arbitrariedade é abissal onde os outros que produzem algo de qualidade inferior é pago com mulheres maravilhosas e uns eram arrastados a prostituição cultual para serem saqueados e terem sua dignidade reduzida abaixo do limiar da humanidade.
    Tyson caminhou pelas vielas e logo todo o grupo sentiu-se vigiado, afinal eram estranhos naquele lugar. Temendo o que lhes acontecesse logo viram-se cercados inicialmente por crianças e a seguir por homens que lhes lançavam olhares insidiosos e cheio de maldade. Famélicos sexuais aqueles degenerados então fecharam sua passagem, se não conseguiam viver um dia sem coito com os seus imagine na presença de estranhos.
    Eles foram arrastados até uma espécie de anfiteatro onde era realizada uma orgia. Em meio a massa disforme de homens e mulheres o qual mal se distinguia homossexualidade de coito hetero uma mulher com vestes purpúreas parecia exultante em seu meio enquanto tomava um cálice de vinho ante o pranto de algumas vítimas defloradas, ela estava sentada num trono ante um tênue vapor de ervas que lhe era soprado. A mulher olhou cada um dos forasteiros mas fixou-se em Tyson e então sorriu pronunciando em seu dialeto uma sentença o qual ao ser traduzida por Lorraine deixou-os consternados.
    - Há estranhos entre nós que nos será a salvação na perpetuação de nosso legado, por sua compaixão eles livrarão um de nós para carregar a palavra de nosso deus.
    Relutantes com aquela mensagem, pois Tyson não conseguia acreditar ser possível se apiedar de uma alma que fosse pura naquele lugar os homens começaram a lhes maldizer seus desejos de coito desacerbado em seu dialeto parcialmente interpretado por Lorraine que por se tratar de termos chulos mesmo a língua deles ela resignou-se a não relatar as predileções daqueles depravados. Naquele momento então surgiu uma mulher que parecia defender-lhes, ela alegava que por serem forasteiros que procuravam a casa dela deveriam ser respeitados até que viessem fazer o que lhes foram designados. Assim relutante os homens resolveram libera-los ainda que sob os mais intensos olhares penetrantes de devassidão.
    Aliviados por se livrarem da emboscada, Lorraine perguntou o nome da mulher de modo rudimentar em seu dialeto, e para surpresa de todos seu nome era Ló, a biblicamente lendária mulher que teria virado pedra de sal ao olhar a destruição das famigeradas cidades.
    Ao serem conduzidos a casa dela a mulher relatou que recebera a visita de dois anjos que os teriam dado ordem para evacuar a cidade ante a destruição iminente e notando eles não serem dali a mulher preocupada com os forasteiros disse que igualmente deveriam retirar-se do covil de sodomitas rituais.
    Ao chegarem na casa de Ló, todos preparavam-se para se retirarem. Não havia sinal dos supostos visitantes que havia antes retirado-se. Reunindo mantimentos, provisões e algumas propriedades como bens e animais tão logo eles se dirigiram ao exterior da residência quando um abalo se sentiu e uma fenda no chão se abriu fazendo ouvir-se urros da população. Da fenda um vapor fumegante levantou-se e pessoas corriam de um lado a outro enquanto eles retiravam-se. Inúmeras habitações cederam e desabaram dando lugar a uma sucessão de entulhos e destroços. Chocados com tudo aquilo, Lorraine e Tyson pareciam perplexos e impressionados com o terror da população quando então viram um jovem o qual segurava o braço de alguém abaixo dos escombros. Hesitantes Tyson e Lorraine pararam ao observar os prantos copiosos do adolescente clamando por socorro.
    Ficaram para trás após pedirem para Ló e sua família seguirem a diante. Resolveram ajudar o jovem garoto ante o corpo jazido sem vida do que seria sua mãe. Lorraine tentou usar de sua persuasão para salvar o jovem informando que aquele era o início do fim do iniquo daquela cidade. O jovem fora conduzido em meio aos desbaratados habitantes até o alto de um monte quando a cidade fora envolvida numa profusão de luzes como a de um bólido que numa forma de esfera engoliu toda cidade a reduzindo as cinzas. Ouviu-se em meio a explosão apenas gritos serem envolvidos pelo som uniforme da explosão que sucedeu ao silêncio sepulcral e por uma densa coluna de fumaça que se ergueu até os céus. Os choros do menino cessaram, mas ele soltando-se correu em meio ao deserto e nunca mais se viu.
    Tyson e o seu grupo seguiram caminhando igualmente envolvidos pelo silêncio que sepultou aquela cidade designada a aniquilação e nunca mais foram os mesmos ainda que tivessem se safado. Ficaram a se indagar o que aconteceu no tempo o qual eram oriundos, mas nunca mais retornaram sendo forçados a viver e morrer naquele tempo onde a maldade era punida por seres supostamente angélicos e celestiais.
    Mas enquanto isso no futuro que lhes eram outrora presente os membros da equipe de Tyson que não morreram ou fugiram com ele foram inexoravelmente submetidos aquele grupo servil de modo que ainda sendo néscios na ética e moral advogavam para si o direito das descobertas que antes eram frutos dos cientistas e mentes que serviram naquele nobre projeto. Longe da vanguarda científica, filosófica e moral aqueles primitivos agora se consideravam modernos e louvavam seus fundadores como pessoas a frente do tempo. Fundadores como a lenda de um jovem o qual teria escapado da destruição de Sodoma e Gomorra e assim fundado as crenças e convicções daqueles déspotas amantes da mentira e subversão enquanto ao traduzirem ao público o que supostamente faziam em suas reuniões secretas seriam apenas uma sucessão sobre trânsito e corridas de carros, e os povos normalmente embebidos no caldo da mentira acreditavam que aqueles eram homens de hombridade e equidade imparciais, pois numa ilusão se respira mentiras enquanto Tyson e os seus dados por desaparecidos como vítimas sem querer prestaram um serviço ao próprio mal que lhes submeteram, indiretamente os criando a destruição daquelas duas cidades teve um fim, a criação de um mal posterior global.

Conto na Revista 'Litera Livre'

Presente em todas edições até o presente momento - desde o número zero. O atual conto selecionado dentre 600 de mais de 356 autores para a segunda edição da Revista Litera Livre, Reincidente Intemporal, de minha autoria. Baixe aqui seu exemplar gratuito e enjoy.


Abaixo alguns comentários do conto extraídos da antologia o qual pertence originalmente:
Considero um incômodo ter de fazer comentários de meus contos, novelas e romances à pessoas que não que depreciam talvez por não atinar à uma compreensão clara do mesmo - por falta de QI ou não -, mas para antever comentários de idiotas arrogantes teço os meus como autoridade sobre o que crio, sendo autor afinal somente eu tenho a palavra final sobre isso pois sou eu o dono das próprias palavras que crio. Como dito no vídeo anterior muitas das minhas ideias estão diretamente vinculadas a moralidade e ética, e o conto 'Reincidente Intemporal' não é exceção estando diamentralmente ligado a ideia do que seria certo e errado numa optica intemporal, ou seja, uma crítica aos critérios morais pertinentes aos conhecimentos prévios, parciais ou não, do tempo assim como viagens no mesmo. Ao contrário de rudimentos fracos que de tão tortuosos levam apenas a inversão moral onde como a loucura não se discerne o certo de errado procuro exercer tais críticas e reflexões com isenção pois somente assim elas são verdadeiras e plenas. Seria como falar que namorar é imoral, mas estuprar é normal, que se o autor publicar os trabalhos literários é imoral, mas saquear as ideias e em plágio publicar no lugar dele não. Deste modo segue meus comentários como critica aos que se julgam ter o conhecimento de um demônio de laplace não sabendo nem o que significa o termo consequência. A pergunta pertinente é com que base podemos salvar ou condenar alguém de um evento intemporal uma vez não conhecendo as variáveis caóticas no tempo? Muitos paradoxos se provam assim como não sendo meramente de eventos, mas sobre o 'certo' e 'errado'. Contos como estes reafirmam que estão totalmente interligados com uma ética isenta e pura em sua prática!

Assista abaixo o vídeo com os comentários:

terça-feira, 14 de março de 2017

Loucura, Genialidade e Maldade

Abaixo transcrevo um trecho de um de meus projetos literários ainda não definidos.

A inspiração da genialidade não está tão distante do que os gregos antigos postulavam. A genialidade é o encontro da loucura com o propósito do talento e vocação. Já tive esse encontro algumas vezes. Seria assim a genialidade como achar ordem no caos da loucura, dar-lhe um sentido e porque, a única verdadeira ordem ainda que nem sempre vigente. A genialidade é a loucura canalizada, digo pois a genialidade não é algo permanente, mas como surtos, similarmente ao ato de heroísmo ainda que este seja movido pelas circunstâncias.

A genialidade pode ser como lentes que assim como a loucura enxerga o mundo diferente, mas ao contrário da loucura tem a visão de enxergar muitas vezes ante o óbvio algo inteiramente novo, original e jamais percebido, enquanto a loucura sendo caótica é arbitrária, sem proporção, mas ainda assim está fadada a fazer apenas o que antes era feito, a loucura é a genialidade sem o propósito e originalidade da genialidade. Ser gênio significa ser original, usar da mesma potência da loucura associada a resultados contrários da mesma. A loucura é o meio termo entre a maldade e a genialidade que são diametralmente opostas.

Num outro ponto extremo da loucura podemos observar a maldade que em seu estado mais puro exprime a mesma ausência de proporção e de 'porques' mas concebendo coisas que normalmente era anteriormente existentes, afinal o que há novo na violência a não ser variáveis de perversidade? A maldade é um plágio de si mesma num eterno retorno mesmo a vítima. A maldade é a loucura ritual.